Notícias de Chiapas 09/12/2013

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Coruja Vermelha

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Dec 9, 2013, 11:52:41 AM12/9/13
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DENUNCIAM FISCAL ESPECIALIZADO INDÍGENA DE CHIAPAS POR DESCUMPRIR
MANDATOS. Hermann Bellinghausen. La Jornada 07/12/2013.


San Cristóbal de las Casas, Chiapas, 06 de dezembro. Ao completar
dois anos do ataque sofrido em Banavil, município de Tenejapa, contra
quatro famílias tzeltales simpatizantes do Exército Zapatista de
Libertação Nacional (EZLN), estas denunciaram o Fiscal Especializado
Indígena, Cristóbal Hernández López, por suposta corrupção e
cumplicidade com o grupo criminoso contra o qual existem 13 mandatos
de prisão que, desacatando a ordem do juiz, nunca têm sido cumpridos.
Reiteraram também sua denúncia contra o grupo de priistas que os
agrediu, sequestrou e fez desaparecer Alonso López Luna, e fez com que
seus filhos Lorenzo, Petrona e Miguel López Girón fossem desalojados
de forma violenta com suas respectivas famílias.
Naqueles acontecimentos, em 4 de dezembro de 2011, morreu Pedro
Méndez López, do grupo agressor, e ficaram feridas outras seis
pessoas. “Fomos agredidos com armas d fogo, desalojados, presos,
perseguidos como criminosos, objeto de gozação das autoridades, tudo
por sermos indígenas”, disseram numa entrevista coletiva, acompanhados
por seu advogado Javier Narváez Morales, que afirmou que a
fiscalização indígena “é a instituição mais corrupta” desta cidade.
Por sua vez, os indígenas mencionaram: “Oferecem dinheiro ao fiscal e
ele o aceita”.
Acrescentaram: “Caciques e priistas de Banavil estão contra nós por
sermos simpatizantes do EZLN e porque não acreditamos no mau governo e
sim na luta. Em 2007, começaram a nos agredir. Desde então, colocamos
várias denúncias diante da fiscalização, mas nenhuma teve andamento.
Os agressores passeiam pelas ruas rindo e gozando de nós e até
trabalham na prefeitura de Tenejapa”.
Após o último ataque “iniciamos novas denúncias, que não têm
andamento, pois há muita cumplicidade do fiscal; não somos só nós a
dizer isso: há mais pessoas que têm reclamado do mau desempenho desse
senhor, que não tem coração para atender os problemas dos povoados,
fica só pra ver como se matam os indígenas, recolher os corpos dos
mortos e prender as vítimas”. Foi isso que ocorreu com Lorenzo López
Girón: ferido à bala, ficou preso quatro meses. Francisco Santiz, base
de apoio do EZLN, que sequer estava no lugar dos acontecimentos, ficou
preso mais de um ano. Ainda há mandatos de prisão contra dois outros
desalojados e seu pai Alonso, ainda que “as autoridades o deem como
morto”.
“Já faz 730 dias que estamos vivendo em condições sub-humanas”,
enquanto o fiscal Hernández López “respalda os assassinos”. Exigem a
devolução de suas terras e casas, abandonadas e saqueadas. O
comandante da Polícia Judiciária Especializada argumenta estar
“saturado de trabalho”, para não cumprir com os procedimentos
relativos ao homicídio de López Luna. “Exigimos que nos digam onde
está o resto do corpo de nosso pai”.
O Centro de Direitos Humanos Frei Bartolomeu de las Casas (FRAYBA)
sublinhou que as quatro famílias desalojadas (14 pessoas)
“encontram-se aglomeradas em condições insalubres, sem água potável e
expostas às intempéries”. Já faz mais de um ano que se deu entrada na
ação administrativa 460/1N7A-T1/2012, na Fiscalização de Justiça
Indígena, pelo delito de desapropriação, mas nunca se deu andamento.
As investigações não foram feitas de maneira adequada e, ainda que dos
expedientes 78/2012 e 42/2011 tenham sido emitidas 13 ordens de prisão
pelo desaparecimento de López Luna, essas não foram executadas. Em vez
disso, “acusam-se as vítimas pelas agressões”. O FRAYBA exige
condições para “o imediato retorno das famílias” e a prisão dos
assassinos.


TPP REALIZA EM CHIAPAS UMA PRÉ-AUDIÊNCIA COM SOBREVIVENTES DA GUERRA
ENCOBERTA”. Hermann Bellinghausen. La Jornada 08/12/2013.


