Google Groups no longer supports new Usenet posts or subscriptions. Historical content remains viewable.
Dismiss

Razao e Significado da Existencia

5 views
Skip to first unread message

Sergio Inacio

unread,
Jun 17, 1996, 3:00:00 AM6/17/96
to

Do meu ponto de vista, qualquer humano idealiza o mundo de acordo com
as suas experiencias sensiveis e disposicoes inatas. As disposicoes
inatas nao sao ideias, mas sim mecanismos que permitem a sua
formulacao. Desta forma sera compreensivel que os homem, por muito
diferentes que sejam as suas vivencias, quando efectuam uma reflexao
sobre a natureza da existencia convergem para duas ideias de fundo.
Uma delas consiste numa clara separacao entre o espirito e a materia,
a outra consiste na sua integracao a escala cosmica.

A concepcao dualista e transcendental de Descartes, na qual a alma
surge como a mais real das existencias, pode conduzir a um engano
sobre a natureza da alma, por considerar que a sua existencia e
independente da materia. Por seu lado, a concepcao monista e
naturalista de Espinosa ao considerar que tudo se baseia na mesma
substancia, da qual o homem conhece dois atributos, o pensamento e a
materia, compreende a unidade da existencia, no entanto reveste-se de
um mecanicismo que nao deixa margem para o comum conceito de livre
arbitrio.

Do meu ponto de vista estas duas perspectivas sao o que mais proximo
existe no mundo moderno das duas perspectivas basicas pre-cristas:

A espiritualidade mistica e dualista do proximo oriente, em que a
materia ou e conotada com o mal ou a boa maneira aristotelica
protagonista de um esforco profundo para se elevar a sua condicao
espiritual;

E o naturalismo mistico e pagao ocidental onde a materia e tao prezada
como o espirito na compreensao do cosmos.

Existe em todas as ideias humanas um tronco comum: a certeza da
existencia. No entanto o simples facto de acreditar que existimos,
cria problemas (quando temos tempo para pensar) especialmente quando
se coloca a necessidade de compreender a ordem cosmica e atingir
respostas racionais sobre o assunto (existencia) e sobre as questoes
que levanta.

Sobre a certeza da existencia, Descartes chega a essa por via da
duvida. Pois a consciencia das suas duvidas e sem qualquer duvida uma
manifestacao da existencia. Como consequencia de prosseguir ate ao
exagero as reflexoes sobre esta ideia, tal como fizeram os empiristas
britânicos, concluiremos pela certeza de que nos movemos no vazio, que
nada mais existe, e que a essencia da existencia estara sempre envolta
numa nevoa, transformando deste modo o conhecimento em pura
especulacao formal porque, a consciencia e a mais enganosa das
qualidades. Em suma poderemos compreender que a existencia e um logro
contido tambem do proprio racionalismo.

Mas esta simplicidade no reconhecimento do logro como fundamento da
existencia, e em si mesma um engano, porque se baseia no simbolismo e
toma o conceito por real.

Com isto nao quero negar a existencia quero apenas negar o
conhecimento de qualquer sentido e significado transcendente a partir
da existencia de consciencia. Por acrescimo sera tambem evidente o meu
cepticismo em relacao ao racionalismo. Pelo menos em relacao a sua
validade e exactidao absolutas em todos os dominios.


Cumprimentos


-- Sergio - Vila Franca De Xira - Portugal - s...@mail.telepac.pt

Carlos M. S. Antunes

unread,
Jun 18, 1996, 3:00:00 AM6/18/96
to

In article <31c5d131...@news.telepac.pt>,

s...@mail.telepac.pt (Sergio Inacio) writes:
>
>Uma delas consiste numa clara separacao entre o espirito e a materia,
>a outra consiste na sua integracao a escala cosmica.
>

Descartes e Spinoza. Mas nao concordo nem com uma nem com outra. Nao
existem quaisquer evidencias que suportem a existencia de algo
nao-material como a alma. Da mesma forma nao existem quaisquer evidencias
de que exista uma especie de consciencia cosmica. O Universo e como e, e
por mais que tentemos faze-lo a nossa imagem e semelhanca nao conseguimos.

>
>Existe em todas as ideias humanas um tronco comum: a certeza da
>existencia. No entanto o simples facto de acreditar que existimos,
>cria problemas (quando temos tempo para pensar) especialmente quando
>se coloca a necessidade de compreender a ordem cosmica e atingir
>respostas racionais sobre o assunto (existencia) e sobre as questoes
>que levanta.
>

Existem evidencias de que existimos. Por exemplo, se eu nao existisse nao
estava para aqui a escrever isto nem tu terias escrito o teu post inicial.
A existencia e algo de normal. O que e complicado e a nao-existencia. E um
conceito muito mais complicado de agarrar e, quem sabe mesmo, desprovido
de qualquer sentido.

