Maria João Pires, a celebrada pianista e educadora, apela à defesa da natureza na Beira Baixa

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Campo Aberto - Associação de Defesa do Ambiente

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Nov 19, 2025, 7:19:01 AMNov 19
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Maria João Pires

Estimados cidadãos conscientes,

Escrevo-vos movida por uma inquietação profunda perante o que está a acontecer na Beira Baixa — uma região de beleza rara, silenciosa e ancestral, mas também de enorme fragilidade. Um território de montes vivos, florestas antigas e comunidades que guardam este solo com cuidado e respeito há gerações.

Hoje, essa paisagem encontra-se sob ameaça.

Dois megaprojetos solares — a Central Solar Fotovoltaica de SOPHIA e a Central Solar Fotovoltaica da BEIRA, acompanhados por mais de 70 km de Linhas de Muito Alta Tensão (LMAT) — estão neste momento em fase de licenciamento para ocupar milhares de hectares contínuos entre Fundão, Penamacor, Idanha-a-Nova e Castelo Branco.

Estes projetos, avançam sobre zonas sensíveis e protegidas como o Parque Natural do Tejo Internacional, a Serra da Gardunha, áreas de RAN, REN, Rede Natura 2000 e o Geopark Naturtejo UNESCO. Avançam não sobre “terrenos vazios”, mas sobre ecossistemas vivos e delicados: carvalhais antigos, manchas de sobreiros e azinheiras centenárias, corredores naturais de aves migratórias e zonas de alimentação de espécies protegidas.

E aquilo que está a acontecer na Beira Baixa não é apenas um problema local. É o reflexo de um modelo de megaprojetos energéticos que, nos últimos anos, tem sido disseminado por todo o país, afetando o equilíbrio ambiental, a identidade cultural e a vida das comunidades rurais de norte a sul de Portugal. O que aqui se decide cria precedentes que poderão marcar o futuro ambiental do país inteiro.

A necessidade das energias renováveis — mas não à custa da vida, da terra e das comunidades

Todos compreendemos a urgência da transição energética. Vivemos uma crise climática que exige ação imediata, e as energias renováveis são parte essencial da resposta global. Mas não há energia limpa quando ela nasce da destruição.

Uma transição energética construída à custa da devastação de ecossistemas frágeis, da perda de solos férteis, da desflorestação e de impactos irreversíveis sobre a vida não é transição — é retrocesso.

A energia solar deve ser instalada onde não destrói: em áreas artificializadas, parques industriais, telhados, coberturas urbanas e superfícies já impermeabilizadas. Nunca sobre florestas, montados, corredores ecológicos ou solos agrícolas.

A transição energética deve ser ética, equilibrada, humana e responsável.

Impactos previstos

Os impactos previstos destes megaprojetos são profundos e alarmantes:

• Aumento da temperatura local, devido ao efeito térmico das estruturas necessárias, dos painéis solares e da desflorestação, agravando ondas de calor e o stress térmico para populações vulneráveis;

• Destruição em larga escala de milhares de sobreiros, azinheiras e carvalhais;

• Impermeabilização do solo, erosão e perda de fertilidade;

• Perturbação de linhas de água, ribeiras e aquíferos subterrâneos;

• Mortandade estimada de milhares de aves por colisão com as Linhas de Muito Alta Tensão (LMAT);

• Elevado risco de incêndio devido a sobreaquecimento e falhas elétricas;

• Perda severa de biodiversidade, com centenas de espécies afetadas;

• Colapso do turismo rural e prejuízo para atividades económicas dependentes da paisagem;

• Impactos graves na saúde pública durante ondas de calor;

• Destruição da identidade cultural das populações;

• Perda da paisagem cultural e espiritual — Monsanto, Idanha-a-Velha, Castelo Novo, Serra da Gardunha;

• Erosão emocional e social das comunidades.

“Belgais – Centro para o Estudo das Artes” e o que verdadeiramente está em causa

Entre os locais diretamente ameaçados pela passagem das Linhas de Muito Alta Tensão associadas à Central Solar Fotovoltaica da BEIRA encontra-se “Belgais – Centro para o Estudo das Artes”, que fundei há mais de vinte anos.

É esta central — a Central Solar Fotovoltaica da BEIRA — que poderá afetar gravemente a paisagem, o silêncio, o equilíbrio ecológico e a integridade espiritual que sustentam o trabalho realizado em Belgais.

Mas não escrevo esta carta apenas porque Belgais está em risco. Belgais é apenas um símbolo dentro de algo muito maior: todo o património natural, cultural e espiritual da Beira Baixa.

A envolvente natural — o silêncio, a serenidade e o equilíbrio — é a alma do lugar.

Carta aberta - PELA TERRA, PELA VIDA

Preparei também uma carta aberta que será enviada às entidades responsáveis e à comunicação social, na esperança de promover diálogo, transparência e responsabilidade.

PELA TERRA, PELA VIDA

Estimados cidadãos conscientes,

**Vivemos um tempo decisivo. A transição para energias limpas é urgente e inadiável, mas não pode ser feita à custa daquilo que nos sustenta: a Terra, a água, a vida e as comunidades que as guardam há gerações. O verdadeiro progresso é aquele que regenera, não o que destrói em nome do “verde”.

