A Arte da Navegação Aleatória

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Joel Souza

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Jan 24, 2024, 9:12:45 AMJan 24
to arqhp
Eu comecei a trabalhar como programador em 2007 e desde então passo ao menos 8 horas online todos os dias da semana. Nessa era pre-redes-sociais era muito comum a existência de blogs como o Ovelha Elétrica com viés de “curadoria” – que hoje na era dos algoritmos, se perdeu.

Eu ainda consumo conteúdo no Twitter (me nego chamar de X), Instagram, Discord, Telegram e principalmente Reddit mas fica claro o sentimento de que tudo é pasteurizado e “temperado” ao meu gosto. Não existe surpresa, aleatoriedade. Eu jamais encontraria nessas redes, por exemplo, link de um curta metragem tcheco

https://www.ovelhaeletrica.com/blog/2023_08_10_manly-games-de-jan-svankmajer.html
https://www.youtube.com/watch?v=T_V2Bav8QJU

Procuro desesperadamente por locais como esse e ficaria extremamente feliz de saber que existem outros. Qualquer contribuição será bem vinda.

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Joel Souza

Irapuan Martinez

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Jan 24, 2024, 3:27:10 PMJan 24
to Lista ArqHp
Em qua., 24 de jan. de 2024, 11:12, Joel Souza <joel....@gmail.com> escreveu:
Nessa era pre-redes-sociais era muito comum a existência de blogs como o Ovelha Elétrica com viés de “curadoria” – que hoje na era dos algoritmos, se perdeu.

Nesta casa, respeitamos os algoritmos. Pois o dia que abri o YouTube deslogado da minha account, a coisa menos asquerosa que apareceu era gente tirando cravos do tamanho de rinoceronte dos poros da pele. Eu custo acreditar na falta de discernimento de gente que filma isto publica. O que mais se filma e colocam online? Pessoas fazendo sexo?

Tá, algoritmo elegeu aquele cara que eu não gosto (só paro de dizer isso quando o cara que eu gosto, é eleito. Aí é Democracia), mas acho que a curadoria eletrônica é mais abrangente que a humana.

Até porque, a única coisa que o gorítimo consegue fazer é aprender o gosto de gente como você e fazer a sugestão.

O curador humano está lá, esperando surgir na frente dele o conteúdo para repassar. A produtividade é baixa e a gente tende, pelo viés de confirmação, levar em conta uma coisa legal e esquecer as 20 desinteressantes que o curador humano apresentou.

O algoritmo, o preço é muito baixo para apresentar conteúdo, precisaram inventar o scroll infinito para caber. Note como escrevi, "preço baixo”. A gente não dá valor por 100 vídeos apresentados pelo Youtube. Mas tende a reconhecer o valor de 5 vídeos indicados por curadoria humana 

Qual é melhor? Nem cabe a comparação. Os algoritmos não fazem curadoria, é só uma draga de tempo para expor publicidade. Fazem isto imitando curadores humanos, ok. Mas a proposta é outra.


Eu ainda consumo conteúdo no Twitter (me nego chamar de X), Instagram, Discord, Telegram e principalmente Reddit mas fica claro o sentimento de que tudo é pasteurizado e “temperado” ao meu gosto. Não existe surpresa, aleatoriedade.

Dia desses topei no Xuítter um repórter da área musical, Igor Miranda. Ele falando sobre os lançamentos daquele mês, citou uma banda sueca, The Children of the Sün. Rock melódico setentista, mas a banda é contemporânea. Fiquei doente neles e comprei dois LPs. Sim, LPs. Eu nem tenho pickup.

No site do sujeito, ele publicava a lista de discos lançados no ano. Êba, vou ver se acho mais coisa tão boa quanto. 

Depois da sexagésima banda, você enche. Lei de Sturgeon.

Tentei Bandcamp. Tem muita coisa underground. Mas nada assim que captou minha atenção (comprei os tais LPs lá). Tentei o https://www.gnoosic.com/ (site te pergunta algumas bandas e extrapola o que a gente poderia gostar). Descobri uma banda australiana, Voodoo Gurus e só.

Dia desses, rolei a tela do Youtube Music (quase nunca faço), ele sugeriu o vídeo de uma loirinha tocando folk metal. Tá, bonzinho, não lembro sequer o nome. Horas depois entrei no Iramóvel, ele conectou no iRaphone e continuou tocando uma playlist baseado neste folkmetal. Tocou músicas formidáveis de gente obscuríssima.

Obrigado, algoritmo!

 
Procuro desesperadamente por locais como esse e ficaria extremamente feliz de saber que existem outros. Qualquer contribuição será bem vinda.

Eu adorava o Ffffound.com, mas ele encerrou as atividades. Era um blog visual, grafismos, fotos, eventuais sites interessantes. Acompanhava muita coisa assim no Thumblr, até o Yahoo! destruí-lo.

Hoje o Pinterest me supre em navegar em imagens.

Música e vídeo, eu deixo me levar pelos algoritmos. Vou gastar energia procurando o que eu não faço ideia do que seja?

Xuitter. Musk ficou com inveja do Yahoo! destruindo um serviço legal e trabalha com as quatro patas para destruir o que era o Twitter. Mas a gente tolera porque todo mundo está lá. E incrivelmente, aparece uma coisa ou outra interessante, se você seta para exibir Xeets de gente que você não segue, 100% curadoria do gorítimo.