>nada mais existe, e que a essencia da existencia estara sempre envolta
>numa nevoa, transformando deste modo o conhecimento em pura

Aquilo que acabaste de dizer sao so palavras. Nao tem qualquer sentido.
Por exemplo, como sabes que *estara*? Por acaso fazes futurologia? E se a
essencia da existencia esta envolta numa nevoa como sabes que existe
alguma essencia? Por acaso estiveste do lado de la da nevoa?

>qualidades. Em suma poderemos compreender que a existencia e um logro
>contido tambem do proprio racionalismo.

A existencia e uma condicao sine qua non do pensamento e das emocoes,
portanto tambem da racionalidade. Niguem pensa, isto e, o cerebro de
ninguem funciona, se esse cerebro nao EXISTIR.

>Mas esta simplicidade no reconhecimento do logro como fundamento da
>existencia, e em si mesma um engano, porque se baseia no simbolismo e
>toma o conceito por real.

Explica la esta melhor, por favor.

>da existencia de consciencia. Por acrescimo sera tambem evidente o meu
>cepticismo em relacao ao racionalismo. Pelo menos em relacao a sua
>validade e exactidao absolutas em todos os dominios.

Razao e a capacidade que se tem de pensar correctamente, sem cometer
erros. Nao vejo como e que se pode ser ceptico em relacao a isto.

Regards,
Carlos Antunes.

--
o-------------------------------------o-------------------------------------o
| Carlos M. S. Antunes - CFN SysAdmin | "The important thing is not to stop |
| http://www.cfn.ist.utl.pt/~cmsa/ | questioning." -- Albert Einstein |
o-------------------------------------o-------------------------------------o
| Finger cm...@relay.cfn.ist.utl.pt for PGP public key. |
o---------------------------------------------------------------------------o


Bruce Wayne & Cat Woman

unread,
Jun 18, 1996, 3:00:00 AM6/18/96
to

no, porque se baseia no simbolismo e
>toma o conceito por real.

>Com isto nao quero negar a existencia quero apenas negar o


>conhecimento de qualquer sentido e significado transcendente a partir

>da existencia de consciencia. Por acrescimo sera tambem evidente o meu
>cepticismo em relacao ao racionalismo. Pelo menos em relacao a sua
>validade e exactidao absolutas em todos os dominios.


Depois de uma tarde inteira a estudar estetica so fiquei mais confuso.
Havera por ai ideias sobre a evolucao/revolucao da estetica modernista
para a postmodernista? Quais sao os problemas que se poe ao esteta no
seculo XX? O problema do sujeito, criador e observador; o problema da
referencia da obra; o problema da atribuicao de sentido. Poderemos
partir de uma base estruturalista dos elementos da obra de arte como
signos de uma linguagem visivel que aponta para o invisivel? E qual o
papel da fisionomia humana - referente a representacao pictoral da
figura humana? Alguns autores defendem que os tracos fisionomicos
(concretamente linhas e formas do rosto) mais nao sao que signos com
significados proprios que em interaccao promovem uma imagem exterior
que, imperceptivel no geral, aponta, ao nivel particular, para um
conjunto de referencias internas.

Estou confuso.

Ha por ai alguma ajuda?

Wayne

"When freedom exists there will be no state"


_..-'( )`-.._
./'. '||\\. (\_/) .//||` .`\.
./'.|'.'||||\\|.. )O O( ..|//||||`.`|.`\.
./'..|'.|| |||||\`````` '`"'` ''''''/||||| ||.`|..`\.
./'.||'.|||| ||||||||||||. .|||||||||||| |||||.`||.`\.
/'|||'.|||||| ||||||||||||{ }|||||||||||| ||||||.`|||`\
'.|||'.||||||| ||||||||||||{ }|||||||||||| |||||||.`|||.`
'.||| ||||||||| |/' ``\||`` ''||/'' `\| ||||||||| |||.`
|/' \./' `\./ \!|\ /|!/ \./' `\./ `\|
V V V }' `\ /' `{ V V V
` ` ` V ' ' '

Sergio Inacio

unread,
Jun 19, 1996, 3:00:00 AM6/19/96
to

1a parte - Consciencia Cosmica

cm...@relay.cfn.ist.utl.pt (Carlos M. S. Antunes) wrote:

>>Uma delas consiste numa clara separacao entre o espirito e a materia,
>>a outra consiste na sua integracao a escala cosmica.
>>
>
>Descartes e Spinoza. Mas nao concordo nem com uma nem com outra. Nao
>existem quaisquer evidencias que suportem a existencia de algo
>nao-material como a alma. Da mesma forma nao existem quaisquer evidencias
>de que exista uma especie de consciencia cosmica. O Universo e como e, e
>por mais que tentemos faze-lo a nossa imagem e semelhanca nao conseguimos.

