A Vida do Pensamento deve englobar o Pensamento da Vida

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May 22, 2008, 7:25:24 PM5/22/08
to Midiateca da HannaH

A Vida do Pensamento deve englobar o Pensamento da Vida
Goura Nataraj Das





Pensar no Yoga significa pensar no sentido possível de nossa
existência. Significa fazer a perigosa e instável relação entre o ser
e o não-ser, o um e o zero, a afirmação e a negação. Considerar
seriamente o projeto do Yoga exige uma disposição de kshatriya,
guerreira, exige estar disposto a questionar o mundo, mesmo que para
isso o ego precise ser abstraído, relativizado ou até mesmo negado;
que deixemos de ver as coisas sob o prisma da subjetividade extrema e
procuremos novas formas de percepção, novos meios de acesso à
realidade.

Dentro deste pensamento podemos conduzir o pensamento sobre o
Vegetarianismo dentro do Yoga da seguinte forma: vivemos hoje em dia
um momento em que a humanidade não reconhece mais sua irmandade com os
demais seres que compartilham com ela a existência na Terra. A conexão
do homem com os animais e com todos os ciclos da natureza foi, em sua
essência, rompida.

Falamos aqui em termos gerais, de uma constatação do estado
majoritário das coisas. Existem exceções, existem conexões e existem
também culturas que coexistem com a ação predatória do homem moderno,
que se opõe a ela e que denunciam suas ações inconseqüentes. Mas como
regra geral encontramos o oposto. Vale a pena, portanto, justificar
este projeto mostrando o quanto uma disciplina filosófica é necessária
para uma transformação efetiva de nossa visão do mundo. Como diz
Epictetus:

'Não se trata de estudar a filosofia, mas sim de viver a filosofia.'
Também na Hatha-Yoga Pradipika afirma-se que é somente a aplicação
prática da teoria que conduz à iluminação. Num momento em que o
descrédito e a ausência de valor ao estudo e à sabedoria se fazem
preeminentes, pensamos ser mais do que necessário discutirmos um
tópico como este. Pois, o que poderia ser mais concreto e estar
diretamente ligado a uma práxis do que o simples ato de comer, que
levamos a cabo de duas a três vezes por dia, todos os dias de nossas
vidas, que consiste numa das principais formas de socialização do
homem e que é um dos maiores prazeres da vida?



Uma ação política não pode deixar de lado uma ação consciente no
âmbito da alimentação. Uma enorme porcentagem de nossas vidas gira em
torno deste abrir e fechar das mandíbulas; Aqueles que falam de
revolução, mas jamais se questionam sobre o que estão colocando dentro
de seus estômagos estão ignorando um potencial transformador, uma ação
política atuante, direta, e que esta nas mãos de todos e de qualquer
um.

Existe, me parece, uma necessidade de aplicarmos estes questionamentos
em um mundo que se dirige cegamente à destruição dos valores
espirituais da humanidade. Por isso, dizemos que ‘a vida do pensamento
deve englobar o pensamento da vida’ [1]

Um brahmana, um sábio, é todo aquele que busca a auto-superação, que
compreende o papel dos condicionamentos em nossa percepção do mundo, e
se esforça em direção a um processo de constante transformação, de
'autolapidação', de Yoga.

Como poderia tal pessoa tomar parte na matança indiscriminada de
animais cuja existência foi condenada pelo nosso hedonismo
inconseqüente? Poderia ele, em sã consciência, concordar com o
massacre e a carnificina que são levados a cabo metodicamente à
satisfação de paladares humanos corruptos? A alienação de si, a
ignorância que envolve quase a totalidade de nossas vidas, não é
desculpa para nos eximirmos da responsabilidade de nossas ações; pelo
contrario ela é, na maior parte dos casos, a própria justificativa de
nossa exposição às misérias e sofrimentos da vida.

'Para um homem cuja mente é livre existe algo ainda mais intolerável
nos sofrimentos dos animais do que nos sofrimentos dos homens. Neste
ultimo é ao menos admitido que o sofrimento é um mal e que aquele que
o causa é um criminoso. Mas milhares de animais são mortos inutilmente
todos os dias sem a mínima sombra de remorso. E se qualquer homem
fosse falar sobre isto, ele seria ridicularizado - este é em si o
crime imperdoável. Esta é a justificativa para que todos os homens
venham a sofrer' - Romain Rolland.

O estabelecimento de uma ética que restaure 'nossos irmãos menores',
que conceda um papel importante a eles no drama cósmico que juntos
encenamos é uma necessidade. Nossos valores estão deturpados e cabe a
nos buscarmos fundamentos sobre os quais podemos estabelecer novas
perspectivas, que não sejam excludentes, que concebam o homem em sua
relação com o mundo e com os seres que nele habitam. Os animais foram
objetificados, tratados como bens de consumo, e despidos de toda
sensibilidade, que por si só, não é inteiramente distinta de nossa. O
desrespeito pelo direito à vida animal se mostra, já transformado, na
crescente dessenbilização do homem moderno, que vê tudo e todos como
objetos de consumo.

Na antiga cultura indiana um homem era aceito como homem pela sua
conduta, por exibir sintomas em suas ações que estabelecessem e
refletissem ações racionais, ponderadas e receptivas ao Belo. Andar
sob duas pernas não caracteriza um ser humano. Quanto às respostas
morais das tradições que afirmam o estatuto ontologicamente nulo dos
animais, em outras palavras que negam, por um lado, o seu direito à
vida e, por outro, afirmam o seu papel meramente subserviente ao
homem, lembramos, para concluir, das palavras de Schopenhauer:

'Porque a moralidade cristã deixa de fora os animais, estes são
prontamente banidos das morais filosóficas; eles são meras 'coisas',
apenas meios para todos os tipos de fins. Podem, portanto, serem
usados para vivisecção, caçadas, corridas, touradas e podem ser
açoitados à morte enquanto se esforçam carregando pesados fardos de
pedras. Que a vergonha recaia em tal moralidade que é digna de parias
e que não consegue reconhecer a essência eterna que existe em todos os
seres vivos e que brilha adiante com perscrutável significância de
todos os olhos que vêem o sol!'

Hari Om Tat Sat!







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