Em 06 de novembro de 2011, Fernando Naufel do Amaral escreveu:
> Eu escrevi "zero premissas". Não "tomo ofensa" (tradução literal de
> "take offense", que não se usa em português?), mas não acho que eu
> seja um falante incompetente.
>
> Aliás, qual o problema em falar "zero premissas"?
>
> Quanto às minhas faculdades mentais, percebo que vc é um daqueles
> preconceituosos que acham que ser bom orador equivale a ter bom
> senso e razão. Técnicas de oratória foram desenvolvidas pensando em
> gente como vc.
>
> Por favor, não se ofenda.
Eu não me ofendo. E peço desculpas publicamente, pois aparentemente
ofendi você, Fernando. Sei que isso não consola muito a pessoa
ofendida, mas permita-me explicar o que aconteceu. Minha intenção não
era, de maneira alguma, fazer comentários pessoais a seu respeito.
Afinal, sequer o conheço pessoamente. Em particular, não pretendia
dizer que você é um falante incompetente da língua portuguesa ou
mesmo sugerir qualquer coisa a respeito das suas faculdades mentais.
Meu objetivo era apenas fazer uma caricatura de certas práticas, das
quais eu mesmo sou culpado, como disse. Displincentemente, assumi um
tom que seria apropriado caso estivesse conversando com amigos, mas
que mostrou-se terrivelmente infeliz numa mensagem a uma lista de
discussão cuja maioria dos membros não me conhece pessoalmente.
Relendo agora minha mensagem, percebo que ela pode ser tomada de
maneira bastante ofensiva e desrespeitosa. Confesso que estou
envergonhado. Permita-me ainda dizer que não me considero bom orador
e que a arrogância que pode ser lida em minha mensagem é apenas
aparente. Enfim, sei que aquilo que escrevi autoriza-o a adotar a
pior das imagens sobre a minha pessoa. Ainda assim, peço que aceite
meu pedido de desculpas.
> Sim, nada impede que "provável" tenha dois (ou mais) sentidos. Mas,
> em uso corrente, só tem um ("algo com grande probabilidade de
> ocorrer").
>
> Quando vc fala em "imperícia", vc está partindo do pressuposto de
> que há uma maneira correta (em termos absolutos) de usar a língua.
Não creio que seja necessário um critério _absoluto_. Penso que,
certamente, temos uma noção de bom uso e mau uso da língua. O que
pretendia apontar era somente o fato de que tratamos o bom uso da
língua com uma certa displincência e que poderíamos melhorar nesse
quesito. Observem que uso a primeira pessoa do plural. Portanto, isso
não é uma acusação ou julgamento pessoal a respeito desse ou daquele
colega, mas um convite coletivo a pensarmos sobre o assunto.
> Daí, a pergunta inevitável: quem decide qual é a maneira correta? A
> ABL? O governo? No nosso caso, a SBL?
>
> Engraçado: isto não lembra a controvérsia platonismo X formalismo X
> intuicionismo na fundamentação da matemática?
>
> O idioma existe platonicamente, independente de nós, ou é definido
> por um conjunto de regras formais totalmente arbitrárias, ou é um
> conjunto de construções mentais?
>
> Acho que estamos sendo amadores também nesta discussão. Lógica,
> linguística e filosofia têm uma interseção altamente técnica e
> interessante, mas esta não é a minha área. É a sua?
Não, não é a minha área. Como pode observar, o amadorismo também é da
minha parte.
> Eu acho que existem dois registros: o técnico e o semitécnico.
>
> No registro técnico, é necessário oferecer definições precisas dos
> termos usados. Se as definições não forem de conhecimento comum,
> devemos incluí-las no texto (e.g., em um artigo técnico), e aí não
> há qualquer dúvida quanto aos significados.
>
> No registro semitécnico, vale usar termos ambíguos ou imprecisos,
> tornando seus significados pretendidos mais ou menos claros através
> do texto, não necessariamente através de definições.
>
> De forma alguma a definição de uma terminologia em uma área de
> atuação é uma questão simples. O pessoal da Medicina e da Biologia
> vem atacando esse problema há décadas, com padrões, vocabulários,
> ontologias formais, e outras técnicas e ferramentas. E ainda não
> chegaram a um consenso.
>
> Mas, para mim, a causa principal do nosso "amadorismo" no uso de
> termos lógicos em português é a seguinte:
>
> A maior parte da lógica de verdade (artigos para conferências ou
> periódicos, relatórios, capítulos de livros, etc.) escrita por
> lógicos brasileiros em seu dia-a-dia É ESCRITA, ORIGINALMENTE,
> EM INGLÊS! Depois, se houver necessidade, traduz-se para o
> português, mas nunca se tem muito tempo (ou conhecimento
> linguístico) para dedicar à tarefa.
>
> Então, para testar este meu palpite, eu pergunto: quantos de vcs
> fazem lógica originalmente em português? E quantos de vcs fazem
> rascunhos, anotações e esboços de artigos em inglês (sabendo que o
> produto vai acabar sendo publicado nesse idioma mesmo)?
>
> E mais: quantos de vcs lêem mais livros de lógica em português do
> que em inglês?
>
> Admitamos: a terminologia de lógica que usamos mentalmente está toda
> em inglês! A tradução para português é um "afterthought".
>
> Dever de casa para os puristas: achar uma boa tradução para
> "afterthought".
Concordo contigo. E creio que, assim como os colegas da Medicina
devíamos nos preocupar com esse problema. Eu não tenho as soluções.
Mas creio que podemos melhorar as coisas se, em vez de ignorarmos
o problema, engajarmos na solução dele.