Carregando o Elefante - DIVULGUE!
Apoiado por Roberto Civita e Antonio Ermírio de Moraes, o livroCarregando o Elefante não busca fins lucrativos. Seu objetivo éconscientizar o povo brasileiro de sua realidade social, e da absurdasituação financeira a que é submetido, para que acorde sobre seusdireitos, antes que o país mergulhe no caos ! E que se enxergue quetudo pode ser diferente, que é totalmente possível, se viver comdignidade, Para isto acontecer, só é preciso vontade, e caráterdos políticos._
Quem é Roberto Civita para recomendar algo para nós pobres mortais?
Quem de vocês tem um salario de R$ 5.000,00, e só fica com R$ 750,00?
Vamos procurar se informar melhor pessoal!
Somos pessoas que estudaram, portanto devemos saber o que é achismo, e que é estudo sério.
Segue artigo de Elio Gaspari na Folha de hoje:
São Paulo, domingo, 22 de abril de 2012
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Elio Gaspari
Uma empresa de um novo Brasil
Os shoppings da BRMalls faturaram 25% a mais no primeiro trimestre; como isso foi possível?
COMO DIRIA Bob Dylan, alguma coisa está acontecendo aqui, mr. Jones, mas você não sabe o que é. Na semana passada, a empresa brasileira BRMalls, que é dona e/ou administradora de 46 shoppings em 15 Estados e 29 cidades, anunciou que no primeiro trimestre deste ano seu faturamento cresceu 25%, chegando a R$ 4,1 bilhões.
Ela surgiu há cinco anos, com seis pequenos shoppings. Tornou-se a líder do mercado e no ano passado seus centros comerciais tiveram 360 milhões de visitantes, que movimentaram R$ 16 bilhões. Suas ações valorizaram-se 360%. A empresa vale R$ 10 bilhões.
Mr. Jones tem dificuldade para entender isso, sobretudo porque ele viu as imagens de shoppings vazios na China, por excesso de oferta. O êxito do BRMalls reflete a conjunção de três acertos: percebeu que o consumidor brasileiro mudou, viu que quem investe ganha dinheiro e entrou no mercado com uma gestão profissional e meritocrática.
Entre 2008 e 2010, a empresa tomou um olho roxo metendo-se a administrar a Daslu, templo de exibicionismo da grã-finagem nacional.
Hoje a clientela dos shoppings da BRMalls é a chamada classe média emergente, um nome chique para o que nada mais é que o trabalhador brasileiro. As classes B e C têm uma renda familiar que vai de R$ 1.600 a R$ 6.900. Em 2003, havia 66 milhões de pessoas na classe C. Em 2009, chegaram a 95 milhões e, em 2014, poderão ser 113 milhões.
Enquanto no andar de cima o dinheiro que sobra vai para investimentos e no de baixo vai para alimentação, esse segmento consome. De uma maneira geral, nessa faixa a renda dos trabalhadores cresceu 9%, contra uma inflação de 5%. O freguês dos shoppings gasta em média cerca de R$ 70.
A empresa acreditou na expansão do mercado, na ampliação do acesso ao crédito e na queda dos juros. Em janeiro de 2007, a taxa Selic estava a 13,25% ao ano e agora está em 9%, com os bancos finalmente competindo nos custos que jogam em cima de seus clientes. A BRMalls investiu R$ 6 bilhões, no ano passado abriu um grande shopping na Mooca (SP), outro no Irajá (RJ) e inaugurará um terceiro em cima da rodoviária de Belo Horizonte.
Até aí o êxito foi da empresa para fora. Para dentro, enquanto o comércio é controlado por empresas familiares, a BRMalls é inteiramente profissional. Parente, nem namorada. A idade média de seus 350 funcionários está em 30 anos. Quando foi criada, tinha 15 sócios e a cada ano promove três pessoas de seu quadro. Hoje são 27. Todos os funcionários ganham bônus, mas se um leva dois salários, o melhor leva 20. Um craque que entra na empresa aos 25 anos pode sonhar em fechar seu primeiro milhão de reais aos 30.
A BRMalls descende da cabeça de Jorge Paulo Lemann, o empresário que mais produziu milionários na história do Brasil e também o que mais botou dinheiro em atividades filantrópicas. Seu negócio é a caça ao mérito. Formado no sistema financeiro, hoje tem os pés na produção (AmBev). Na lista da Forbes, além dele, com US$ 12 bilhões, há duas de suas crias: Marcel Telles (US$ 5,7 bilhões) e Carlos Alberto Sicupira (US$ 5,2 bilhões).
O sucesso da BRMalls deve-se a Carlos Medeiros, seu executivo-chefe. Ele organizou a empresa aos 33 anos, vindo do banco de investimentos de Lemann. Fala pouco, não vai a Brasília desde 1998 e, nos últimos cinco anos, jamais pisou no BNDES. Viaja com mala de mão e o que gosta mesmo é de correr maratonas pelo mundo afora. A BRMalls trabalha com uma infantaria de 3.000 funcionários nos shoppings. Vai dar trabalho, mas Medeiros acredita que conseguirá desenhar um sistema de bonificação (por meio de ações) para uma parte dessa tropa.
Produtores querem sempre ganhar mais nas costas dos consumidores. Até aí, tudo bem. Estamos falando de capitalismo e mercado. Cada um busca seu ganho maior.
