CARTA CAPITAL / Delfim Netto Visões divergentes

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Arthur Garbayo

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Aug 4, 2013, 11:01:45 AM8/4/13
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04/08/2013

Antonio Delfim Netto

Visões divergentes


Uma notícia que realmente não agradou a quem esperava uma recuperação dos investimentos no setor industrial no início deste segundo semestre foi a fraqueza das encomendas de bens de capital. O balanço divulgada no fim de julho, relativo à carteira de pedidos da indústria de máquinas, mostra um dos níveis mais baixos dos últimos dez anos, no período. As encomendas não alcançam 75% da capacidade instalada.

A retomada da produção industrial no segundo semestre era uma das apostas feitas por nós no início de 2013. Quando houve uma pequena reação dos pedidos em carteira. Os sinais eram de que uma recuperação estava começando exatamente pelo setor das máquinas produtoras de máquinas, da maior importância para indicar a solidez dos investimentos na expansão da produção industrial. E nele que se fabricam os tornos para as fábricas que vão aumentar a produção dos bens de consumo e  portanto, essencial para o nível de investimentos.

Infelizmente, por causa dos desarranjos que continuam acontecendo no exterior e também entre nós, os números da economia têm piorado. Não estão  restritos ao setor de máquinas porque  a fraqueza das encomendas mostra simplesmente haver uma incerteza muito  grande nos demais segmentos da produção. E não são somente os números  que estão ruins: criou-se uma diferença de opinião sobre a realidade brasileira. O governo não entende o que está acontecendo, o setor privado não entende o governo.

Ao que temos assistido é o crescimento de uma divergência de entendimento sobre como funciona a economia. Tem havido muito voluntarismo do lado do governo e muita impressão errônea do setor privado. É uma ilusão imaginar, por exemplo, que um governo sério, pragmático, como o da presidenta Dilma, caminhará para introduzir alguma espécie de socialismo na economia. E um engano do setor privado.

Da parte do governo Dilma, é um erro imaginar que o setor privado possa  ser controlado em todos os seus aspectos. acreditar que a burocracia possa determinar a taxa de retorno desejada pelo  segmento para poder realizar os investimentos, e assim por diante.

Quando os agentes econômicos, empresários e trabalhadores começam   a ter muitas dúvidas sobre o futuro, a tendência do crescimento é de murchar.  Os empresários adiam os investimentos, pois passam a temer as ações do governo. E os trabalhadores, receosos de  perder seus empregos, reduzem o consumo para saldar dívidas e terminarão  por produzir o desemprego. Apesar de os números da economia não serem dos  melhores, as incertezas sobre o futuro é  que produzem maior desconforto.

Neste momento, um enigma importante a ser esclarecido é sobre quais foram os sinais dados pela pragmática administração da presidenta Dilma responsáveis  por levar o setor privado ao atual estado  de perplexidade e de desconfiança, quanto aos reais objetivos de seu governo. A única explicação razoável é o desconforto ter tido origem no comportamento voluntarista de uma burocracia que sé julga dona da verdade, interlocutora do governo com os setores empresariais.

Esse estado de coisas chegou a tal ponto que tornou urgente restabelecer a confiança entre o setor privado e o governo. Sem confiança não voltaremos a ter bons investimentos. Sem restabelecer a confiança os juros não ficarão mais baixos. E preciso insistir, então, que a retomada do crescimento econômico depende da superação desse tremendo mal-estar: setor privado e governo Dilma reconhecendo os erros e cuidando de corrigi-los.

Os empresários penitenciando-se de sua crença infundada de que o governo deseja um capitalismo sem lucro e sob seu controle. E o governo deixando claro ser falsa a sua aversão à economia de mercado e ao papel dos preços relativos na alocação dos fatores de produção. Em síntese, é fundamental reencontrar o clima de paz e restabelecer os níveis de confiança necessários para os setores produtivos voltarem a investir: a indústria de máquinas que produzem máquinas, por exemplo, essencial para o desenvolvimento, não sobrevive com 25% de sua capacidade ociosa, à espera de condições melhores que lhe dêem confiança para voltar a fabricá-las.


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Para ter mais informação acesse estes portais:  www.desenvolvimentistas.com.br e http://www.joserobertoafonso.ecn.br/

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