Bitcoin para especulação; Blockchain para… para… para o que mesmo?

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Irapuan Martinez

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Dec 7, 2021, 5:14:32 PM12/7/21
to Lista ArqHp
"(…) Out of over 86,000 blockchain projects that had been launched, 92% had been abandoned by the end of 2017, according to consultancy firm Deloitte."

Mauricio Fagundes

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Dec 8, 2021, 6:42:10 AM12/8/21
to ar...@googlegroups.com
Não entendo nada de criptomoedas. Ponto.

Dito isso, vou dar a minha posição atual (que, obviamente, pode mudar, caso eu venha a conhecer mais sobre o assunto): o bitcoin é um mal para a sociedade e espero que, no futuro, seja lembrado apenas como um grande engodo que enriqueceu muita gente.

Por que digo isso? Não, não sei se é esquema de pirâmide ou de tulipas. O caso é que sempre ouço a explicação da "reserva de valor", vejo aquela imagem da nota de 100 dólares virando 3 dólares se ficasse guardada 100 anos debaixo do colchão. Ou seja, ela protege o valor daquilo que você tem.

O problema é aquilo que você não tem. Bilhões de pessoas no planeta não precisam proteger seu patrimônio por um simples motivo: eles não têm patrimônio. E nunca vi uma resposta do bitcoin como sendo um gerador de riqueza.

Sabe aquela nota de 100 dólares no colchão? Pois é, eu celebro que ela agora só valha 3. Porque por um século ela não ajudou a produzir mais riqueza que, na sua maior parte, iria para outras pessoas - especialistas falam que a riqueza que você reteve não é mais do que 20% da que você gerou. Essa é a maravilha - e a contradição - do capitalismo: ao mesmo tempo em que é o sistema que mais distribui, também tem o efeito de causar mais concentração.

O que os 100 dólares do outro século compravam naquele tempo? Galinhas? Pois é, agora ele pode comprar um celular (sim, estou exagerando com algo que nem se sonhava existir em 1921) porque pessoas que tinham esses 100 dólares tinham que colocá-los para girar a economia (que é a forma de proteger o patrimônio), o que permitiu o progresso que nos levou a ter tanta coisa para comprar com os 100 dólares.

Posso mudar de ideia se me mostrarem como o Bitcoin vai gerar riqueza. Pois, até aqui, o que vejo é esse troço protegendo o patrimônio de quem tem (e que, por isso mesmo, tem mais condições de fazê-lo por conta própria) ao mesmo tempo que dá uma banana (ah, isso também podia ser comprado em 1921!) para quem não tem.

Todas as teorias libertárias me parecem uma "louvação ao feudalismo". E eu nunca conseguirei ver um retorno de 1.000 anos no tempo como uma forma de "progresso".

[]s,

Em ter., 7 de dez. de 2021 às 19:14, Irapuan Martinez <ira...@gmail.com> escreveu:
"(…) Out of over 86,000 blockchain projects that had been launched, 92% had been abandoned by the end of 2017, according to consultancy firm Deloitte."

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Mauricio Fagundes

Vinicius Vollrath

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Dec 8, 2021, 8:33:25 AM12/8/21
to ar...@googlegroups.com
Sobre os projetos fracassados, abandonados, de blockchain: tudo que vem como algo novo e tenta romper ou quebrar estruturas antigas sofre desse processo. Considero, como principal hipótese, que a grande maioria dos projetos abandonados foram tentativas de adaptação do novo a estruturas velhas. Exemplo: vamos usar o blockchain para substituir os cartórios. A tecnologia possibilita? Sim. O sistema aceita? Não. Vamos usar o blockchain para substituir o sistema de votação atual, a tecnologia permite? Sim. O sistema aceita? Não. Assim por diante.

Teria que pesquisar e validar a minha hipótese.

Com relação ao Bitcoin temos diversos cenários para analisar. Em alguns casos pode ser comparado a um time de futebol, alguns são torcedores, outros apostadores, especuladores. É possível assumir diferentes perfis com relação ao clube de futebol e ele continua sendo um clube de futebol.

O Bitcoin é uma moeda que ainda não tem todos os requisitos para ser, mas pretende ser, tem potencial para ser. É o virtual, filosoficamente falando, a sua potência em relação ao real (de realidade e não dá moeda real). Observando que o virtual nunca se tornara real, sempre é potência. 

Dito isso, considero um protótipo de moeda e, que em breve, se tornara uma realidade. 

