[OF TOPIC] Universidades brasileiras reféns do Google

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Walter Carnielli

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May 22, 2022, 10:54:10 PM5/22/22
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
The Intercept Brasil

*_Quanto custa o gratuito?_*
Sábado, 21 de maio de 2022 - The Intercept Brasil

*Como universidades brasileiras se tornaram reféns do Google.*
Daqui a dois meses, milhares e milhares de arquivos de universidades brasileiras podem correr risco. O Google passará a limitar o armazenamento do Google Workspace for Education, pacote de programas fornecidos gratuitamente a universidades e escolas, a partir de julho deste ano. 

O pacote educacional do Google, propagandeado pela empresa como 
"super seguro e de graça", reúne Gmail, Meet, Drive, aplicativo de planilhas e outras ferramentas. Era oferecido a instituições de ensino no Brasil de forma agressiva desde 2014, apresentado como uma alternativa altamente tecnológica, simples e, sobretudo, ilimitada.

Várias universidades sucumbiram ao canto da sereia e adotaram com entusiasmo as ferramentas da gigante do Vale do Silício. Tecnologia gratuita, confiável, que poderia ser adotada sem licitação, modernizando as instituições. Parecia bom demais. 

O Google garantia que seu pacote faria as universidades economizarem com tecnologia da informação. A USP chegou a anunciar uma economia de R$ 6 milhões ao ano.  Na Universidade Federal de São João Del Rei, a adoção do pacote do Google foi saudada como uma "nova etapa". Na Universidade Estadual do Pará, como uma "inovação".

Mas a lua-de-mel acabou. 

Em fevereiro do ano passado, o Google decidiu que o armazenamento "ilimitado" passaria a ter limites. A partir de julho, as instituições terão direito a apenas 100 TB de armazenamento, cada. Parece muito para nós, usuários individuais, mas estamos falando de muitos anos de produção acadêmica e de uma quantidade monumental de documentos, vídeos, PDFs, e-mails, planilhas, apresentações, teses, dissertações, livros digitais, arquivos de pesquisas etc. Qual a solução? Se uma universidade precisar de mais espaço, vai precisar comprar – e do Google, se quiser manter as ferramentas atualmente em uso. 

Só na Universidade Federal de Juiz de Fora, a UFJF, por exemplo, a comunidade universitária usa 700 TB de dados – sim, sete vezes mais do que o Google vai oferecer gratuitamente. Então, o professor Paulo Vilela, do departamento de engenharia da universidade, resolveu recorrer ao Procon contra a empresa. 

"Vários usuários, se quiserem manter o que já têm armazenado no Google, terão que pagar pelo uso do armazenamento adicional", ele explicou ao Intercept. O professor também diz que a empresa entrou nas universidades sem licitação porque oferecia um serviço gratuito. Agora que passará a cobrar, será preciso submeter o fornecimento das tecnologias à licitação pública. E isso, com toda a demora, pode prejudicar o funcionamento das universidades.

Nós lemos a resposta do Google ao Procon de Juiz de Fora. Ela é puro suco de cinismo corporativo: a empresa diz que, por exemplo, as instituições concordaram com os termos de uso do produto, que preveem “atualizações comercialmente viáveis nos serviços periodicamente” mediante informação prévia ao usuário. Também diz que o contrato "estipulou a possibilidade de a Google descontinuar qualquer serviço do produto ou funcionalidade relevante associada a ele", desde que comunicados com 12 meses de antecedência. 

Segundo a manifestação de seis advogados da empresa, "o Google também não contrariou sua oferta inicial, pois, enquanto o contrato previa a utilização do produto de forma gratuita e ilimitada, nada foi exigido dos usuários do Workspace. E a comunicação prévia sobre a alteração do produto, em especial quanto ao armazenamento, permite ao usuário refletir sobre suas necessidades para uma eventual contratação de espaço extra, ou mesmo para migrar para outra plataforma, se assim preferir".
De fato, no contrato com a USP, por exemplo, o Google diz que "poderá fazer alterações comercialmente razoáveis nos serviços de tempos em tempos. Se houver alterações materiais, a Google informará a USP, desde que a USP tenha se cadastrado para ser informada pela Google sobre tais alterações". 

Se é verdade que os caudalosos termos de serviço traziam as más notícias, também é fato que o Google não mencionou o assunto quando fez alarde sobre suas "boas ações". As universidades acreditaram na boa intenção da big tech e agora pagam um preço por isso. 

Como apontaram os pesquisadores Henrique Parra, Leonardo Cruz, Tel Amiel e Jorge Machado num artigo de 2018, a promessa do Google se cumpriu: as universidades deixaram de gastar com as ferramentas, mas também deixaram de investir em tecnologia. Por isso, se tornaram dependentes da gigante americana. 

