--
LOGICA-L
Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de Lógica <logi...@dimap.ufrn.br>
---
Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "LOGICA-L" dos Grupos do Google.
Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para logica-l+u...@dimap.ufrn.br.
Para ver esta discussão na web, acesse https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/SJ0PR07MB939734A33E48CBE741B9BEE19D579%40SJ0PR07MB9397.namprd07.prod.outlook.com.
> Aqui tem um paper mais recente com uma prova *intuicionista*da completude:
>
> https://www.cambridge.org/core/journals/journal-of-symbolic-logic/article/abs/an-intuitiomstic-completeness-theorem-for-intuitionistic-predicate-logic1/17F2EF19C8BA9421A80CC6154749A4B4
>
> Quando eu morava na Alemanha em Muenster perto da Holanda, o grupo de lá visitava muitas vezes o grupo de Amsterdam.
>
> Lembro-me que o Anne Troelstra dizia que ainda nao havia prova intuicionista da lógica intuicionista.
De fato, não creio que esta demonstração tenha muita aceitação, mesmo dentre o grupo em Nijmengen. O artigo é de 1976. Não diria que é "recente". Nele, o próprio autor escreve "Of course the question arises whether we can claim to have found a reasonable semantics of intuitionistic logic; i.e. if the construction gives us a clearer concept "intuitionistically true sentence". I would not say so. Rather, the construction looks like a technical device, which should work for a big class of formal systems". Um diagnóstico similar foi dado por Dummett (The Logical Basis of Metaphysics, a partir da página 152; Elements of Intuitionism, seção 5.7). Realmente, qualquer pessoa que esteja perdendo o sono com o uso de raciocínio estritamente clássico na demonstração de Kripke certamente não passará a dormir tranquilamente com este resultado.
> Discutiamos que a logica intuicionista tinha mais sorte...nao faz sentido uma prova paraconsistentista da logica paraconsistente.
Ora, por que não faria sentido? Demonstrações de completude não costumam lançar mão da explosão. Claro, elementos ideológicos suscitam certa insatisfação por parte de algumas pessoas com o uso de raciocínio clássico na demonstração de completude na semântica de Kripke para a lógica intuicionista. Realmente, nunca ouvi falar de inquietações similares entre pessoas que lidam com lógica paraconsistente.
--
Hermógenes Oliveira
> Vale notar que este assunto foi discutido na lista FOM entre maio e
> junho deste ano:
> https://cs.nyu.edu/pipermail/fom/2022-May/thread.html
> https://cs.nyu.edu/pipermail/fom/2022-June/thread.html
> Alguns exemplos bastante básicos (nível "semana 1" de um curso de
> Teoria de Conjuntos) foram propostos por Harvey Friedman, em
> particular, em:
> https://cs.nyu.edu/pipermail/fom/2022-May/023318.html
> (sugiro conferir também a resposta do Arnon Avron em
> https://cs.nyu.edu/pipermail/fom/2022-May/023328.html)
Pois é. Também tinha em mente essa discussão, em particular a posição de Tennant de que a lógica mínima seria suficiente para a ampla maioria dos propósitos matemáticos e científicos.
O exemplo de Friedman está baseado na alegação de que a demonstração mais comum (aquela com a qual Friedman e a maioria dos matemáticos está familiarizado) da existência do conjunto vazio aparentemente apela para a explosão. Mas isto está longe de pacificar a questão: podem muito bem haver outras demonstrações. Ainda que não houvessem outras demonstrações, porém, seria legítimo perguntar até que ponto este teorema é indispensável. Em algumas axiomatizações, não é mesmo necessária (pois se trata de um axioma). Na verdade, parece ser relativamente inerte, no sentido de não afetar outras partes da matemática, a não ser no âmbito de certas combinações específicas de axiomatização + interpretação filosófica da teoria dos conjuntos.
Uma dificuldade saliente em toda discussão é identificar criteriosamente quando a explosão está de fato sendo usada. Avron, por exemplo, parece crer que o uso do silogismo disjuntivo é, por si, um uso da explosão. Outras pessoas provavelmente não consideram explosão, se o uso está restrito a contextos disjuntivos. Enfim, há certa liberdade na interpretação de demonstrações informais, de forma que é sempre possível declarar usos explícitos como meramente aparentes, ou fabricar usos essenciais que estariam implícitos, ou escondidos.
A minha tendência é concordar com Walter: Explosão é pra não ser usada.
> As formas usuais de redução ao absurdo e de silogismo disjuntivo,
> digamos, não podem ser válidas em lógicas paraconsistentes, certo?
> Poderia fazer perfeito sentido buscar por demonstrações de completude
> que não façam uso de estratégias baseadas nestes princípios, não?
>
> [...]
>
> Vamos assumir que o paracompletista defenda que, dadas duas sentenças
> matemáticas na forma A e não-A, pode ocorrer de não podermos produzir
> uma *demonstração* de nenhuma das duas (uma asserção bastante óbvia,
> se a teoria na qual esta demonstração deva ser construída simplesmente
> não tiver recursos dedutivos suficientes para demonstrar muita coisa).
> O que haveria de errado em imaginar que o paraconsistentista defenda
> (por razões similares às anteriores) que há situações em que não
> podemos produzir uma *refutação* de nenhuma destas sentenças? (a
> explosão implica que pelo menos uma destas duas sentenças deve ser
> refutável)
Questões interessantes que você levanta! Vou tomar um tempo para pensar a respeito.
--
Hermógenes Oliveira