Fwd: Google lançou Certificação Profissional Gratuita em Gestão de Projetos e em português

[Irapuan Martinez]

---------- Forwarded message ---------
De: Veduca <con...@veduca.org>
Date: dom., 24 de mar. de 2024, 08:38
Subject: Google lançou Certificação Profissional Gratuita em Gestão de Projetos e em português
To: <ira...@gmail.com>

Olá!

O Google lançou uma Certificação Profissional Gratuita em Gestão de Projetos e em português!

Não é necessário processo seletivo e nem mesmo sair de casa.

É hora de dar um UP em seu currículo e ganhar horas complementares na faculdade!

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Atenciosamente,

Veduca

  

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[Joel Souza]

Eu queria era mesmo um curso pra gerenciar atenção. Administrar a atenção e o foco (ou o que escolher para focar) é muito mais difícil que qualquer outra coisa.

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Joel Souza

[Irapuan Martinez]

Em dom., 31 de mar. de 2024, 21:04, Joel Souza <joel....@gmail.com> escreveu:

Eu queria era mesmo um curso pra gerenciar atenção. Administrar a atenção e o foco (ou o que escolher para focar) é muito mais difícil que qualquer outra coisa.

Bão, não é curso, mas vi gente dizendo maravilhas sobre estes pacote de livros:

Productivity Series : (Dopamine Detox, Immediate Action, Powerful Focus, Strategic Mindset) (English Edition) https://a.co/d/j1okCBh

Se funciona? Bitch, comprei tem seis meses e não terminei de ler. 

E não, não é porque é longo.

=x=

Como se a gente não já sentisse culpa o suficiente por não ser concentrar o suficiente, inventaram agora um tal de “flow”, um estado catatônico de altíssima produtividade.

Claro que quem defende essa carocha está vendendo curso ou catando likes em rede social.

Flow seria um estado de concentração e alta produtividade, que artistas e esportistas entrariam quando estão lá, fazendo o que fazem de melhor.

Está ao alcance de qualquer um, basta comprar este livro/curso de cinco passos para o fuloú.

Bah. Não temos concentração porque somos produtos evolucionários. Imagina no tempo de caçadores e coletores, é praquilo que nosso cérebro serve.

E o que fazemos? Damos uma lauda inteira para este tipo de miolo que foi criado para identificar um tigre dentre de sabres, digerir.

É a exata mesma briga contra a balança: Nossos corpos precisavam reservar o máximo de calorias quando tinham oportunidade de comer um brontossauro inteiro. Imagina um corpo evoluído nestas condições, com um iFood à disposição.

O iFood da concentração é a rede social, o e-mail, o WhatsApp, o seu cérebro que decide saber quem ganharia uma corrida, o Papa-Léguas ou o Ligeirinho ao invés de ser concentrar no maldito relatório.

Quer dizer que vamos evoluir para termos concentração? Ora, não: Isto aconteceria apenas se os distraídos tivessem menos chances de se reproduzir do que os flowezeiros. Na prática, quando mais cabeça de vento, mais chances de reprodução.

E pros reles mortais quem tem apenas o tempo de uma vida para terminar o relatório? Bom, resta a disciplina. Comece com um café, leve até a mesa, arrume tudo que vai precisar (cozinheiros tem um termo para isto, mise en place) e… comece.

A procrastinação é o mecanismo de defesa do cérebro contra a dor de dar duro numa tarefa. Aquela esponja de carne gosta é da vida boa e de dopamina — hormônio do prazer que você obtém de tarefas fáceis como doomscroll, games no celular ou debater com inúteis online.

E só tem estas armas contra a procrastinação: Começar e disciplina.

E gostaria muito de dizer que ter consciência disso, implica que você vai ter domínio sobre sua situação.

