No sábado, 19 de junho de 2021, às 22:09:18 -03, João Marcos escreveu:
>
> DEVEMOS MUDAR O NOME DO GRUPO?
>
> Recentemente, uma discussão importante foi levantada no cerne do nosso
> grupo:
> "Será que o nome do grupo poderia funcionar como algo que _afasta_ as
> pessoas, ao invés de _aglutiná-las_?"
Os comentários que se seguem estão baseados na pauta introduzida pelas
perguntas acima.
> Começamos, com este questionamento, a discutir uma possível mudança no nome
> do grupo, que eu gostaria de compartilhar com a comunidade desta lista,
> mais ampla, a fim de medir a sensibilidade e colher as impressões dos
> colegas, de forma geral, eventualmente colhendo subsídios para que tomemos
> uma decisão mais informada e sensata acerca do assunto.
>
> Para tal, apresentarei brevemente a seguir os prós e os contras
> apresentados por membros do nosso grupo, ao longo dos últimos dias, para
> mantermos ou para trocarmos o nome. Estou certo de que alguns dos itens
> abaixo poderiam ser melhor desenvolvidos, do ponto de vista argumentativo,
> e outros itens ficaram faltando. (Notem que os itens entre aspas, abaixo,
> apontam para expressões que foram usadas por participantes do nosso fórum
> interno de discussões.)
>
> %%%
>
> [N0]
> O NOME "LoLITA" DEVE / PODE SER MANTIDO
>
> A - O nome "LoLITA" está estabelecido há muito tempo, se encontra bem
> consolidado, e tem uma longa história institucional, na UFRN, no CNPq, e
> noutros cantos. O nome do grupo é também o nome do nosso laboratório e do
> nosso fórum interno de discussões.
Certo. Há alguns custos associado à mudança do nome. Portanto, me parece
razoável que as razões para mudar o nome alcancem, proporcionalmente, um certo
patamar. No caso do LoLITA, os custos são relativamente pequenos, eu diria, na
categoria de incovenientes, especialmente se comparados com o caso do Coq
(
https://github.com/coq/coq/wiki/Alternative-names). Os membros do grupo podem
avaliar o balanço entre custo e benefício melhor do que eu.
Bem, primeiramente, invocar supermercados, cosméticos, nomes artísticos e etc.
não é minimamente convincente. Eu entraria sem problemas numa loja de
conveniências chamada "Canibais dos Trópicos", digamos; hesitaria um pouco
mais, caso se tratasse de um restaurante; não chegaria nem perto, se fosse o
nome de um grupo de pesquisa do departamento de nutrição. Contexto importa. A
maneira como o nome de um grupo de pesquisa afeta as decisões de uma pessoa,
especialmente se esta pessoa está considerando dedicar um período da sua
trajetória acadêmica, não é análoga, ou mantém qualquer paralelo, com a
maneira como o nome de uma loja de cosméticos afeta a decisão de alguém em
busca de loção hidratante.
Em segundo lugar, creio ser pacífico que, no Brasil, a expressão "lolita"
possui sim conotações derivadas da história de Nabokov. O mesmo certamente
ocorre em outros países/culturas de pessoas que eventualmente poderiam vir a
se associar com o grupo de pesquisa em alguma capacidade. Novamente, estas
conotações podem ser inócuas, ou até mesmo positivamente (surpreendentemente,
provocativamente) significativas em certos contextos (nome artístico, por
exemplo). Não é o caso de um grupo de pesquisa de lógica, eu diria.
> C - O nome já é usado na área de Computação, inclusive como acrônimo para
> um sistema de processamento de linguagem natural, escrito em Haskell e C:
>
https://en.wikipedia.org/wiki/LOLITA
Totalmente irrelevante. Exemplo da técnica argumentativa que um colega aqui da
UFPB gosta de chamar "O sujo e o mal-lavado". Também conhecido nos países
anglófonos como "Whataboutism".
> D - O nome serve para fazer graça, como numa apresentação:
> "[...] as you see, my research group is called 'LoLITA' --- which
> _obviously_ means 'Logic, Language, Information, Theory and Applications'"
> [risadas da claque]
Sim, claro. De um lado nós temos considerações pertinentes à inclusividade num
grupo de pesquisa. Do outro, uma piada gratuita para aspirantes a comediantes.
Sinceramente. Algém quer fazer piada, mas não tem qualquer talento humorístico
e está desesperado(a) por piadas de graça? Pois que se vire! Trata-se de algo
frívolo demais para ser objeto de consideração, dada a pauta em discussão.
