Não compartilho da fé carismática e
episcopal deste bispo. Porém, através do seu texto, vejo claramente o
esgotamento dos evangélicos nesse mercantilismo da música cristã. Graças a Deus
o povo evangélico começou a acordar. Sinto-me feliz por ter sido um dos
primeiros a protestar contra isso. Agora querem cobrar pelo louvor. Para eles o
dito apostólico: "Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para
perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro." (At
8:20)
Wagner Antonio de
Araújo
Publicado originalmente por Walter
McAlister
Soube hoje que as Igrejas Cristãs Nova Vida, da
qual sou o Bispo Primaz, foram notificadas de que teriam de pagar direitos
autorais pela execução de músicas de “louvor” nos seus cultos. Cada uma de
nossas igrejas ficaria, assim, responsável por declarar o número de membros e a
frequência aos seus cultos, para que fosse avaliado o imposto a ser pago ao
Christian Copyright Licensing International (CCLI), sociedade que realiza a
arrecadação e a distribuição de direitos autorais decorrentes da execução
pública de músicas nacionais e estrangeiras. Por sua vez, o CCLI repassaria o
valor devido aos compositores cujas músicas estão cadastradas.
São poucas as
vezes em que me vejo sequestrado por um assunto do momento aqui no blog. Tenho
como norma pessoal não me deixar levar pelas “últimas”. Já há bastante
alvoroço em torno de assuntos efêmeros e não precisam da minha voz para somar à
confusão instaurada por “notícias” e controvérsias. Não obstante essa regra que
tento seguir, não posso me calar ante esse fato. Já deixei passar algumas horas
até que a minha revolta se acalmasse, para que, no seu lugar, pudesse me
expressar com clareza e me reportar às Escrituras como regra. Pois, em meio ao
transtorno, ninguém se contém e acaba por pecar pelo excesso. Isso não quer
dizer que me sinta menos convicto sobre o que tenho a dizer, mas quero realmente
trazer uma perspectiva lúcida.
Comecemos pelo que constitui o direito autoral
e o porquê da sua existência. Seria justo que alguém lucrasse pelo trabalho, a
inspiração e a arte de outro sem que o autor da obra participasse dos lucros?
Certamente que não. Cada emissora de rádio, show ou outro tipo de empreendimento
com fins lucrativos deve prestar a devida parcela do seu lucro a quem ajudou a
produzir essa arte.
Por outro lado, a Igreja é um empreendimento com fins
lucrativos? Não – segundo a definição do próprio Estado brasileiro. Ela goza de
certos privilégios, na compreensão de que a sua atividade é religiosa, devota e
piedosa e, sendo assim, sem fins lucrativos. Que muitos “lucram” em nome da
Igreja ninguém duvida. Mas, em termos estritamente definidos pela legislação,
não é um empreendimento que tenha como finalidade o lucro.
Louvar a Deus é
uma atividade que gera rentabilidade? Também não. Quando cantamos ao Senhor,
estamos nos expressando a Deus em sacrifício santo e agradável a Ele (se bem que
não caem nesta categoria muitas das músicas que doravante serão objeto de
taxação, por decreto-lei). Mas, para manter o fio da meada desta reflexão,
suponhamos que as músicas adocicadas, sem fundamento em qualquer real princípio
cristão, emotivas e, em alguns casos, passionais (para não dizer sensuais) sejam
realmente louvor (algo que tenho tentado ensinar a nossa denominação que não
são). Cantar essas músicas traz lucro para a igreja? A resposta é não. A
igreja não lucra. Não há um centavo a mais caindo nas salvas porque cantamos uma
música de uma dessas cantoras gospel da moda em vez de Castelo Forte. É possível
fazer um culto fundamentado apenas nas músicas riquíssimas do Cantor Cristão e
da Harpa Cristã (para não falar nos Vencedores por Cristo, cuja maioria das
canções não recai sobre este novo decreto-lei).
Esses cantores e essas
cantoras têm o apoio de empresários da fé. Homens que também lucram absurdamente
às custas da boa-fé de pessoas a quem prometem uma vida de lucro pelo seu
envolvimento. Não me surpreende ver a lista de “notáveis” que apoiam essa
iniciativa.
Agora, esses cantores que se venderam para emissoras de
televisão, que ganham fortunas nas suas turnês “gospel” e pela venda de
incontáveis CDs e DVDs, não estão satisfeitos. Querem mais. Querem “enterrar os
ossos”. Tornaram-se mercadores da fé, e com essa última cartada, suas máscaras
caem por terra. Que máscaras? As que fazem com que acreditemos que eles
realmente creem que o culto é para Deus somente. Para eles, a igreja não passa
de fonte de lucro. A igreja não passa de um negócio. Sim, porque, por essa ação,
afirmam não acreditar que a igreja seja uma assembleia de sacrifício. Para eles,
a igreja é uma máquina de dinheiro. Sua eclesiologia é clara. Suas lágrimas de
comoção são teatro. Seus gestos de mãos erguidas não passam de encenação.
A
despeito do meu repúdio por esse grupo de músicos “cristãos”, fico grato a eles
por uma razão. Tenho tentado ensinar a denominação que lidero a ser mais
criteriosa na escolha das músicas cantadas nos cultos. Por força da popularidade
desses “superastros do louvor” a pressão da juventude e dos músicos da igreja
tem sido quase insuportável. Então cantam as músicas sem devocionalidade real
deles e delas para o enlevo de pessoas que nem precisavam confessar Jesus para
cantá-las com comoção. Graças ao mercantilismo dos tais, vou emitir uma circular
para as nossas igrejas em que instruirei todas a pagar os direitos autorais
devidos caso queiram insistir em usar as referidas músicas da moda em seus
cultos.
Os que não querem fazer parte desse mercado de rapina receberão uma
lista compreensiva de músicas que continuam sendo de domínio público, inclusive
as que compus e pelas quais nunca recebi nem quero receber um centavo. Graças a
Deus, são os bons e velhos hinos que têm conteúdo e substância, confissão e
verdadeiro testemunho do Evangelho. Há centenas de hinos antigos que vamos tirar
das prateleiras e redescobrir. Podemos aprendê-los e retrabalhá-los para
torná-los atuais aos nossos dias, com arranjos interessantes. Músicas escritas
por santos e não por crianças. Músicas escritas para a glória de Deus e não para
lucro sórdido. Sim, falei sórdido. Pois os atuais já lucraram com o que é
legítimo. Agora vão atrás do resto. É um gospel de rapina. Sinto-me na
necessidade de tomar um banho, pois essa história me forçou a passear pelo
lamaçal onde esses chafurdam para encher a própria barriga – que é o seu deus,
afinal.
Que bom que já me acalmei, pois realmente tinha vontade de dizer
muito mais.
Na paz,
+W