[Joel Souza]

Essa sua resposta abre um leque gigantesco para outros assuntos e vou precisar fazer um esforço grande pro meu tdah não dar voadoras aqui dentro da cabeça: 

Começando pelo TDAH: na última consulta reclamando da falta de concentração, dificuldade de terminar algo que começo e apatia, uma psiquiatra (e amiga) me apresentou um novo termo que substitui uma grande parte dos diagnósticos de TDAH: Dupla Excepcionalidade. É um fusão entre pessoas com habilidades cognitivas e curiosidade acima da média, porém com tamanho e intensidade tal que atrapalham os benefícios que essas  características poderiam trazer.

Acredito que aqui nessa lista tenham pessoas que se sintam assim também: aprenderam inglês e a programar sozinhos, gostam de assuntos complexos e carregam uma curiosidade suficiente para conversar, ainda que superficialmente, sobre muitos assuntos. Um oceano de informação com um palmo de fundura.

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Flow seria um estado de concentração e alta produtividade, que artistas e esportistas entrariam quando estão lá, fazendo o que fazem de melhor.

ONTEM eu vi cai num vídeo que normalmente seria mais um desses caça likes de youtube mas que é bem escrito e fundamentado explicando um pouco sobre o livro do Mihaly Csikszentmihalyi: Se entra em estado de flow com motivações intrínsecas e extrínsecas.

Aprender como funciona e como escrever um webserver em menos de 30 linhas de código me motiva intrinsicamente. Entregar a maior quantidade de tickets possíveis toda semana pra ganhar um 'parabéns' e não constar na próxima lista de layoffs é o que me motiva extrinsecamente. 

O problema da motivação extrínseca é que ela consome e divide a energia cognitiva com pessoas com pouca roupa no instagram, novas descobertas musicais e livros que eu compro e não leio (tem um termo japonês pra isso: Tsundoku) e não apareceu até agora nenhuma outra alternativa melhor que a analogia o meu xará fundador do stack overflow recomendou: Atirar e avançar (e ritalina)

E só tem estas armas contra a procrastinação: Começar e disciplina.

Que é basicamente o que você disse aí em cima: 

https://www.joelonsoftware.com/2002/01/06/fire-and-motion/

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Joel Souza

[Irapuan Martinez]

On Mon, Apr 8, 2024 at 8:30 AM Joel Souza <joel....@gmail.com> wrote:

Começando pelo TDAH: na última consulta reclamando da falta de concentração, dificuldade de terminar algo que começo e apatia,

Tá, só você passa por isto, humano especial.

 

uma psiquiatra (e amiga) me apresentou um novo termo que substitui uma grande parte dos diagnósticos de TDAH: Dupla Excepcionalidade. É um fusão entre pessoas com habilidades cognitivas e curiosidade acima da média, porém com tamanho e intensidade tal que atrapalham os benefícios que essas  características poderiam trazer.

Uns 20 anos atrás, quando TDAH entrou no radar, também usavam o nome de "hyperfoco". Era habilidade de se concentrar alarmantemente num assunto. A maldição é que você não tinha controle para onde apontar este poder mutante. Relatório para terminar e você resolve ter alta performance em aprender Latim.

Hoje, não sei a quanto anda. Tendo a ser cético, pois dos mesmos produtores que não sabem explicar a consciência, querem fazer análises objetivas da cachola.

 

Acredito que aqui nessa lista tenham pessoas que se sintam assim também: aprenderam inglês e a programar sozinhos, gostam de assuntos complexos e carregam uma curiosidade suficiente para conversar, ainda que superficialmente, sobre muitos assuntos. Um oceano de informação com um palmo de fundura.

Meu sentido de pareidolia sempre tilinta quando o pessoal vem com diagnósticos que são como horóscopo: Sempre bate, independente do indivíduo. 

É como o dia que detectaram uma catarata congênita no meu órgão olhador: "Quando você olha para o Sol, sente ofuscamento?". Parece a piada do Hotel Transilvânia:

— É verdade que se eu fincar uma estaca no coração de um vampiro, ele morre?

— Bom, QUALQUER UM pode morrer assim.

O problema da motivação extrínseca é que ela consome e divide a energia cognitiva com pessoas com pouca roupa no instagram, novas descobertas musicais e livros que eu compro e não leio (tem um termo japonês pra isso: Tsundoku)

Eu costumo dizer que minha fila de leitura é uma biscate gorda e ingrata.

