Notícias de Chiapas 05/08/2013

2 views
Skip to first unread message

Coruja Vermelha

unread,
Aug 5, 2013, 3:05:28 PM8/5/13
to chiapas-...@googlegroups.com
VOTÁN I – UM ESCARAVELHO NA REDE (DURITO VERSÃO FREEWARE)
La Jornada 30/07/2013.

Julho de 2013.

Antes de explicar-lhes como vai ser esse negócio de escolinha (algo
assim como um “manual de percurso” ou “manual de más condutas” ou
“manual de sobrevivência”), vamos nos aproximar para ver o que estão
[fazendo] lá em cima. Não porque sejamos dispersos (que, sem dúvida, o
somos), mas sim porque tratamos de olhar seus calendários e
geografias, ou seja, tratamos de entender.
Assim que, seja amável e paciente, e acompanhem-nos neste olhar a
partir de cá até seu lá. Vejamos...mmmh...
Tanta conjuntura histórica tratando, em vão, de arrebatar as atenções
com as manchetes. A impostura da mídia derrotada agora pelos hashtags
–ou seja lá como se diz (“virais”, por massivos e não por nocivos...ou
sim?).
Ah, o desespero dos comunicólogos, politólogos, colunistas, chefes de
notícias: os temas de “atualidade” não os marcam, sublinham, impõem
suas análises –não poucas vezes bem lubrificadas com bilhetes de todas
as cores-, mas cada um segue seu jeito, seu calendário, sua geografia.
Deixemos de lado, por um momento essa patética relação entre as
personalidades do espetáculo e da política em todos os níveis –a
realeza, ministros, presidentes, governadores, legisladores-, cuja
transcendência só ocupa o jornalismo frívolo (ou seja, todo aquele que
paga). As reflexões dos politólogos e jornalistas sobre este assunto
só atraem os cada vez mais escassos “profissionais do comentário” em
suas colunas.
Na frase “tuiteira” de Durito: “Da relação entre a fama e a política,
ou seja,: o photoshop os cria e el@s de juntam”.
Porque agora acontece que as pessoas (esta massa rebelde que não olha
para onde se ordena que olhe, nem ouve o que se ordena que ouça), têm
adquirido a mania de trazer o cotidiano para o primeiro plano: como
pentear-se, o que me ocorreu em tal lugar, o que gosto e não gosto, o
que vi-ouvi-me-disseram-dizem, os crimes que não aparecem nos meios de
comunicação pagos, os ridículos reiterados de governantes (antes
ocultos por montanhas de dinheiro nos closets da comunicação a
pagamento), agora expostos sem controle.
Que o suposto paladino da liberdade e da democracia, o governo
norte-americano, espiona impunemente ou faz uma barbaridade e meia em
todo o planeta? Zás!, A rede se transforma então na mão irreverente
que derruba a cenografia por trás da qual se esconde a grande obsessão
do Poder: controlar tudo e tod@s, sabendo tudo.
E, logo, quando o Poder se dá conta que de nada valeu pagar tanto
para que os principais refletores (os da mídia) se apagassem ou se
concentrassem no bobo espetáculo da moda, o respeitável [público] as
pessoas, a plebe, o bando, acende suas luzinhas, mas não para
acompanhar o ritmo da balada de cima, e sim para evidenciar que o
rei-príncipe-ministro-presidente-governante-legislador está nu.
Sabendo-se exposto, o Poder só chega a balbuciar incoerências e,
obviamente, a criminalizar seus descobridores. Que este ou aquele
governante ou empregado leva com jeito patético sua síndrome de
“você-não-sabe-com-quem-está-se-metendo”? Zás! Aí tem seu grito
cibernético para espantar gatos e fazer com que todos
vejam-ouçam-divulguem. E, claro, a consequente resposta
jurídico-policial dos políticos: prisão de tuiteiros; projeto de lei
para controlar as redes sociais; espaço aéreo mundial usurpado pelo
governo norte-americano, a patética servidão dos governos europeus (“é
só um indígena, detenham-no”).
Dê você o nome que gostar daqueles que lá em cima são ou pretendem
ser: Peña Nieto, Obama, Berlusconi, Rajoy, Putin, o etcetera que faz
você sofrer onde está. Grandes, médios e pequenos (todos maus)
comediantes dançando ao ritmo frenético da internet (precisa dizer que
sequer conseguem segurar o passo?). Resumindo: internet = (igual a)
globalização imediata e massiva do ridículo e da incapacidade da
classe política.
Mas, cuidado, porque lá em cima já perceberam que o instantâneo (a
evidência massiva de sua incompetência) é também fugaz. E que o
remédio para um escândalo é um escândalo maior. O melhor antídoto
contra um “hashtag” viral é outro idem. Enquanto essas denúncias não
passam ao “deve-se fazer alguma coisa”, daí ao “deve ser isso”, e daí
ao calendário e à geografia (“deve se fazer isso em tal lugar tal
dia”), não há problema. O Poder não se incomoda com que seus ridículos
sejam temas de sobremesa, mas se, por exemplo, os novos “terroristas
internacionais”, ou seja, as redes sociais, passam do escárnio à
mobilização...então aí sim começam a tocar os “telefones vermelhos”
(OK, já sei que não se usam, mas acho que entendem) nos centros do
Poder Mundial, ou seja, nos centros financeiros. Porque uma coisa é
indignar-se individualmente diante da injustiça, e outra coisa é
tornar-se coletivo de indignados. Em suma, os problemas se tornam
sérios quando as “mãoszinhas em baixo” na rede, se transformam em
punhos desafiadores na rua...e no campo.
Mas lá em cima, os analistas insistem na mencionada e re-mencionada
“conjuntura” (o “contexto histórico”, muito bem). E trata-se do
espetáculo de sempre. Por exemplo, as eleições... Fraudes
pré-eleitorais, eleitorais e pós-eleitorais. A conclusão então é quase
unanime: “não servem”...até que chegue uma nova temporada eleitoral e
um iluminado de momento oferece o de sempre: a liberdade suspirada ao
alcance de uma cédula eleitoral. Assim, a salvação está em desenhar
uma cruz em determinado lugar de um papelzinho, depositá-lo com fervor
numa caixa, e esperar que esse ser intangível que é “a maioria”
apareça como irônico disfarce de quem realmente decide: um punhado de
grandes senhores e senhoras do dinheiro.
“A Sociedade do Poder”, como a chamamos todos e todas nós zapatistas,
talvez só para assinalar que não é no aparato tradicional, exaltado
pela ciência política idem e os políticos ibidem, onde reside o Poder
e seu criminoso exercício.
Ah, a classe política e corifeus que a acompanham. Como se estivessem
a anos luz da realidade, os políticos de cima não têm se inteirado de
que o que pretendem governar já não existe. Sua (má) atuação é só uma
cenografia atrás da qual se escondem os escombros de um mundo...do seu
mundo...

