Jornalismo UEPG lamenta morte de Armand Mattelart
O Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PPGJor/UEPG) lamenta falecimento do sociólogo Armand Mattelart, aos 89 anos, na última sexta-feira (31/10). O quadro docente reconhece o legado e destaca histórica contribuição do intelectual, nascido na Bélgica e radicado na França, para o pensamento social crítico da comunicação, das mídias e do jornalismo na transição do século XX para o XXI.
Trata-se de nome de capilaridade no pensamento social sobre as mídias na sua relação com a política e a cultura, em trajetória e atuação que faz o trânsito do continente europeu ao latino-americano. Foi professor no Chile nos anos de Allende que antecederam o golpe – as lembranças do período estão no documentário A Espiral (1976), que dirigiu ao lado de Jacqueline Meppiel e Valérie Mayoux.
Mattelart tornou-se referência fundamental à revisão crítica das teorias da comunicação em cursos de Jornalismo no Brasil, sobretudo aquelas matrizes assentadas no modelo funcionalista e pragmático de se pensar e também de se fazer uso das mídias. O autor já apresentava a problemática na obra ‘Pensar as mídias’, na década de 1980, com base na experiência política francesa sob Mitterrand. O livro foi tardiamente editado no Brasil, com atraso de duas décadas. Outra produção que colaborou nesse mesmo sentido, na década de 1990, foi o clássico História das Teorias da Comunicação, em co-autoria com a companheira Michelle Matterlart, associação que se repete na maior parte de sua bibliografia.
O escritor teve maior circulação e popularidade com a denúncia seminal que faz, ao lado de Ariel Dorfman, do imperialismo cultural norte-americano, em ‘Para ler o Pato Donald’. Já existia aqui uma sugestão para as novas condições de globalidade a pautar as indústrias culturais e as políticas das mídias, tema abordado em ‘A globalização da comunicação’ e ‘Comunicacao - mundo: histórias das ideias e das estrategias’. Outra vertente explorada pelo franco-belga é a inserção social do audiovisual e da televisão, as políticas regulatórias do estado nacional e a economia, sem esquecer do prazer e das matrizes culturais envolvidas no pacto para com as audiências. Exemplar nesse sentido é ‘O carnaval das Imagens: a ficção na TV’.
O pensador destaca-se pela defesa que faz ao longo de sua produção de se conciliar aquilo que chamou de “retorno do sujeito” e do cotidiano nas perspectivas sobre as mídias e a necessidade de se contemplar a economia política da comunicação em condições globais. São expressões desse embate as obras ‘Diversidade cultural e mundialização’ e também, na sua dimensão metodológica, o livro ‘Introdução aos estudos culturais’, que assina ao lado de Érik Neveu.
O Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UEPG convoca que as pesquisas vigentes e futuras leiam, releiam, divulguem e façam uso crítico do pensamento de Armand Mattelart.