 

e não apareceu até agora nenhuma outra alternativa melhor que a analogia o meu xará fundador do stack overflow recomendou: Atirar e avançar (e ritalina)

Porvei a Ritalina uma vez. E aí, me transformei no samurai da produtividade?

Uma vez li que a mente de TDAH é como um navegador com 20 abas abertas. Você não consegue focar em nenhuma e uma delas, não se sabe qual, está tocando música. Ao tomar a Ritalina, se ganhava a capacidade de fechar as abas extras.

Tomei e fiquei esperando o flow aparecer, mas ele furou comigo. Continuei com as 20 abas abertas. Uma delas tocando música. Bem verdade, a única diferença é que eu não pensei em sexo durante o dia inteiro.

Ou seja, ele só fechou a aba anônima.

Recentemente, uma endócrino me passou a droga da moda, Venvanse. Terminei minha tradução da Ilíada para a língua do P? Não. Mas eu senti um avanço, eu perdi pequenos hábitos obsessivos que até então, eu nunca tinha reparado que os tinha. Não terminei de escrever o grande romance americano, mas todas as pequenas tarefas colaterais que atolavam minha mesa, foram impiedosamente matadas. Não era a droga da produtividade, mas limpou minha mesa.

Claro que, 15 dias depois, eu estava desanimado, desconsolado, macambúzio, sorumbático, com vontade de dormir o dia inteiro e sem vontade sequer de beber. Venvanse chega como a droga da moda com baixo efeitos colaterais, mas ainda não inventaram o amendoim mágico do Superpateta. A droga tem seu preço.

Vai acontecer com todos, isto aqui que escrevi? Não. Cada um tende a reagir particularmente. Já vi gente dizendo que Saxenda e Ozempic, as novas panaceias, além de deixar com corpitcho de estátua grega, combate diabetes, alzheimer e diabaquatro, também melhorava a concentração. Experimentei as duas, elas não ajudavam sequer em lembrar que tinha que tomar a dose seguinte.

Hoje só estou com café mesmo. Bom café. O café me ama. Me abraça. Me acolhe. Me entende. Tomo todos os dias há 40 anos. Nunca fui viciado.

[Joel Souza]

Claro que, 15 dias depois, eu estava desanimado, desconsolado, macambúzio, sorumbático, com vontade de dormir o dia inteiro e sem vontade sequer de beber. Venvanse chega como a droga da moda com baixo efeitos colaterais, mas ainda não inventaram o amendoim mágico do Superpateta. A droga tem seu preço.

Drogas são parciais e transitórias.

[Marco]

É interessante como tudo é patologia de uns tempos pra cá.

Pensamento arborizado, bagagem cultural e inteligência se curam com novos (ou velhos) psicotrópicos.

[Irapuan Martinez]

Em sex., 26 de abr. de 2024, 17:10, Marco <marcode...@gmail.com> escreveu:

É interessante como tudo é patologia de uns tempos pra cá. Pensamento arborizado, bagagem cultural e inteligência se curam com novos (ou velhos) psicotrópicos.

Corretíssimo.

O pessoal não tem bases objetivas do comportamento mental, mas quer submeter a julgamentos (e diagnósticos) objetivos. 

A coisa vai de uma maneira que lembro quando chamaram o Prozac de “droga da moda" (mas a da estação é o Venvanse); Ritalina é nicho: Vestibulandos. Por aí vai.

[Guilherme Silva]

Eu tenho certeza que existe uma patologia identificada cujo sintoma é acreditar que no tempo que vivemos tudo é patologia.

[Irapuan Martinez]

Em sáb., 27 de abr. de 2024, 07:43, Guilherme Silva <guilherm...@gmail.com> escreveu:

Eu tenho certeza que existe uma patologia identificada cujo sintoma é acreditar que no tempo que vivemos tudo é patologia.

Sim, chama-se hipocondria.

Só tratável com altíssimas doses de um fármaco chamado placebo.