Acerca do que há de comum nos jogos

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Joao Marcos

unread,
Aug 2, 2017, 9:55:41 AM8/2/17
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Rescensões (com links) de artigos de Bernard Suits e Jim Stone sobre o assunto:
http://criticanarede.com/ascensao.html
-- por Lucas Miotto e Vitor Guerreiro


JM

Marcos Silva

unread,
Aug 3, 2017, 2:15:40 PM8/3/17
to logical logical
Olá, JM,

obrigado pelo link provocador.

eu tenho grande dificuldade para pensar em qualquer base textual que poderia justificar ou mesmo sugerir o "ao contrário do que pensava Wittgenstein" no último parágrafo do texto. 

"Se as definições de Suits e Stone são bem-sucedidas ou não, cabe ao leitor decidir. No entanto, ambos os artigos dão ótimos indícios de que, ao contrário do que pensava Wittgenstein e os seus seguidores, refletir sobre a natureza dos jogos pode ser profícuo, inclusive para áreas não imediata ou obviamente ligadas aos jogos, como é o caso das atividades artísticas e das atividades realizadas por membros das instituições jurídicas (por exemplo, até que ponto poderíamos descrever a atividade de um artista ou a de um advogado como o jogar de um jogo? Saber por que sim ou por que não pode iluminar aspectos dessas atividades a que não tínhamos anteriormente dado muita atenção)."

Por que "Wittgenstein e seus seguidores" não acreditariam que é profícuo refletir sobre a natureza de jogos inclusive com as consequencias interdisciplinares aludidas?

É fácil encontrar bons trabalhos sobre a filosofia de Wittgenstein que mostram  que a reflexão sobre a natureza de jogos e as consequencias relevantes disto para linguagem, logica, matemática, psicologia, estética etc. já aparecem no começo da década de 30  em sua carreira filosófica e vão até a sua morte em 1951. 

Os resenhistas parecem ignorar duas décadas de reflexão intensa do filósofo sobre a natureza fascinante (e elusiva) de jogos e sua relação com práticas humanas diversas.



Livre de vírus. www.avast.com.



JM

--
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--
Marcos Silva
Philosophie macht Spaß!

new book is out!
"Colours in Wittgenstein's Philosophical Development" (Palgrave, 2017)

Joao Marcos

unread,
Aug 3, 2017, 3:27:23 PM8/3/17
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Oi, Marcos:

Obrigado pela mensagem. Talvez eu não tenha lido com suficiente
atenção os artigos de Bernard Suits e de Jim Stone, mas me pareceu que
eles terão defendido, entre outras coisas, que:

(0) A análise wittgensteiniana da natureza dos jogos serviu antes de
mais nada para defender a tese de que definições deveriam ser dadas
através de "semelhanças de família".

(1) Não é completamente óbvio que a tese wittgensteiniana apontada em
(0) tenha sido inteiramente bem-sucedida sequer em caracterizar
adequadamente o conceito de *jogo* (nem do ponto de vista filosófico,
nem muito menos ---acrescento eu--- do ponto de vista matemático).

(2) A aplicação da doutrina das "semelhanças de família" a outros
conceitos ---e em particular ao conceito de *número*--- resultou
bastante menos persuasiva do que no caso do conceito de jogo, já
criticado em (1). (O Jim Stone admite em particular que a doutrina
wittgensteiniana faz parte hoje "do arsenal da filosofia analítica"
mas também defende que ela "teve uma influência particularmente nociva
em disciplinas intimamente relacionadas com a filosofia, por exemplo,
a teologia filosófica": https://philpapers.org/archive/STOATO-5.pdf)

