Armand Mattelart (1936 – 2025) — Pensar a comunicação como política do mundo
Na madrugada da sexta-feira, 31 de outubro, em Paris, despediu-se um dos mais influentes intelectuais do campo da comunicação contemporânea: Armand Mattelart, teórico belga radicado na França, cuja trajetória marcou profundamente o pensamento crítico sobre mídia, cultura e globalização.
Nascido em Liège, Bélgica, em 8 de janeiro de 1936, Mattelart formou-se em Direito e especializou-se em Demografia antes de tornar-se um dos grandes nomes da Economia Política da Comunicação. Seu percurso foi singular: partiu da Europa rumo à América Latina nos anos 1960 e, no Chile, encontrou o espaço onde seu pensamento amadureceria.
Durante o governo de Salvador Allende, Mattelart atuou como professor na Universidade Católica de Valparaíso e participou de um vibrante movimento intelectual voltado à crítica dos meios de comunicação de massa. Foi nesse contexto que, ao lado de Ariel Dorfman, publicou a obra que o tornaria mundialmente conhecido: Para ler o Pato Donald (1971), uma análise magistral sobre as ideologias embutidas nas narrativas da cultura de massa e no imperialismo cultural.
Com o golpe militar de 1973, Mattelart foi obrigado a deixar o Chile. Estabeleceu-se na França, onde consolidou uma carreira acadêmica notável, tornando-se professor emérito da Universidade de Paris VIII (Vincennes–Saint-Denis). Dali, sua influência se irradiou para os quatro cantos do mundo, orientando gerações de pesquisadores na América Latina, Europa e África.
Autor de dezenas de obras traduzidas em várias línguas, entre elas A Comunicação-Mundo, Multinacionais da Comunicação, A Invenção da Comunicação e, com Michèle Mattelart, História das Teorias da Comunicação, Armand dedicou-se a compreender como a circulação global de informações molda as relações de poder e os modos de vida contemporâneos.
Em toda sua produção, Mattelart defendeu uma ideia central: a comunicação é um campo de disputa política, e compreender seus mecanismos é essencial para qualquer projeto emancipatório. Para ele, democratizar a informação significava também democratizar a própria sociedade.
Reconhecido por sua lucidez e rigor intelectual, manteve-se ativo mesmo nos últimos anos, acompanhando com preocupação as novas formas de concentração mediática e a influência das plataformas digitais sobre a esfera pública.
Com sua partida, o campo da comunicação perde um de seus mais coerentes e visionários pensadores — um intelectual comprometido com a transformação social e com a esperança de que a comunicação possa ser instrumento de liberdade, e não de dominação.
A Federação Latino-americana de Faculdades de Comunicação Social (Felafacs) se solidariza com a família e junta-se a comunidade acadêmica internacional nas homenagens a tão importante pensador.
Por Gilson Porto Jr
Felafacs - Diretor da Regional Brasil
Armand Mattelart (1936 – 2025) - Pensar la comunicación como política del mundo
En la madrugada del viernes 31 de octubre, en París, se despidió uno de los intelectuales más influyentes del campo de la comunicación contemporánea: Armand Mattelart, teórico belga radicado en Francia, cuya trayectoria marcó profundamente el pensamiento crítico sobre los medios, la cultura y la globalización.
Nacido en Lieja, Bélgica, el 8 de enero de 1936, Mattelart se formó en Derecho y se especializó en Demografía antes de convertirse en uno de los grandes nombres de la Economía Política de la Comunicación. Su recorrido fue singular: partió de Europa hacia América Latina en los años sesenta y, en Chile, encontró el espacio donde su pensamiento alcanzaría madurez.
Durante el gobierno de Salvador Allende, Mattelart se desempeñó como profesor en la Universidad Católica de Valparaíso y participó en un vibrante movimiento intelectual orientado a la crítica de los medios de comunicación de masas. Fue en ese contexto que, junto a Ariel Dorfman, publicó la obra que lo haría mundialmente reconocido: Para leer al Pato Donald (1971), un análisis magistral sobre las ideologías presentes en las narrativas de la cultura de masas y en el imperialismo cultural.
Con el golpe militar de 1973, Mattelart se vio obligado a dejar Chile. Se estableció en Francia, donde consolidó una notable carrera académica, convirtiéndose en profesor emérito de la Universidad de París VIII (Vincennes–Saint-Denis). Desde allí, su influencia se expandió a todos los rincones del mundo, orientando a generaciones de investigadores en América Latina, Europa y África.
Autor de decenas de obras traducidas a varios idiomas entre ellas La Comunicación-Mundo, Multinacionales de la Comunicación, La Invención de la Comunicación y, junto a Michèle Mattelart, Historia de las Teorías de la Comunicación. Armand dedicó su vida a comprender cómo la circulación global de la información moldea las relaciones de poder y las formas de vida contemporáneas.
En toda su producción, Mattelart defendió una idea central: la comunicación es un campo de disputa política, y comprender sus mecanismos es esencial para cualquier proyecto emancipador. Para él, democratizar la información significaba también democratizar la sociedad misma.
Reconocido por su lucidez y rigor intelectual, se mantuvo activo incluso en los últimos años, observando con atención y preocupación las nuevas formas de concentración mediática y la influencia de las plataformas digitales en la esfera pública.
Con su partida, el campo de la comunicación pierde a uno de sus pensadores más coherentes y visionarios: un intelectual comprometido con la transformación social y con la esperanza de que la comunicación pueda ser instrumento de libertad y no de dominación.
La Federación Latinoamericana de Facultades de Comunicación Social (FELAFACS) se solidariza con su familia y se une a la comunidad académica internacional en los homenajes a tan importante pensador.
Por Gilson Pôrto Jr., Coordinador de la Regional Brasil de FELAFACS.