DURITO Versão □ (3.14159265 etc.)

Um político é como um zumbi com um letreiro de “vegetariano radical”,
e qualquer que seja seu lema de campanha no fundo é: “continuo sendo o
mesmo, mas agora vou me comportar bem”, me diz Durito, que afirma que
Hannibal Lecter não passa de um zumbi com boas condutas e habilidades
gastronômicas (por certo, vivem na escolinha de especialistas em
gastronomia, seguramente intrigados pelos ingredientes do prato
“Marco’s Special”, não próprio para vegetarian@s e que faz tanto
sucesso que podem esquecer de Ratatouille, vão querer roubar a receita
secreta?)
Sim, Durito voltou. O autodenominado “único super-herói que não usa
calças nem cuecas em cima das calças...nem debaixo das calças”.
Já faz dias que Durito vem insistindo que é a sua vez. Ao meu
argumento de que muitos não se lembram dele e de que muitos nem sabem
de sua existência, Durito tem me dado seu cartão de apresentação e me
pede que o publique. Ele insistiu, assim que vou colocá-lo, para o
caso de algum destrambelhado (ou destrambelhada, que não se esqueça da
equidade de gênero) quiser cortá-lo e guardá-lo ao alcance das mãos:
Don Durito de La Lacandona A.C.V. de (i)R. (i)L. Cavaleiro Andante.
Folhinha de Huapác #69. Montanhas do Sudeste Mexicano).
Sei que foi um erro, mas lhe perguntei que diabo queria dizer isso de
“C.V. de (i)R. (i)L.” e me respondeu: “Andante Cavaleiro de
Cavalgadura Versátil de Irresponsabilidade Ilimitada”.
Disse-lhe que ninguém mais usa cartão de visita, que agora há
“blogs”, perfis” e equivalentes cibernéticos. Em resposta às minhas
considerações, Durito me tirou o cartão, rabiscou sobre ele e mo
devolveu. Agora diz: Don Durito Ponto Com. Andante Cavaleiro e
Grafiteiro Cibernético. Arroba mais w (mas ao triplo) ponto
#yosoy69yomiyomi. (Riscam-se paredes de feibuques e dos outros.
Orçamento sem custo) Versão 7.7 bis. Download gratuito só para Linux.
Diga sim ao software livre.
É óbvio que não lhe perguntei o que significava isso tudo.
Bom, o caso é que Durito tem me dito que agora é a hora, que é o
melhor momento para ele reaparecer, o momento em que um pequeno,
pequeníssimo número de pessoas, de geografias e calendários tão
dispersos, estão esperando o começo das aulas na escolinha zapatista.
Para aqueles que não o conhecem ou não se lembram (ou para aqueles,
como este que escreve, que têm feito o esforço de esquecê-lo). Durito
é um escaravelho. Claro, não um escaravelho qualquer. Diz ser um
cavaleiro andante (e declama parágrafos inteiros do “Engenhoso Fidalgo
Don Quixote de La Mancha”), tem um “clipe” mal-desdobrado como lança,
um pedaço de casca de cacaté como capacete, uma tampinha de frasco de
remédio como escudo, e como espada, bom, aí sim são palavras maiores,
porque sua espada é nada menos do que “Excalibur” (ainda que sua
aparência seja a de um graveto). Para completar, não monta um cavalo,
e sim uma tartaruguinha do tamanho de um polegar que chama de “Pégaso”
(“porque parece que voa quando ganha velocidade”, esclarece Durito).
Durito, ou Don Durito de La Lacandona, diz que sua missão é,
transcrevo textualmente o que me dita, desafiar os poderosos, socorrer
o desvalido, arrancar suspiros das fêmeas, ser modelo de posters,
e...e o que vier pelo caminho porque tampouco é questão de rótulos,
não? Por exemplo, também faço engenharia –sou pedreiro meia boca-
encanamento, pintura, conselheiro amoroso, webmaster, mágico, catador
de sorvetes de noz, escriba, especialista em tratamentos de beleza que
incluem lavagem, graxa, lataria e pintura, etcetera. Não se esqueça de
pôr ênfase no “etcetera”.
Assim, aproveitando que –do mesmo modo que milhões de pessoas-, a
conjuntura histórica não nos leva em consideração, e enquanto chega o
dia fatídico em que iniciam os cursos da escolinha zapatista, Durito