Claro, naquela saudável proporção de 1:1000:10000000  — uma coisa legal; 1000 tweets de uma burrice lapidar, cristais puros de estupidez; e 10 milhões de propaganda de sites de apostas.

Ah, Xuitter me obriga a quase uma década bloquear um certo acrônimo de reality show + nº da edição. Eu não mereço receber pauta artificial de gente desprezível que está se estapeando para ser famosinho da TV. Todo mundo acha aquilo o fim, todo mundo bloqueia e percebi que estão tentando driblar o filtro usando quatro Bs ao invés de 3 Bs para se referir ao lixo.

Nóis bloqueia também. Mas o que descubro? Propagandas não são atingidas pelas keywords silenciadas. Alegremente aparece os patrocinadores dessa porcaria, mesmo citando a keyword. Bloqueio, para nunca mais ver aquilo novamente. Então o Musk me mostra outra propaganda chata e repetitiva. É este o modelo de negócio do site: Você, anunciante, paga para ser bloqueado e os usuários pagam para parar de ver esse lixo.

Fico pensando se neste fetiche de dados que vivemos, se o Twitter divulga a seus anunciantes a quantidade de gente que bloqueia o seu perfil no site ou quantos bloquearam por causa de uma campanha, uma espécie de ROI do mundo bizarro.

Vinicius Vollrath

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Jan 24, 2024, 4:01:39 PMJan 24
to ar...@googlegroups.com
Ovelha elétrica me fez lembrar do Barata Elétrica, um ezine dos anos 90 que recebia por e-mail.
Hoje tem arquivos espalhados pela internet...

Irapuan Martinez

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Jan 24, 2024, 5:54:37 PMJan 24
to ar...@googlegroups.com
Até antes das redes sociais, tínhamos blogs, Geocities (e uma cacetada de correlatos). Tudo homepage. Escrita naquela linguagem de programação que tem "hypertext" no nome.

O que difere um texto de um hipertexto? O sufixo significa apenas uma coisa: O (hyper)link, Home page é como texto, só que com links. Esta foi a enorme grande ideia do Berners-Lee e não sei como não demos as chaves da cidade para este cavalheiro (A Betinha reconheceu e por isto hoje ele é realmente, um cavalheiro).

Buuuum!, redes sociais. Você faz posts. Viu alguma coisa postada legal? Você curte, você reposta. Até aqui, rede social é enclave. Ela se retroalimenta. Home pages, por outro lado, se relacionavam, trocando links entre si. Um post de uma rede social é um post da rede social. Uma homepage faz parte de toda a web.

Isto é tão importante que sem a troca de links, não teria surgido um certo Google. Estaríamos usando Yahoo! para pesquisar e se você não quisesse usar iPhone, poderia optar pela Microsoft ou Nokia.

Rede sociais são enclaves, não são redes. Elas se fecham em si, e pior, criam capela de macacos catando piolhos em outros macacos que pensam igual. É um enclave dentro de um enclave. Esta coisa fechada protege ideias ruins de serem criticadas, alastrando tudo que pode ser intelectualmente vicioso. Obscurantismo, preconceito, burrice em quantidades estratosféricas e por aí vai.

Sim, claro: Posts podem conter links. Mas as plataformas nunca favoreceram a linkania. Twitter, por muito tempo, um link comia os exíguos bytes de cada post. Inventaram uma aberração chamada "encurtadores". Hoje, se a home page sai do ar, pobrêma argum: Vai atrás do mirror dela no Internet Archive. Mas se o site de encurtador sai do ar, adieu ao sangue que move o corpo da web.

Redes sociais surgiram para dar oportunidade para pessoas publicarem online sem precisar sujar as mãos em código. Eram a popularização dos gerenciadores de conteúdo. Bom? Foi um horror. Toda a geração Z perdendo oportunidade de aprender uma linguagem de markup. Poderiam estar aprendendo tags de HTML mas estão no Twitter dizendo que o governo brasileiro deveria fabricar carros (sim, li isso esta semana).

E temo que o vício não fique somente nesta oportunidade perdida. Ontem, li que um fundador do PT levou ao ministro dos Direitos Humanos a proposta para dar o Prêmio Nobel da Paz para o padre paulista lá. O ministro iria levar a proposta para o Lula. E também tentariam falar com o… Papa.

Lula e o papa não determinam o prêmio Nobel. O comitê é fechado e sequer divulga os concorrentes. Isto é informação pública, o Google te informa na busca, sequer precisa entrar no site da Fundação Nobel. A única explicação para os dois se envolverem numa campanha inócua dessa é marcar pontos em rede social. 

As pessoas não se avexam em ser burras, se isto lhe valer validação online.

Todo o discurso de "era da informação" que recebemos nos anos 90, foi jogado fora. Corremos para a direção contrária. Hoje criamos sistemas de proteção de ideias ruins. Brasil sempre teve um motivo de orgulho, suas campanhas de vacinação. Hoje temos um ululante movimento antivaxxer. Fora o terraplanismo ter virado pauta. Ninguém normal leva isto a sério, mas diz muito quando uma besteira como essa gasta espaço na pauta. A ideia ruim não precisa ser aceita, ela só precisa dominar a pauta. Bolsonaro se segurou 4 inacreditáveis anos na presidência simplesmente dominando a pauta, cometendo uma delinquência atrás da outra e não presidindo o país um só dia.

Perdemos o bonde de uma rede de informações, o zênite do Iluminismo, no momento que abrimos mão dos links.
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