Notícias de Chiapas 03/07/2013

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Coruja Vermelha

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Jul 3, 2013, 4:18:58 PM7/3/13
to chiapas-...@googlegroups.com
@S CONDISCÍPUL@S IV. NOSSOS MESTRES NÃO ESTARÃO
La Jornada 28/06/2013.


Junho de 2013.

Aos e às aderentes da Sexta no México e no Mundo:
Aos e às estudantes da Escolinha Zapatista;

Companheiros, companheiroas, companheiras:

Pois sim, na verdade, acredito que terão como companheir@s de escola
parte do melhor deste mundo.
Mas, com certeza, você, ao estar nestas terras em resistência, achará
pouca a presença daqueles que têm sido, e são, muito importantes para
todos e todas nós zapatistas. Aqueles que sempre têm nos acompanhado,
guiado e ensinado com seu exemplo. Aqueles que, como muitas outras e
outros em todos os lugares do mundo, não são do EZLN. Alguns são da
Sexta, outros do Congresso Nacional Indígena, muitos mais têm
construído suas próprias casas e, contudo, andam o mesmo caminho que
nós. Todos eles, de uma forma ou de outra, são coparticipes de nossos
sucessos, por grandes ou modestos que sejam.
De nossos erros e fracassos, que não são poucos nem pequenos, só nós
somos responsáveis.
Porque talvez se pergunte quem ou como nos ensinou a resistir, a
lutar, a perseverar.
E, sobretudo, se pergunte por que não estão sentados a seu lado os
povos originários do México e do Mundo, particularmente da América
Latina.
A resposta é simples: porque eles têm sido, e são, nossos mestres.
Assim, não estarão os mais primeiros, aqueles sobre cujo sangue e dor
se levantou o mundo moderno: os povos originários.
Não serão seus condiscípulos os povos indígenas nem suas organizações
mais representativas.
Não os convidamos para a escolinha.
Talvez você esteja se perguntando se enlouquecemos, ou se é uma
manobra suja, nos moldes dos políticos de cima, para suplantar os
povos indígenas e apresentarmo-nos nós mesmos como ‘O’ povo indígena
por excelência.
Mas não, não os convidamos pura e simplesmente porque não temos nada
a ensinar a eles.
Poderíamos ensinar aos povos indígenas o que significa ser tratado
como estranho nas terras que foram nossas, bem antes que o mundo
começasse a manhosa narração da história de cima, e em nosso céu se
impusessem bandeiras estrangeiras?
Ensinaríamos a eles o que se sente quando se é objeto de gozações
pela roupa, pela língua, pela cultura?
Ensinaríamos a eles o que significa ser explorados, desapropriados,
reprimidos, desprezados durante séculos inteiros?
O que nós poderíamos ensinar aos irmãos da Tribo Yaqui e ao Mayo
Yoreme sobre o que representa o roubo dos recursos naturais e a
necessária resistência diante desta desapropriação?
O que ao Kumiai, ao Cucapá, ao Kikapú, ao Pame, sobre o que é ver-se
perseguido quase até o extermínio e, aconteça o que acontecer,
persistir?
O que ao Nahua que, invadidas suas terras por mineradoras e
funcionários [públicos] corruptos e, sem se importar com a perseguição
e a morte, continua a luta para tirar os invasores da bandeira do
dinheiro?
O que ao Mazahua e ao Ñahñu sobre o que se sente ao sofrer gozação
pela roupa, pela cor, pelo modo de falar, e, no lugar de ficarem
envergonhados, pintar o vento de sons e cores?
