|
Por que vídeos
excêntricos fazem sucesso
Cibelle Bouças -
De São Paulo / 03/08/2011
Ivonaldo
Alexandre/Valor
Para
pesquisador americano,
usuários da internet preferem
emoção em vez de informação
Um
fato nada impossível:
O jovem José
Rossoni Rodrigues, visivelmente
embriagado, reclama que ninguém
retorna suas brincadeiras nas
redes sociais. O vídeo é caseiro
e não traz nenhuma informação
relevante ao público, foi um
sucesso instantâneo no YouTube,
o site de compartilhamento de
vídeo do Google. Em uma semana,
"Ninguém me cutuca no Facebook"
foi visto 1,46 milhão de vezes.
Rossoni, que se sentia solitário
em Porto Velho (RO), ganhou oito
páginas de fãs no Facebook e vem
recebendo diariamente de 50 mil
a 80 mil 'cutucadas'. "Meu pai e
meus dois irmãos estão me
ajudando em casa a cutucar as
pessoas de volta. Não esperava
uma repercussão tão grande",
afirma.
O
que está acontecendo:
Vídeos como o
protagonizado por Rossoni,
gravados de maneira precária e
sem roteiro, fazem um enorme
sucesso na internet. Em três
meses, o vídeo "Mataram a
formiguinha, que dó" - no qual
uma criança chora porque o irmão
exterminou sua formiga "de
estimação" - foi visto 15,6
milhões de vezes.
Internacionalmente, um dos
maiores êxitos é um vídeo no
qual o bebê Charlie morde o dedo
de seu irmão Harry. Em 56
segundos, Harry ri, demonstra
dor e raiva, chora e volta a
sorrir. Há quatro anos no ar, o
vídeo teve menos 361,8 milhões
de exibições.
Qual
é a questão?
A questão é:
por que vídeos desse tipo estão
sempre entre os mais vistos e
compartilhados na web?
Jonah Berger,
professor assistente de
marketing da Universidade de
Wharton, na Pensilvânia, estudou
esse comportamento e chegou
a
uma conclusão curiosa:
esse tipo de vídeo faz sucesso
porque desperta emoções
viscerais nos internautas. São
sentimentos
que provocam reações físicas,
como descarga de adrenalina,
aumento da frequência cardíaca
e suores. Sob o calor da
raiva, da alegria ou de outro
estado emocional, as pessoas
ficam mais propensas a
compartilhar o conteúdo com a
sua rede de contatos.
"Vídeos que
evocam emoções fortes são os que
mais tendem a ser
compartilhados. Nesse caso,
o
conteúdo conta mais do que a
qualidade da produção",
afirma Berger ao Valor, por
telefone. Para
o professor, mais do que
transmitir informação, as
pessoas querem compartilhar
emoções.
Berger chegou
a essa conclusão depois de
analisar 7,5 mil artigos do "New
York Times", enviados por e-mail
entre agosto de 2008 e fevereiro
de 2009.
O pressuposto
era de que os artigos
informativos seriam os mais
compartilhados. Mas o
pesquisador descobriu que as
histórias de caráter humano eram
as mais reproduzidas por e-mail.
Nos vídeos, diz ele, o
comportamento se repete. "Vídeos
engraçados ou divertidos são
muito compartilhados, assim como
o conteúdo que evoca ansiedade,
raiva ou admiração. Quanto maior
o estímulo emocional provocado,
maiores as chances de
compartilhamento", diz Berger.
Um outro
fator, além das emoções que os
vídeos despertam, contribui para
a chuva de comentários e
reproduções na internet, diz
Rosa Maria Farah,
coordenadora do Núcleo de
Pesquisas da Psicologia em
Informática da PUC de São Paulo.
Enquanto
acessa
a web, o internauta entra em
um estado alterado de
consciência, em que os limites
de autocensura ficam mais
tênues. E se está em casa,
sozinho e passando por algum
problema emocional, a
tendência de compartilhar
vídeos aumenta, assim como a
decisão de fazer uma gravação
e publicá-la. "São processos
psicológicos ainda pouco
estudados, mas que também
entram no jogo", diz a
psicóloga.
A
identificação com o personagem
do vídeo, ou
com a situação que ele vive, é
outro determinante no
compartilhamento, afirma Rosa.
"A sensação de 'poderia ter sido eu
ou poderia ter acontecido
comigo' contribui para o
sucesso desses vídeos",
acrescenta.
No ranking de
vídeos mais comentados e
compartilhados no país nos
últimos 30 dias, feito pelo
Google, oito tratam de temas do
cotidiano com uma certa dose de
humor (por vezes, beirando o
sarcasmo), como o "Coisa de
crente", em que o apresentador
fala sobre religião, além dos
vídeos "Avenged Sevenfold, Vlogs
e a Morte da Amy", "Jô Soares,
Produtos de Beleza e Harry
Potter" e "100 coisas que me
incomodam", todos do humorista
PC Siqueira. O vídeo "Zé Graça
Entrevista - Rafinha Bastos",
também faz sucesso ao mostrar um
suposto perfil do humorista.
A lista também
inclui vídeos que tratam de
temas mais dramáticos como a
solidão, caso de "Jullya -
solitária". Apenas três vídeos
são mais bem produzidos. O
comercial " Nissan - Pôneis
Malditos" e os vídeos "Harry
Potter Water" e "1000 Guitars",
de Jonatas Penna, conhecido por
criar vídeos criativos para a
web.
Para
Elizangela Grigoletti, gerente
de inteligência e marketing da
Miti Inteligência, a
falta de pretensão dos vídeos
caseiros é um dos motivos do
seu sucesso. "As pessoas identificam
seus personagens como alguém
que não querem ser, ou, ao
contrário, que gostariam de
ser", afirma. Seja para
criticar o que consideram um
"sem noção", seja para elogiar
seu novo objeto de afeto, a
decisão é enviar o vídeo à rede
de contatos.
Extraído de
Valoronline
|