dará agora um curso propedêutico, diz ele, de “alta política”.
E, para fazer isso, Durito se coloca em modo “Massevely Multiplayer
Online –MMO” (que todos saibam, diz –pelo menos em Word os Warcraft e
em Call dos Duty) e começa com ... Um Tuit?!
“Os partidos políticos institucionais são o “bioshacker” da luta pela
liberdade”.
(Durito sorri satisfeito de sua capacidade de síntese, mas sente a
necessidade de estender-se, assim que...a sofrer...)
Para entender o funcionamento contemporâneo da política de cima,
deve-se conservar o seu novo ateneu: os meios de comunicação pagos.
Atenção: notem que não usei o tradicional “meios de comunicação de
massa” porque há meios alternativos (ou livres, como se diga) que são
de massa e outros que são terreno de luta (como internet).
Tomemos, por exemplo, a televisão. Ligue seu aparelho e aprecie como
a realidade imita a publicidade. Aí estão esses anúncios de aparelhos
maravilhosos que não só lhe permitem perder peso, mas também lhe dão
forma de yomiyomi, de corre-porque-te-alcanço.
Adquirindo um desses aparelhos, você pode se empanturrar de grenache,
farinhas, carboidratos, hidrocarbonados, açúcar, benzoato de sódio em
generosas porções e, além do mais, jogar-se na cama, no sofá, na rede
ou no chão (ainda há classes sociais, acredite) e jogar videogame, ver
a novela ou o seriado. Em alguns dias, você terá uma imagem como a de
jovem ou senhorita que neste momento está mostrando que o aparelho é
fácil de usar, além de ser útil para dependurar roupas para secar.
Bom, assim é a política de cima no momento em que pedem seu voto. Não
é necessário que você se organize, que lute todos os dias e em
qualquer lugar, para construir-se um destino. Para isso, basta este
produto. Em sua nova versão incluímos um botão de reset, agora vem com
frasco de gel com aroma de flores. Ele se encarregará de tudo. Você
fique confortavelmente sentado e verá como sobram ofertas de trabalho
digno, créditos a juros baixos, escolas leigas, científicas e
gratuitas, a cultura ao alcance de todos, as casas com todos os
serviços que servem e estão a baixo custo, alimentos completos,
hospitais bem equipados e pessoal médico capacitado, prisões cheias de
verdadeiros delinquentes (ou seja, de banqueiros, funcionários de
governo e policiais), a terra para quem a trabalha, as riquezas
naturais propriedades da Nação. Enfim, o mundo que sempre sonhou
desfrutar, mas sem ter que fazer nada a não ser um xis na cédula da
eleição. Não, sequer tem que se dar ao trabalho de vigiar se fraudam
ou se não contam bem os votos, nós fazemos isso por você!
Ah, o “bioshaker” da liberdade: perca peso sem se mexer (que o
aparelho se mexe por você); seja livre sem lutar (que o líder luta sem
você).
Agora bem, não desligue a sua televisão. Vejamos o que há por trás
desses anúncios. Sim, esses jovens musculosos e essas frondosas
senhoritas não usam esses aparelhos. Se você perguntar pra eles fora
do cenário, dirão que são inúteis, que nunca comprariam um, que um bom
corpo só se consegue com alimentação adequada e fazendo exercício.
Consegue me seguir?
Bom, assim é na política: os que realmente mandam no mundo não
acreditam na democracia eleitoral, sabem muito bem que nela não se
decide nada fundamental. Que o verdadeiro comando, o Poder, está do
outro lado, ao SEU lado.
Mas acontece que quando você está preste a trocar de canal, ou a pôr
um DVD “de produção alternativa” para ver “The Walking Dead”, aparece
outro senhor, senhora, senhorita, que lhe diz que não mude, que se
votar por ele-ela, agora sim vai conseguir isso que tanto precisa e
merece, que para consegui-lo, veja você, só tem que marcar esta cédula
eleitoral aqui, neste logotipo que , tudo bem, parece de comida sem
graça...

