(Do livro: Nietzsche Educador, Rosa Maria Dial, Editora Scipione,1990,
pág. 81)
O Egoísmo das classes comerciantes – As classes comerciantes
necessitam da cultura e a fomentam, embora prescrevendo regras e
limites para sua utilização. Eis o seu raciocínio: quanto mais
cultura, maior consumo e, portanto, mais produção, mais lucro e mais
felicidade. Os adeptos dessa fórmula definem a cultura como um
instrumento que permite aos homens acompanhar e satisfazer as
necessidades de sua época e um meio para torná-los aptos a ganhar
muito dinheiro. Assim, os estabelecimentos de ensino devem ser criados
para reproduzir o modelo comum e formar tanto quanto possível homens
que circulem mais ou menos como “moeda corrente”.
Com a ajuda de uma formação geral não muito demorada, pois a rapidez é
a alma do negócio, eles devem ser educados de modo a saber exatamente
o que exigir da vida e aprender a ter um preço como qualquer outra
mercadoria. Assim, para que os homens tenham uma parcela de felicidade
na Terra, não se deve permitir que possuam mais cultura do que a
necessária ao interesse geral e ao comércio mundial.
5. Nietzsche como educador hoje
(Do livro: Nietzsche Educador, Rosa Maria Dial, Editora Scipione,1990,
pág. 114 e 115)
Será que o pensamento de Nietzsche pode ser usado, hoje, como um
instrumento para pensar a educação: Será que seu exemplo ainda pode
servir para nos educar e, consequentemente, educar a quem educamos?
Não há dúvidas quanto a essas questões. Nietzsche apontou problemas
que, apesar dos esforços de alguns educadores bem-intencionados, ainda
não foram resolvidos. Um deles – e talvez o mais grave – é o ensino da
língua materna, até hoje um grande desafio. Cada vez mais, abandona-se
a formação humanista, em favor de uma educação voltada para as
necessidades do parque industrial.
Isto incentiva os indivíduos a um preparo rápido – uma
profissionalização – que os torne aptos a trabalhar na “fábrica da
utilidade publica” e a servir como técnicos na maquinaria do Estado.
Uma formação humanista seria um luxo que os afastaria do mercado de
trabalho.
Como filósofo-educador e “médico da cultura”, Nietzsche repensou as
questões de educação a partir das necessidades vitais (que não se
resumem à sobrevivência), e não às do mercado de trabalho, criado para
satisfazer as exigências do Estado e da burguesia mercantil.
Adotou a vida como critério fundamental para todos os valores da
educação e, com isso, destruiu as convicções que sustentavam o sistema
educacional de sua época.
... Tomar Nietzsche como exemplo significa educar-se incansavelmente;
adquirir uma capacidade crítica pessoal e uma capacidade de pensar por
si; aprender a ver, habituando o olho no repouso e na paciência;
dominar o “instinto do saber a qualquer preço”, utilizando este
princípio seletivo: só aprender aquilo que puder viver e abominar tudo
aquilo que instrui sem aumentar ou estimular a atividade; manter uma
postura artística diante da existência, trabalhando como artista a
obra cotidiana; “dar à vida o valor de um instrumento e de um meio de
conhecimento”, procedendo de modo que os falsos caminhos, os erros, as
ilusões, as paixões, as esperanças possam conduzir a um único objetivo
– a educação de si próprio.
Em suma, tomar Nietzsche como exemplo não é pensar como ele, mas sim
pensar com ele: “Nietzsche” não é um sistema, nem mais um pensador com
um programa de educação. Nietzsche, como afirma Gérard Lebrun, “é um
instrumento de trabalho insubstituível”.
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