No artigo, os pesquisadores elencaram vários problemas na adoção das tecnologias do Google: falta de soberania tecnológica, coleta indiscriminada de informações e possível uso dos dados para publicidade, algo que a empresa jura não fazer, apesar de constituir a base de seu modelo de negócios. Eles também previram o problema que surge agora, afirmando que os convênios não eram claros sobre o prazo de vigência da oferta gratuita. "Afirma-se que os serviços da Google são oferecidos gratuitamente para as universidades. Mas quanto vale o gratuito?", questionaram. 

Agora, já sabemos a resposta.

Tatiana Dias
Editora Sênior

Paulo Victor Ribeiro
Repórter

Juan F. Meleiro

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May 23, 2022, 1:52:57 AM5/23/22
to Walter Carnielli, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Olá Walter,

Obrigado por compartilhar o texto! É bom ser informado logo do colapso
iminente da infraestrutura digital da universidade que habito, e digo
isso honestamente.

Olá colegas,

Felizmente, posso dizer que não serei pessoalmente afetado por qualquer
eventual consequência dessa mudança, já que desde a transição da USP ao
uso de produtos da Google, me esforcei para usar essas plataformas
somente quando obrigado por normas internas. Não posso dizer o mesmo de
muitos colegas, no entanto.

O fato é que esse tipo de manobra só não é mais manjado do que é
previsivel o fato de que instituições e pessoas continuam caindo nessas
armadilhas.

Não sei o quanto estou ensinando a missa ao padre, mas vale reiterar: é
por isso que o uso de software livre não é apenas uma questão monetária,
mas sim ética e estratégica. Eu estenderia isso mais além: não só é
imperativo que, se não todas as pessoas, pelo menos as instituições
públicas usem somente software livre, também é necessário buscar usar
apenas padrões livres de dados (não, nada de .xls) e tecnologias que
sigam padrões públicos e bem estabelecidos! O momento em que os dados da
universidade estão numa base de dados de formato proprietário é o
momento em que ela perde a capacidade de migra-lo facilmente, e portanto
perde sua autonomia – e a constituição que se cale.

Rogo aos excelentíssimos professores que leem e se põe de acordo, não
obstante possivelmente já o terem feito, que se oponham ruidosamente à
adoção oficial de padrões proprietários na tecnologia de informação de
seus respectivos institutos.

Precisamos preservar a ciência.

Walter Carnielli [2022-05-22 19:53]:
> The Intercept Brasil
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> QUANTO CUSTA O GRATUITO?
> Sábado, 21 de maio de 2022
>
--
Juan
“Join us now and share the software; You'll be free”

Julio Stern

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May 23, 2022, 7:46:02 AM5/23/22
to Walter Carnielli, Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Caro Walter e demais redistas: 
Meus dois pitacos: 

(1) Do lado do prestador do servico: 
Todo servico tem um Custo Marginal,  como US$ / Gb ano  
Servico eterno e ilimitado com custo marginal Zero eh um contrasenso. 
Ademais, quem Nada paga, Nada pode legalmente demandar. 
(ou pode muito pouco, na condicao de mendigo habitual frustrado)  
Isto eh, o prestador do servico tem pouquissima responsabilidade legal.  
  
(2) Do lado do usuarios do servico: 
Um recurso gratuito, ilimitado e eterno eh um convite  ao abuso! 
> Quando vemos recursos naturais, como agua ou oxigenio, 
desta forma (eterna e infinitamente disponiveis a custo zero ) 
provocamos desastres ecologicos monumentais...   

Resumo: 
> Quando a esmola eh muita, o santo desconfia (ou deveria). 

Alerta: 
> Criar e manter internamente a estrutura de hardware e 
software para manter estes servicos esta alem da capacidade 
da grande maioria das universidades (no Brasil ou no mundo). 
> Terceirizar o servico a custo real teria (ou tera) um impacto 
importante no orcamento da maioria das universidades.   
   
Tudo de bom,  ---Julio Stern 



From: logi...@dimap.ufrn.br <logi...@dimap.ufrn.br> on behalf of Walter Carnielli <walt...@unicamp.br>
Sent: Sunday, May 22, 2022 10:53 PM
To: Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA <logi...@dimap.ufrn.br>
Subject: [Logica-l] [OF TOPIC] Universidades brasileiras reféns do Google
 
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LOGICA-L
Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de Lógica <logi...@dimap.ufrn.br>
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jean-yves beziau

unread,
May 23, 2022, 11:40:12 AM5/23/22
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Deus criou uma quantidade ilimitada de números, mas se você quiser colocá-los todos em seu Google Drive você terá que pagar espaço extra ! (todavia há desconto para estudantes e aposentados).
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