Na questão sobre o sistema social libertário ser comparado a feudos, algumas características podem ser similares, mas na sua essência não. Provavelmente veremos núcleos sociais com características bem específicas, na realidade já vemos isso hoje, mas achamos que estamos em uma democracia. Esses núcleos se alimentam de outros e vira uma dependência em que se retroalimenta. O libertário pretende quebrar essas dependências e criar núcleos independentes e que qualquer um possa escolher o que melhor se adapta a sua realidade e se não tiver nenhum, crie a sua sociedade independente e interaja com as demais através de relações comerciais, com acordos e contratos específicos. O feudo, do passado, não tinha como base a PNA, Princípio da Não Agressão. Um tanto utópica, mas que faz parte de qualquer ideal libertário.





Irapuan Martinez

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Dec 8, 2021, 10:42:57 AM12/8/21
to Lista ArqHp
Em qua., 8 de dez. de 2021 08:42, Mauricio Fagundes <mauricio...@gmail.com> escreveu:
Não entendo nada de criptomoedas. Ponto.

Criptos são moedas. Ponto. Nada em seu estabelecimento é diferente do estabelecimento de reserva de valores pela história à fora. 

A diferença é o conceito moderno de moedas: Emitidas (endossadas) por governos e intencionalmente inflacionadas.

No início eram as trevas e os primeiros títulos de valor ao portador eram emissões privadas (por ourives que guardavam o ouro de terceiros. Emitiam uma garantia que aquele ouro foi depositado) e não governamentais. 

“Banco” tem este nome porque os primeiros negociantes destes títulos ficavam em praças, sentados em… bancos.

Logo, cripto tem mais a ver com moedas; moedas de uso corrente, tem mais a ver com política.

A cripto vai assumir o lugar das moedas nacionais? Well. Moeda não é sobre como são criadas, mas quem endossa o seu valor de face.

E Governos costumam não quebrar. Podem entrar em crise, mas nações não decretam falência. E nações que não institucionalizam crises, ora, suas moedas são cobiçadas.

Quem endossa o valor de uma cripto? A prova de trabalho. Para quem é executado este trabalho? Para a própria moeda (ou melhor, para sua blockchain).

Bitcoin pode perder valor de face? É um consenso: Se alguém lá fora acredita (é importante a escolha deste termo, “crer”, afinal, “fiduciário” tem a ver exatamente com fé) que tem valor, então é moeda.

O consenso precisaria acabar. Hoje, o consenso cresce. Cresce porque quando mais há consenso, mais vale a moeda. 

Vamos testar o limite fiduciário de algo.

Pela história a fora, coisas como Avestruz Master chegou no limite. Então quebra.



O problema é aquilo que você não tem. Bilhões de pessoas no planeta não precisam proteger seu patrimônio por um simples motivo: eles não têm patrimônio. E nunca vi uma resposta do bitcoin como sendo um gerador de riqueza.

É um bom ponto.

Eu vejo aquela chatíssima propaganda do travel search engine 123 Milhas (travestido de troca de milhagens) contando vantagem que “aceita PIX”.

Que oportunidade é aberta aqui? O problema é ter caixa, o método de pagamento é o de menos.

Pix é inútil se quem vai receber é desbancarizado ou quem vai pagar, está duro de marré marré.

Claro, Bitcoin ou PIX não são panaceias.

Mas são vendidas exatamente como fossem.



Essa é a maravilha - e a contradição - do capitalismo: ao mesmo tempo em que é o sistema que mais distribui, também tem o efeito de causar mais concentração.

Mas ao longo do tempo, mesmo com concentração, caiu o número de pessoas em miséria absoluta.


Posso mudar de ideia se me mostrarem como o Bitcoin vai gerar riqueza.

Se você sabe a hora de entrar e a hora de sair, até Ponzi gera riqueza.

Mas saber a hora de entrar e a hora de sair é impossível. É golpe de sorte ou alguma coisa ilegal está em operação.

Quem enrica com Bitcoin pode, claro, montar uma quitanda e empregar três ou quatro pessoas. É geração de valor social. Ou você pode empregar tais pessoas negociando cripto. É geração do mesmo jeito.

A questão é se é um negócio durável. Certa vez, a Xerox gerava empregos com operadores de fotocopiadora.


Pois, até aqui, o que vejo é esse troço protegendo o patrimônio de quem tem ao mesmo tempo que dá uma banana para quem não tem.

Pessoal tem patrimônio de duas maneiras (e às vezes, as duas ao mesmo tempo): Por conexões pessoais (herança, casamento etc); Por saber gerenciar patrimônio.