Há, entretanto, uma esquina da História na qual se encontram com frequência Adam Smith, Karl Marx e Milton Friedman. Lá eles esquecem suas discordâncias e falam alegremente de um tema a respeito do qual os três concordam enfaticamente: quando homens de negócios se reúnem, mesmo que socialmente, logo eles começam a arquitetar formas de ganhar mais nas costas dos consumidores.
Isso se complica quando participam dessa conspiração os sindicatos, porque, sempre que setores mais organizados se juntam, terão, em princípio, maior capacidade de se articular para extrair mais dos menos organizados, que, dados o seu número e a sua dispersão, são os consumidores. Estratégias mais articuladas de setores organizados tendem a derrotar setores menos organizados.
O alarmante é quando todos fazem isso com a conivência do governo, que é o que vai acontecer agora com os Conselhos de Competitividade. Esses conselhos são a nova fantasia das Câmaras Setoriais.
No tempo das Câmaras Setoriais eu era consultor de um grupo de empresários norte-americanos. Encontrava-me com eles uma vez por mês para discutir políticas governamentais e como defender-se delas. Quando surgiram as Câmaras Setoriais, um desses presidentes, recém-chegado dos Estados Unidos - que, como costumava acontecer com presidentes de muitas empresas, não entendia nada de Brasil -, guiava-se apenas pelas aparência e só havia lido sobre o nosso país um livro chamado Brasil para Principiantes, que se concentrava nas mazelas de Pindorama. E todos os meses esse mesmo presidente reclamava de tudo no País, sobretudo das Câmaras Setoriais. Depois de meses de reclamações, um de seus colegas disse: "Ô Brian, para de reclamar e vê se aprende um pouco mais sobre o Brasil. As Câmaras Setoriais são uma das maiores bênçãos que já tivemos. Nunca ganhamos tanto dinheiro! Você já pensou em se reunir com os seus competidores e com os sindicatos e estabelecer os preços mais lucrativos para sua empresa cobrar e os melhores salários para os sindicatos?"
O Brian, perplexo, reagiu: "Mas eu não poderia fazer isso. Eu iria para a cadeia. Isso é crime de price fixing!".
"Então, Brian", ponderou o colega, "abandone um pouco os seus preconceitos e pense que isso, no Brasil, não é crime. Aqui você pode conspirar contra os consumidores com a anuência, a concordância e, mais, com a participação do governo. Caia na real, Brian". Desse dia em diante ele nunca mais reclamou do Brasil.
Agora teremos a reedição dessas mesmas políticas, só que com nova fantasia, Desta vez a fantasia é a de Conselhos de Competitividade, mas a essência é exatamente a mesma: empresários de setores escolhidos porque fizeram um lobby mais eficiente se reunirão com sindicatos idem e com representantes do governo para garantirem os melhores lucros para aquelas, os melhores salários para estes e impostos maiores para o governo. Trocado em miúdos, você, leitor-consumidor, pagará o pato.
Essa é a solução mais fácil porque não entra na essência do problema. A culpa será jogada em cima dos chineses - o preconceito é sempre mais facilmente exercido em relação a quem tem alguma característica diferente, como uma cor de pele diferente, olhos puxados ou falar uma língua enrolada que ninguém entende. Com isso teremos, na realidade, mais protecionismo, que é a maneira mais eficiente que os empresários ineficientes encontraram de "nos proteger" (a nós, consumidores) contra preços mais baixos.
Num jantar na Casa Branca pouco antes da morte de Steve Jobs, presidente da Apple (ele compareceu), em determinado momento o anfitrião, o presidente Barack Obama, disse aos convidados: "Nós precisamos trazer de volta alguns desses empregos que migraram para a Ásia". E Jobs respondeu: "Esses empregos não voltarão aos Estados Unidos, sr. presidente".
Sempre que aparecem novos competidores nos mercados se escolhe um novo vilão. Agora são os chineses, cujos brinquedos são acusados de intoxicar as crianças com suas tintas, além de seus eletrônicos serem taxados de ordinários.
Mas esse filme é reprise. Fui fotógrafo amador aficionado nos tempos da fotografia de filme e me lembro bem de quando apareceram no mercado umas câmeras com marcas esquisitas. Dizia-se que eram todas feitas de plástico e não prestavam para nada. Coisas como Nikon, Canon, todas feitas no Japão, o vilão de então. Fotógrafos tradicionais ficavam sempre com os dois pés atrás, acostumados que estavam com marcas tradicionais, do tipo Leica, Voigtländer, Rolleiflex e outros nomes germânicos.
O mundo deu várias voltas, as marcas japonesas ainda são as melhores. Mas passaram a ser produzida em Cingapura, na Coreia do Sul, e agora estão globalizadas: cada parte é produzida onde custe mais barato.
Enquanto o governo, os empresários e os sindicatos não entenderem que o segredo de ser competitivo é ser criativo e conseguir produzir melhores bens a custos mais baixos, em vez de erguer muralhas tarifárias e não tarifárias para produtos estrangeiros melhores, mais eficientes e mais baratos, continuaremos a correr na esteira: conseguimos cansar-nos, mas não saímos do lugar.
Enquanto isso, os consumidores brasileiros estarão pagando mais caro, as indústrias ineficientes seguirão sendo assim e o Estado acreditará que poderá seguir cobrando impostos excessivamente elevados. Ao consumidor restará pagar o pato.
No ensaio da peça dos Brics temos cinco atores em busca de um papel. Os chineses já sabem qual será o deles e tudo indica que estão se saindo muito bem. Vamos ver quanto tempo os outros quatro atores vão aprender a desempenhar bem os seus.