lógica, pra quê?

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Joao Marcos

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Jul 4, 2017, 6:16:41 PM7/4/17
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
estudar filosofia ajuda a pensar melhor?
um curso em lógica (ou pensamento crítico) melhora o nosso raciocínio na vida?

“a investigação tem mostrado que é muito difícil melhorar o raciocínio
das pessoas, sendo a instrução em raciocínio lógico particularmente
difícil”
http://criticanarede.com/ens_penscritico.html
texto de Neven Sesardic, em tradução de Desiderio Murcho.
a versão em inglês foi publicada há poucos dias em:
http://quillette.com/2017/07/01/study-philosophy-improve-thinking-case-false-advertising/


JM

Giselle Reis

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Jul 5, 2017, 1:50:46 AM7/5/17
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Obrigada pelo artigo João!
Achei interessante que todas as universidades citadas pelo autor estão nos Estados Unidos... Dada a grande competitividade entre essas instituições, não me surpreende que os departamentos usem "fatos" de origem duvidosa pra atrair estudantes (e isso vale não só pra filosofia). A necessidade desesperadora de fazer propaganda, na minha opinião, compromete bastante a integridade de qualquer organização.

Não encontrei afirmações parecidas nos sites do departamento de filosofia de Oxford e Panthéon-Sorbonne, por exemplo. Seria interessante descobrir se boas universidades em outros lugares do mundo usam a mesma estratégia.

[]s
Giselle

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Gisele Secco

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Jul 5, 2017, 9:30:48 AM7/5/17
to logi...@dimap.ufrn.br
Prezados colegas, em especial João Marcos e Giselle

O texto em questão, embora seu contexto seja estadunidense, merece alguma atenção no Brasil pelo simples fato de que a filosofia corre, atualmente, o risco de não mais ser componente curricular obrigatório nas escolas de Ensino Médio (assim como muitas outras, vale dizer). No nosso contexto, quando então se intensifica a produção de argumentos em favor da presença da filosofia na fase média de ensino básico, não é rara uma modalidade de defesa calcada em pesquisas como as mencionadas no texto, louvando-se as capacidades de pensamento crítico supostamente desenvolvidas nas aulas de filosofia. Daí que o texto nos seja relevante, para compararmos com o que se diz por aqui.

(Digo "supostamente" porque nunca fica muito claro, nos eventos e textos em que o tema é discutido, o que se entende por pensamento crítico, nem se explicitam seus vínculos com a lógica stricto sensu - tampouco se oferecem exemplos de experiências didáticas de sucesso nesse sentido. Os livros didáticos selecionados pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) até o último edital possuem capítulos de lógica muito fracos, desconectados dos demais, e é bem sabido que a maioria dos professores de filosofia do Ensino Médio não tiveram boas aulas de lógica durante a graduação (o que gera insegurança para trabalha-la quando se tornam professores, um nefasto círculo de expectativas antimatemáticas entre postulantes a estudantes e futuros professores de filosofia) nem tampouco uma preparação para o trabalho didático com lógica em contextos de escola média e fundamental. Isso tudo sem contar boa parcela dos envolvidos com ensino de filosofia que simplesmente desprezam a lógica como instrumento de pensamento e filosofia.)

Há muito ainda por ser pesquisado em termos de didática da lógica entre nós, por isso me alegrou muito a notícia de que a nova diretoria da SBL está sensível ao tópico.

Um abraço,
Gisele

2017-07-05 2:50 GMT-03:00 Giselle Reis <gisel...@gmail.com>:
Obrigada pelo artigo João!
Achei interessante que todas as universidades citadas pelo autor estão nos Estados Unidos... Dada a grande competitividade entre essas instituições, não me surpreende que os departamentos usem "fatos" de origem duvidosa pra atrair estudantes (e isso vale não só pra filosofia). A necessidade desesperadora de fazer propaganda, na minha opinião, compromete bastante a integridade de qualquer organização.

Não encontrei afirmações parecidas nos sites do departamento de filosofia de Oxford e Panthéon-Sorbonne, por exemplo. Seria interessante descobrir se boas universidades em outros lugares do mundo usam a mesma estratégia.