(3) A possibilidade de propor definições úteis e informativas (ou ao
menos condições suficientes e necessárias para a caracterização) do
conceito de jogo: no caso de Stone, por exemplo, estas incluem o fato
de que jogos estão "destinados à recreação ou ao exercício de
capacidades físicas ou mentais dos participantes", e no caso de Suits
a proposta tentativa de que um jogo consiste em participar de
atividades "nas quais se escolhe intencionalmente (ou racionalmente)
meios ineficientes", produzindo "um esforço voluntário para superar
obstáculos desnecessários" --- acrescento como exemplo o jogo de
voleibol, no qual os participantes se esforçam muito ensejar algo que
ocorrerá inexoravelmente, de maneira independente de seus esforços,
que é fazer a bola cair ao chão.
(Um outro texto provocador do Suits:
Será a vida um jogo que estamos jogando?
http://criticanarede.com/avidaeumjogo.html)

Ah, e por falar no Bernard Suits, será que algum dos colegas aqui leu
"A Cigarra Filosófica"?

Abraços,
Joao Marcos


2017-08-03 20:15 GMT+02:00 Marcos Silva <marcos...@gmail.com>:
>
> Olá, JM,
>
> obrigado pelo link provocador.
>
> eu tenho grande dificuldade para pensar em qualquer base textual que poderia justificar ou mesmo sugerir o "ao contrário do que pensava Wittgenstein" no último parágrafo do texto.
>
>> "Se as definições de Suits e Stone são bem-sucedidas ou não, cabe ao leitor decidir. No entanto, ambos os artigos dão ótimos indícios de que, ao contrário do que pensava Wittgenstein e os seus seguidores, refletir sobre a natureza dos jogos pode ser profícuo, inclusive para áreas não imediata ou obviamente ligadas aos jogos, como é o caso das atividades artísticas e das atividades realizadas por membros das instituições jurídicas (por exemplo, até que ponto poderíamos descrever a atividade de um artista ou a de um advogado como o jogar de um jogo? Saber por que sim ou por que não pode iluminar aspectos dessas atividades a que não tínhamos anteriormente dado muita atenção)."
>
>
> Por que "Wittgenstein e seus seguidores" não acreditariam que é profícuo refletir sobre a natureza de jogos inclusive com as consequencias interdisciplinares aludidas?
>
> É fácil encontrar bons trabalhos sobre a filosofia de Wittgenstein que mostram que a reflexão sobre a natureza de jogos e as consequencias relevantes disto para linguagem, logica, matemática, psicologia, estética etc. já aparecem no começo da década de 30 em sua carreira filosófica e vão até a sua morte em 1951.
>
> Os resenhistas parecem ignorar duas décadas de reflexão intensa do filósofo sobre a natureza fascinante (e elusiva) de jogos e sua relação com práticas humanas diversas.
>
>
>
> Livre de vírus. www.avast.com.
>
> 2017-08-02 10:55 GMT-03:00 Joao Marcos <boto...@gmail.com>:
>>
>> Rescensões (com links) de artigos de Bernard Suits e Jim Stone sobre o assunto:
>> http://criticanarede.com/ascensao.html
>> -- por Lucas Miotto e Vitor Guerreiro
>>
>>
>> JM

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http://sequiturquodlibet.googlepages.com/

Marcos Silva

unread,
Aug 3, 2017, 3:38:05 PM8/3/17
to logical logical
obrigado, João Marcos, pelos comentários.

minha observação crítica foi em relação ao texto dos resenhistas e não da obra de Suits e Stone.

eu não conheço a cigarra filosófica, não.

você indica?

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Márcio Palmares

unread,
Aug 3, 2017, 4:01:04 PM8/3/17
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Uma curiosidade: em seu livro "A Escalada do Homem" Jacob Bronowski diz que von Neumann não considerava o xadrez como um jogo. De acordo com Bronowski, von Neumann afirmava que o xadrez seria uma espécie de "técnica de computação": para cada posição no tabuleiro, existe uma única solução que é a melhor possível, encontrá-la é um problema meramente computacional. Sendo assim, não é um jogo. Um jogo seria algo como o poker, por exemplo, onde há blefe, acaso, dúvida, etc.

(Desisti de tentar jogar xadrez bem depois de saber disso, haha...)

[]'s

M.

