Esse texto é uma resposta ao artigo anterior postado aqui no site sobre o ácido áctico. Com o compromisso de levar a melhor informação aos profissionais da área, verificamos que realmente haviam falhas no artigo precedente e em função desse erros apontados por vocês resolvemos postar aqui a resposta – clara e muita elucidativa – sobre o tema dos colegas do LABEX-Unicamp. Melhor fonte e autoridade na área sobre o tema acho difícil encontrar. Agradecemos pelas informações e a divulgação de informação de qualidade. Vamos tormas mais cuidado com a avaliação dos artigos. Forte abraço e boa leitura!
Todos nós alguma vez na vida já ouvimos ou lemos algumas dessas frases:
• O ácido lático causa dores e fadiga!
• Quem produz mais ácido lático cansa mais rápido e terá câimbras e dores!
• Precisamos fazer um treinamento de tolerância ao ácido lático!
Seja na academia, jornais ou em revistas, o conceito de que o ácido
lático é um composto maléfico produzido pelo nosso organismo é
extremamente difundido no meio esportivo, e tido como uma verdade
absoluta. Veremos nesse artigo algumas das mais recentes evidências
literárias que podem colocar em dúvida esse paradigma da educação
física.
Segundo Robergs (2002), em pH fisiológico (7.4) não existe a forma ácida
deste produto provindo da utilização de glicose (glicogênio) como fonte
de energia anaeróbica, existindo assim somente o LACTATO. Assim,
uniformizaremos nossa discussão daqui em diante sobre o termo LACTATO. O
LACTATO pode utilizado como combustível energético nas mitocôndrias de
músculos esqueléticos, cardíacos, além de fígado e cérebro, entretanto,
durante o exercício físico (ou qualquer outra atividade), nossos
músculos necessitam de energia para trabalhar, assim, o ATP é a energia
necessária para contrair nossos músculos e assim produzir o movimento.
Ao “quebrar” o ATP, produzimos energia e prótons (H+). Então, podemos
notar que constantemente estamos produzindo H+, no entanto, a grande
diferença é a quantidade produzida, ou seja, a quantidade de ATP
necessária para a atividade física em questão. Quanto maior a
necessidade de “quebra” de ATP, maior a produção de H+. Essa quantidade
produzida de H+ é quem irá determinar a acidose ou não de um meio, no
nosso caso, o músculo. Quanto maior a concentração de H+ mais baixo é o
pH,deixando o meio mais ácido, o que desfavorece a atividade de enzimas
chaves para o fornecimento de energia. Porém, nosso organismo é
fantástico e muito esperto, para que esta concentração de H+ desfavoreça
a produção de energia, ele possui alguns agentes que possuem a
característica de “consumir” esses H+, mantendo o pH muscular e
sanguíneo em valores normais e compatíveis com a nossa vida.
Caso esses agentes não estiverem trabalhando corretamente, ou sua
concentração não é suficiente para dar conta de todos os H+ produzidos,
aí sim o nosso organismo começa a entrar em acidose, podendo assim
interromper a atividade precocemente.
Assim podemos observar que não é o LACTATO o causador da acidose, muito menos da fadiga, e sim a tão necessária “quebra” do ATP.
LACTATO É PRODUZIDO NA AUSÊNCIA DE OXIGÊNIO?
Para discutirmos esse ponto, é necessário entendermos a lógica do
fornecimento de energia que o nosso organismo possui na condição de
exercício físico.
Por exemplo, a quantidade de energia (ATP) necessária para completar uma
caminhada de 100 metros, é muito menor, do que a quantidade de energia
necessária para completar os mesmos 100 metros em velocidade máxima.
Durante a caminhada, a necessidade de fornecimento de energia é muito
mais “lenta”, utilizamos assim, os ácidos graxos para fornecê-la. A
utilização dos ácidos graxos como fonte de energia exige a necessidade
de ativação de enzimas presentes na mitocôndria, sendo indispensável a
presença de oxigênio para que ocorram. Tudo isso torna essa via mais
longa e mais complexa (por isso é tão difícil “queimar” gordura).
Já durante o tiro em intensidade máxima na mesma distância a necessidade
de energia é muito mais rápida, nosso organismo assim, lança mão da
utilização da “quebra” da glicose (glicogênio) de forma anaeróbica, uma
via mais rápida, pela simplicidade das reações e eficiência no
fornecimento de energia. Assim, não é a falta de oxigênio que leva nosso
organismo a utilizar a glicose (formando LACTATO) para fornecer
energia, mas sim a necessidade e velocidade com que esse ATP é requerido
pelo exercício.
UTILIZAÇÃO DO LACTATO COMO FONTE DE ENERGIA PELOS OUTROS TECIDOS
Mas como o LACTATO pode ser utilizado por coração, fígado e cérebro e músculos adjacentes (vizinhos)???
Para alcançar a corrente sanguínea e assim chegar a esses destinos, o
LACTATO sai da musculatura esquelética, onde é produzido, através de
transportadores protéicos que se encontram na membrana muscular chamados
de MCT (Transportadores de Monocarboxilatos) (Brooks, 1999). Durante
este processo de saída, os MCT’s “entendem” que o LACTATO só poderá sair
da musculatura com a companhia (co-transporte) de prótons (H+). Como já
mostramos anteriormente, a produção de H+ é advinda da “quebra” do ATP,
nossa “moeda energética”, e não advindas do “ÁCIDO LÁTICO”.
Vocês devem estar se perguntando…Então, não é bom quebrar ATP, pois,
este aumentará a concentração de prótons, certo? Certo se nosso
organismo não fosse tão encantador como é, pois, para não deixar de
“quebrar” ATP e ao mesmo tempo continuar a fazer a atividade física, os
agentes que “consomem” H+ estarão dispostos à manter o pH em níveis
normais. E o LACTATO não é um agente que “consome” esses H+, mas faz
função de um deles, ajudando na retirada desses prótons de dentro da
célula por meio dos MCT’s.
Agradecemos a oportunidade de contribuirmos com essa discussão e
esperamos que o que escrevemos possa esclarecer ainda mais tanto os
leitores leigos, quanto os companheiros da Educação Física durante os
treinamentos.
Lucas Samuel Tessutti; Thiago Fernando Lourenço; Charles Ricardo Lopes; Bernardo Neme Ide – Laboratório de Bioquímica do Exercício – LABEX – UNICAMP
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