O problema é que um fenômeno que todo mundo sabia que ia acontecer, aconteceu. A única surpresa foi a velocidade, eu mesmo não achei que seria tão rápido. Elegemos pessoas, e, passado algum tempo, temos políticos. E o confronto entre pessoas e políticos é sempre inevitável.
O jogo político sempre foi o da influência. Políticos já eram influencers antes das redes sociais, buscando seguidores e usando o critério da popularidade de uma ideia como régua para sua moralidade. Com a ascensão das redes sociais, políticos passaram a ser tiktokers profissionais, pagos com dinheiro público. A fixação se tornou o like, o impacto no Instagram, a repercussão entre os tiozões do Facebook.
São tão poucos os políticos que colocam sua posição acima do que é popular que, na minha cabeça, só vem um nome, o do Ron Paul (entre os liberais, claro. Não me importa qualquer outro tipo). No Brasil, nenhum se destaca, e, mesmo acompanhando de perto alguns mandatários do NOVO, também não vi nenhum que mereça essa distinção. Até agora, claro. Espero ser surpreendido, e que pelo menos um venha a me mostrar errado. Torço por isso.
Então o jogo político é parte do que se diz e parte do que não se diz. Se em alguns casos a vontade de aproximação do Bolsonaro era realmente falada, em muitos essa aproximação é feita pelo silêncio. São mandatários que são "faca-na-bota", tigrão na hora de criticar a esquerda, mas tchutchuca na hora de criticar o Bolsonaro. E fazem isso porque acham que vão perder público. Nada mais que Ticktokers, preocupados com a audiência do seu canal, julgando a moralidade de uma rachadinha pela repercursão no seu eleitorado.
Na minha visão essa postura é completamente errada, até no sentido de cálculo eleitoral que eles dizem ser experts: nenhum bolsonarista irá votar no NOVO. Vão perder os votos dos bolsonaristas ("temos que construir um congresso que apoie o mito") e vão perder votos dos liberais e vão perder votos do cidadão que não quer nem Lula nem Bolsonaro. É bizarro, mas parece ser uma estratégia eleitoral de quem não viu o que aconteceu em 2018 e que vai, com certeza, voltar a acontecer em 2022.
Eu acredito no NOVO como instituição por um mero detalhe que quase não foi visto na sua fundação mas que se tornou fundamental: A divisão entre diretórios e políticos. Se você é dirigente, sempre voluntário, você não pode ser político. E é óbvio que os políticos querem mudar isso a todo custo, submetendo os diretórios aos seus cálculos políticos e posicionamentos pragmáticos. (Pragmatismo para mim, um revolucionário, um anarquista, é um palavrão.). Essa divisão entre diretório e políticos faz com que as levas de candidatos sejam selecionados com base no seu programa, na sua capacidade de realmente fazer um trabalho decente e com base no seu comportamento passado; Tira a capacidade dos políticos manobrarem para trazerem pessoas boas de voto mas sem conteúdo, apenas para somar votos; Com isso se constrói uma bancada muito superior aos demais partidos, e tenho certeza que é o caso dos mandatários que temos, sem nem saber o nome da maior parte das dezenas de pessoas que fazem o grupo. Mas essa meta é muito fácil para ser relevante.
Enfim, a briga entre gente e políticos é uma das principais brigas da humanidade. E dentro do NOVO, infelizmente, essa briga cobra seu preço por se tornar pública - faz com que o partido mostre uma rachadura interna, difícil de transpor, e que vai cobrar seu preço em termos de crescimento. E se os políticos ganharem, o NOVO será mais um entre os mais de 30 partidos nacionais e nada mais.