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Manuel Doria

unread,
Aug 3, 2017, 4:11:25 PM8/3/17
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Ainda não li o artigo.

Eu penso que se de fato existir uma propriedade individualmente necessária e *não-trivial* compartilhada pelo gamão, StarCraft, bilboquê e pôker, isso não irá ferir muito a tese de semelhança de família. No mínimo, foi difícil encontrar um set de propriedades individidualmente necessárias e conjuntamente suficientes para JOGO e isso não foi óbvio. Seu papel cognitivo pode não ser muito influente.

Um dos desdobramentos da tese de semelhança de família, em contraponto à visão definicionista ou clássica de conceitos, é que existem exemplos melhores ou piores para determinada categoria. Esses são os chamados prototype effects, que deram origem através de Eleanor Rosch a uma das teorias de conceitos em voga nas ciências cognitivas contemporâneas. Um sabiá para o ornitólogo folk é um excelente exemplo do conceito AVE, um Archaeopteryx vai ficar na berlinda. Existem várias representações geométricas propostas para protótipos.

[ ]'s

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Carlos Gonzalez

unread,
Aug 6, 2017, 3:49:42 PM8/6/17
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA, Carlos G González, Carlos González
1) Poderiam passar uma bibliografia introdutória para "semelhança de família"?

2) O que fala Wittgenstein sobre jogo e criança. São as crianças as que jogam. Chamamos também de jogo atividades de filhotes de mamíferos e aves.

3) Posso estar equivocado, mas eu vejo nesse tipo de discussões muito preconceito essencialista, falando no sentido epistêmico (desconsideremos o metafísico). Refiro-me a que a pergunta "o que é isto?" tem resposta, tem uma única resposta, etc. Falar "natureza dos jogos" é essencialista.

4) Até os anos 70 (eu acho + ou -), existia o preconceito de uma "estrutura natural" em qualquer base de dados. A pesquisa em agrupamentos de dados e reconhecimento de padrões mostrou a insustentabilidade desse preconceito. Nesta lista foi citado um artigo "clustering é impossível". Não existindo "padrões naturais", não faz sentido falar da "natureza dos jogos".

5) Definição por "gênero e diferença" é uma proposta ridícula, que nem Aristóteles posso aplicar na sua "História dos Animais". Se quiserem ver uma boa crítica à árvore de Porfírio, leiam "O idioma analítico de John Wilkins" de Borges.

6) A ciência que mais lutou com definições, a que mais problemas teve desde a antiguidade com a classificação, foi a biologia. Quando um agrupamento pode ser definido por um conjunto de propriedades que tem mais um grupo de propriedades que não tem (uma generalização do gênero+diferença) é muitas vezes chamado de "esférico" (pelo conceito topológico de "bola fechada"). Eu acho que na biologia tem pouquíssimas espécies com agrupamentos esféricos e eu encontrei um monte que não. Tem de ter cuidado entre o desiderato da classificação biológica e o que essa classificação consegue de fato. Por exemplo, Hempel enganou-se infantilmente pensando que a classificação que os biólogos conseguiam era aquela que queriam ---eu nem conseguia acreditar nisso! Para colocar um exemplo concreto: "o gênero capsicum é um pesadelo taxonómico" falou uma autoridade na área: rapaiz!, nem as pimentas você consegue classificar! Por que não tenta com o conceito de jogo :-)

7) Não tem nada a ver que um conceito seja útil, interessante, aplicável, fundamental para uma ciência, barato, lindo, amável, ecológico, etc., com ter definição ou com os problemas de ser definido.