Sem duvida que o homem tenta conceber o universo a sua semelhanca.
Encaro isso como reflexo do seu mais intimo desejo de ordem,
projectar-se na natureza. Em suma considero tal como os Sofistas que o
homem e a medida de todas as coisas.

Qual o pensador que considera mais proximo da sua linha de pensamento?

Com a expressao "integracao a escala cosmica" nao me estava a referir
a hipotetica existencia de uma consciencia cosmica, mas sim a sua
perspectiva monista. Dito de outra forma, Espinosa nao assume a
existencia de uma substancia espiritual.

Pelo que percebo dos seus artigos, e isso que defende, ou pelo menos
isso faz parte da sua cosmologia. Tipo: "Espirito!! Que e isso? Estes
tipos estao doidos?!"… Estou enganado?

Como convencao, e de modo a que aproximemos os conceitos, quando me
refiro a espirito, deve entender-se a imaginativa representativa,
produto da complexa actividade cerebral… Descrita por A. Damasio em
"Erro de Descartes"

Sobre o seu comentario, especificamente sobre a consciencia cosmica.
Tambem nao encontro evidencias para a assumir a preposicao "existe uma
consciencia cosmica" como verdadeira. De uma forma geral assumo-a como
verdadeira. No entanto para mim a esta preposicao e uma
indeterminacao.

De facto nao existem, evidencias… mas que evidencias sao necessarias
para que se assuma que um ser tem consciencia? Ele, ser, tem que nos
transmitir a sua presenca. Tem de nos aflorar aos sentidos e
introduzir no nosso organismo a informacao que o identifica como ser
consciente. E saber interpretar a imagem formada tem de existir um
simbolismo comum, se nao se verificar tal condicao, sera aceitavel nao
conduzir a qualquer forma de conhecimento. Ou entao chegamos la pela
morfologia. Eu assumo que os outros tem consciencia, porque eles me
sao semelhantes. Se perguntar a alguem que esteja em condicoes de se
fazer entender, todos se assumem conscientes.

Nao se pode perguntar ao cosmos se ele tem consciencia. Nao se pode
assumir consciencia por semelhanca, a morfologia do cosmos nao e igual
a do homem. Como pode o cosmos fazer-nos sentir a sua consciencia.
Realmente deve ser complicado mais vale assumir que nao existe tal
coisa.

No entanto e sempre possivel especular. Por exemplo se a materia se
organiza localmente de forma tao complexa, que no seu conjunto adquire
propriedades que a diferencia do meio de forma dramatica. Uma das
quais e a consciencia, (presumo que nao negue a consciencia humana e
evidencia da nossa existencia). Como poderemos excluir a hipotese, de
noutra escala, a materia se organizar de forma igualmente complexa de
modo a revelar propriedades semelhantes. Estara o nosso conhecimento
assim tao avancado que possamos excluir a existencia de outras formas
de vida em qualquer outra escala ou local do cosmos. Como e que esta a
exploracao do microcosmos.. Os aceleradores de particulas vao
proporcionar as condicoes que permitam explorar o microcosmos ate ao
seu limite energetico de forma tao detalhada como nos e possivel a
nossa escala. E o macrocosmo tambem esta assim tao bem conhecido. E
depois mesmo que conhecessemos toda a estrutura do cosmos em pormenor,
como reconheceriamos uma evidencia de consciencia cosmica?

>Existem evidencias de que existimos. Por exemplo, se eu nao existisse nao
>estava para aqui a escrever isto nem tu terias escrito o teu post inicial.
>A existencia e algo de normal. O que e complicado e a nao-existencia. E um
>conceito muito mais complicado de agarrar e, quem sabe mesmo, desprovido
>de qualquer sentido.
>

Tomo a existencia como evidente. Do meu ponto de vista o conceito de
inexistencia nao tem traducao material. Esta por isso naquela
categoria de conceitos que nao considero nao poderem ser tomados como
reais. Ver mais abaixo.

>>nada mais existe, e que a essencia da existencia estara sempre envolta
>>numa nevoa, transformando deste modo o conhecimento em pura
>
>Aquilo que acabaste de dizer sao so palavras. Nao tem qualquer sentido.
>Por exemplo, como sabes que *estara*? Por acaso fazes futurologia? E se a
>essencia da existencia esta envolta numa nevoa como sabes que existe
>alguma essencia? Por acaso estiveste do lado de la da nevoa?

Nos expressamos as ideias por palavras, mas ha algo da ideia que se
perde na sua expressao e algo que se perde na interpretacao. O que
acabei de dizer nao foi algo sem sentido, mas e sem duvida uma
consequencia do racionalismo baseado nas evidencias. Numa palavra o
empirismo.