Logo, o problema dos sem-patrimônio não é os com-patrimônio. É os sem-patrimônio aprender a gerenciar o seu patrimônio.

Bitcoin ou blockchain não operam neste campo. É como dizem, toda tecnologia é um complô contra os leigos. TI estabeleceu o conceito aonde ninguém precisa saber operar banco de dados. Uma interface que cuida disso. Nem a melhor interface de digital wallet resolverá esta questão de gerenciamento de patrimônio.


Todas as teorias libertárias me parecem uma "louvação ao feudalismo".

Não são mesmo, já que estas noções libertárias nasceram exatamente em cima da opressão de indivíduos por governos totalitários — e todos governos feudais eram totalitários.

Saímos do Feudalismo exatamente quando começamos a particionar o poder.

Guilherme Silva

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Dec 10, 2021, 8:35:25 PM12/10/21
to ar...@googlegroups.com


O problema é aquilo que você não tem. Bilhões de pessoas no planeta não precisam proteger seu patrimônio por um simples motivo: eles não têm patrimônio. 

Isso está errado em tantos níveis diferentes que é difícil começar a escrever sobre isso sem introdução, capítulos e uma editora. Mas olha que talvez valha a provocação. 

Eu sei de muito poucas pessoas que são pobres neste nível. Mesmo os drogados do bairro pobre que moro  recebem algum troco de bolsa família e participam da economia. Meus vizinhos que se atentam mais a certos tipos de comportamentos já me apontaram o que eu dificilmente notaria: em um banco de praça uma pessoa que passa os 5 dias após o pagamento do bolsa-família num banco, semi-desmaiada. 

A esmagadora maioria da população planetária participa da economia. E recebe um salário ou um trocado e precisa ter esse valor conservado se quiser adquirir qualquer bem. E não adianta que o valor se dissipa enquanto você tem o dinheiro em mãos, mesmo que o dinheiro não seja o mesmo.


O que os 100 dólares do outro século compravam naquele tempo? Galinhas? Pois é, agora ele pode comprar um celular (sim, estou exagerando com algo que nem se sonhava existir em 1921) porque pessoas que tinham esses 100 dólares tinham que colocá-los para girar a economia (que é a forma de proteger o patrimônio), o que permitiu o progresso que nos levou a ter tanta coisa para comprar com os 100 dólares.

Então,  nirmalmente os ricos que tinham 100 dólares no outro século não tinham 100 dólares em papel, exceto o trocado pro dia-a-dia. Tinham títulos ou ações ou alguma propriedade que hoje vale muito mais de 100 dólares.

Os 100 dólares em papel, se ficou guardado, deve ter sido na gaveta de alguém que não tinha muito dinheiro. 

E a diferença de valor, foi pra onde? Essa é a parte mais fácil da equação: foi pro governo, na forma de imposto inflacionário. Deputados, empreiteiros, senadores, corruptos em geral, generais de alta patente, petistas, pmdbistas, psdbistas, presidentes, desembargadores, ministros, juízes e toda essa laia de podridão usaram esse dinheiro para se refestelar.

Eu gostaria que estivesse na mão do pobre, não na mão da gangue estatal.


Posso mudar de ideia se me mostrarem como o Bitcoin vai gerar riqueza.

Por definição, depende. 

Bitcoin presta um serviço bancário desregulado, e agrega um valor semelhante a uma instituição de pagamentos como o picpay. Dá pra discutir se o picpay agrega valor? Dá, mas é perda de tempo.

Mauricio Fagundes

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Dec 11, 2021, 9:53:07 AM12/11/21
to ar...@googlegroups.com


Não entendo nada de criptomoedas. Ponto.

Criptos são moedas. Ponto. Nada em seu estabelecimento é diferente do estabelecimento de reserva de valores pela história à fora. 

A diferença é o conceito moderno de moedas: Emitidas (endossadas) por governos e intencionalmente inflacionadas.

No início eram as trevas e os primeiros títulos de valor ao portador eram emissões privadas (por ourives que guardavam o ouro de terceiros. Emitiam uma garantia que aquele ouro foi depositado) e não governamentais. 

Reitero que o conceito de "reserva de valor" não é claro para mim. Então, isso que vou falar tem a ver com o meu sentimento. 

Dinheiro não é reserva de valor, pois ele não serve para nada, é um simples papel pintado. O valor dele é para a troca - por bens que precisamos para viver. E é por isso, apenas por isso, que vejo bitcoin como moeda (abaixo você fala disso da "fé") para trocar por coisas que realmente são reserva de valor.

