A VELHICE
A velhice é um estado de alma que os teimosos, por insistentes, alcançam. Se há méritos em vivenciá-la, por não desistir o idoso da esperança e crer que bem melhor será o dia que se aproxima.
Neste ensejo dirijo-me particularmente aos anciãos que vivem como se fossem autômatos, a passar pela vida apáticos, imprecisos, à espera da morte que os liberte do tédio que se transformou suas horas, na desditosa crença do merecido “descanso eterno”.
Velho guerreiro: tu já recolheste as armas que te davam coragem e ao mesmo tempo abrasavam teu temperamento instável. Não te conheci o suficiente, portanto não sei a respeito de desilusões, venturas, afetos e amarguras vividas, porém percebi que demonstraste inigualáveis rigidez e tenacidade comportamentais.
Não me aventuro a destrinçar tua mentalidade: minha psicologia não chega a tanto, mas sou capaz de ouvir-te em silêncio respeitoso e confiante de que tudo a contento se resolverá.
Leva-me a aproximar-me e a conversar contigo, caro amigo, teu ar de preocupação, frases não conclusivas que se insinuam, como se algo a te consumir entre dúvidas e receios mal contidos.
Prezado companheiro: a idade é intemporal. O que experimentamos em dada existência, é etapa inacabada, a ser transmutada em algo quiçá mais proveitoso, e mais adiante, temores, confrontos, conforto e segurança serão renovados em estalagens deste ou de outro orbe povoado.
Repara, pois, ó cidadão: o que tu atribuis ser morte definitiva, nada mais é que mera passagem para outro plano, seja aborrecido ou agradável, e conforme os méritos conquistados.
Sê sóbrio, sê prudente, aproveita as horas e as consome de forma benevolente, útil e feliz. Não sejas o sujeito ambicioso que explora a força produtiva de outrem como se ele fosse máquina que se não desgasta, sem mostrar empatia, sem denotar fraternidade.
Ânimo, camarada, a Força Divina te abraça com a mais profunda sensibilidade e amorosidade. Relega os dias sombrios, pois eles representam inutilidades, e aqueles festivos possam revigorar-te as forças e serem prósperos.
Não fiques anestesiado por não suportar a realidade, não te percas em razão de achaques, que teu físico suporte as cobranças inevitáveis. Lembra: tudo passa e adiante, entre folguedos e atividades prazerosas, reencontraremos os entes queridos em outros sítios, quando seremos envolvidos por múltiplas alegrias.
Sê resoluto, sê firme, confia na Providência Divina, que tudo o mais por acréscimo será consentido.
Nem por mísero segundo imagina encurtar a existência: antes enaltece o bem viver e sejas por todo o sempre feliz.
Do irmão em Cristo,
José Periandro.