Quem não tem colírio usa Apple Vision Pro

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Irapuan Martinez

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Jun 6, 2023, 4:56:14 PM6/6/23
to Lista ArqHp
Então, depois de muitos boatos, renderizações de terceiros, nenhum vazamento (A Apple tem orçamento para marketing, ela não precisa fingir que vazou para ter publicidade gratuita), Apple anuncia seu m̶e̶t̶a̶v̶e̶r̶s̶o̶ seu óculos de realidade aumentada slash realidade virtual.

O quanto isso é importante? A última vez que a Apple anunciou uma coisa fora dos mercados que atua foi o Apple Watch, para se ter uma ideia. E Apple, você sabe: Não inventou a computação pessoal, o touchscreen, o smartphone, player de música eletrônico e nem os tablets. Mas ela determina como o mercado vai fazer estas coisas depois que ela entra.

O Vision Pro parece um colosso e como tal, vai custar apenas 17 mil Janjas quando chegar no mercado em algum momento no ano que vem. Vai dar certo? A gente tem algumas pistas aqui.

Primeira pista, é que a realidade virtual fracassou toda vez que tentou ser implementada. Facebook torrou US$ 50 bilhões no seu Metaverso e desistiu. O principal motivo de floppar é o de sempre: Conteúdo.

De TV à cores ao Macromedia Flash, a aderência depende de haver conteúdo. No primeiro caso, a Copa do Mundo de 82 (conteúdo) puxou a troca das TVs P&B (hardware). Flash, estava ali, nichado, até que a mesma Copa do Mundo de 1998 fez seu site usando o formato. O contraexemplo é o WAP, que viria ser a mobile web nos primeiros anos do século XXI. Ao invés de aproveitar o conteúdo que já existia na web da época, a proposta era criar uma web inteiramente nova. Sem conteúdo, o formato foi pro brejo.

Cadê o conteúdo do Vision Pro? O ecossistema da Apple. Claro, nem todo app vai poder ser utilizado, mas diferente dos outros óculos, o Vision Pro não é um mero acessório para espelhar telas. Ele tem sua própria CPU — o que motiva o preço exorbitante do brinquedo. As especificações não foram divulgadas, mas quero ver o quanto de memória RAM compram estes US$ 3499 do modelo de entrada. 

US$ 3499, o preço de um notebook muito decente, mesmo da Apple, por uma coisa que vai vir uma mixaria de configuração? E quem acompanhou o lançamento do iPad e iPhone, as primeiras gerações era com uma configuração de dar piedade. Vai floppar? A estimativa é vender 900 mil unidades em 2024. Para se comparar, em 2022 a Apple vendeu coisa de 225 milhões de iPhones. 900 mil, neste cenário, é convite para o fracasso. Junta que o pessoal não vai pagar pelo early adoption.

Mas a Apple foi esperta e não vai lançar de cara. No mínimo, vai ter seis meses do mercado discutindo o frisson e manter o interesse em se botar as mãos no dispositivo. Desenvolvedores vão ter aí um tempo também para inventar conteúdos para justificar o investimento. Até então, a grande promessa é a imersão para… se assistir filmes.

Para não parecer muito antissocial, a Apple colocou um display na frente no óculos para exibir uma renderização dos seus olhos, para demonstrar aos demais que você está prestando atenção. Esta mesma renderização vai ser usada nos apps de conferência (se você é como eu e assiste o pessoal do Star Wars usando hologramas e se pergunta cadê a câmera que está transmitindo a pessoa, deve ter pensado na mesma coisa que eu).

Na minha arrogante opinião: Vision Pro vai ser um fiasco de vendas e um grande sucesso da Apple.

As pessoas não costumam compreender que o sucesso da Apple não é vender iPhone ou iPad. É ter colocado no bolso de cada usuário uma loja. A venda do hardware é um sucesso, mas o sucesso maior é a lodjinha. Vision Pro não é o grande produto da Apple.

Vai ser o carro da Apple.

O Vision Pro é coalhado de sensores, para detecção do ambiente. Ele vai aceitar o teclado, mouse ou touchpad, mas há sensores para gestures das mãos. Este tipo de detecção exige sensores sofisticados. Do tipo que é empregado em carros que se dirigem sozinhos.

Eles não encaixaram o Vision Pro como "wearable", mas como "spatial computer". O computador está analisando o ambiente.

Talvez a gente não venha ter um Vision Pro — ninguém aqui teve um Google Glass, para demonstrar que não perderíamos grande coisa. Mas o mercado deu uma guinada ontem. Os demais concorrentes (quem eu quero enganar, será a Samsung) hão de anunciar suas versões em breve. Não será como o Vision Pro, este da Samsung será feito de papel como de hábito, mas eventualmente eles entenderão que o pulo do gato não é o AR/VR, mas os sensores.

