“COMO EXPLICAR O SURTO DE ESTUPIDEZ DA PAULISTA
Por Walter Falceta, pesquisador, jornalista, editor, escritor e comunicador.
Estenderam um bandeirão gigante dos Estados Unidos na Avenida Paulista. Dos EUA, o país cujo governante máximo nos impôs um injusto tarifaço e tenta minar nossa soberania, procurando até mesmo eliminar o PIX.
Sou tentado a afirmar que todo bolsonarista é apenas um merda desprezível sem caráter. Mas, aí, a ciência me exige uma explicação mais racional e aprofundada. Vou tentar...
Primeiramente, tem a psicologia da identificação com o supostamente mais forte. É o que esteve na base do culto a Hitler e Mussolini.
Pessoas ressentidas, incapazes e fracassadas buscam desesperadamente se associar a símbolos e indivíduos que tomam como referência de força, energia, sucesso, status e poder.
Ainda que os Estados Unidos sejam uma bosta, sem SUS, sem férias, sem 13o. salário, com uma justiça movida por dinheiro, com muita gente vivendo nas ruas, com uma sociedade individualista, inculta e preconceituosa, a tiazona do zap vê o país como retratado na Sessão da Tarde, ou seja, poderoso e vencedor.
Trump é um larápio, corrupto e abusador de mulheres, mas o tiozão do pavê acredita, em seu íntimo recalcado, que apoiá-lo o coloca no lado "forte" da disputa ideológica.
Ou seja, em termos de moral e apreciação do self, quanto mais fraco e reprimido um indivíduo, mais provável que saia à rua com a faixa de braço da suástica, a camisa negra do fascio ou a camiseta amarela da Seleção Brasileira.
A Psicologia de Massas do Fascismo, de Wilhelm Reich, explica muito bem essa rendição à maldade em três conceitos resumidos.
- O fascismo é a manifestação pública de um desespero reprimido individual, que busca se aliviar na autoridade de massa.
- Famílias autoritárias ensinam obediência sem questionamento. Então, as mesmas pessoas que se submeteram à vilania do pai, se submetem ao Estado.
- Quando a sexualidade e os impulsos naturais são reprimidos desde a infância, os indivíduos se tornam reféns da ordem externa e sedentos por hierarquia.
Acredito muito nessa última consideração. O bolsonarista, em geral, não transa ou transa de modo ruim. Não sabem viver realmente o afeto e a sexualidade. Em geral, são insuficientes e acabam traídos. Como resposta ressentida, matam os cônjuges ou outras pessoas.
Os jornais contam essas histórias TODOS OS DIAS. Dia sim, dia sim, um bolsonarista de vida sexual infeliz comete um crime hediondo. Aí, o recurso deprimente de substituir o falo por uma pistola ou um rifle.
Do ponto de vista cognitivo, o bolsonarista costuma ter um grande déficit. Ele, simplesmente, não consegue entender bem as coisas.
E, assim, para problemas complexos, imagina sempre soluções fáceis, como censurar, eliminar, proibir, matar, aniquilar. Para pessoas intelectualmente limitadas, a divergência é um fardo, uma tortura mental insuportável.
Daí, o assanhamento burraldino pelo complexo de vira-latas, aquele tão bem explorado pelo Nelson Rodrigues.
Diante dessa tensão, resultado de um superego degenerado, o bálsamo vem do rebaixamento dos iguais, dos companheiros de aldeia, e a exaltação fanática do opressor externo.
Para afastar-se de sua vida medíocre, pobre de cores, destinada ao envelhecimento debilitante, o bolsonarista se projeta numa falsa dialética, imaginando-se magicamente um membro da sede do império.
Na vida real, ele é visto como um verme por Trump. A turma da foto seria capturada, acorrentada, engaiolada, comeria mingau de aveia frio na prisão e seria enviada de volta para o Brasil em um avião caindo aos pedaços.
A bolsonarista do zap e do pavê, no entanto, prefere sonhar com a recepção calorosa do Tio Sam. Enxerga-se assistindo a O Fantasma da Ópera, contemplando a queima de fogos no castelo da Branca de Neve ou caçando jacarés nos Everglades (ex-humanos que tomaram a vacina contra a Covid-19).
O bolsonarista, portanto, além fraco, ruim de cama, inculto e ressentido, é também um tolo iludido. Em sua permanente dissonância cognitiva, ele pretende desesperadamente assinalar o pertencimento a uma instituição que o despreza.
Os nomes que usamos para designar esse tipo de indivíduo são: otário e trouxa.
Antigamente, os idiotas viviam na solidão a tristeza desse caráter minúsculo. A Internet, no entanto, permitiu que pudesse encontrar outros rancorosos obstinados.
Trata-se de gente que atribui suas derrotas cotidianas aos negros, aos povos originários, às mulheres, aos periféricos, aos nordestinos, aos LGBTs, aos sem-terra, aos sem-teto e, obviamente, àquelas entidades ficcionais que resumem a suprema ameaça: os "comunistas".
O grande pecado da comunicação digital foi estabelecer contato entre esses inimigos do rito civilizatório, dar-lhes um senso de poder gregário e divulgar suas sandices paranoicas e seus planos de vingança.
E, aí, concluímos a análise. Não importa com quem se alie, Bolsonaro, Bananinha, Tarcísio, Zambelli, Heleno, Julia Zanatta, Guilherme de Pádua, o goleiro Bruno, o Matador do Gari, entre outros, querem uma vingança contra a civilidade aberta, de fruição, afetuosoa, sensual, saudável, generosa, amorosa e corajosa para compartilhar a felicidade.
Todos esses aí fracassaram na vida. Bolsonaro foi um mau militar, frouxo, incapaz, humilhado por seus superiores e colegas. Zambelli precisou ganhar a vida de modo controverso. Muitos desses outros, péssimos na artes relacionais e do corpo, recorreram à violência para alimentar seus fantasmas obsessores.
Nosso grande guia, o carpinteiro de Nazaré, que era o oposto absoluto do fascismo bolsonarismo (mesmo que os pastores corruptos digam o contrário), diria: "perdoai-os, eles não sabem o que fazem".
Ainda não ascendi a esse grau de pureza e grandeza moral. Por enquanto, ainda acho merecem tabefes e pontapés.”
Franklin Alves, Caucaia, Ceará, Brasil