Então, PL 2630, a famigerada "Lei anti-faiquenius". Quem é a favor das fakes news? Devemos lutar contra ela. Não gostamos de fake news. O que é fake news?
É o que o seu adversário político conta, oras.
Com este primor de definição, nosso Congresso voluntarioso vai organizando seu "Ministério da Verdade" (Exagero? Bitch, a gente já teve uma "
Comissão da Verdade"). Ministério da Verdade é o terrível órgão opressor no romance "1984". Como ninguém nessa espelunca lê, se você chegar nos políticos e sugerir este nome, eles adotam no mesmo momento, se lixando para o significado.
Parece também exagero que o Google sairia do Brasil se uma lei dessa passa (e pega). Novamente, exagero nenhum. Se você entra no Google Store no Brasil, você tem disponível 4 itens. Se entra em países que tem saneamento básico? 49 ítens.
O Google nunca fincou os dois pés no Brasil. Falta apenas um pé para ele simplesmente desistir daqui. Daí o Governo poderá ressuscitar o Cadê? e haverá gente no Gorjeio.com defendendo que é a melhor opção.
Fake news. Eu abomino o termo. Sou um cara clássico, do tipo que chama de mentira tudo que não é verdade. Mas você dizer que algo é mentiroso, você assume o ônus de provar a mentira. Como disse, sou daqueles dinossauros que forma opinião em cima de fatos e já os tenho em mãos, logo, dificuldade nenhuma. Mas para o pessoal moderno, onerado ficava sua avó. Eles metem um "fake news" e gorjeiam que venceram a partida de xadrez, defecando no tabuleiro.
Assim, a questão de liberdade de expressão já está pra lá de pacificada. Quer liberdade em dizer que remédio para verme e protozoário cura vírus? Você tem o mesmo direito em dizê-lo quanto quem diz que a facada no Bolsonaro foi uma fraude. Ou que o impeachment da Dilma foi golpe. Ou que Selic se baixa por causa de boa intenção..
O problema não é contar mentira. O problema é você ignorar a diferença do que é fato do que é opinião. Tudo acima é opinião. As pessoas tratam como fatos, de acordo com a cor da camiseta política que você veste. Quem entende essa diferença, não perdeu um dia de sono por fake news.
Mais grave do que se contar uma mentira? Dar poder ao Governo em determinar o que é verdade.
Para passar a pauta, o primeiro ministro do Brasil, Arthur Lira, cedeu e simplesmente exime políticos de mandatos. "Liberdade parlamentar", alegam. Sim, os maiores irradiadores de mentiras não serão atingidos pelo Ministério da Verdade.
E ah, a bancada evangélica também contará com liberdade. Não que eles contem mentiras, nunca, mas ficarão protegidos caso passe.
Dias atrás, o Governo populista tentou meter uma taxação de importação de cacareco chinês. Pra azeitar a trosoba, inventou que quem pagaria o imposto seria os chineses, não os consumidores. Nas idas e vindas, a tal revenda de cacareco disse que, abre aspas, "iria investir na fabricação do país, gerando 100 mil empregos" (Detalhe que o maior empregador privado do Brasil, Itaú Unibanco, tem apenas 90 mil empregados).
Duas mentiras grossas, mas que se o Ministério da Verdade estivesse operando, passariam como verdade. Este é o tamanho do perigo.