8) Poderia ser interessante analisar porque está se usando uma concepção metafísica da linguagem ---a coitada da linguagem, "essa desconhecida" nas palavras de Julia Kristeva. E como estão presentes mais de uma forma do "paradoxo da análise" (gostei do que fala Tomás Moro Simpson sobre o paradoxo da análise no seu livro, ele que se denominava um filósofo analítico). Mas é bastante trabalho. Eu acho que deveríamos baixar dessa linguagem metafísica para a linguagem como criação humana. Para citar Julia Kristeva: "as modificações linguísticas são modificações do estado do sujeito — da sua relação com o corpo, com os outros, com os objetos”. Mais Kristeva: "Pensees d'archivistes, d'archeologues ou de necrophiles que nos philosophies du langage, avatars de l'Idee, qui se fascinent devant les restes d'un fonctionnement entre autres discursif, et remplacent, par ce fetiche, ce qui l'a produit." (Julia Kristeva. La révolution du langage poétique, Vol. 48. Editions du Seuil, 1974.. p. 11). A discussão que faz Wittgenstein usando a sua concepção metafísica de linguagem tem muito de necrófila. O corpo da linguagem é um cadáver e a alma da linguagem é formal. "A possibilidade de propor definições úteis e informativas (ou ao menos condições suficientes e necessárias para a caracterização) do conceito de jogo", também é matar a linguagem e brincar de necrofilia com o cadáver: é querer analisar o jogo sem a psicologia nem a antropologia do homem que joga. E sem a sua história. Lembro de Tácito falando que os germânicos apostavam a sua liberdade jogando aos dados, virando escravos se perderem.

9) Se eu fui agressivo ou ofensivo, me desculpem. Extra iocum, não entendo muito bem a que vocês estão jogando.

Carlos 

P.S.: Os números são uma homenagem aos filósofos analíticos. Sim, sim, eu já fui associado a SADAF durante alguns anos.










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Marcos Silva

unread,
Aug 6, 2017, 6:38:15 PM8/6/17
to logical logical, Carlos G González, Carlos González
1) Poderiam passar uma bibliografia introdutória para "semelhança de família"?

Eu indico os livros do Andrew Lugg e do David Stern sobre as "investigações filosóficas" . Os pdfs são fáceis de encontrar na net.

esta entrada na sep também me parece ser uma introdução competente:

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Carlos Gonzalez

unread,
Aug 7, 2017, 12:22:21 AM8/7/17
to Marcos Silva, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA, Carlos G González, Carlos González
Obrigado, Marcos, pela referência bibliográfica.

Não gostaria que o meu e-mail anterior seja entendido num sentido repressivo nem de censura. Ao contrário, eu faço minhas as palavras de Rosza Péter:
"I love mathematics...principally because it is beautiful; because man has breathed his spirit of play into it, and because it has given him his greatest game the encompassing of the infinite."
E, apesar do pouco que eu brinquei, também achei que era o maior jogo que tinha conhecido.

Não sou, prima facie, inimigo de fórmulas de tamanho infinito, ou do comprimento do primeiro cardinal compacto, etc. Não acho que esses sejam estudos necrófilos em si mesmos.

Sim acho necrófila a concepção da linguagem de Frege, cujo caso extremo é "Der Gedanke". A noção de Bedeutung de Frege é necrófila e a partir de ai são contaminados muitos outros conceitos linguísticos e lógicos. O conceito de pensamento e Frege é metafísico. pois o pensamento existe ainda no caso de que ninguém o pensou. De maneira similar com a proposição, derivada dos "Satz in sich selbst" de Bernard Bolzano. 

Carlos



Carlos Gonzalez

unread,
Aug 8, 2017, 12:03:14 PM8/8/17
to Marcos Silva, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA, Carlos G González, Carlos González
Prezados Marcos e lista,

O que li até agora de Andrew Lugg e do David Stern não me serviu para nada e não gostei. Pareceu-me que "family ressemblance" é um conceito confuso e sem muito valor. Aqui não é o lugar para discutir isso.
"see a complicated network of similaties, overlapping and criss-crossing: sometimes overall sometimes similarities of detail"

Ia pedir mais biblio, mas tomei vergonha na cara, parei de ser folgado e fiz uma pesquizinha biblio.