Bom, agora um teste de múltipla escolha para passar neste curso propedêutico:

Diante do anterior, você...

a) Acredita no senhor-senhora-senhorita de que se deve provar, que
talvez agora sim, se deve criar outro partido...com os mesmos de
sempre.
b) Troca de canal ou dá o play ao DVD e começa a comentar com seu par
ou seu cachorro, ou gato, ou com os 3, sobre porque os zumbis sempre
perdem apesar de serem maioria assustadora: bom, nem sempre, mas quase
nunca. No final os zumbis ganham. E há este filme de Romero, onde sai
El Mentalista, onde, no final, se vê que os zumbis vão procurar um
lugar para eles. Ah, se chama “Zumbi Land”, “Terra dos Mortos”. Sim,
talvez vão embora horrorizados pela sanguinária crueldade dos vivos.
Mmmh, ou seja, você diz o que os zumbis vão fazer, como quem diz, seu
município autônomo rebelde zapatista? Ou vão à escolinha zapatista
cheia de gente rara, sim, como todos e todas nós, bom, beijinho.
c) Não tem ou desliga a televisão e procura na rede se alguém já
conseguiu o ônibus para San Cristóbal de las Casas, Chiapas, de 8 a 18
de agosto, para chegar na festa, ir à escolinha, e estar na cátedra
dos povos originários. Enquanto liga o computador, você testa essas
botas horríveis que alguém disse que lhe servirão quando vier pra
Chiapas.
d) Não leu –entendeu a pergunta.

Autoavaliação (não trapaceie):

Se você escolheu a opção a, não venha. Se optou pela resposta b não
se preocupe, nós também parecemos zumbis...bom, mas uma penteada não
lhe faria mal. Se sua opção foi a c, é bom que saiba que essas bota
não vão lhe servir grande coisa. Se escolheu a d, então volte no
começo do texto (não, este não, e sim aquele que começou a escrever há
mais de 500 anos).
Tan-tan. Fim do curso propedêutico de Durito.

-*-

E os zapatistas, as zapatistas, que opção escolheriam? Usaram
aparelhos para exercícios, uma dieta balanceada, ou ambas? Ou nenhuma,
já que os zapatistas começam logo a construir sua própria opção.
Ah, talvez você encontre essas respostas no curso “A Liberdade
segundo @s Zapatistas”. Não lhe garanto. O certo é que, ainda que
escasseiem as respostas, sobrarão perguntas.
(Ah Durito trouxe também um conto, “a história do gato-cachorro”, mas
vou deixá-lo para outro dia).
(Continuará)

Das montanhas do Sudeste Mexicano
SupMarcos.
México, julho de 2013.


________________________

Acessos aos materiais divulgados através da lista e novas inscrições
podem ser feitos através do site:
http://groups.google.com.br/group/chiapas-palestina/
Aguardamos suas críticas e observações pelo e-mail nadiacoru...@gmail.com
Reply all
Reply to author
Forward
0 new messages