No dia 24 de out. de 2024, às 2:36 PM, Lucas de Abreu Maia <labre...@gmail.com> escreveu:
Lucas,Dias mais e menos bons são absolutamente comuns no início da dupla. Resta tentar entender o porquê de o cão ter se comportado assim, além de compreender que cães são vivos. Como nós, têm dias em que estão mais ou menos bem dispostos. Pela sua descrição, aposto contigo que o seu guia estava tentando te comunicar alguma coisa.Boa sorte .– Lucas de Abreu Maia, he/him/hisLecturer (assistant professor) in Politics with Quantitative Research MethodsSchool of Sociology, Politics and International StudiesUniversity of Bristol--On Thu, 24 Oct 2024 at 14:14, Lucas Antonio <lucasan...@gmail.com> wrote:"Se usasse a bengala, você não teria se aborrecido...", disse um colega cego, em particular, quando soube dos problemas que enfrentei na semana passada no barzinho e no táxi.--
E, para além dele, em seguida outros cegos apareceram com as velhas ideias contrárias ao cão-guia. Mencionaram o sofrimento animal (que só existe em suas cabeças), o "direito do motorista" em se recusar a transportar cães-guia, um chegou a sugerir que os cães-guia deveriam ser transportados em caixas de transporte, apenas... pensamento de quem não pensou bem.
Eu argumentei, claro, expliquei como funciona o treinamento, a importância da tecnologia, cheguei a dizer que o cão-guia tem uma vida muito mais saudável do que muitos cães domésticos, relegados ao esquecimento.
"Continuo com a mesma opinião", disse um deles, sem considerar sequer por um momento tudo o que eu havia explicado.
O que mais assusta é ver esse tipo de argumentação partindo de alguém que é cego, como eu... se nem mesmo os cegos nos entendem, como podem as pessoas que enxergam entender? Se os cegos, que deveriam se preocupar com inclusão, tantas vezes não o fazem, como cobrar que a sociedade, em geral, pense nisso? E o cão-guia não é algo novo; existe há cem anos, e, no Brasil, ao menos há cinquenta...
Isso é desanimador. Ontem, tempo chuviscandinho, cidade molhada, precisava sair. Por um momento, pensei em deixar o Rumble em casa, e, batendo bengala, ir onde precisava. Tive pena do bichinho, coitado, não queria fazê-lo sair no molhado. Entretanto, mal ele me viu trocando de roupa, ficou eufórico, começou a dar voltinhas, decerto feliz porque iria sair... e quando passei perto do suporte onde fica o equipamento, ele pôs a cabeça nos meus pés, oferecendo o pescoço para que eu colocasse o arreio. Como negar o que ele queria? Com chuvinha e tudo, lá fomos nós.
Nem tudo é bonito, porém; por certo por imperícia minha, reconheço, ontem o cão estava por demais teimoso.
Pedi escada, estava ali do ladinho, foi para uma grade; pedi para parar, não quis, tive de fazê-lo parar com a guia; pedi para cruzar uma rua, queria cruzar em diagonal (o que não se pode), e deu uma voltona que até agora não entendi por onde...
Na calçada, quis subir numa lata de lixo, e levou um pito. Enquanto eu caminhava com uma amiga que enxerga, e, portanto, o levava apenas pela guia, não pela alça, quis correr na nossa frente, puxar a guia, fazer um pampeiro, o que não costuma fazer.
Dei uma correçãozinha na guia, claro, como ensinou o instrutor, qual! Pouco adiantou. E a menina chegou a questionar se não era maldade minha, corrigi-lo e fazer "não não!"... Sem entender que não há nenhum sofrimento físico ao animal, apenas uma chamada de atenção.
"Estaria com dor?", ela perguntou. "Incomodado com alguma coisa?", nada me parecia estar o incomodando... e nem mesmo havia cães de rua para distraí-lo. Até agora não sei a razão pela qual, ontem, ele estava terrível desse jeito. Nem mesmo corrigindo firme com a guia, ele queria obedecer.
Por fim, após fazermos o que precisávamos, voltamos para casa, e tudo terminou bem...
Mas essas duas questões, tanto a incompreensão do próximo quanto a teimosia do cão, me aborrecem um pouco... Têm solução? Deve ter... Qual? Ainda não descobri...
Mas não posso desanimar. O cão não é apenas guia; é, antes, parte de mim próprio, amigo sincero que não vai me abandonar.
Relatar esses casos para vocês me faz bem; casos simples, histórias quase insignificantes, mas que são parte de mim, e, para mim, têm importância.---------- Forwarded message ---------
De: M. Regina M. de Carvalho e Silva <sm...@uol.com.br>
Date: dom., 20 de out. de 2024 às 11:07
Subject: RE: O Preço da Liberdade é o Preconceito? Quando um Cão-Guia Torna o Cego um Pária!