É claro, a questão está relacionada a essencialismo. Pigliucci, Massimo por exemplo, relaciona a "family ressemblance" com uma forma de não essencialismo.
Muito mais interessante. é  trabalho de : Hull, David L             The effect of essentialism on taxonomy--two thousand years of stasis

Falam por ai que a vantagem de  Hull, David L. é que é um filósofo e um biólogo. Depois de ver os trabalhos de Hempel sobre classificação biológica dá realmente vontade de dizer que analise a pesquisa biológica que está acontecendo. Pena que não seja também computeiro.

O que eu não entendo é porque deixam de lado tantas coisas interessantes que temos aprendido com Data Custering e Pattern Recognition.

[autocensurado] "discussão wittgenstiana sobre jogo", "family ressemblance", etc. não seria melhor analisar como procedem os computeiros?

Para fazer um Data Cluster precisa:

1) Uma seleção de algumas propriedades
2) Um espaço de características, (uma entre várias estruturas matemáticas. Poderia ser até um espaço euclidiano, mais ou menos)
3) Um algoritmo.

Dado que o 3) é relevante, pois diferentes algoritmos podem gerar classificações diferentes, fica a interessante questão:

>>>>>>>>>>>>>
Por que uma seleção de propriedades e uma estrutura matemática não são suficientes para determinar uma classificação?
<<<<<<<<<<<<<

(Salva-me Porfírio)

Carlos

A biblio, por se alguém se interessar:


@article{hull1965effect_I,
  title={The effect of essentialism on taxonomy--two thousand years of stasis (I)},
  author={Hull, David L},
  journal={The British Journal for the Philosophy of Science},
  volume={15},
  number={60},
  pages={314--326},
  year={1965},
  publisher={JSTOR}
}

@article{hull1965effect_II,
  title={The effect of essentialism on taxonomy--two thousand years of stasis (II)},
  author={Hull, David L},
  journal={The British Journal for the Philosophy of Science},
  volume={16},
  number={61},
  pages={1--18},
  year={1965},
  publisher={JSTOR}
}

@article{Davi-1988,
doi = {10.1007/bf00140989},
title = {A mechanism and its metaphysics: An evolutionary account of the social and conceptual development of science},
author = {David L. Hull},
publisher = {Springer Netherlands},
journal = {Biology & Philosophy},
issnp = {0169-3867},
issne = {1572-8404},
year = {1988},
month = {04},
volume = {3},
issue = {2},
page = {123--155},
}

@article{Pau-1976,
doi = {10.1007/bf00158483},
title = {Book reviews},
author = {Paul Piccone; Diana Crane; Ian Roxborough; David L. Hull; J. M. Winter},
publisher = {Springer Netherlands},
journal = {Theory and Society},
issnp = {0304-2421},
issne = {1573-7853},
year = {1976},
month = {21},
volume = {3},
issue = {1},
page = {135--152},
}

@article{Davi-1990,
doi = {10.1007/bf00370978},
title = {Conceptual selection},
author = {David L. Hull},
publisher = {Springer Netherlands},
journal = {Philosophical Studies},
issnp = {0031-8116},
issne = {1573-0883},
year = {1990},
month = {09-10},
volume = {60},
issue = {1-2},
page = {77--87},
}

@article{Davi-1969,
doi = {10.1007/bf00413784},
title = {What philosophy of biology is not},
author = {David L. Hull},
publisher = {Springer Netherlands},
journal = {Synthese},
issnp = {0039-7857},
issne = {1573-0964},
year = {1969},
month = {08},
volume = {20},
issue = {2},
page = {157--184},
}

@article{Davi-1994,
doi = {10.1007/bf00849918},
title = {Review article},
author = {David L. Hull},
publisher = {Springer Netherlands},
journal = {Biology & Philosophy},
issnp = {0169-3867},
issne = {1572-8404},
year = {1994},
month = {01},
volume = {9},
issue = {1},
page = {105--112},
}