Os filosofos empiristas, consideravam que nao temos conteudos na
consciencia enquanto nao temos nenhuma experiencia sensivel. Deste
modo todo o saber acerca do mundo provem daquilo que os sentidos nos
transmitem. Para eles tratados filosoficos baseados em conceitos que
nao podemos relacionar com dados percepcionados sao falsos e devem ser
lidos com um espirito muito critico, de modo a recolher as poucas
ideias verdadeiras que la se encontrem. Algo muito proximo do sentido
moderno das evidencias. O mais extremista foi :

Berkeley (1685-1753) - Bispo e filosofo Britânico. Nao acreditava na
existencia da materia, afirma que a unica coisa que existe sao as
percepcoes, e quando pressupomos que aquilo que sentimos e constituido
por uma substancia estamos a tirar conclusoes precipitadas. Ele achava
que todas as percepcoes e ideias tem uma causa espiritual exterior a
nossa consciencia. Considerava que o seu espirito, pode ser a causa
dos seus pensamentos, mas que todas as ideias que tinha do que se
considera mundo material so podiam ser causadas por outra vontade ou
espirito. Resumindo, tudo vem do espirito, que realiza tudo em tudo e
atraves do qual tudo subsiste. Esse espirito exterior a nos, e na
concepcao Deus. Para ele o tempo ou o espaco nao tinham uma relacao
autonoma.

Sintetizando, se aquilo que escrevi, e que nao representa a minha
opiniao, era para ti um amontoado de palavras sem sentido, depois de
tomar em consideracao o pensamento deste senhor, e evidente que para
outros faria algum sentido.

Alem do mais essas palavras sem sentido foram apenas um exemplo da
ideologia que se podem conceber sobre influencia do racionalismo
quando se reflecte exclusivamente sobre as evidencias.

Tal como afirmas em cima, o conceito de inexistencia pode ser
desprovido de sentido. No entanto sera um conceito perfeitamente
racional.

Sobre a futurologia. :) Como e que pode prever que no futuro nao se
venham a verificar evidencias de uma consciencia cosmica. E que nunca
se descubra na organizacao do cosmos uma estrutura complexa da
materia, que seja responsavel pela manifestacao dessa propriadade.

Cont...

Sergio Inacio

unread,
Jun 19, 1996, 3:00:00 AM6/19/96
to

2a Parte - Conceitos, Simbologia e Razao

>>qualidades. Em suma poderemos compreender que a existencia e um logro
>>contido tambem do proprio racionalismo.
>
>A existencia e uma condicao sine qua non do pensamento e das emocoes,
>portanto tambem da racionalidade. Niguem pensa, isto e, o cerebro de
>ninguem funciona, se esse cerebro nao EXISTIR.
>

Quem duvida disso? O universo existia antes de eu existir como
organismo diferenciado, nao vejo em que medida e que a minha
consciencia e necessaria para existir esse universo.

>>Mas esta simplicidade no reconhecimento do logro como fundamento da

>>existencia, e em si mesma um engano, porque se baseia no simbolismo e


>>toma o conceito por real.
>

>Explica la esta melhor, por favor.

Tem a ver com a impossibilidade de concretizacao de alguns conceitos.
Pois referem-se a entidades nas quais nao temos qualquer evidencia de
substancia.
Existir o conceito de Deus, nao significa que Deus exista realmente.
Estes conceitos sao no fundo meros simbolismos referenciais que nos
servem, como padrao para conseguirmos efectuar a nossa racionalizacao
sobre a ordem cosmologica, ou sao produto dela. E podem deste modo nao
descrever nenhuma realidade material.

Uma curiosidade, ja reparas-te na semelhanca entre o conceito de
energia e o conceito arcaico de espirito. O conceito de energia
envolve a ideia de um potencial ordenado de transformacao da materia.
O conceito arcaico de espirito envolve exactamente a mesma ideia. O
primitivo ve na dināmica da natureza a manifestacao dos espiritos.

>Razao e a capacidade que se tem de pensar correctamente, sem cometer
>erros. Nao vejo como e que se pode ser ceptico em relacao a isto.

Nem eu !? Eehhehe.

Talvez porque, (numa perspectiva puramente utilitaria), a razao nao
seja apenas uma pura aplicacao da logica bivalente, mas recorra tambem
a uma simbologia mitologica, que nos habilite a lidar de forma mais
eficaz com indeterminacoes e incerteza. A.Damasio demonstra a
influencia da emocao no pensamento racional, tal como referem a
participacao das partes mais primitivas do Cerbero na formulacao da
decisao racional.

Em suma para mim, (apesar acreditar na razao como auxiliar do
conhecimento e, procurar ter um pensamento/comportamento o mais
racional possivel), a razao pode nao ser algo tao universal e exacto
como pretendem os racionalistas.

Cumprimentos


Sergio

0 new messages