No futuro, em 2001, estreou um filme chamado "Final Fantasy". Iria ser um game changer. Computação gráfica estado da arte. A proposta era que o arquivo dos personagens estrelassem outras produções. Custou, na época, US$ 137 milhões.
Faturou US$ 85 milhões. Pra se comparar, no mesmo ano a Pixar/Disney lançou Monstros S.A. Custou US$ 115 milhões. Faturou US$ 577 milhões. FF era mal feito? Não. Era bem feito (menos o roteiro, que era fraco de arder). Mas porque ele flopou e Monstros S.A., faturou alto?
Existe um conceito chamado "vale da estranheza" (uncanny valley). Qualquer reprodução artificial de vida vai nos dar uma sensação de incômodo, na medida que ela tenta ser a mais perfeita possível. Pixar contornou isso porque ela só produz caricaturas. "Estilo Pixar" virou até um prompt para AI gerar avatar de rede social. A caricatura nos deixa confortável, não nos joga num vale de estranheza.
Detectamos o vale da estranheza não pelos seus erros, mas pela sua perfeição.
Textos do ChatGPT são perfeitos e nos jogam no vale da estranheza? Nem acho que seja o caso, mas o tom professoral da AI é tipo a dublagem brasileira: Ninguém nesse universo usa a expressão "caiamos fora daqui".
Vai ser assim pra sempre? Nopes. "Steerability", a capacidade da AI assumir personas. Tipo, me ensine física quântica como se fosse o Bolsonaro ("Na cuestão do elétron aí, a gente não tem como determinar nem que sim nem que não, sua posição e carga").
Dê amostra de texto para a AI que ela absorve os trejeitos de qualquer humano. Quero ver alguém dizer que não escreveu aquilo. Nem o próprio autor que forneceu o material — memória fisiológica, né, já viu.