Rio - Entidades se solidarizaram com os
professores agredidos por policiais militares durante os protestos na
Cinelândia, no Centro do Rio, na terça-feira. Integrantes da ONG Justiça
Global vão montar um dossiê com relatos de todos os professores que
sofreram violação de direitos humanos nas últimas manifestações da
categoria. As denúncias serão encaminhadas para as organizações das
Nações Unidas (ONU) e Internacional do Trabalho (OIT).
“Vamos dar visibilidade internacional
à repressão que vem sendo cometida pelas forças de segurança do
estado”, afirmou a advogada da entidade, Alexandra Montgomery. “Acredito
que os professores não estão sendo vistos por seus alunos nem como
heróis e nem como violadores da lei. Mas como cidadãos que estão
descontentes com o atual regime político”, avalia.
O Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) enviou moção de repúdio ao governador Sérgio
Cabral condenando a violência praticada nos últimos dias pela PM. “O uso
da força está sendo praticado de forma desmedida e desproporcional e os
nossos professores, que já são tão sofridos, não merecem apanhar em
praça pública só porque reivindicam melhores condições de trabalho”,
criticou o presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da
entidade, Wadih Damous.
Um dia após a Câmara de Vereadores do
Rio aprovar, por ampla maioria, o novo Plano de Cargos e Salários dos
professores da rede municipal, um grupo de parlamentares da oposição
entrou com mandado de segurança na Justiça para tentar anular a votação
do projeto. O grupo, formado por nove parlamentares, alega que não houve
participação popular, já que os professores ficaram do lado de fora da
Casa, impedidos de acompanhar a sessão no plenário.
A medida teria ferido o regimento interno da Câmara ao tornar a votação secreta. “As galerias estavam vazias, não foi garantida a participação do cidadão”, criticou a vereadora Teresa Bergher (PSDB).
Apoio da rede particular e reforço escolar
Uma tradicional escola da rede particular
postou no Facebook manifesto de apoio aos professores agredidos por PMs.
“Nós, membros do Colégio São Vicente de Paulo, levando em conta a
missão de formar agentes de transformação social, tornamos públicas
posições de veemente repúdio às manifestações de violência”, diz a nota.
A comunidade pede a retomada do diálogo, como única forma de garantir a
democracia.
Para pais de alunos, a greve que já dura 57 dias é motivo de muita preocupação. “Por um lado, os professores estão certos, pois estão lutando pelos seus direitos, mas por outro estão prejudicando os alunos. Que notas eles vão receber no fim do ano?”, questiona a atendente Vilma Souza do Carmo, 43 anos. Ela achou uma saída para tentar compensar os dias sem aula da filha, Vitória, 12 anos, aluna do 6º ano, da E.M. Presidente Arthur da Costa e Silva, em Botafogo. A estudante participa de oficinas de leitura e aulas de informática, no Centro Municipal de Atendimento Social (Cemasi), do Morro Azul, no Flamengo.
Ato convocado por redes sociais quer reunir 1 milhão
Um megaprotesto está sendo mobilizado novamente pelas redes sociais para a próxima segunda-feira. A ‘Passeata do Milhão’, como vem sendo chamada pelos internautas, promete reunir profissionais do ensino e representantes da sociedade civil pela melhoria da educação pública e contra a repressão policial.
A concentração está marcada para as 17h, na Candelária. De lá, os manifestantes seguirão em passeata até a Cinelândia, local do último protesto contra a aprovação do Plano de Cargos e Salários. A tática do grupo divulgada na rede é repetir as convocações feitas em junho e ocupar as ruas duas vezes na semana: às segundas e quintas-feiras.
Organizadores garantem que serão toleradas bandeiras de partidos e causas que apoiem a luta dos professores. Contrariando lei estadual, eles dizem que serão permitidas máscaras, cartazes e qualquer tipo de vestimenta. Os manifestantes sugerem levar para o ato coquetéis molotov e armas de paint-ball. Um deles diz que vale tudo, menos arma de fogo.
“Se não, eles (policiais) atiram na gente”, disse. Em outra enquete, a maioria aprova radicalismo como única forma de chamar atenção para os protestos.
Greve mantida no estado
Professores da rede estadual decidiram nesta
quarta, em assembleia no Club Municipal, na Tijuca, pela continuidade da
paralisação iniciada no dia 8 de agosto. Alegam que o governo do estado
não atendeu às reivindicações da categoria. Eles voltam a se reunir na
terça-feira.
A Secretaria Estadual de Educação lembrou que desde o dia 25 de setembro está cortando o ponto dos servidores faltosos, amparado por decisão do Órgão Especial do Tribunal de Justiça, que considerou a greve ilegal. Segundo a secretaria, nesta quarta faltaram ao trabalho 618 professores.