O que ensinaríamos aos Wixaritari sobre a destruição e a
desapropriação da cultura com o álibi do “progresso”, e resistir, com
o guia dos maiores?
Ensinaríamos ao Coca, ao Me’hpaa, ao Teneke a não se render?
Ao Amuzgo a lutar por seus direitos?
Ensinaríamos aos Maias sobre o que é imposição, pela força, pelo
roubo e pela criminalização, de uma cultura estranha subjugando a
original?
Falaríamos ao Purépecha sobe o valor de vida da cultura indígena?
Ao Popoluca, Zapoteco, Mixteco, Cuicateco, Chinanteco, Chatino sobre
o que representa continuar lutando ainda que tudo seja contra?
Ao Rarámuri sobre a fome mal calada e a dignidade imbatível?
E na dolorosa América Latina:
Poderíamos ensinar algo a um de nossos irmãos maiores, o povo
Mapuche, do que é resistir à contínua guerra de desapropriação e de
extermínio? A sobreviver a uma longa lista de mentiras, queixas e
gozações, pintadas de todas as cores políticas de cima?
E o que todos e todas nós, zapatistas, os mais pequenos, poderíamos
ensinar a qualquer dos povos originários do México, da América, do
Mundo?
O que vão aprender de todas e todos nós?
A resistir?
Sua simples experiência demonstra que podem dar aulas na grande
escola do Mundo, não recebê-las.
Não, não convidamos os povos originários à escolinha pela simples
razão de que, em nossa história, somos nós que temos sido alunos
desajeitados desses gigantes.
Claro que vamos enviar a eles os materiais. Mas...
Vamos ensinar a eles como é viver numa comunidade, sentir o que é ter
outra cultura, outra língua, outro jeito?
A lutar?
A imaginar e criar resistências?
Nem pensar.
Dos povos indígenas, todo caso, nós zapatistas ainda temos muito a aprender.
Então, eles virão depois e todos e todas nós iremos continuar aprendendo.
E, quando vierem ao encontro especial que faremos com eles soarão
nossas melhores notas, as mais variadas e vivas cores adornarão seu
passo, e nosso coração voltará a se abrir para acolher aqueles que são
nossos irmãos maiores, os mais grandes, os melhores.
Porque honrar quem ensina é também honrar a terra.
Virão às nossas casas, com eles partilharemos alimentos e memórias.
Levantaremos eles sobre nós.
E, erguidos sobre nossos ombros, se levantarão ainda mais.
E lhes perguntaremos o que veem.
Pediremos a eles que, com seus olhos, nos ensinem a olhar mais longe,
mais largo, mais profundo, mais alto.
Que sua palavra nos receba e nela bebamos.
Que nos ajudem a crescer e ser melhores.
Para eles têm sido, é e será sempre nosso melhor abraço.
Assim que não estarão nossos Mestres.
Mas vocês não se aflijam. Com certeza, esses povos que conseguiram
resistir até agora a todo tipo de ataques, saberão ser generosos e,
chegado o momento, lhes abrirão o coração, como agora nos fazemos.
Porque eles nos ensinaram a não olhar para os ruídos que ensurdecem e cegam.
Porque eles nos ensinaram a não ouvir as cores da enganação e do dinheiro.
Porque eles nos ensinaram a olhá-los e a olhar-nos, a ouvi-los e a ouvir-nos.
Porque eles nos ensinaram que ser indígena é ter a dignidade por casa
e destino.
Porque eles nos ensinaram não a cair e sim a levantar.
Porque eles nos ensinaram o valor que tem o ser a cor que somos da terra.
Porque eles nos ensinaram a não ter medo.
Porque eles nos ensinaram que para viver, morremos.

