Sexo, Amor, Erotismo e Pornografia

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May 24, 2008, 11:30:50 PM5/24/08
to Midiateca da HannaH
Sexo, Amor, Erotismo e Pornografia - Parte 1
:: Flávio Gikovate ::


SEXO E AMOR SÃO COISAS DIFERENTES

O fato de o sexo e de o amor andarem juntos em um grande número de
ocasiões não significa que sejam a mesma coisa. Tampouco significa que
sejam manifestações distintas de um mesmo instinto - termo usado para
designar impulsos que nascem espontaneamente dentro de nós. Esta
última idéia foi defendida por Freud, o genial médico de Viena que, no
inicio do século XX lançou as bases de uma nova ciência, à qual
denominou psicanálise.

A idéia de que sexo e amor sejam a mesma coisa causou grande confusão
na época em que foi lançada, sendo responsável por grande parte da
oposição inicial que a psicanálise sofreu. Dizer, por exemplo, que um
menino de 7 anos sente desejo sexual por sua mãe pareceu chocante e,
ao mesmo tempo, duvidoso. Atualmente, ninguém duvida que um menino
dessa idade é extremamente ligado sentimentalmente a sua mãe. É bom
que se saiba, também, que a confusão era generalizada na maneira de
pensar das pessoas daquela época; é exemplo disso a atitude que os
pais tinham com seus filhos do sexo masculino: não os beijavam e nem
eram muito carinhosos com eles por medo de estarem contaminando-os com
desejos homossexuais. Essa atitude só começou a se modificar de uns
trinta anos para cá, quando as pessoas passaram a perceber que ternura
é bastante diferente de tesão.

Eu costumo fazer a seguinte comparação: sexo e amor são como arroz e
feijão - andam juntos com freqüência, combinam muito bem, mas são
coisas bem diferentes. O amor é um desejo forte que temos por
aconchego. O amor busca a sensação de paz e harmonia que sentimos
quando estamos junto de uma pessoa muito especial que “elegemos” como
o nosso ser amado. Nos primeiros anos de vida, esse objeto do amor é a
própria mãe. Com o passar dos anos, nos desligamos dela e buscamos
outra pessoa para ser o nosso par na aventura romântica. Uma vez
escolhido, só serve aquele parceiro. Sua substituição é possível, mas
lenta e dolorosa.

O sexo é um impulso que se manifesta pela primeira vez no fim do
primeiro ano de vida. É o momento em que a criança começa a perceber
com mais clareza que não está “grudada” na sua mãe, que não é uma
parte dela. Começa a perceber a sua individualidade, e passa a
pesquisar-se. É o período em que a criança, ao se tocar inteira,
percebe que as sensações variam conforme a parte do corpo que é
tocada. Percebe bem claramente que a região correspondente aos órgãos
genitais provoca uma sensação muito especial, uma inquietação
agradável, a qual chamamos de excitação sexual. É muito importante
perceber que as primeiras sensações de natureza sexual se dão quando a
criança, sozinha, está pesquisando o seu corpo. Trata-se, pois, de um
fenômeno pessoal, individual, e que foi denominado “auto-erótico” por
essa razão. Diferentemente do amor, que sempre envolve outra pessoa, o
sexo é, nas primeiras descobertas infantis, uma manifestação
individual.
Eu costumo fazer a seguinte comparação: sexo e amor são como arroz e
feijão - andam juntos com freqüência, combinam muito bem, mas são
coisas bem diferentes.
Podemos dizer, portanto, que existem duas grandes diferenças entre o
fenômeno amoroso e o sexual. A primeira diferença é que o amor é paz e
harmonia, ao passo que o sexo é excitação, tensão. A segunda diferença
é que a paz derivada do amor depende sempre da existência de uma outra
pessoa, o objeto específico do nosso sentimento; por sua vez, o sexo é
um processo pessoal, auto-erótico e, ao menos na infância, totalmente
independente de um objeto específico.

Na vida adulta, o sexo e o amor com freqüência andam juntos. Quando
isso acontece, é claro que a pessoa que é objeto do nosso amor tende a
se transformar naquela criatura com a qual queremos trocar carícias
eróticas. A separação entre amor e sexo torna-se difícil de ser
observada, derivando dai as confusões feitas pelos primeiros
pesquisadores dos fenômenos psíquicos, tão essenciais ao entendimento
de nós mesmos.