Susuclumil, Chiapas, 7 de dezembro. Em poucos lugares da atribulada
geografia nacional é mais fundado e pertinente um “julgamento do
Estado Mexicano” por crimes deliberados e de lesa humanidade, do que
na zona Norte de Chiapas. Neste fim de semana, o Tribunal Permanente
dos Povos (TPP) realizou nesta comunidade chol, na zona baixa de Tila,
uma pré-audiência na qual recebeu testemunhos de dezenas de vítimas e
sobreviventes dos piores anos da guerra encoberta que se desatou nas
montanhas do sudeste depois do levante armado do EZLN em 1994.
A operação de guerra realizada pelo governo mexicano na zona chol
entre 1995 e 1999, durante a presidência de Ernesto Zedillo, deve
servir como caso exemplar nas academias militares nas quais se estudam
as guerras encobertas. Causou 85 mortes de camponeses e o
desaparecimento de outros 37. Destruíram-se povoados, queimaram-se
capelas, introduziram-se bordéis, conforme mandam os manuais. Os
nativos foram expulsos. (naqueles anos, na zona norte, houve 3.500
refugiados). Estabeleceu-se um regime de terror a cargo de um grupo
paramilitar bem definido: a organização priista Desenvolvimento, Paz e
Justiça, que atuou sempre de mãos dadas com as polícias federal,
estadual e municipal. Juntos realizavam “patrulhamentos” que para as
comunidades de Tila, Sabanilla e Tumbalá foram se tornando motivo de
terror. Quem não ia embora permanecia trancado em suas casas.
Militarizada a região a partir do terceiro mês do governo Zedillo, a
vinculação entre os dirigentes de Paz e Justiça e os altos comandos
castrenses foi imediata e, em certa medida, pública.
Estupros, esquartejamentos, execuções, emboscadas, tortura, assaltos
a mão armada. Nunca combate, sempre ataques contra a população civil
indefesa e pacífica. A impunidade de que gozam até o momento todos os
envolvidos nos crimes -inclusive os poucos que, por outros delitos,
têm pisado na prisão- é a cereja no bolo do chamado “Plano de Campanha
Chiapas 94”, cuja existência nunca tem sido reconhecida pelo governo,
apesar de estar bem documentado, e cujos frutos banharam de sangue
essas montanhas no ultimo lustro do século XX. De fato, hoje se
conhece a existência de uma rede clandestina de oficiais do Exército
que atuaram “em campo”.
Na pré-audiência do TPP se ouvem os nomes de muitos dos autores
materiais da rede de crimes ocorrida aqui; dos mentores intelectuais,
ou seja, de seus dirigentes e dos funcionários do governo priista; dos
comandos policiais, dos agentes do Ministério Público e de batalhões
do Exército federal que encobriram e apoiaram sistematicamente esses
paramilitares. As prefeituras desses municípios e algumas presidências
de suas Câmaras foram repartidas entre os membros de Paz e Justiça. A
zona norte pertencia a Samuel Sánchez, Diego Vázquez, Marcos Albino
Torres, Sabelino Torres Martínez, Carlos Torres López, José Torres
Torres e muitos outros.
O governador interino Julio César Ruiz Ferro encobriu e financiou o
grupo contrainsurgente. Seus dirigentes passavam por líderes do
magistério (alguns eram do SNTE) ou representantes agrários do
aparelho priista, e haviam estabelecido uma estrutura paralela ao
Exército federal de ocupação. Dedicaram-se a perseguir
indiscriminadamente moradores de organizações independentes (Abu Xú),
diáconos da diocese de San Cristóbal –na época, a cargo de Samuel Ruiz
Garcia- perredistas, simpatizantes e bases de apoio do EZLN e, em
geral, todos os que não pertenciam ao seu grupo e nem participavam dos
programas governamentais.
Susuclumil (“Terra Branca”, em chol), a comunidade anfitriã da
pré-audiência “Justiça e Verdade” do TPP, também sofreu essa ofensiva
contrainsurgente durante anos e, até o momento, seus efeitos se fazem
sentir. As mulheres continuam “tendo pesadelos”, os homens não
conseguem tirar o espanto. A indignação vem sempre que se lembram. Não
esqueceram. Bem perto, está a colônia Miguel Alemán, referida como a
sede principal de Paz e Justiça. Foi cenário de atrocidades: daí saíam
muitos “patrulhamentos”, não poucas vezes letais. Em 20 de junho de
1996, em Miguel Alemán, foi sequestrada, hostilizada, assassinada e
“feita desaparecer” Minerva Guadalupe Pérez López. “Até o dia de hoje,
ninguém foi castigado”, dizem seus familiares.
Os indígenas passaram 18 ou 19 anos cruzando pelos caminhos ou nas
repartições governamentais com os assassinos, encarregados da
expulsão, estupradores, assaltantes de seus familiares em Usipá,
Masojá Grande e Chico, Jolnixtié, Tila, Sabanilla, Limar,
Aguascalientes, Cruz Palenque, Cruzero, Calvário e muitas outras
comunidades: identificados, impunes, prósperos, oficialistas como
sempre.
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