Valeu. Saúde e silêncio para ouvir o passo que vem do mais profundo
dos mundos que no mundo são e têm sido.

Das montanhas do Sudeste Mexicano.
SupMarcos.


DESDE 2009, BACHAJÓN SOFRE UMA CAMPANHA DE HOSTILIDADES.
Hermann Bellinghausen. La Jornada 30/06/2013.


San Cristóbal de las Casas, Chiapas, 29 de junho. A resistência dos
ejidatários de San Sebastián Bachajón aderentes à Sexta se inscreve em
várias histórias que são uma só, desde o assassinato impune, em abril,
do seu dirigente Juan Vázquez Guzmán até a libertação esta semana de
Miguel Vázquez Deara, preso há mais de dois anos, em Ocosingo, sob
acusações falsas. E a perseguição judicial em curso contra Antonio
Estrada Estrada e Miguel Demeza Jiménez, reclusos, respectivamente, em
Payas de Catazajá e El Amate, também por montagens ministeriais e
tortura. Isso, e mais, é o preço que pagam pela defesa do seu
território que hoje referendam.
A coletiva de imprensa dos ejidatários desta sexta-feira no Centro de
Direitos Humanos Frei Bartolomeu de las Casas (FRAYBA) confirma que
cada caso individual é resultado de uma mesma campanha governamental,
desde 2009, para dilacerar esta histórica comunidade tzeltal de
Chilón. Trata-se de uma comunidade perseguida. Porque resiste.
Domingo Pérez, representante dos ejidatários da sexta, põe num mesmo
patamar o estar comemorando nesses dias Juan, o líder assassinato, e a
alegria de receber Vázquez Deara livre. Este último, ao tomar a
palavra, exige a liberdade de seus outros dois companheiros, “porque
suas famílias estão sofrendo sem eles, que estão sofrendo no cárcere
sem motivo”.
Marta Demeza Jiménez diz de seu irmão Miguel, preso em El Amate: “É
uma pessoa honesta, honrada, trabalhadora, presa injustamente desde
2010”. E, ao referir-se à estranha decisão do juiz Ricardo Alfonso
Morcillo Moguel, de Tuxtla Gutiérrez que, no lugar de resolver um
recurso de apelação do indígena sentenciado, o despachou à cidade de
Jalapa, Vera Cruz, o mais longe que ele pôde, Marta sublinha: “É uma
má decisão do juiz Morcillo, não pode lavar as mãos como se tivesse
medo do governo e da opinião pública”.
Isabel Hernández Deara, esposa de Antonio Estrada Estrada, insiste na
inocência do seu companheiro, preso desde 2011 por falsas acusações de
roubo com violência. “Aplicaram-lhe ‘torturas’ para que confessasse.
Nós somos pobres e não temos como pagar a justiça. Os verdadeiros
culpados, que têm como pagar, estão livres” (Não havia ironia em suas
palavras). O que complica o processo de Antonio é que, como parte do
que sua defesa do FRAYBA chama “a montagem” ministerial, “plantaram”
no indígena uma arma de uso exclusivo das forças armadas, e isso faz
com que lhe seja imputado um crime de alçada federal.
Sequer a libertação de Vázquez Deara é definitiva. Só o juiz de
Ocosingo ditou o auto de soltura na sexta, dia 26, aceitando que
“nunca existiram elementos para esse processo”, como explica o próprio
FRAYBA, o ministério público de Ocosingo apelou imediatamente da
sentença.
Domingo Pérez Alonso lembra que Juan Vázquez, antes de ser
assassinado, dedicava-se a acompanhar diretamente seus companheiros
presos e “estava muito ligado a suas famílias”. Lembrou que a
perseguição de paramilitares, que parecia ter ficado no passado,
tornou-se mais dura durante o governo de Juan Sabines Guerrero.
Responsabiliza pelo crime o atual governo estadual e o líder
oficialista Francisco García.
Enquanto isso, de Oaxaca, o escritor Gustavo Esteva uniu-se novamente
àqueles que apoiam o povo da Sexta em San Sebastián: “Devemos assumir
integralmente o estado das coisas. Aqueles que deveriam vigiar pelo
cumprimento da lei se dedicam a violá-la. Aqueles que têm a faculdade
legal de usar a violência para proteger os cidadãos a estão usando
contra eles. A máquina jurídica escarnece sistematicamente a justiça e
veste o despotismo com o manto de simulacros de tribunais. É aberrante
continuar falando do estado de direito e de democracia quando as
coisas estão como agora”.
“Estamos num estado de exceção não declarado no qual se incorre em
todos os vícios e males da injustiça, em todos os horrores que a
justiça não deve ver. ‘Aqui em Chiapas’, disse alguma vez Juan Vázquez
Guzmán, ‘a lei e a justiça não existem, e é o governo que impõe o seu
mandato’”.
Esteva, colaborador do La Jornada, conclui: “longe de impulsionar-nos
à paralisia ou ao desespero, esta situação insuportável nos impulsiona
a tomar a iniciativa e nutre nossa esperança. Diante de crimes e
impunidades do mau governo levanta-se a energia daqueles que,
inspirados e alentados por Juan, decidem levar adiante a luta e
irmanar-se com muitos companheiros que por toda parte têm decidido
resistir. A luta de Juan e do povo de San Sebastián está claramente
diante de uma batalha na qual se definirá o nosso destino”.