@article{Howar-2008,
doi = {10.1007/s00191-008-0110-z},
title = {In defence of generalized Darwinism},
author = {Howard E. Aldrich; Geoffrey M. Hodgson; David L. Hull; Thorbjørn Knudsen; Joel Mokyr; Viktor J. Vanberg},
publisher = {Springer-Verlag},
journal = {Journal of Evolutionary Economics},
issnp = {0936-9937},
issne = {1432-1386},
year = {2008},
month = {10},
volume = {18},
issue = {5},
page = {577--596},
}

@article{DAVI-2005,
doi = {10.1007/s10739-004-6514-1},
title = {Deconstructing Darwin: Evolutionary Theory in Context},
author = {DAVID L. HULL},
publisher = {Springer Netherlands},
journal = {Journal of the History of Biology},
issnp = {0022-5010},
issne = {1573-0387},
year = {2005},
volume = {38},
issue = {1},
page = {137--152},
}

@article{pigliucci2003species,
  title={Species as family resemblance concepts: The (dis-) solution of the species problem?},
  author={Pigliucci, Massimo},
  journal={BioEssays},
  volume={25},
  number={6},
  pages={596--602},
  year={2003},
  publisher={Wiley Online Library}
}








2017-08-06 19:38 GMT-03:00 Marcos Silva <marcos...@gmail.com>:

Marcos Silva

unread,
Aug 8, 2017, 6:01:39 PM8/8/17
to Carlos Gonzalez, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA, Carlos González
caro carlos,

obrigado pela sua interessante mensagem.

lamento que os livros que eu indiquei não foram do seu agrado. 

eles não são obras, digamos, para converter não-convertidos, mas para algo bem mais modesto: introduzir um livro muito influente da historia da filosofia recente. eu pensei que este era o objetivo da sua mensagem anterior. acho que estava enganado.

eu falo em conversão propositalmente. 

acho que muito da nossa dificuldade com estes tópicos controversos como o de  "semelhança de família" e "jogos de linguagem" não está na defesa ou  conflito entre ideias ou teses filosóficas,  mas no choque mesmo entre tradições filosóficas. Alguns autores em filosofia não estão só defendendo teses, mas informando uma nova tradição. E isto é processo longo e complicado. acho que wittgenstein estava tentando fazer isto do jeito elusivo dele.

++++

neste front do conflito entre tradições filosóficas, como a fregeana e a wittgensteniana, e em tentativas de convencimento/quase conversão entre recalcitrantes contumazes, eu indico os trabalhos do mattieu marion, jaroslav peregrin, hans glock e robert brandom.

eu não sou competente suficiente para trabalhar no front de discussão entre tradições, mas admiro muito quem consegue, e tento consumir a obra deles com curiosidade e open mindeness. 

minhas contribuições, se alguma, são bem restritas.

abraços,
marcos



Carlos Gonzalez

unread,
Aug 9, 2017, 12:04:00 AM8/9/17
to Marcos Silva, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA, Carlos G González, Carlos González
Prezado Marcos,

No ambiente acadêmico atual, incluindo o filosófico, em um ou outra medida, somos torcedores fanáticos, hooligans intelectuais de alguma gangue de pesquisadores, até eu que sou um iconoclasta. Por exemplo, se alguém apresenta um projeto de pesquisa apoia a relevância da sua pesquisa na importância do filósofo ou temas que estuda e ai começa tudo. Se alguém criticar o filósofo X, os Xsanos e os Xsistas vão se sentir muito ofendidos. Dizer X nunca me pareceu interessante é equivalente a xingar a Xsanos e Xsistas.

Poderíamos dizer "não são de seu agrado", mas isso não tem a menor importância. É claro, deveria fazer uma crítica fundamentada para algo que não despertou em mim o mais mínimo interesse. Isso é quase que impossível porque muitas outras coisas despertam o meu interesse. Eu fiz uma coisa simples: procurei "family ressemblance" no índice e li umas poucas páginas que comentava. Encontrei uma estreiteza de pensamento indigna de um filósofo.