Os títulos ao portador são apenas um comprovante de que o ourives estava de posse da minha reserva de valor. O papel pintado na minha carteira tem o mesmo significado.
 

“Banco” tem este nome porque os primeiros negociantes destes títulos ficavam em praças, sentados em… bancos.

Logo, cripto tem mais a ver com moedas; moedas de uso corrente, tem mais a ver com política.

A cripto vai assumir o lugar das moedas nacionais? Well. Moeda não é sobre como são criadas, mas quem endossa o seu valor de face.

E Governos costumam não quebrar. Podem entrar em crise, mas nações não decretam falência. E nações que não institucionalizam crises, ora, suas moedas são cobiçadas.

Como os títulos de valor, política tem a ver com essa confiança em um sistema. Sistema em que a humanidade acredita há séculos. E que sempre funcionou, basta ver o quanto a sociedade progrediu.

Até o dia em que alguém solta um paper, usando um pseudônimo, para dizer que tudo isso que vivemos é uma grande ilusão. Precisa de muito mais do que isso para me convencer.

 

Quem endossa o valor de uma cripto? A prova de trabalho. Para quem é executado este trabalho? Para a própria moeda (ou melhor, para sua blockchain).

Bitcoin pode perder valor de face? É um consenso: Se alguém lá fora acredita (é importante a escolha deste termo, “crer”, afinal, “fiduciário” tem a ver exatamente com fé) que tem valor, então é moeda.

Ou seja, é balela que o Bitcoin não pode perder valor por ser escasso.
 

O consenso precisaria acabar. Hoje, o consenso cresce. Cresce porque quando mais há consenso, mais vale a moeda. 

Cresce e diminui. Até onde irá essa crença no bitcoin? Essa é a pergunta que talvez eu não veja ser respondida, já que é provável que eu não viva o suficiente para poder afiançar isso. Mas, hoje, nada leva a crer que tal confiança será eterna. E o nosso tempo de vida é ridiculamente pequeno.

Já existiu o consenso de que tulipas tinham valor. Mas foi em outro tempo, por isso esse suposto valor acabou rapidamente.
 

Vamos testar o limite fiduciário de algo.

Pela história a fora, coisas como Avestruz Master chegou no limite. Então quebra.


Dito tudo isso, ainda acredito que é AvestruzCoin, mas com um tempo de vida maior. E um alcance infinitamente maior.
 


O problema é aquilo que você não tem. Bilhões de pessoas no planeta não precisam proteger seu patrimônio por um simples motivo: eles não têm patrimônio. E nunca vi uma resposta do bitcoin como sendo um gerador de riqueza.

É um bom ponto.

Eu vejo aquela chatíssima propaganda do travel search engine 123 Milhas (travestido de troca de milhagens) contando vantagem que “aceita PIX”.

Que oportunidade é aberta aqui? O problema é ter caixa, o método de pagamento é o de menos.

Pix é inútil se quem vai receber é desbancarizado ou quem vai pagar, está duro de marré marré.

Claro, Bitcoin ou PIX não são panaceias.

Mas são vendidas exatamente como fossem.

A bolsa de valores é um sistema que vive do ganha-perde: para alguém ganhar, outro precisa perder. Daí ser um jogo de soma zero. O que faz os índices subirem não é aquela especulação diária, mas o aumento de valor do que é produzido pelas empresas negociadas.

Bitcoin é jogo de soma zero. Não agrega valor nenhum.
 

Essa é a maravilha - e a contradição - do capitalismo: ao mesmo tempo em que é o sistema que mais distribui, também tem o efeito de causar mais concentração.

Mas ao longo do tempo, mesmo com concentração, caiu o número de pessoas em miséria absoluta.

Sem a menor sombra de dúvidas, sou um liberal convicto. Citei acima a bolsa de valores porque ela é o que "aparece" como sinônimo do capitalismo. Mas ela não é nada disso, é apenas um reflexo do que o capitalismo é, o que aparece para o público em geral, que não percebe que tem hoje uma vida muito melhor do que tinham os reis de dois séculos atrás.

E isso não aconteceu pela troca dos papéis nas bolsas, mas pelo que acontecia na vida real.
 


Posso mudar de ideia se me mostrarem como o Bitcoin vai gerar riqueza.

Se você sabe a hora de entrar e a hora de sair, até Ponzi gera riqueza.

Mas saber a hora de entrar e a hora de sair é impossível. É golpe de sorte ou alguma coisa ilegal está em operação.

