Até antes das redes sociais, tínhamos blogs, Geocities (e uma cacetada de correlatos). Tudo homepage. Escrita naquela linguagem de programação que tem "hypertext" no nome.
O que difere um texto de um hipertexto? O sufixo significa apenas uma coisa: O (hyper)link, Home page é como texto, só que com links. Esta foi a enorme grande ideia do Berners-Lee e não sei como não demos as chaves da cidade para este cavalheiro (A Betinha reconheceu e por isto hoje ele é realmente, um cavalheiro).
Buuuum!, redes sociais. Você faz posts. Viu alguma coisa postada legal? Você curte, você reposta. Até aqui, rede social é enclave. Ela se retroalimenta. Home pages, por outro lado, se relacionavam, trocando links entre si. Um post de uma rede social é um post da rede social. Uma homepage faz parte de toda a web.
Isto é tão importante que sem a troca de links, não teria surgido um certo Google. Estaríamos usando Yahoo! para pesquisar e se você não quisesse usar iPhone, poderia optar pela Microsoft ou Nokia.
Rede sociais são enclaves, não são redes. Elas se fecham em si, e pior, criam capela de macacos catando piolhos em outros macacos que pensam igual. É um enclave dentro de um enclave. Esta coisa fechada protege ideias ruins de serem criticadas, alastrando tudo que pode ser intelectualmente vicioso. Obscurantismo, preconceito, burrice em quantidades estratosféricas e por aí vai.
Sim, claro: Posts podem conter links. Mas as plataformas nunca favoreceram a linkania. Twitter, por muito tempo, um link comia os exíguos bytes de cada post. Inventaram uma aberração chamada "encurtadores". Hoje, se a home page sai do ar, pobrêma argum: Vai atrás do mirror dela no Internet Archive. Mas se o site de encurtador sai do ar, adieu ao sangue que move o corpo da web.
Redes sociais surgiram para dar oportunidade para pessoas publicarem online sem precisar sujar as mãos em código. Eram a popularização dos gerenciadores de conteúdo. Bom? Foi um horror. Toda a geração Z perdendo oportunidade de aprender uma linguagem de markup. Poderiam estar aprendendo tags de HTML mas estão no Twitter dizendo que o governo brasileiro deveria fabricar carros (sim, li isso esta semana).
E temo que o vício não fique somente nesta oportunidade perdida. Ontem, li que um fundador do PT levou ao ministro dos Direitos Humanos a proposta para dar o Prêmio Nobel da Paz para o padre paulista lá. O ministro iria levar a proposta para o Lula. E também tentariam falar com o… Papa.
Lula e o papa não determinam o prêmio Nobel. O comitê é fechado e sequer divulga os concorrentes. Isto é informação pública, o Google te informa na busca, sequer precisa entrar no site da Fundação Nobel. A única explicação para os dois se envolverem numa campanha inócua dessa é marcar pontos em rede social.
As pessoas não se avexam em ser burras, se isto lhe valer validação online.
Todo o discurso de "era da informação" que recebemos nos anos 90, foi jogado fora. Corremos para a direção contrária. Hoje criamos sistemas de proteção de ideias ruins. Brasil sempre teve um motivo de orgulho, suas campanhas de vacinação. Hoje temos um ululante movimento antivaxxer. Fora o terraplanismo ter virado pauta. Ninguém normal leva isto a sério, mas diz muito quando uma besteira como essa gasta espaço na pauta. A ideia ruim não precisa ser aceita, ela só precisa dominar a pauta. Bolsonaro se segurou 4 inacreditáveis anos na presidência simplesmente dominando a pauta, cometendo uma delinquência atrás da outra e não presidindo o país um só dia.
Perdemos o bonde de uma rede de informações, o zênite do Iluminismo, no momento que abrimos mão dos links.