), o Alcorão foi impresso mais de 3 bilhões de vezes e a Bíblia do Rei Jaime, cerca de 2.5 bilhões de vezes (estimativas para o número total de Bíblias contando outras traduções vão para 5 bilhões).
Pela internet, é fácil achar alegadas instâncias específicas de contradições nesse documento por parte de ativistas politicamente libertários:
https://www.lewrockwell.com/2012/04/scott-lazarowitz/the-self-contradictory-us-constitution/http://www.skepticaleye.com/2012/11/constitutional-contradictions.htmlPor exemplo; a Primeira Emenda garante liberdade de expressão irrestrita. Mas a Décima Quarta Emenda asserta que dívidas públicas da União autorizadas por lei são inquestionáveis.
Não me lembro se foi o Profesor Newton quem apontou que qualquer constituição que permita cláusulas pétreas ao mesmo tempo que permita que assembléias legislativas façam adendos às mesmas está sendo inconsistente.
5) Não achei exemplos muito explícitos de contradições na nossa Constituição Federal de 1988 (
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm)
A palavra "contradição" no meio jurídico parece ser um termo de arte com outro significado.
Parece existir galho no Artigo 5 que asserta o princípio da isonomia, a igualdade de todos os brasileiros perante a lei. Mas o Artigo 53, por exemplo, estabelece que os membros do Congresso estão sujeitos à lei de forma diferenciada.
6) Existem contradições em livros de ficção famosos também. Por exemplo, em "A Guerra dos Tronos", é dito que o Rei Renly Barathreon tem olhos verdes mas em "A Fúria dos Reis", é dito que ele tem olhos azuis:
https://www.quora.com/Are-there-any-inconsistencies-in-ASOIAF-worldClassicistas já analisaram a fundo inconsistências na Ilíada e Odisséia:
https://www.jstor.org/stable/283192Enfim, isso foi apenas um exercício para mostrar a prevalência de documentos
prima facie inconsistentes que são socialmente e politicamente importantes.
Como adendo final, apesar das fartas diferenças existentes entre textos religiosos, legais e literários, as estratégias para se livrar de contradições são bem parecidas:
1) Erro não-intendido do autor: simplesmente uma das sentenças está falsa e precisa ser substituída por outra. Por exemplo, vários erros envolvendo quantidades na Bíblia são justificados apologeticamente como sendo erros de copistas de manusritos.
2) Diferença semântica e pragmática: aqui é o grosso tanto da apologética e hermenêutica religiosa quanto da juriprudência. As contradições são apenas aparentes, não são contradições reais - por trás da estrutura gramatical superficial, podem haver diferenças de polissemia, âmbitos, escopos, domínios e intenções do autor que tornam a conjunção de sentenças consistente entre si.
3) Retcon: é uma família de heurísticas típicas da literatura contemporânea (
https://en.wikipedia.org/wiki/Retroactive_continuity) mas que já vi sendo aplicadas em contextos religiosos e legais. O autor intende que sentenças adicionadas mais recentemente e que sejam inconsistentes com sentenças registradas no passado prevaleçam sobre estas; retroativamente, os registros do passado se modificam semanticamente visando acomodar a informação mais nova e a contradição é dissolvida.
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