> E - Vários membros e ex-alunos do grupo afirmam ter muito orgulho do nome
> do grupo, e chegam a se autodenominar "loliteiros" ou "loliteiras" ("para
> sempre", ou "até a morte").
>
> F - Continuando o ponto anterior, temos ex-alunos que tatuaram "LoLITA" no
> corpo, que afirmam que "não há nenhum tipo de malícia no nome" ou
> "intenções escusas ao criá-lo", que defenderam a tese usando sapatos que
> faziam referência ao logotipo do grupo (ver abaixo), etc. Ainda, a maior
> parte das ex-alunAs e das colaboradorAs do grupo que se manifestaram no
> nosso fórum interno de discussões afirmaram estar plenamente confortáveis
> com o nome do grupo.
OK. Não tenho experiência com o grupo, mas gostaria de levantar a hipótese de
que o orgulho não advém tanto do *nome* do grupo, mas do *próprio grupo* (das
atividades que desenvolve, daquilo que o grupo representa). Sim, imagino que
possa haver quem ache o nome legal, mas suspeito que não se sentiriam tão
diferentes caso o grupo tivesse um outro nome, digamos tão astuto quanto e com
duplo significado, mas que não estivesse associado com a exploração e/ou
erotização de meninas púberes?
Interessante saber que a maior parte das alunas e colaboradoras se sentem
confortáveis com o nome do grupo. E a menor parte? A maior parte também se
sentiria confortável com um outros nomes, suponho? Talvez alguns com os quais
a menor parte também esteja confortável?
Convém notar que a suposição considerada em pauta é de que o nome teria o
*potencial* de afastar. Difícil sondar a opinião das pessoas que, caso o
suposto potencial tenha se efetivado no passado, escolheram se afastar. Também
é difícil auferir em que proporção esse potencial se efetivou, se é que isso
ocorreu. Contudo, qualquer resquício de chance nesse sentido me parece
bastante pesado em comparação com piadas, estampas de sapatos, ou defasagem de
tatuagens, ainda que combinados.
> G - Qualquer nome pode dar lugar a "interpretações distorcidas".
Correto. Mas inócuo.
> H - A *referência* última do nome "LoLITA", por nexo de batismo, é
> simplesmente o grupo de pesquisa correspondente, do DIMAp/UFRN, e não o
> romance do Nabokov, nem o apelido carinhoso de uma mulher chamada Dolores,
> nem nenhum dos outros itens extra-linguísticos apontados nos outros itens
> acima (ou abaixo).
Correto. Mas irrelevante.
Um pouco mais detalhadamente sobre os pontos G e H (e talvez partes do ponto
F). Creio que ninguém esteja sob a hipótese de que o fato de que a sigla do
grupo soletra "Lolita" é um infeliz acidente. Isto é, a sigla LoLITA é
proposital. Bem, mas trata-se de um grupo de lógica. Não de literatura. Nem de
fãs do Nabokov. Ou de pedófilos na internet. A pergunta natural é: Bem, por que
logo "LoLITA"? Ao que tudo indica, a resposta, no contexto do batismo do
grupo, é completamente inocente: a sigla se encaixa bem com uma boa
descrição, é o nome de uma obra literária famosa, é bem astuta e etc.
Agora, se pessoas começam a levantar preocupações com possíveis efeitos
negativos do nome (que supostamente passaram despercebidos), a posição "o nome
permanece" já não é tão inocente. Não se trata aqui de atribuir malícia, ou
qualquer outra motivação nefasta ao contexto de batismo. Quem defende que o
nome deve permanecer me parece estar comprometido(a) com alguma combinação das
seguintes teses:
- Nenhuma pessoa razoável associa conotações negativas ou impróprias à
expressão "lolita" (embora seja banida em várias ferramentas de busca por aí)
a ponto de afetar o seu envolvimento com o grupo de pesquisa em qualquer
capacidade (uma tese temerária, eu diria)
- os possíveis efeitos negativos são desfavoravelmente contrabalanceados pelos
benefícios em termos de piadas, sapatos, tatuagens e evitar o considerável
trabalho envolvido em mudar o nome do grupo
- o legado do grupo de pesquisa está de alguma forma atrelado à *permanência*
do nome. proteger esse legado, de alguma maneira, tem mais valor do que
garantir o conforto e/ou acolhimento de futuros membros e/ou colaboradores
Meus centavinhos,
--
Hermógenes Oliveira