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Sexo, Amor, Erotismo e Pornografia - Parte 2
:: Flávio Gikovate ::


A VIDA SOCIAL IMPÕE LIMITES AO HOMEM

Freud acreditava, diferentemente do que tenho defendido, que o amor
era uma manifestação sofisticada, mais intelectualizada, do impulso
sexual. Ele chamava esses processos de sublimação, ou seja, a
transformação de um impulso mais grosseiro em algo mais sublime, mais
especial. Essa transformação era o efeito da nossa razão sobre o
fenômeno mais físico, mais animal, da sexualidade. Eu costumo dizer
que nós somos criaturas especiais, dotadas de características próprias
dos macacos. Porém, temos um “computador”, que é a nossa razão, que
nos faz criaturas especiais e únicas. Os impulsos do “macaco”, depois
de modificados pelo “computador”, tornam-se mais requintados;
transformam-se em produtos sublimados.

A verdadeira história da evolução da nossa espécie e a passagem de um
modo de vida primitivo, nômade, para as organizações sociais complexas
em que vivemos hoje ainda estão longe de serem conhecidas. A verdade é
que foi uma história difícil, cheia de sofrimentos internos e
externos. Os sofrimentos externos derivaram do fato de que a Terra não
era um local tão apropriado para a nossa espécie. Tivemos de aprender
a nos defender dos outros animais, do frio rigoroso, da escassez de
alimentos etc.. Se hoje temos casas confortáveis, alimentos
preservados para consumo durante o inverno e condições objetivas de
combate às doenças e às dores, essas são as conquistas das quais
podemos nos orgulhar. O planeta está muito mais adequado às
necessidades humanas do que a selva original que aqui encontramos.
Para conseguirmos avançar na conquista do meio externo, tivemos de nos
agrupar em núcleos sociais cada vez mais complexos e organizados.
Esses grupos impuseram severas limitações à expressão da nossa
natureza instintiva, ou seja, nossa natureza mais animal. Muitos dos
desejos que surgiram e ainda surgem espontaneamente, graças à nossa
biologia, tiveram de ser proibidos. A palavra que se usa em psicologia
para isso é repressão.

A repressão, quando muito forte, tira o desejo até da nossa
consciência e cria, assim, uma outra parte da nossa subjetividade, que
é chamada de inconsciente. O inconsciente contém os desejos que a
nossa razão consciente não aceita. E não aceita por causa da
repressão, que inicialmente é externa – social – e depois se
transforma em interna – pessoal. Por exemplo, se fico com raiva do meu
pai e sinto desejo de matá-lo, eu mesmo me censuro por isso, e reprimo
o desejo para o inconsciente.
Passamos então a ter um mundo interior dividido: uma parte dos nossos
desejos se esconde de nós mesmos, porque os consideramos inaceitáveis.
Tudo isso é fruto de uma “domesticação” que o homem teve de impor a si
mesmo para viver em sociedades complexas. Os impulsos agressivos estão
entre os que mais tiveram de ser reprimidos, do contrário a violência
seria causadora da desagregação do grupo.

Sabemos, por experiência própria, que o processo de repressão da
agressividade não é perfeito. Sabemos também que boa parte dos nossos
desejos violentos são conscientes – ou seja, aceitamo-los, mas não os
exercemos, seja por medo, seja por não os acharmos adequados. E mais:
vez por outra, eles vencem as barreiras internas e se exercem sob
forma de agressões físicas ou verbais. Em algumas pessoas, o controle
agressivo se dá de modo mais eficaz; em outras, é bastante precário.
A verdadeira história da evolução da nossa espécie e a passagem de um
modo de vida primitivo, nômade, para as organizações sociais complexas
em que vivemos hoje ainda estão longe de serem conhecidas.

