Conversando com um amigo, ele estava falando do sogro, bolsonarista de ir no Sete de Setembro para Brasília “autorizar” o Bolsonaro a dar autogolpe e ignorar a carta escrita no dia 9 dizendo “Foi mal, tava doidão”.
O sogro dizendo que a imprensa inteira não prestava, meu amigo questionou como ele saberia das notícias.
— Notícia que importa, chega até a mim.
Ou seja, pelo WhatsApp. Sem filtro, checagem ou que seja pelo menos, razoável.
Verdade então, é pedir demais.
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Antes de ontem, pela manhã, uma agência de fact checking publicou que não era verdade que um corredor gringo de Fórmula 1 manifestou apoio ao Bolsonaro, o reconhecendo como melhor presidente que o Brasil já teve.
Este é o status da humanidade: alguém inventou que um chofer luxuosíssimo é tão politizado que se preocupa com a política brasileira… E apoia o pior presidente que a República já teve.
E outro alguém precisa desmentir isto.
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Anos atrás comecei ler um livro do economista Eduardo Giannetti, “Auto-Engano”. Tinha a transcrição de um debate de um grupo de estudo, aonde começavam com a questão: Por que o Iluminismo fracassou?
2 séculos depois, a humanidade ainda não leva o esclarecimento a sério.
Vide brasileiros tentando combater uma pandemia virótica com virilidade (?), patriotismo (??) e valores liberais (??????).
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Ontem o Telecine passou “The Post”. Este filme sempre me atinge.
Houve uma época que pessoas se esclareciam lendo escritores profissionais.
Diariamente.
Sempre achei existir uma correlação entre linguagem e qualidade de pensamento. Uma questão de repertório.
Acho tão profundo que vejo terapia como meramente um exercício linguístico. Na hora que você expressa seus sentimentos, você os desentocaia e tudo aquilo que era causado por estarem presos, acaba.
Hoje os jornais estão em crise.
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Há 10 dias atrás, no maior shopping de Goiânia, fechou a livraria Saraiva. Fava contada, a rede estava no vinagre há anos.
Antes havia duas livrarias neste shopping, Fnac e Saraiva. Agora não tem nenhuma.
Não aconteceu exatamente por não haver mais leitores. A gestão do negócio era um pesadelo. Já pendurados, assumiram o passivo da operação da Fnac, que desistiu do Brasil.
Mas mesmo se o Bezos tivesse assumido, depender de leitores não é exatamente um negócio que escala.
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Hoje estamos trocando a imprensa escrita pelo WhatsApp. Paramos de formar leitores para formar um espécime desprezível que ostenta orgulho da própria ignorância.
Sem leitores, não temos pensadores. Sem pensadores, o que nos resta?
Se eu fosse destacar a maior invenção da humanidade, eu diria que foi a urbe. Afinal, o que é um computador? É quando você amontoa um monte de operadores lógicos próximos o suficiente para conseguirem trabalhar.
Cidades foram os primeiros computadores. Os indivíduos eram as chaves lógicas. Na massa, favoreceu o processamento de dados em volume e velocidade.
Quando se para de ler e então para de pensar, urbe só vira um ambiente infernal com gente demais próxima demais. Uma caldeira sob pressão.
O WhatsApp não está destruindo a civilização. Mas está participando ativamente. Estamos fracassando à olhos vistos em democracia, valores liberais e esclarecimento — o ideal iluminista — e o WhatsApp é o meio aonde isso está ocorrendo.
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E a migração do histórico do WhatsApp para o celular novo? Ontem chegamos em casa e ao longo do dia, progrediu para 60% do backup feito do celular antigo.
Intuí que de madrugada, com a banda ociosa, conseguiria acabar o backup. De manhã checo o backup.
Estava em 28%.
Sério.
Desistimos de manter as mensagens recentes e migro de celular. Ao ativar o WhatsApp no novo aparelho, ele puxa o backup.
Descubro então que os 38gb eram mensagens + mídia. E que ele faria o download prioritário das mensagens de texto e depois, em segundo plano, baixaria as mídias.
500mb de texto.
O pior? Nas configurações, está setado para não becapear mídia. Ele becapeia mesmo assim.
500mb desceu fácil? Claro. Que não. Só depois de resetar o celular ele conseguiu destravar a tela de download do app, após o fim do download.