Crônica de Mauro Cassane

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Jul 12, 2008, 1:04:45 AM7/12/08
to Midiateca da HannaH
Perdi minha segunda virgindade, e outra vez sem glamour


Conheci Lily de um jeito estranho e demasiadamente contemporâneo.
Coisa moderna. Foi pela Internet. Engraçado, ainda me lembro de quando
escrevia minhas matérias a mão por implicância em utilizar a última
palavra em tecnologia: uma Olivetti elétrica. Tinha pavor daquele
troço que passava de uma linha para outra apenas com um toque do dedo
numa tecla macia. E demorei uns meses para me dar com ela. Gostava
mesmo da minha saudosa e arcaica Olivetti Lettera 92 a bisavó dos
notebooks. Agora, vinte anos depois, faço tudo pelo computador.
Inclusive pagar minhas contas. O tempo passa depressa demais. O mais
assombroso: faço, também, novos amigos. Tudo sentado diante de uma
tela de computador. E foi assim que conheci Lily, uma garota que,
deduzo, não teve nenhum contato com uma máquina de escrever. Veja só,
que nome poderoso para uma máquina. Agora, os computadores escrevem e
até te corrigem caso cometa alguma barbeiragem gramatical.

Lily apareceu subitamente no meu msn. Confesso meu desconforto ao
tratar de msn, que sequer é uma palavra e sim apenas uma mísera sigla
de algo, ao menos pra mim, incompreensível. Pois bem, não tenho
intimidade com isso, mas agora já faz parte de minha realidade. Antes
falávamos por telefone, e pra mim já era uma magia impressionante.
Agora falamos com os dedos tamborilando o teclado. A voz deixou de ser
importante. Ganham alma as letras cintilantes que aparecem no micro.
Eis Lily. Mas poderia ser Emanuel, João ou Madalena. Sem voz não dá
para saber. Há o recurso das câmeras, mas Lily me surgiu assim,
simplesmente Lily. E eu não sei usar câmera no micro. Sequer havia uma
foto. Aceitei seu pedido de me acrescentar no tal msn, e então se deu
nossas conversas intermináveis em minhas embriagadas noites insones.

Aqueles diálogos foram esquentando. Falávamos de amor, música e
viagens. Lily se disse casada, e nunca perguntei detalhes de nada de
sua vida. Era uma boa companhia para minhas solitárias madrugadas
lúgubres. Estava tudo perfeito até começarmos a falar de sexo. Certa
vez ela me disse: “hoje eu estou com um tesão incontrolável, e quando
eu fico assim me dá vontade de chupar um pau”. Bem, o curioso é que
estávamos falando de política. E o bizarro é que eu sequer sabia como
era Lily. Se feia ou bonita, gorda ou magra e, pior, homem ou mulher.
Até então era apenas um bom papo. E nada mais. Esperei um pouco para
responder. Não estava atônito, mas confuso. Ela deve ter percebido e
disparou um constrangido: “desculpe, foi mal, saiu sem querer, vamos
continuar nossa conversa”. Continuamos, fingi que não houve nada, mas
aquilo mexeu comigo. Fiquei com tesão. Outras vezes ela me chamava e
falava tolices sem sentido. Parecia bêbada e cometia muitos erros de
ortografia. Eu sempre fui paciente, nossas conversas prosseguiam, até
o dia em que resolvi retomar o assunto do tesão e vontade de chupar um
pau. “Hei, Lily, você gosta mesmo de chupar um pau quando fica com
tesão?”. Nada apareceu na tela por um momento. Agora era ela quem
paralisava os dedos. Imediatamente me arrependi de ter feito tal
pergunta. Fui um idiota. Mas dei o troco, pois fiz a pergunta no meio
de um assunto, creio eu, de cinema. E a resposta surgiu ainda mais
surpreendente que minha subida e inesperada questão: “gosto sim, você,
por acaso, quer que eu te chupe?”. Me parece que as mulheres gostam de
fazer provocações impossíveis de serem efetivadas. Fosse num bar, ali
téte-a-téte, ela não me diria isso jamais. Aliás, nunca nenhuma mulher
me disse tal coisa ao vivo, nem mesmo diante de perguntas imbecis que,
via de regra, eu faço a elas. Respondi: “todo homem gosta de um
felatio”. Preferi o termo mais acadêmico e erudito ao chulo não sei
por que razão. Ela, no entanto, inabalável, se mostrou senhora
absoluta da situação: “eu chuparia você agora se você quisesse”. Que
homem fica incólume diante de uma frase como essa disparada por uma
mulher? E eu resolvi entrar de vez na brincadeira para ver até onde
iria: “eu quero”. Ela escreveu uma palavra irreproduzível mas que
sugeria um gemido. E emendou a seguir: “então tira esse pau gostoso
pra fora”. Fiquei sem ação. Como assim tirar o pau pra fora diante de
um computador? Não escrevi nada e ela seguiu em frente como se
estivesse num frenesi incontrolável. “então, tirou? Ele tá bem duro,
mexe nele vai, mexe...”. Meu pau sequer estava duro, e diante de tudo
aquilo, se esquivava vexado e envergonhado. Eu me sentia
verdadeiramente ridículo e estúpido olhando para tela do computador. E
nada escrevi, apenas lia um frenético desfile de frases atiradas com
veemente furor: “vai, gostoso, deixa em sentir esse pau”...”nossa,
como é grande e duro”...”hummm, mete fundo na minha boca”...”ai, humm,
não goza ainda, espera...”. Porra, pensei em escrever algo para ela
parar com aquela bobagem mas fiquei ali estático, apenas lendo sua
interminável loucura. Até que, enfim, chegou a derradeira frase
emendada de uma pergunta: “nossa, que pau heim, gozou gostoso?”.
Escrevi singelamente: “você está tirando uma da minha cara ou algo
assim?”. E ela: “nossa, não vai me dizer que me desdobrei aqui e você
nem ficou com tesão?”. Respondi: “bem, desculpe, era pra ficar?”. “Ah,
vai a merda”. Foi o que ela me escreveu e, imediatamente, quando
pensei em responder, o quadradinho mágico me informou que ela estava
“offline”. Há tempos ela não aparece e estou feliz por isso. Foi minha
primeira experiência sexual virtual. Não foi das melhores. Eu ainda
era virgem nessa coisa. São as insânias dos tempos modernos.



Mauro Cassane
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