Muita gente dirá que a web vai precisar se adequar ao AR/VR. Sim, claro. Assim como nos adaptamos para o WAP. Este não é um cavalo que eu apostaria. Ou pelo menos você lança conteúdo que realmente tire vantagem do hardware, ou sua web continuará textual como sempre foi — das poucas especificações anunciadas, cada lente do Vision Pro entregará uma resolução acima de 4K. Isto é mais do que suficiente para se ler.





Irapuan Martinez

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Jun 7, 2023, 12:55:04 AM6/7/23
to Lista ArqHp
On Tue, Jun 6, 2023, 17:56 Irapuan Martinez <ira...@gmail.com> wrote:
Eles não encaixaram o Vision Pro como "wearable", mas como "spatial computer". O computador está analisando o ambiente.

Parece estranho, no meio da tempestade de AI, a Apple não tenha feito nenhum anúncio neste campo até onde eu tenha visto.

Sabe que tipo de outro dispositivo se beneficia enormemente de sensores lendo o ambiente?

Robôs.

AI se já não é commodity, em breve vai ser. Como calha todo recurso computacional. Software se beneficia enormemente de conexões e padrões, não de reserva de mercado — hardware que gosta disto.

Não será estranho a Apple comprando um player robótico no porvir. Boston Dynamics, maybe?

Então em algum momento veremos então eles dizer …one more thing: iRobot!

(Infelizmente, parece que o nome “android” já foi tomado)

Irapuan Martinez

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Jun 7, 2023, 7:27:31 AM6/7/23
to Lista ArqHp
Tem gente sugerindo a possibilidade da Apple comprar a Disney:


As empresas não são totalmente estranhas: Quando comprou a Pixar, que pertencia a Steve Jobs, ele foi parar no conselho da Disney; hoje a Apple não apenas tem hardware para streaming, como está produzindo conteúdo original.

E adivinhe que empresa tem uma divisão de robótica?


Irapuan Martinez

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Jun 7, 2023, 9:52:29 AM6/7/23
to Lista ArqHp
Muitas luas atrás, estava na fila do caixa de uma loja, e o cliente atrás resolveu me apontar “aquela mulher louca na calçada, falando sozinha”.

Respondi que a mulher em questão era minha esposa. E ela não estava maluca, só estava usando o presente que eu havia dado, um fone bluetooth.

Ok, fones de ouvido faz você realmente parecer que está conversando sozinho, mas hoje normalizaram este comportamento. Quero ver quando te verem digitando no ar:


Embora o Vision Pro integre com keyboards físicos, você vai poder digitar no AR.

Então você será o maluco fazendo mezzo air keyboard mezzo Minority Report. Hora de começar a malhar estes tríceps pra manter os braços no ar.

Irapuan Martinez

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Jun 21, 2023, 7:39:10 AM6/21/23
to Lista ArqHp
https://stratechery.com/2023/apple-vision/?utm_source=tldrnewsletter

(…) The speed is essential: Apple claims that the threshold for your brain to notice any sort of delay in what you see and what your body expects you to see (which is what causes known VR issues like motion sickness) is 12 milliseconds, and that the Vision visual pipeline displays what it sees to your eyes in 12 milliseconds or less. This is particularly remarkable given that the time for the image sensor to capture and process what it is seeing is along the lines of 7~8 milliseconds, which is to say that the Vision is taking that captured image, processing it, and displaying it in front of your eyes in around 4 milliseconds.

(…) The key part here is the “real-time execution engine”; “real time” isn’t just a descriptor of the experience of using Vision Pro: it’s a term-of-art for a different kind of computing. Here’s how Wikipedia defines a real-time operating system:

A real-time operating system (RTOS) is an operating system (OS) for real-time computing applications that processes data and events that have critically defined time constraints. An RTOS is distinct from a time-sharing operating system, such as Unix, which manages the sharing of system resources with a scheduler, data buffers, or fixed task prioritization in a multitasking or multiprogramming environment. Processing time requirements need to be fully understood and bound rather than just kept as a minimum. All processing must occur within the defined constraints. Real-time operating systems are event-driven and preemptive, meaning the OS can monitor the relevant priority of competing tasks, and make changes to the task priority. Event-driven systems switch between tasks based on their priorities, while time-sharing systems switch the task based on clock interrupts.

Real-time operating systems are used in embedded systems for applications with critical functionality, like a car, for example: it’s ok to have an infotainment system that sometimes hangs or even crashes, in exchange for more flexibility and capability, but the software that actually operates the vehicle has to be reliable and unfailingly fast. This is, in broad strokes, one way to think about how visionOS works: while the user experience is a time-sharing operating system that is indeed a variation of iOS, and runs on the M2 chip, there is a subsystem that primarily operates the R1 chip that is real-time; this means that even if visionOS hangs or crashes, the outside world is still rendered under that magic 12 milliseconds.
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