Pensei sobre o texto de W.: "claramente, pode implicar uma posição que tenderia ao anti-essencialismo". Nada disso aparece nos autores recomendados, mas sim em artigos que eu coloquei na bibliografia  de outro e-mail, sobre tudo "Species as family resemblance concepts ... " (outra que "jogo": as espécies no sentido biológico como family ressemblances). São necrófilos (adorei a expressão da Kristeva) porque se preocupam pelo que verdadeiramente quis dizer W. e não pelo que ele fala para nós no desenvolvimento histórico da filosofia. Borges disse que os comentadores fazem com que um pensador tinha falado mais do que falou e cada vez mais e mais. Para mim W. fala "estou desconfiando do essencialismo", para esses comentadores a letra está morta e não fala nada para ninguém, falar que poderia ser um sacrilégio por se afastar do mestre. Esses comentadores tão minuciosos que tem implícito um "cala a boca, o que você sabe do X? Eu conheço cada letra "a" que o X escreveu!". 

Como historiador da ciência que gastou horas com as fontes originais (obrigado archive.org), dizer que esse conceito de "family ressemblances" é confuso e mal determinado, não tem muito valor, etc., não é um sacrilégio contra W., mas aceitar como acontece o desenvolvimento histórico das ideias. A forma fantasiosa de pensar a história da filosofia que ainda está bastante em boga, foi criticada implicitamente a partir de 1960 quando a história da ciência muda de "Lavoisier descobriu  o conceito de elemento químico" pelo longo percurso de desenvolvimento conceitual de "elemento" desde Lavoisier até os conceitos próprios de cada teoria física ou química atual. O artigo citado acima trabalha no sentido atual, os livros que você indicou trabalham da maneira de fazer história da ciência em 1920. Seguramente, eles "esclarecem W.", etc., mas isso por si só não representa grande coisa. Sem ofensa: eu nunca encontrei o pensamento de W. muito interessante, mas com livros como os que você recomendou, muito a ver com a metáfora de "religiosos", menos ainda. Mas com os artigo citados por mim que encontrei na pesquisa biblio relâmpago, vi a coisa de uma outra maneira como se W. não estivesse muito contente com o essencialismo e a ontologia aristotélica, ao contrário do que parece com os comentadores citados. E esse descontento poderia ser o início de uma crítica e uma nova maneira de pensar alguns conceitos fundamentais, mas nada disso aconteceu historicamente. Com o pouco e nada que conheço a W., ficava com a impressão de que ele era um dos filósofos do século XX que incidiram no "mal caminho", mas com a brevíssima leitura que fiz fiquei mais pensando se a culpa do "mal caminho" não era mais dos wittgenstianos que de W., aquela interpretação super positivista de W., (os primeiros wittgenstianos, etc.). Sobre tudo quando são colocadas diferentes interpretações com em:
BANGU, SORIN. "Later Wittgenstein on Essentialism, Family Resemblance and Philosophical Method1." Metaphysica (2005): 53.

Com relação a "introduzir um livro muito influente da historia da filosofia recente", eu agradeço, porque me esclarece como são as influenças, quero dizer, as influências (Freud explica) na "história da filosofia recente'. Recomendar a um filósofo um livro que não goste e que não seja do seu agrado pode ser uma boa coisa. Acho que você não estava enganado, pois eu pedi "introdutório" num sentido similar. Você estaria enganado se eu tivesse falado: "recomenda ... que eu goste". Mas eu não queria isso.

Com relação a:

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acho que muito da nossa dificuldade com estes tópicos controversos como o de  "semelhança de família" e "jogos de linguagem" não está na defesa ou  conflito entre ideias ou teses filosóficas,  mas no choque mesmo entre tradições filosóficas. Alguns autores em filosofia não estão só defendendo teses, mas informando uma nova tradição. E isto é processo longo e complicado. acho que wittgenstein estava tentando fazer isto do jeito elusivo dele
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Talvez nesse sentido também a história da filosofia esteja atrasada com relação à história da ciência. Você escreveu alguma coisa sobre isso? Eu vou dar uma olhada nos autores citados por você, que não conheço.

Carlos
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