Olá, Ricardo, tudo bem?
Meu comentário se restringe à área de sistemas embarcados/tecnologia e não menciona incapacidade
técnica, pois sou extremamente confiante neste aspecto.
Meu achismo vem da experiência vivida aqui no Brasil e exterior, após alguns anos trabalhando
em empresas multinacionais com times multiculturais. O foco não é mostrar que sou fodão, mas que tive oportunidade de colher percepções das mais diversas.
A desconfiança externa
No exterior existe um grande número de pessoas que não confiam na capacidade técnica do Brasil/brasileiro.
Ou sequer sabem que a Embraer e a WEG são brasileiras. Tive amigos que se surpreenderam quando mostrei que São Paulo é uma selva de pedra e não uma floresta tropical. Se eu tropeço em cobras gigantes ou jacarés em cada esquina. Se tem macacos pelas ruas. E
isso é muito sério. Para muitos, Brasil = RJ + Carnaval e bundas.
Reter o conhecimento na matriz
As matrizes de muitas empresas multinacionais não permitem P&D no Brasil (existem exceções, mas são exceções). Curiosamente, muitas delas, permitem P&D em outros
países como China e Índia. Não sei os motivos por trás destas decisões. Chamam de "decisões estratégicas".
A desconfiança interna
É lamentável, mas sofremos da síndrome do impostor. Não valorizamos adequadamente aquilo em que somos bons (e tem uns malucos que exageram, é claro). Temos
vergonha de vender o nosso perfil. Pra piorar, o Brasil fez uma escolha muito infeliz no passado: a política de copiação, digo, tropicalização, ops, substituição das importações. Isso foi lá atras (em todos os sentidos). Um dos efeitos conseguidos essa política
foi o medo do investimento. Na cultura onde o investimento é visto como gasto e onde copiar uma solução estrangeira é vista como mérito. Um outro efeito, é que nos colocamos como inferiores perante os outros e passamos a ter a tecnologia externa como referência
ao invés de valorizar devidamente a nossa. E isso ainda ecoa na atualidade. Veja:
A
ausência de uma cultura de inovação no Brasil pode ser discutida através de diferentes ângulos. Historicamente o modelo industrial brasileiro prioriza a aquisição de tecnologia e conhecimento estrangeiros em detrimento da valorização do aperfeiçoamento interno
e desenvolvimento de novas soluções, processos e produtos. Ao longo dos anos, este modelo criou uma cultura de supervalorização de produtos desenvolvidos fora do país e subestimação de soluções internas.
Fonte: Por
que o Brasil pesquisa tanto e inova tão pouco? - Cenários Energia - Petróleo (editorabrasilenergia.com.br)
O artigo trata outras questões. Dentre elas, algumas que me fazem discordar desta sua afirmação:
"Isso só
depende de cada empreendedor". Embora tenhamos exceções como as já citadas, elas são exceções e não a regra. Na verdade, isso depende de uma série de fatores. O que é comumente chamado de "framework de empreendedorismo". E não sou eu que diz isso.
Além disso, a individualidade pode até chegar em algum lugar. Mas o coletivo (o tal framework) deixa as coisas muito mais fáceis.
Infelizmente eu não tenho a resposta à sua pergunta. Honestamente, eu gostaria de ter. Facilitaria muito as coisas. Arrisco a dizer que ela passa pela boa educação acessível a todos. Pela renovação do pensamento dos pais adeptos ao punitivismo dos filhos (meu
desafio pessoal diário), que cria pessoas com medo de errar e inseguras (outra discussão). Então, depois de 4 gerações, teríamos um outro Brasil.