Entre o Fundão, Penamacor, Idanha-a-Nova e Castelo Branco, os projetos solares SOPHIA e BEIRA pretendem ocupar milhares de hectares de um território que é muito mais do que um espaço livre no mapa. É uma paisagem viva, feita de montes, rios, aves migratórias, sobreiros e carvalhos centenários, e também de pessoas que cuidam, cultivam e resistem.

Estes tipos de projetos levantam sérias preocupações ambientais, sociais e culturais. A instalação de mega-centrais fotovoltaicas em áreas de elevada sensibilidade ecológica ameaça o equilíbrio natural, altera o ciclo da água, degrada solos férteis e apaga a beleza que dá identidade a esta região.

Estas intervenções configuram violação dos princípios de precaução e proporcionalidade, abrindo caminho ao que o direito internacional começa hoje a reconhecer como ecocídio: a destruição deliberada e em larga escala de ecossistemas vitais.

Não há energia limpa quando ela nasce da destruição. Não há transição justa quando as comunidades ficam de fora das decisões.

As gentes da Beira Baixa, bem como todo Portugal, são herdeiras de um património cultural e humano único, tecido com tempo, trabalho e amor pela terra. Quando decisões desta dimensão são tomadas sem escuta nem diálogo, perde-se mais do que a natureza: perde-se confiança, pertença e esperança.

Também a promessa de desenvolvimento económico é, demasiadas vezes, ilusória. Os empregos criados são temporários, os lucros partem para fora, e o que fica são cicatrizes na paisagem e prejuízo para atividades duradouras. O futuro do interior não pode ser construído à custa da sua destruição.

Há caminhos alternativos. Há soluções que respeitam o território e distribuem benefícios de forma justa. A energia do futuro deve nascer de perto, das pessoas e para as pessoas, reforçando a autonomia e a resiliência locais.

A paisagem é memória viva. É o rosto da nossa identidade. Destruí-la é apagar as histórias que nos formam, é ferir o sentimento de lugar que nos liga uns aos outros. A paisagem é um direito humano e coletivo – expressão máxima da relação entre pessoas, história e natureza.

As centrais fotovoltaicas ameaçam uma herança cultural milenar, visível e com impacto em lugares reconhecidos pela sua qualidade paisagística. A energia que queremos é aquela que continua essas histórias, não a que as silencia sob o peso do metal e do esquecimento.

O combate às alterações climáticas não pode justificar novas formas de exploração e desigualdade. A transição energética deve ser justa, equilibrada e participada. Respeitando a natureza e as comunidades que dela dependem.

Que o sol que nos ilumina continue a dar vida, e não sombra, às paisagens que nos definem. Que o futuro se construa com respeito, escuta e com amor pela Terra.

Pela Terra. Pela Vida. Pelo direito a um futuro justo, luminoso e vivo.**

Maria João Pires

___________

O objetivo desta mobilização

Esta mobilização assenta em três frentes principais:
1. Participação na Consulta Pública do projeto “A CSF de SOPHIA e as LMAT associadas”. (encerra dia 20 de novembro de 2025);
2. Envio de e-mails de oposição formais relativos ao projeto “A CSF da BEIRA e as LMAT associadas” (projeto que afeta diretamente Belgais – Centro para o Estudo das Artes) e;
3. Assinatura da petição pública à Assembleia da República para a proteção e defesa da Beira Baixa e para a suspensão dos megaprojetos fotovoltaicos SOPHIA e BEIRA.
4. Partilha do post publicado no Instagram e no Facebook, de forma a garantir a máxima visibilidade e sensibilização possível em torno desta causa.
___________

1. Participação na Consulta Pública – “A CSF de SOPHIA e as LMAT associadas”

Portal Participa: www.participa.pt
(Consulta pública aberta até 20 de novembro de 2025)

Guia para participar:
1. Criar conta (Cartão de Cidadão obrigatório)
2. Confirmar e-mail
3. Aceder ao projeto: “A CSF de SOPHIA e as LMAT associadas”
4. Clicar “Participar / Enviar contributo” (exemplo de texto disponível abaixo)
5. Selecionar “Discordância”
6. Submeter e guardar comprovativo

Dicas úteis:
• O número de Cartão de Cidadão é obrigatório para a participação ser aprovada
• 1 participação por pessoa
• Qualquer cidadão pode participar
• Pode anexar PDF’s
• Linguagem simples é suficiente

Modelo de texto para – A CSF de SOPHIA e as LMAT associadas

“Exmos. Senhores,

Venho apresentar Parecer Desfavorável e Oposição formal ao projeto da Central Solar Fotovoltaica de SOPHIA e respetivas Linhas de Muito Alta Tensão, previstas para os concelhos do Fundão, Penamacor e Idanha-a-Nova.
A dimensão do projeto e o seu impacto ambiental irreversível — nomeadamente a desflorestação e destruição de habitats essenciais, a perda de biodiversidade, o risco acrescido de incêndio, a impermeabilização dos solos e a alteração dos ecossistemas — constituem graves ameaças ao equilíbrio climático e ao território.
A remoção do coberto vegetal agrava o aquecimento local, aumenta o risco de erosão e compromete a resiliência natural. Projetos desta escala são desajustados e exigem limites claros para preservar o património natural.
A energia solar deve priorizar áreas artificializadas — telhados, coberturas industriais, parques empresariais — e não afetar zonas de elevado valor ecológico e paisagístico, nem sacrificar solos férteis e corredores naturais de fauna e flora.
Pelas razões expostas, solicito a rejeição deste projeto na sua forma atual e a adoção de políticas de energia renovável compatíveis com a integridade ecológica do território.