Quem enrica com Bitcoin pode, claro, montar uma quitanda e empregar três ou quatro pessoas. É geração de valor social. Ou você pode empregar tais pessoas negociando cripto. É geração do mesmo jeito.

A questão é se é um negócio durável. Certa vez, a Xerox gerava empregos com operadores de fotocopiadora.

Aqui você fala em gerar riqueza para um indivíduo. E quando eu falei em "gerar riqueza" falava para a sociedade como um todo. O AvestruzCoin gerou riqueza também, pensando sob esse aspecto. Para alguns indivíduos.
 


Pois, até aqui, o que vejo é esse troço protegendo o patrimônio de quem tem ao mesmo tempo que dá uma banana para quem não tem.

Pessoal tem patrimônio de duas maneiras (e às vezes, as duas ao mesmo tempo): Por conexões pessoais (herança, casamento etc); Por saber gerenciar patrimônio.

Logo, o problema dos sem-patrimônio não é os com-patrimônio. É os sem-patrimônio aprender a gerenciar o seu patrimônio.

Eu não tenho patrimônio porque não soube gerenciar o meu. Mas minha reflexão é com a sociedade humana. Ainda temos muitos bilhões de pessoas que não têm nem o que gerenciar. Bem menos do que há dois séculos (graças ao capitalismo), mas elas ainda existem. E eu só consigo ver o bitcoin como uma forma de deixar esses que nada têm com ainda menos possibilidade de um dia ter o que gerenciar.
 

Bitcoin ou blockchain não operam neste campo. É como dizem, toda tecnologia é um complô contra os leigos. TI estabeleceu o conceito aonde ninguém precisa saber operar banco de dados. Uma interface que cuida disso. Nem a melhor interface de digital wallet resolverá esta questão de gerenciamento de patrimônio.

Pois é, blockchain pode ser uma tecnologia maravilhosa. Mas a primeira aplicação que criaram para ela foi uma avestruz (ou uma tulipa). Acredito no blockchain, mas não nesse derivado (a criptomoeda como reserva de valor), apenas isso.
 


Todas as teorias libertárias me parecem uma "louvação ao feudalismo".

Não são mesmo, já que estas noções libertárias nasceram exatamente em cima da opressão de indivíduos por governos totalitários — e todos governos feudais eram totalitários.

Saímos do Feudalismo exatamente quando começamos a particionar o poder.

Lá pelos anos de 2005 comecei a participar de grupos em que o libertarianismo era discutido. E aí li algumas explicações de como seria uma "sociedade libertária"

Abre parênteses

Naquele tempo havia uma separação entre o ancap (anarco-capitalista) e o libertário. Aquele achava que não deveria ter governo algum, enquanto este defendia a existência de um governo (mínimo, mas ser mínimo é diferente de zero). Atualmente esses termos se confundem, por isso eu uso o libertário como sinônimo de ancap.

Fecha parênteses

Na sociedade preconizada por eles (que ganhou o nome depreciativo de "ancapistão", agora incorporado por eles) até mesmo a justiça seria privada. As partes em conflito escolheriam uma terceira parte para mediar o conflito e teriam que cumprir o que foi determinado por essa parte. A segurança seria, também, 100% privada, ou seja, eu contrataria aqueles que seriam "a minha polícia" (eles nunca explicaram quem seria a polícia dessa polícia...)

Lendo essas coisas eu comecei a perceber que o libertarianismo (ou ancapismo) não tinha nada a ver com a opressão de indivíduos por governos totalitários, mas a defesa de que indivíduos poderiam criar seus próprios "governos totalitários". Que é, pelo que sei do feudalismo, exatamente o que acontecia há 1.000!

Abre parênteses mais uma vez

Só conheço da Idade Média o que aprendi no segundo grau - e já se vão 40 anos. É algo que eu realmente gostaria de estudar mais, além do cristianismo. Mas, atualmente, só tenho tempo de estudar via Twitter, o que vale menos do que zero. Então tenho que me ater a esse conhecimento da escola

Fecha parênteses

Uma vez, no lançamento de um livro em Natal, comecei a conversar com um desses ancaps, que conhecia de um grupo mas nunca tinha conversado pessoalmente. Aí no meio da conversa respirei fundo e falei "o que vocês defendem me parece muito com o feudalismo". E me preparei para ouvir as ofensas dele.

Mas eis que o inesperado aconteceu: seu rosto se iluminou, ele abriu um sorriso e, cheio de orgulho, afirmou "mas é isso mesmo, eu sou um feudalista!". Sorri amarelo e, educadamente, encerrei a conversa.

