Ainda tenho minhas dúvidas se o Lula realmente será candidato. Hoje é o único nome viável da esquerda, mas acho difícil acreditar que, aos 77 anos, ele realmente queira entrar nessa aventura novamente. Até porque é inegável que ele é, hoje, o político brasileiro mais amado fora do país. Me lembra o caso das
estrelas do Guia Michelan, que levou chefs até ao suicídio.
O Lula conquistou algo caríssimo para um político: exerceu dois mandatos que são considerados muito bons e criou a imagem de um grande político. Eu, pessoalmente, discordo disso: acho que ele é, na verdade, uma pessoa carismática e um péssimo político, que apenas surfou uma onda e cometeu o maior estelionato eleitoral da História: se elegeu como o Lula e governou como o FHC, sempre dizendo que FHC deixou uma "herança maldita".
Sem juízo de valor, essa foi a terceira estrelinha dele. Agora ele só pode perder. E, lembrando uma frase que sempre lia na época do Lula: governar depois do FHC é mole, quero ver governar depois do arraso da dupla Sarney/Collor. Esse, sim, o grande mérito do FHC, que nunca nem cogitou colocar em risco suas estrelinhas. Quero ver como seria o Lula governar depois dos desastres Dilma e Bolsonaro.
Mas o Lula é o Lula. Tem respeito e um "nome a lesar". Será, mesmo, que ele entrará nessa aventura onde ele não tem nada a ganhar, apenas a perder? Bom, talvez o excesso de autoconfiança o faça imaginar que ele será aquele que nos salvará dos desastres mencionados acima (um deles, por sua responsabilidade - para mim a escolha da Dilma como sucessora é a maior prova da sua baixa qualidade política).
A minha leitura política (que vale tanto quanto uma nota de 3 reais, confesso) é que ele tenta se firmar como o virtual vencedor e depois, alegando cansaço, irá escolher aquele que será seu sucessor. Mas tem um porém: será que, fora da presidência, ele conseguirá isso? Somado, também, ao enorme desgaste dos escândalos de corrupção do seu governo e a clareza de que ele construiu um crescimento sobre um castelo de cartas, que ruiu quando as primeiras cartas foram retiradas (Mensalão, Petrolão e o pior de todos, o desastre Dilma - essa, sim, com um governo verdadeiramente "petista").
A estratégia fez água em 2018 - teve muito voto no Lula que não migrou para o Haddad (depois daquela pantomima de lançá-lo candidato na prisão), mas para o próprio Bolsonaro. Daí vem a "hipótese Biden": era o único que poderia derrubar o Trump e, mesmo sem condições ideais de saúde, encarou a eleição e conseguiu a vitória. Seguiremos por esse caminho?
A extrema-direita no Brasil fez surgir algo que inexistia: uma esquerda "respeitável". Essa, porém, ainda é muito identificada com o lulismo e acho que não conseguirá emplacar em 2022. E mesmo ela tenta se "afastar" do Lula, que já está totalmente intoxicado pela adesão incondicional da extrema-esquerda.
O que eu tiro disso tudo é que teremos muitos anos difíceis pela frente. E, por "muitos anos", quero dizer que possivelmente cobrirá todo o período que eu tenho de vida (algo entre 20 e 30 anos, acho pouco provável eu passar dos 84 (tenho 54).
ResumindoL o grande responsável pelo fato de essa esquerda "moderna" não emplacar tem nome: Luís Inácio Lula da Silva.