Os fenômenos amorosos foram se tornando mais fortes e mais importantes
só de alguns séculos para cá. É provável que, no passado, as pessoas
permanecessem vinculadas a seus parentes – pais, irmãos, tios, primos
etc. – de forma tão intensa que sentiam pouca necessidade de aconchego
por meio de ligação com uma pessoa que não fizesse parte do grupo
familiar. Essa ligação também existia, mas era escolhida pelas
famílias, de acordo com as regras de conveniência de cada sociedade.
Ou seja, as pessoas se casavam com criaturas que eram escolhidas por
outras pessoas, e é provável que, com o tempo, se afeiçoassem a elas
e, inclusive, passassem a sentir amor por elas.
Qualquer tipo de encantamento amoroso que surgisse fora das regras da
vida social era violentamente reprimido. Isso só mudou nas últimas
décadas: agora as pessoas podem se unir ao parceiro que quiserem, e se
separar daquele por quem não têm mais interesse.

As histórias dos amores impossíveis, que estavam em oposição às
regras, povoam nossas bibliotecas, sendo a mais famosa a de Romeu e
Julieta, de Shakespeare. A luta é travada entre a emoção querendo se
impor e a regra social querendo prevalecer e indo contra aquela união
que a contraria. Esse tipo de repressão é hoje coisa do passado,
apesar de ainda existirem alguns resíduos em certos grupos sociais.
Pessoas casadas que se apaixonam por outras pessoas, por exemplo,
podem se divorciar para realizar seu desejo romântico; ainda esbarram,
porém, com fortes oposições, principalmente as de seus próprios
filhos, que, não raro, se sentem prejudicados.

Nenhum dos impulsos humanos é mais difícil de ser “domesticado“ do que
o instinto sexual. O amor necessita de um objeto definido, e a
"domesticação” consiste no indivíduo não se fixar em um objeto
proibido; já a nossa agressividade é sempre uma relação, ou seja, se a
pessoa não for provocada, não tende a agir com violência. Dessa forma,
as normas da vida em sociedade, quando respeitadas, geram quantidades
pequenas – e, portanto, suportáveis – de provocação. Mas o desejo
sexual está presente em nós o tempo todo! Não temos, como os outros
mamíferos, um período de cio e outro de repouso desse instinto. Ao
menos nos homens, o desejo se manifesta principalmente em função do
estímulo visual: olhar moças e mulheres de todas as idades provoca o
desejo dos homens de todas as idades, e em qualquer época do ano.
A repressão, quando muito forte, tira o desejo até da nossa
consciência e cria, assim, uma outra parte da nossa subjetividade, que
é chamada de inconsciente.

As mocas e as mulheres sabem que provocam o desejo dos homens e se
excitam e se envaidecem com isso. Por essa razão, estão sempre
querendo aprimorar cada vez mais a sua aparência física. Conseguem
atingir os objetivos com facilidade, pois provocam cada vez mais o
desejo dos homens. E vejam a complexidade da questão: quanto maior o
grupo social, mais os homens estão expostos a mais mulheres que lhes
são atraentes. Dessa forma, à medida que a civilização se sofistica e
se expande, mais vezes por dia homens e mulheres se encontram e fazem
surgir a faísca do desejo.

Já vimos, também, que o sexo, na sua origem, não tem relação com uma
só figura, especial e única, como acontece com o amor. Dessa forma,
somos estimulados sexualmente por praticamente todas as pessoas do
sexo oposto. E isso acontece mesmo quando estamos sentimentalmente
envolvidos e satisfeitos. A mulher enamorada não tem intenção de ter
outros parceiros sexuais, além do amado. Porém, continua gostando
muito de provocar o desejo de outros homens. Dessa maneira, é um pouco
hipócrita quando diz que se veste e se arruma tanto só para agradar ao
homem que ama. No caso dos homens, o desejo visual transborda muito
claramente as fronteiras do amor. Concluímos, logo, que a fidelidade,
quando existe, é fruto de uma regra que a pessoa se impôs, e não da
natureza da nossa espécie.
Então para onde vai tanta energia que não pode se expressar, sob pena
de desorganizar toda a vida em sociedade?


Flávio Gikovate é médico psicoterapeuta, pioneiro da terapia sexual no
Brasil.
Conheça o Instituto de Psicoterapia de São Paulo.
Confira o programa "No Divã do Gikovate" que vai ao ar todos os
domingos das 21h às 22h na Rádio CBN (Brasil), respondendo questões
formuladas pelo telefone e por e-mail giko...@cbn.com.br
Email: inst...@flaviogikovate.com.br

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