
A expressão não é minha, foi Beto Guedes quem o chamou de “rei” numa música em que expressa toda a sua indignação. Mas no fundo, esta foi realmente a impressão de muita gente, há 30 anos atrás (8/12/1980), e talvez ainda hoje.
Quando John Lennon foi assassinado, aos 40 anos de idade, creio que toda uma geração sentiu-se órfã. Certamente uma geração tinha neste ex-Beatle a sua referência maior, mesmo nós, os filhos da noite, com 20 anos na época e assistindo o silêncio de John, sabíamos por intuição (que era uma das poucas coisas que nos restava) da importância daquela figura.
Ele norteou as nossas buscas e as nossas experiências, mesmo sem ser exatamente tão melhor do que nós mesmos. Sua coragem de dissolver os Beatles, mostra toda a força da sua personalidade. De alguma forma, ele falava a nossa linguagem e sentia os nossos sentimentos. Por isto, “o sonho acabou”, de fato ali, para muita gente.
Porém, é muito difícil o sonho acabar de todo, a esperança às vezes é uma droga tão poderosa que supera a morte. Os tenebrosos anos 80, abertos com a morte do nosso ídolo, seria também uma década de luz oculta, quando o Movimento Alternativo se organizou de forma inusitado, a busca por comunidades e auto-conhecimento se acirrou, havia até catálogos para orientar os buscadores. Rei morto, rei posto. Não exageramos ao dizer que a morte semiótica do autor de “Imagine”, foi sentida por muitos como um chamamento interior, profundo e doloroso; de fato, ela foi como uma demanda pelo Santo Graal.
No ano da sua morte, JWOL (com o O de “Ono” que trouxe de sua esposa) se preparava para voltar à ativa -era a sensação que passava para muita gente. Mesmo sem ter ainda muitas certezas, tanto que proferiu esta frase: “Uma parte de mim pensa que sou um completo fracassado, e outra parte de mim me considera um deus.” Talvez com o tempo ele alcançasse uma síntese, talvez nós que o amávamos tenhamos assumido esta tarefa, tomando o seu bastão.
Trinta anos é um ciclo importante, a revolução de Saturno, marcando a cruz e a iluminação dos grandes seres. Daí a nossa homenagem, evocativa de tudo o que pode comportar de simbólica esta morte aos 40 (um ciclo bíblico famoso), de quem faria 72 anos em 2012 (72 é uma cifra astronômica). Para os mais jovens, os 30 vieram ao fim da década negra, trazendo as suas próprias colheitas, como foi o fim da Guerra Fria, a nossa própria guerra mundial interna, o nosso Armagedon.
Repito aqui, como conclusão, a minha homenagem máxima, que já fiz em algum momento de forma desajeitada: John Lennon, o pacifista, não conseguiu fugir à morte dos heróis. Ele é o nosso ídolo para sempre.
Luís A. W. Salvi- LAWS
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