TZELTALES MANTÊM BLOQUEIO NA ESTRADA OCOSINGO-PALENQUE.
Hermann Bellinghausen. La Jornada 03/07/2013.


San Sebastián Bachajón. Chiapas, 2 de julho. Centenas e homens e
mulheres –elas vestidas de acordo com o costume tzeltal, com flores na
blusa e listas nas saias-, sob o sol e sob a chuva, mantêm
atravessadas três grandes faixas sobre a estrada Ocosingo-Palenque, a
poucos metros do entroncamento para as cataratas de Agua Azul. Eles
mesmos se atravessam num bloqueio informativo; mas, quando necessário,
colocaram paus e galhos no asfalto.
O protesto, que produz longas filas de carros, na mais simples e crua
de suas faixas sintetiza os motivos: “O mau governo é responsável pela
morte do companheiro Juan Vázquez Guzmán. Não à desapropriação de
nossas terras. Liberdade imediata de nossos presos Antonio Estrada
Estrada e Miguel Demeza Jiménez. Liberdade imediata de Alberto
Patishtán e dos demais presos políticos de Chiapas”. Assinam com vivas
aos povos em resistência e aos caracóis zapatistas.
“Estamos deixando passar os doentes e os que precisam”, explica um
dos ejidatários encarregados da mobilização –em seu próprio território
ejidal- dos aderentes da Sexta Declaração da Selva Lacandona. A cada
duas horas, abrem a passagem para carros e ônibus. E, de tempos em
tempos, os indígenas leem no megafone o pronunciamento no qual exigem
justiça pelo assassinato de seu líder, respeito à sua integridade
territorial e liberdade para seus companheiros presos.
Com certeza, este não é o único bloqueio do dia. De Tuxtla Gutiérrez
a San Cristóbal de las Casas, Ocosingo e Palenque, integrantes da
Aliança Mexicana de Organizações de Motoristas (AMOTAC) mantêm
fechadas as estradas de Chiapas, com grandes caminhões de carga
atravessados nas pistas. Mas só o fechamento viário dos ejidatários
tzeltales é um protesto político in loco: estas mesmas são as terras
que estão defendendo.
Aproveitando a fila de veículos que esperam passar, meninas e
mulheres dos arredores vendem frutas, frituras e bebidas. “Ar fresco,
ar fresco”, oferece uma pequenininha, e para o calor do meio-dia não
parece má ideia. Mas a realidade é que os tzeltales não pronunciam a
erre forte, e a cantilena quer dizer: “Há refresco, há refresco”, e um
isopor em seus braços o confirma.
Através de um panfleto impresso com o rosto do dirigente assassinado
em abril, de um lado em espanhol e de outro num inglês não tão
preciso, os ejidatários insistem na libertação de Antonio e Miguel,
“sequestrados na prisão”, e informam o público (há turistas de várias
nacionalidades e população local) que desde fevereiro de 2011 o
governo “se apoderou ilegalmente de nossas terras comunais para impor
seus projetos capitalistas”.
Nesse mesmo dia, o Centro de Direitos Humanos Frei Bartolomeu de las
Casas (FRAYBA) uniu-se à exigência de justiça por Juan Vázquez Guzmán
e à luta de Bachajón, num pronunciamento que diz: “Juan, com milhares
de ejidatários aderentes à Sexta Declaração de San Sebastián Bachajón,
se distinguiu pela luta em defesa do território apesar das represálias
do governo através da judicialização de seu processo de autonomia”.
O FRAYBA destaca que seu assassinato “cortou um galho da grande
árvore da luta consciente e digna do povo chol e tzeltal da região;
contudo, este ramo deixou pegada e caminho, aplanou o processo e
ressoa em outras e outros companheiros que se unem à defesa de seu
povo na construção da autonomia e da livre decisão pela vida”.
O organismo civil exortou o governo do México “a adotar imediata e
urgentemente todas as medidas necessárias para garantir o direito à
vida, à integridade e à segurança pessoal, aos integrantes do ejido de
San Sebastián Bachajón aderentes à Sexta Declaração, bem como às
defensoras dos direitos humanos que exercem seu trabalho a favor de
seu território e da vida”.

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podem ser feitos através do site:
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