Estamos, há um milênio, tentando nos livrar de governos totalitários. E estamos avançando - o estado moderno é um avanço nesse sentido (pense em países desenvolvidos, não em republiquetas da América Latina). Ainda bem longe do ideal, mas bem melhor do que éramos na Idade Média. Avançar não significa voltar 1.000 anos no tempo, mas seguir a partir do que já fizemos, com os erros e acertos do passado.

Bitcoin é a base para a construção de um futuro que mais se parece com um "passado com tecnologia". Talvez um dia eu veja que estou errado (já mudei tantas vezes de ideia que não posso garantir que a atual é a correta). Mas, neste momento em que estou vivo, não consigo ver o Bitcoin de forma diferente.

É uma tulipa. Só bem mais perigoso, pois tem um alcance infinitamente superior. Essa valorização toda dele não tem absolutamente nada a ver com reserva de valor, mas com a velha e conhecida ganância. Enquanto existirem pessoas buscando uma forma de enriquecer rapidamente (aliás, poderia resumir em "enquanto existirem pessoas") o bitcoin seguirá se valorizando e continuará com essa imerecida classificação de "reserva de valor". Mas há tempos existe outra forma de ficar rico rápido: ganhar nas loterias, estatais ou não (jogo do bicho, corridas de cavalos, cassinos, etc). Que, claro, possuem a característica de serem uma forma de levar à miséria ainda mais rapidamente.

Não consigo ver bits como algo que tenha valor de verdade. Aliás, avestruz têm até mais valor, já que podemos comê-los. Um dia o bitcoin pode virar um meio de troca, como o Pix. Mas nenhum dos dois será reserva de valor.

--
Mauricio Fagundes

Guilherme Silva

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Dec 11, 2021, 5:23:00 PM12/11/21
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Não consigo ver bits como algo que tenha valor de verdade.

Essa frase é uma generalização ilógica. Se bits não tem valor, softwares não tem valor, vídeos não tem valor, livros não tem valor. Conhecimento não tem valor. E aí eu penso que é muito mais um problema anterior de definição de valor que qualquer outra coisa...

Mas aqui tem uma escolha importante de palavras. Vocês diz que não consegue; se não consegue, a gente - muitos, cada um de seu jeito - pode tentar ajudar. Mas o esforço final, invariavelmente, será seu.

Meu ponto principal não é mudar a tua visão. O problema é que não conseguir implica em querer antes de tudo. E, a julgar pelo texto, meu sentimento é você não quer. Do jeito que li seus argumentos é de alguém que olhou, se contentou com uma certa visão de mundo, aceitou, parou, e está bem assim.

E se esse for o caso, é perda de tempo tentar ajudar. Porque primeiro de tudo é necessário ter a vontade de passar por cima dos preconceitos.

Guilherme Silva

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Dec 11, 2021, 7:08:57 PM12/11/21
to ar...@googlegroups.com
Criptos são moedas. Ponto. Nada em seu estabelecimento é diferente do estabelecimento de reserva de valores pela história à fora. 

    Eu estou incomodado desde que li essa frase. Pra mim, há algo errado que não sei explicitar claramente. Criptos são uma forma de criar escassez artificial; Criptos são uma forma de confiança descentralizada. Criptos são digitais e baseadas em conhecimento de uma senha e não em bens físicos. 

   Não acredito que seja correto dizer que moedas nasceram desta forma.

   Bens escassos foram adotados como moeda porque eram desejáveis em si mesmo; As pessoas queriam ter a propriedade de ouro, e portanto estavam dispostas a trabalhar para ter aquele metal precioso. Com o aumento da sua liquidez, ele passou a ter um segundo valor e anos, gerações, depois esses bens foram trocados por títulos, que eram "garantidos" por uma autoridade certificadora, normalmente um rei ou um banco. Nenhum dos casos que sei a escassez foi o suficiente para se criar moeda a partir disso. Obviamente a escassez agrega valor a algo - e é por isso que existem "edições limitadas" de produtos, mas uma escassez sem valor intrínseco do produto e sem uma confiança em uma instituição é um primeiro caso que conheço. Sem nem falar de que a criação a partir de um paper anônimo deixa a coisa toda ainda mais misteriosa.