Com os melhores cumprimentos,
(assinatura)”

2. Envio de e-mails de oposição formais – “A CSF da BEIRA e as LMAT associadas”

A consulta pública deste projeto já encerrou. Por isso, o envio de e-mails é atualmente a principal forma de intervenção cívica. (exemplo de e-mail disponível abaixo).
Este projeto afeta diretamente Belgais – Centro para o Estudo das Artes pela passagem das Linhas de Muito Alta Tensão (LMAT), assim como ecossistemas sensíveis, comunidades locais e toda a área envolvente.

Enviar para:

Agência Portuguesa do Ambiente (APA)
E-mail: em...@apambiente.pt

Assunto sugerido:

“Oposição fundamentada ao projeto A CSF da BEIRA e as LMAT associadas – Pedido de revisão e suspensão”

Modelo de e-mail para – A CSF da BEIRA e as LMAT associadas

“Exmos. Senhores,

Venho apresentar Parecer Desfavorável e Oposição formal ao projeto da A CSF da BEIRA e às respetivas Linhas de Muito Alta Tensão (LMAT), previstas para os concelhos de Idanha-a-Nova e regiões envolventes.
A dimensão e localização deste projeto, bem como o seu impacto ambiental e sociocultural irreversível — nomeadamente a desflorestação, a destruição de habitats essenciais, a perda de biodiversidade, o risco acrescido de incêndio, a alteração do microclima e a perturbação de ecossistemas frágeis — constituem uma ameaça séria ao equilíbrio natural e ao bem-estar das populações.
O aumento da temperatura local, consequência da instalação massiva de superfícies fotovoltaicas e da remoção do coberto vegetal, agravará o stress térmico, prejudicará a agricultura e aumentará a vulnerabilidade humana numa região já sensível ao calor extremo.
A afetação da paisagem cultural e natural é particularmente preocupante na área envolvente de “Belgais – Centro para o Estudo das Artes”, cuja missão cultural, educativa e espiritual depende da preservação da paisagem e da harmonia ecológica do território.
A instalação de uma megaestrutura industrial comprometerá o equilíbrio da região, fragilizará a economia local e agravará a desertificação humana, afetando atividades duradouras como turismo rural, agricultura sustentável e projetos culturais consolidados.
A transição energética é necessária e urgente, mas não pode avançar à custa da destruição de ecossistemas vitais, do património natural e das comunidades que há gerações cuidam desta terra. As energias renováveis devem priorizar áreas artificializadas e compatíveis com a sua escala.
Pelas razões expostas, solicito:
– A reavaliação completa deste projeto;
– A suspensão imediata até existir estudo independente e transparente;
– A adoção de políticas de energia renovável que respeitem o território, a biodiversidade, a saúde pública e as comunidades locais.

Com os melhores cumprimentos,
(assinatura)”

3. Assinatura da petição pública dirigida à Assembleia da República

A terceira frente desta mobilização é a assinatura da petição pública dirigida à Assembleia da República, pela proteção e defesa da Beira Baixa e pela suspensão dos megaprojetos fotovoltaicos SOPHIA e BEIRA.

A petição pode ser consultada e assinada em:
https://participacao.parlamento.pt/initiatives/5569#initiative-body

Esta petição visa:
• Levar o tema à discussão parlamentar;
• Solicitar a suspensão destes megaprojetos;
• Defender a Beira Baixa enquanto território vivo, culturalmente rico e ambientalmente sensível.

4. Partilha do post nas redes sociais (Instagram e Facebook)
A quarta frente desta mobilização consiste na partilha do post publicado no Instagram e no Facebook, de forma a ampliar a sensibilização pública, garantir a máxima visibilidade possível desta causa, e envolver mais cidadãos para reforçar a pressão social e institucional necessária para a proteção da Beira Baixa e a suspensão dos megaprojetos fotovoltaicos SOPHIA e BEIRA.
Como ajudar:
Aceder ao post no Instagram ou no Facebook;

Utilizar a opção “Partilhar” ou “Repostar”;

Enviar diretamente para amigos, grupos, páginas ou stories;

Incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo.
A amplificação desta mensagem é fundamental para que a causa ganhe força, chegue ao maior número de pessoas possível e promova um movimento cívico eficaz.

Um gesto de responsabilidade, coragem e amor pela Terra
Que este movimento seja um ato de responsabilidade, coragem e amor;
um apelo à proteção da Natureza, da Cultura e das comunidades humanas;
um compromisso com as gerações futuras.

Maria João Pires

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Beijinhos




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