A Gênese da Dedução Transcendental
PROJETO DE MESTRADO
Pesquisador: Orlando Bruno Linhares
Orientador(a): Prof. Dr. Mário Ariel Gonzales Porta
Instituição: Pontifícia Universidade Católica - SP
Departamento/Programa: Filosofia / Programa de Pós-Graduação
Banca: Prof. Dr. Zeljko Loparic, Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva
Resumo: O objetivo desta dissertação é analisar a gênese da dedução
transcendental a partir da distinção feita por Kant no prefácio da
primeira edição da Crítica da Razão Pura entre dedução objetiva e
dedução subjetiva. Os críticos de Kant se dividem quanto à
interpretação da seguinte passagem do prefácio da primeira edição da
Crítica da Razão Pura:
A dedução transcendental "consta de duas partes. Uma reporta-se aos
objetos do entendimento puro e deve expor e tornar compreensível o
valor objetivo desses conceitos a priori e, por isso mesmo, entra
essencialmente no meu desígnio. A outra diz respeito ao entendimento
puro, em si mesmo, do ponto de vista da sua possibilidade e das
faculdades cognitivas em que assenta: estuda-o, portanto, no aspecto
subjetivo. Esta discussão, embora de grande importância para o meu fim
principal, não lhe pertence essencialmente, pois a questão fundamental
reside sempre em saber o que podem e até onde podem o entendimento e a
razão conhecer, independentemente da experiência e não como é possível
a própria faculdade de pensar." (A XVII-XVIII).
De um lado podemos agrupar aqueles que afirmam, de acordo com as
palavras de Kant, que o problema central da Analítica é a solução da
dupla questão formulada pela dedução objetiva: provar a validade
objetiva das categorias e determinar os limites do seu uso. Esse
grupo, ao identificar a dedução subjetiva com uma psicologia, afirma
que a solução dos dois problemas da dedução objetiva independe dos
resultados da investigação realizada pela dedução subjetiva. De outro
lado estão aqueles que afirmam, contra as palavras de Kant, porém,
também, identificando a dedução subjetiva com uma psicologia, que ela
é uma parte indispensável da Analítica, pois contém elementos, que não
se encontram em nenhuma outra parte da Crítica da Razão Pura e são,
portanto, indispensáveis na elaboração geral da dedução
transcendental.
Nós atribuímos, apoiando-nos na interpretação de Wolfgang Carl, à
dedução subjetiva um papel central na estrutura da dedução
transcendental, como antes fizeram vários comentadores, porém, opomo-
nos ao que era um verdadeiro "topos" da filosofia kantiana, negando a
onipresente interpretação psicologizante da dedução subjetiva, com a
qual lança por terra teses bem aceitas como a de De Vleeschauwer
referente ao caráter puramente hipotético da dedução subjetiva e a de
Paton que vê na mesma uma teoria das faculdades cognitivas.Apesar das
grandes diferenças de interpretação da dedução transcendental há um
consenso entre os intérpretes e comentadores de Kant sobre o sentido e
o objeto da dedução objetiva. Todos concordam que seu problema reside
em provar a validade objetiva das categorias e determinar os limites
do seu uso. Mas a dificuldade reside em fixar a finalidade da dedução
subjetiva, delimitar o seu problema específico e estabelecer critérios
para distingui-la da dedução objetiva. A dissertação se estrutura da
seguinte maneira:
1º Capítulo: Iniciamos nosso trabalho com a análise das duas primeiras
seções do capítulo central da primeira edição da Crítica da Razão
Pura. O parágrafo 13, na primeira seção, é uma introdução, cujo
objetivo é apresentar seu problema, definir e explicar o que é a
dedução e ainda provar que ela é necessária para as categorias. O
parágrafo 14, também na primeira seção, tem a função de solucionar o
aspecto objetivo da dedução transcendental, isto é, provar que as
categorias são condições a priori da possibilidade da experiência e de
seus objetos. Kant, nas segunda e terceira seções, ao introduzir o
conceito de apercepção tem a intenção de solucionar um problema, que
não foi resolvido pela dedução objetiva: como garantir a validade
objetiva das categorias também para as aparências (Erscheinungen): a
solução desse problema corresponde ao aspecto subjetivo da dedução
transcendental.
2º Capítulo: Após analisarmos a dedução transcendental na primeira
edição da Crítica da Razão Pura, investigamos historicamente como nos
escritos de Kant seu problema e sua solução foram progressivamente
formulados. Procuramos, assim, destacar tanto os vários níveis de
formulação do problema quanto os diferentes níveis das suas soluções.
Neste capítulo analisamos a concepção de espaço no opúsculo intitulado
Acerca do Primeiro Fundamento da Diferença das Regiões no Espaço de
1768 e as concepções de espaço e de tempo nas Reflexões do período
compreendido entre 1768 e 1770. Da concepção de espaço e de tempo do
período de 1768 a 1770 surgem as antinomias, cuja solução é dada pela
Dissertação de 1770 ao distinguir sensibilidade e entendimento,
fenômeno e coisa em si, uso lógico e uso real do entendimento. A carta
a Marcus Herz de 1772, que em parte é um balanço da Dissertação de
1770, questiona o dogmatismo desta obra, a qual afirma que pelo
entendimento conhecemos as coisas como são em si mesmas. Em 1772, Kant
levanta o problema da metafísica nos seguintes termos: "Em que
fundamento assenta a relação entre o que chamamos a representação e o
objeto?" Tal pergunta apresenta vagamente o problema da futura dedução
transcendental na Crítica da Razão Pura sem distinguir ainda as
deduções objetiva e subjetiva. O problema expresso neste documento se
constitui no fio condutor de nossa análise e permite, assim, traçar os
esboços gerais da dedução objetiva e da dedução subjetiva a partir das
Reflexões e do Duisburg Naschlass, ou seja, da vaga formulação do
problema contido na carta a Marcus Herz, podemos estabelecer a
trajetória que conduz tanto à sua formulação precisa quanto à sua
solução a partir dos fragmentos do período denominado "o silêncio de
Kant".
3º Capítulo: Analisamos a reformulação do problema da carta a Marcus
Herz e a solução do problema da dedução objetiva nas Reflexões do
período de 1772 a 1775 como primeiro esboço da dedução
transcendental.
4º Capítulo: Consideraremos a reformulação do problema da carta a
Marcus Herz e a solução do problema da dedução subjetiva no Duisburg
Naschlass de 1774-5 como segundo esboço da dedução transcendental.
Em resumo, o fio condutor de toda a nossa dissertação é a solução do
duplo aspecto do problema da dedução transcendental já mencionado, que
analisaremos inicialmente na Crítica da Razão Pura e em seguida, nos
próximos capítulos, procuraremos a sua gênese e formação na década de
1770.
http://www.kant.org.br/modules/mastop_publish/?tac=A_G%EAnese_da_Dedu%E7%E3o_Transcendental