To: <caes...@googlegroups.com>--Taxistas são os piores preconceituosos desde sempre! Em São Paulo, nós que vivemos os primórdios no uso do cão-guia, sofremos um bocado com isso; eu passei a usar só rádio-táxi que, como cooperativa, grupo, seja lá o que for, prefere cumprir a lei em vez de encarar multas e desagrado da população em geral. Uber, em São Paulo recebeu liminar judicial para recusar cão-guia alegando que o carro é de uso privado, o que não é verdade, mas a imensa maioria receb. O Luiz Alberto, que não leva desaforo para casa, teve dedos presos em porta de táxi, antes da lei federal. Atualmente, vale chamar a polícia e eles, muito raramente recusam ajuda; pessoalmente não precisei usar o recurso, mas sugeri que ia fazer isso e, cá entre nós, fazer cara feia para gente cega é pura perda de tempo, né? a gente não vai ver mesmo... Hoje tem cão-guia para todo lado, e não acontece mais esse tipo de recusa; aí em Curitiba, cidade muito preconceituosa, capacitista e tudo mais, ainda acontece chateação. “Não me ameace” deveria ter sido dito por você: “não me ameace o senhor! A lei está do meu lado e o senhor, por favor, cumpra seu dever. Nos velhos tempos, quando táxi era o meio de transporte particular em serviço público, alguns taxistas perderam o alvará e perderam o direito de exercer a profissão; valeu a pena? Pois o pessoal achou melhor cumprir a lei...
Cabe, por outro lado, ao usuário de cão-guia, manter seu cão limpo, escovado, educado, amigável, um animal que atrai em vez de afastar as pessoas.
Para mim, o maior ganho pessoal no uso do cão-guia foi, justamente, a inclusão social. Você vai acabar sentindo isso também. E entrente os problemas, enquanto as pessoas ainda não te conhecerem como usuário de cão-guia, em vez de ficar se queixando, tá bem?
Você sabe que te admiro, que gosto de você, mas pare com isso! Entrente! Tenha coragem e siga em frente na vida. No seu trabalho garanto que seu cão atraiu muita gente, em vez de afastar, não é? Pois contabilize seus ganhos, ponha na balança dos ganhos e perdas e vai ver que já ganhou muito, em muito pouco tempo e vai ganhar mais ainda.
Carinho para seu rapaz e abraço para você,
Regina.
M. Regina M. de Carvalho e Silva
From: caes...@googlegroups.com <caes...@googlegroups.com> On Behalf Of Lucas Antonio
Sent: Sunday, October 20, 2024 10:33 AM
To: caes...@googlegroups.com; vt <voxte...@googlegroups.com>
Subject: O Preço da Liberdade é o Preconceito? Quando um Cão-Guia Torna o Cego um Pária!
"Cachorro não entra, desculpe!", resmungou o taxista, quando, na madrugada, precisava voltar para casa. Os ônibus já não circulavam, o Uber não vinha, a noite, antes acolhedora, tornara-se gélida e opressiva de repente.
"O senhor conhece a lei?", perguntei, tom calmo, tentando, como último recurso, mostrar ao profissional que a discriminação contra o cão-guia é ilegal.
"Não me ameace!", respondeu, sem compaixão.
Nessa altura, minha paciência começou a esgotar; mas, muito antes, meu psicológico, que sempre foi pusilânime, já estava em frangalhos. Pela ignorância, pelo preconceito, de repente, vi-me transformado num pária social, sem que nada tivesse feito para merecer tamanho desprezo.
Qual fora meu crime? Estar com um um cão-guia, por ser pessoa cega? Ousar fazer valer meu direito, direito reconhecido desde 2005, de entrar e permanecer com meu cão em ambientes de uso coletivo?
Mais cedo, antes desse terrível episódio com o táxi, haviam tentado me barrar num dos mais famosos bares de Curitiba, ali no Largo da Ordem, onde, com outros amigos cegos, havíamos marcado um Happy Hour , no fim de uma sexta-feira de calor.
O funcionário, em vez de garantir um bom atendimento, tentou usar seu pequeno poder para oprimir, abusando da autoridade como se fosse dono do espaço e estivesse acima da Lei.
Depois de conversar um pouco, permitiu que eu entrasse acompanhado de meu cão, mas quis me colocar numa mesa isolada, com o que não concordei, e comecei outra vez a argumentar... até que, por fim, outro funcionário permitiu nossa entrada e permanência nas dependências comuns, pondo fim naquele horrível show de despreparo e discriminação.
Naquela mesma noite, porém, os dentes venenosos do capacitismo iriam me morder mais uma vez, através da figura de um taxista que, despreparado e ignorante, por não conhecer as obrigações do próprio ofício, tentou se negar a prestar o serviço público do qual é permissionário.
Como no caso do bar, a história com o táxi também teve um final, se não feliz, ao menos razoável: quando expliquei as leis municipais e a lei federal, mesmo citando rinite, problemas respiratórios e alergias infinitas, o profissional aceitou realizar a corrida, que transcorreu normalmente.
Sei que muitos cegos, há mais tempo em companhia de seus cães-guia, decerto têm histórias bem mais absurdas.
Mas o maior absurdo, o que causa indignação e revolta, é o fato desse tipo de coisa continuar acontecendo, todos os dias, em todos os lugares, em pleno ano de 2024, quase vinte anos após a promulgação da Lei do cão-guia e seu Decreto.
Por fim, é impossível ignorar o efeito que a discriminação, repetida vez após vez, tem no psicológico e na autoestima das pessoas cegas.
Ser cego não é apenas não ver. É, muito pior, enfrentar uma sociedade desumana, para quem o cego não é gente.--
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