Oi gente,
Aproveitando pra comentar da dúvida que eu apresentei na apresentação da Lidia Batinga (que pro framework dela
deu pra ver que a resposta era "sim").
Aí, todo mundo pode dar aqui um pitaco que eu estou curioso com isso já faz uns três anos.
Lá vai:
O primeiro axioma de Teoria dos Conjuntos, em muitos livros, é o Axioma do Vazio:
"Existe x tal que para todo y, y não pertence a x"
(que depois é provado ser o único nessas condições pelo Axioma da Separação).
Pois bem: no livro do Kunen dos anos 80 (referência clássica em conjuntos), o primeiro axioma
é um "axioma de existência de conjuntos":
"Existe x tal que x = x"
(como qualquer coisa é igual a si mesmo, o axioma essencialmente diz que existe uma "qualquer coisa" pra ser igual a si mesma).
Dada a existência de um conjunto, dada pelo axioma acima, e o Axioma de Separação, obtemos o conjunto vazio separando,
nesse x que foi dito existir digamos, o subconjunto
y = {z pertencente a x | z é diferente de z }
e aí esse y não tem elementos (dado que nenhum z satisfaz o pedido) e por unicidade (dada por Separação) ele é o vazio, OK.
Em resumo, pelo que vocês vêm acima, na presença do Axioma de Separação, dizer que "existe um conjunto qualquer"
ou que "existe um conjunto vazio" dá na mesma, seriam axiomáticas equivalentes.
... Mas aí vem a pegadinha.
Numa banca de mestrado que participei, o aluno "se recusou" a aceitar o axioma do Kunen, "Existe x tal que x = x",
com o seguinte argumento:
---> Essa asserção segue de um axioma lógico sobre igualdade, que é "Para todo x, x = x", logo, se ela
segue de um axioma, essa asserção é um teorema e não deveria ser um outro axioma.
... Touché ! Dizer o quê pro aluno numa situação dessas ???
Depois de matutar um pouco a questão toda (pelo menos até onde eu vejo) é: ao tratarmos de uma teoria,
NÓS TEMOS QUE PRESSUPOR QUE O DOMÍNIO DE DISCURSO É NÃO-VAZIO ?
Porque se o domínio de discurso é não-vazio para a Teoria dos Conjuntos, de fato, para todo x deveríamos
ter x = x, então em particular existe x tal que x = x. Seria então um teorema, não axioma.
Ao ver essa apresentação da Lidia, e uma apresentação que o Henrique Antunes fez pra nós aqui na Matemática da UFBA,
Foi apresentada essa diferença entre a Lógica clássica e a lógica livre, no qual, resumidamente
---> Na lógica clássica os termos se referem a coisas que são supostas existentes
---> Na lógica livre isso não vale necessariamente, então podemos falar de Pégaso e de outros entes imaginários...
Então eu penso, ok, na lógica classe os termos se referem a coisas que existem.
Mas - antes disso (de definir o que os termos fazem) nós teríamos que decidir se existem coisas para que os termos possam se
referir a elas, não ? Seria uma espécie de discussão anterior ao papel dos termos, eles têm coisas existentes pra denotar ?
Então eu perguntei pra Lidia que estava apresentando sobre isso e deu pra ver que ela pressupõe que o
universo de discurso é não-vazio,
E no livro do Kunen tem alguns momentos lá na frente que ele fala que "na prática" tem que se supor que
o universo de discurso é não-vazio (posso achar a página exata se alguém pedir),
Então minha dúvida é essa: ainda em oposição à lógica livre talvez,
Numa apresentação de uma teoria em lógica clássica,
Devemos, ou é preferível, ou é saudável, ou é do gosto pessoal de cada um,
-----> Supor que o domínio de discurso é não-vazio ?
Se sim, então o axioma "Existe x tal que x = x" é desnecessário (e Kunen teria ficado contraditório lá no meio do
livro dele ao dizer que já supunha o universo não vazio depois de colocar esse "axioma zero" na primeira linha
do livro então...)
Gostaria de ouvir os colegas,
Abraços, e agradeço a Lidia por sua apresentação e por ter dado essa oportunidade para uma discussão.
[]s Samuel