    Eu entendo um argumento: "tudo que você precisa saber sobre bitcoin é que ela é uma moeda", mas as diferenças entre as moedas conhecidas e as criptos são importantes. Bitcoin nasceu sem história e o estabelecimento de seu valor justo é completamente incerto. Pela tendência, acredito que seu valor irá subir ainda mais no futuro, mas isso é uma crença pessoal sem nenhum valor de referência. Diferente dos bens que tem valores instrínsecos, e principalmente do dólar ou dos Biroliros Brasileiros, que podem ser emitidos ou tirados do mercado através de controle de uma autoridade monetária e que portanto o seu valor é dado a partir de algum controle central, normalmente inflacionado para deleite dos ministros e casta corrupta.

   Na minha visão, você precisa saber que criptos são descentralizadas. Que não  há como inflacionar. Que a escassez, ainda que artificial, é infraudável com a tecnologia atual. E que ela representa, por isso, um dos pequenos espaços na defesa dos indivíduos que não se submetem à tirania do controle estatal, e que, justamente por isso, criptos são mal vistas por governos. Porque o governo precisa retirar o valor da população via imposto, inflacionário ou normal, que eles preferem receber em sua própria moeda. Isso porque parece menos injusto que os cobradores de impostos medievais que extorquiam famílias pobres, embora sejam exatamente isso. E esse é o único argumento que me levou a comprar bitcoins num passado bem remoto e, por sorte e não por estratégia, ganhar valor no processo.

Guilherme Silva

unread,
Dec 12, 2021, 8:02:34 AM12/12/21
to ar...@googlegroups.com


Em sex., 10 de dez. de 2021 22:35, Guilherme Silva <guilherm...@gmail.com> escreveu:


O problema é aquilo que você não tem. Bilhões de pessoas no planeta não precisam proteger seu patrimônio por um simples motivo: eles não têm patrimônio. 

Eu sabia que precisaria de um livro inteiro para escrever sobre isso, e aqui vai mais um pedacinho dele: anterior à ter algo, você precisa ter o direito a ter algo.

Como cidadãos modernos de democracias liberais, isso parece uma simplificação nonsense. É óbvio que pobres têm o direito a ter 100 reais se a eles lhe for dado (em doação, ou em pagamento de um serviço). Mas isso não foi óbvio em toda a história. E não é óbvio no mundo inteiro. Reza a lenda que em determinado reino, quando um casal se envolvia em votos matrimonais, o rei deflorava a noiva, provavelmente para a sociedade e só então liberava o noivo para realizar seu ato. Na liberação, se colocava um cartaz que dizia "fornicating under consentment of the King", ou abreviado para FUCK. Não acredito na veracidade dessa lenda, mas ela prova um ponto: é completamente possível para um estado opressor tirar os direitos civis a qualquer coisa, até a fornicar com sua própria esposa depois do casamento.

Os exemplos na história são incontáveis. Os escravos não tinham permissão a ter algo, até porque eles próprios já eram propriedade de alguém. Os súditos não tinham direito a ter algo, e sim concessão temporária do rei para usar seus bens, terrenos ou galinhas. Não tenho conhecimento profundo, mas por conta de alguma novela todo mundo fala dos dalits, os "intocáveis" que tenho certeza que são sub-cidadãos indianos. 

Mas achar que isso é coisa do passado é um erro, já que esse mundo é muito diferente em cada um de seus lugares. Isso não é verdade em Cuba, onde existem duas moedas e cubanos não podem ter uma delas. Isso não é verdade se você é um cristão em um lugar dominado pelo Estado Islâmico. E isso não é verdade na Coreia do Norte, um dos lugares onde atrocidades humanas nível holocausto são cometidas com consentimento das grandes potências, especialmente a China. Se quiserem entender o nível de crueldade da Coreia neste momento, sugiro fortemente essa entrevista: https://youtu.be/8yqa-SdJtT4, mas já aviso: nenhuma pessoa de verdade consegue escutar essa entrevista sem mudar fortemente seus valores. Além do livro da autora que foi entrevistada, acho que já sugeri aqui o livro #Without You, There Is No Us: Undercover Among the Sons of North Korea's Elite (English Edition) https://www.amazon.com.br/dp/B00JTC9QBO/ref=cm_sw_r_apan_glt_5J3Q4AX7AHDWYDXWK0MQ# da Suki Kim. Na Coreia do Norte, você pode nascer em um campo de concentração e condenado a prisão perpétua se seu avô ofendeu ao ditador. Mas escutem a entrevista, leiam o livro, se eduquem para entender o mundo.

