Precisamos falar sobre o fetiche de dados.
Uma vez, eu realmente estava precisando de um short de corrida e estava atribuladíssimo. Aproveitei que parei ao lado de uma loja, entrei, peguei um do meu número e fui direto ao caixa.
— Seu CPF, senhor?
— Olha, eu realmente estou com muita pressa. Prometo passar aqui depois com tempo e faço o cadastro.
— Mas sem CPF, eu não posso realizar a venda!
Eu olhei espantado para a garota, agradeci e disse que voltava quando tivesse tempo para fazer o cadastro.
— Espera! Eu posso passar a venda!
Ah, agora a venda poderia ser realizada. Nunca mais voltei.
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Eu adoro fichas médicas. Acho profundamente relevante para o diagnóstico o médico saber seu CPF ou CEP e exceto se você trabalha com amianto, qual a relevância de saber minha profissão?
Imagina ter que responder isto sentido dor.
Dia desses, fiz uma visita a minha caixa postal do Iraplex. Isto, a coisa física, não o endereço IMAP. Um oftalmo — que exigiu meu cadastro — me mandou uma correspondência! Para meu aniversário!
Sabe aquele coisa, papel? Papel, gente, onde as pessoas colocavam coisas escritas. Escrita é tipo uma mensagem de áudio, mas sem barulho.
O mais formidável é que o brinde eram… Marcadores de livros.
Ok, eu consumo livros. Mezzo no Kindle, mas tenho pilhas de árvores mortas por aqui. Fiquei pensando na relevância de marcadores de páginas nessa roça de ignóbeis que usam Tiquetoque como websearch.
Ou porque eu, leitor, iria usar um marcador de páginas com A FOTO do almofadinha do médico.
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CPF das farmácias é para rastrear o consumo? Eles devem processar estas informações no mesmo datacenter que processam os trilhares de cookies que os sites acumulam.
Não dá pra direcionar propaganda porque a única propaganda com tanta capacidade de personalização é online e vejam só, cookie não tem CPF.
Aqui em Goiânia também abrem uma farmácia em cima da outra. Também exigem o CPF. É uma chatura.
É inútil o CPF e informam que ele condiciona o desconto, não como será usado. Se alguém compra estes dados, esperto a farmácia. Vende uma completa inutilidade, na toada do fetiche de dados.
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Se eu dou CPF? Claro que sim. Sou um agente econômico, reajo a incentivos.
Só que raramente lembro meu CPF. Então eu pergunto ao Google “n⁰ CPF” e pego o primeiro resultado.
Google sabe tudo mesmo sobre mim.