Se depois de ler e entender esse sofrimento alguém vier me dizer que o problema é ser pobre no Brasil porque é difícil, porque o bolsa-família não é grande o suficiente...pelamordedeus, isso é miopia e falta de perspectiva do que isso significa. Para deixar claro: não estou negando que temos problemas no Brasil. Temos e estamos, lentamente, melhorando. Mas o problema brasileiro é muito menor porque já temos os valores da democracia liberal em nossas bases, tanto que não imaginamos outros tipos de arranjos, e tudo que eu disse aqui, mesmo aquilo que ocorre hoje, parece distantee nonsense. Temos problemas, mas eles são menores porque não gastamos nenhum ciclo mental pensando se pobres (ou escravos) devem ter direito a ter propriedade.

Mas e a bitcoin com isso?

Bom, o direito a propriedade do dinheiro é uma ilusão. Um juiz pode, a qualquer momento, bloquear suas contas bancárias. O juiz pode expropriar qualquer bem. O estado, na sua arrogância, é tido como o possuidor de tudo e todos, inclusive seu corpo. O seu corpo, hoje, é do governo. E é porque seu corpo é do governo que ele pode regular como você deve tratar seu próprio corpo: que tipo de substância pode ser ingerida/ injetada, a partir de que idade você pode se tatuar, as partes que você pode ou não vender.

Não estou pregando por um mundo libertário (agora), apenas constatando que o óbvio é óbvio. Você é propriedade do estado, goste ou não, concorde ou não. Existem poucas coisas que não se encaixam nessa categoria, que são suas mesmo: Suas memórias, suas experiências, seu conhecimento, sua reputação. Normalmente são coisas que, em um embargo estatal você terá dificuldade de comprar um prato de comida. A bitcoin transforma o conhecimento de uma senha em dinheiro, transformando em algo que você pode trocar e seguir a vida sem necessidade de permissão governamental. 

Isso é pouco e é frágil. É um benefício impalpável, que parece sem valor quando comparamos com a user-experience do PIX e do sistema bancário tradicional. Mas ao mesmo tempo, fundamental o suficiente para valer a pena ser defendido.

 

Mario Aragão

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Dec 18, 2021, 10:50:51 AM12/18/21
to ar...@googlegroups.com
https://www.bbc.com/portuguese/geral-59657185

Uma peça de arte digital NFT (token não fungível) foi acidentalmente vendida por pouco mais de US$ 3 mil (R$ 17 mil) - um centésimo de seu preço de mercado.

As imagens da série Bored Ape Yacht Club têm tiragem limitada de 10 mil peças, cada uma com pequenas variações. 

Mas o proprietário do Bored Ape (macaco entediado, em inglês) número 3.547 cometeu um erro de digitação ao listar o item à venda online. O NFT foi imediatamente adquirido por uma conta automatizada - e colocado de volta à venda por quase US$ 250 mil. 

O vendedor, maxnaut, disse à que pretendia listar o número 3.547 do Bored Ape por 75 ethereum (ETH), a criptomoeda usada para muitas negociações NFT. Mas um "lapso de concentração" - durante uma das muitas negociações que ele lista online todos os dias - o fez digitar "0,75 ETH" (U$ 2.989).

"Eu imediatamente vi o erro, mas ele foi instantaneamente comprado, antes que eu pudesse clicar em 'cancelar' - e assim eu perdi US$ 250 mil", disse ele.


O comprador também pagou taxas muito altas para aumentar a velocidade com que a transação é concluída e garantir que a venda ocorresse quase que instantaneamente.

Em transações bancárias tradicionais, esses erros são geralmente revertidos facilmente se o banco for informado sobre o erro. Mas no mercado de criptografia não regulamentado, geralmente não há como reverter essa venda.


A série de artes digitais The Bored Apes, lançada em abril de 2021, é "gerada programaticamente" - um script de computador mistura e combina uma variedade de cores, designs e acessórios para tornar cada um dos macacos ligeiramente diferente do outro.

Inicialmente vendido por 0,08 ETH cada (US$ 320 nos preços de hoje), eles agora são vendidos por pelo menos 50 ETH (US$ 200 mil).

Além disso, há benefícios em trazer parte do "clube" - incluindo convites para eventos da comunidade e acesso a conteúdo digital exclusivo.

Mas os críticos de NFT em geral questionam o mercado de arte digital: o que os compradores estão recebendo de fato quando compram arte não física? O "certificado de propriedade" da arte armazenado no blockchain - a mesma tecnologia que sustenta as criptomoedas - vale o preço que é pago pela arte? Os NFT são uma bolha especulativa que deve estourar em breve?

A tecnologia também usa muita energia - devido à forma como as transações são verificadas por computação de alta potência - levando a críticas de que a indústria é ruim para o meio ambiente.

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