[]s
Giselle
On Wed, Jul 5, 2017 at 12:16 AM Joao Marcos <boto...@gmail.com> wrote:
estudar filosofia ajuda a pensar melhor?
um curso em lógica (ou pensamento crítico) melhora o nosso raciocínio na vida?

“a investigação tem mostrado que é muito difícil melhorar o raciocínio
das pessoas, sendo a instrução em raciocínio lógico particularmente
difícil”
  http://criticanarede.com/ens_penscritico.html
texto de Neven Sesardic, em tradução de Desiderio Murcho.
a versão em inglês foi publicada há poucos dias em:
  http://quillette.com/2017/07/01/study-philosophy-improve-thinking-case-false-advertising/


JM

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--
Gisele Dalva Secco
UFRGS/Brasil

Joao Marcos

unread,
Jul 5, 2017, 10:56:32 AM7/5/17
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Prezada Gisele (S):

Fico contente em vê-la participando das discussões da LOGICA-L, e
aproveito para parabenizá-la pela organização do *IV Workshop de
Filosofia e Ensino*, semana passada:
https://wfeufrgs.wordpress.com/

> O texto em questão, embora seu contexto seja estadunidense, merece alguma
> atenção no Brasil pelo simples fato de que a filosofia corre, atualmente, o
> risco de não mais ser componente curricular obrigatório nas escolas de
> Ensino Médio (assim como muitas outras, vale dizer). No nosso contexto,
> quando então se intensifica a produção de argumentos em favor da presença da
> filosofia na fase média de ensino básico, não é rara uma modalidade de
> defesa calcada em pesquisas como as mencionadas no texto, louvando-se as
> capacidades de pensamento crítico supostamente desenvolvidas nas aulas de
> filosofia. Daí que o texto nos seja relevante, para compararmos com o que se
> diz por aqui.
>
> (Digo "supostamente" porque nunca fica muito claro, nos eventos e textos em
> que o tema é discutido, o que se entende por pensamento crítico, nem se
> explicitam seus vínculos com a lógica stricto sensu - tampouco se oferecem
> exemplos de experiências didáticas de sucesso nesse sentido. Os livros
> didáticos selecionados pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) até o
> último edital possuem capítulos de lógica muito fracos, desconectados dos
> demais, e é bem sabido que a maioria dos professores de filosofia do Ensino
> Médio não tiveram boas aulas de lógica durante a graduação (o que gera
> insegurança para trabalha-la quando se tornam professores, um nefasto
> círculo de expectativas antimatemáticas entre postulantes a estudantes e
> futuros professores de filosofia) nem tampouco uma preparação para o
> trabalho didático com lógica em contextos de escola média e fundamental.
> Isso tudo sem contar boa parcela dos envolvidos com ensino de filosofia que
> simplesmente desprezam a lógica como instrumento de pensamento e filosofia.)

O conteúdo do seu relato é realmente preocupante!

Com relação aos pontos de contato entre o conteúdo do texto que
circulei antes e a realidade brasileira, choca-me em particular
perceber a forma como a educação no Brasil é muitas vezes tratada de
uma forma puramente ideologizada --- mesmo por cientistas da área, e
pelos especialistas nacionais em teoria pedagógica. Recordo-me por
exemplo de uma reunião da qual participei há dois anos em um instituto
da minha universidade, na qual um colega de outra universidade
apresentou as inúmeras vantagens do problem-based learning (PBL), tal
como aplicado em um curso da área de TI de sua universidade, e todos
saíram da palestra maravilhados com tudo aquilo... Uma postura
minimamente crítica e científica permitiria contudo identificar ali
dois problemas. O primeiro era que na citada universidade não foi
feito nenhum esforço de *comparar* o resultado obtido através do PBL
com o resultado obtido em outras formas tradicionais de ensino. De
fato, *todas* as turmas daquele curso, lá, são submetidas ao PBL desde
o início! O segundo estava no fato de que no blog da Communications
of the ACM acabava de ser publicado um post que comentava que *não há
evidências* de que PBL, por mais bonito que pareça, realmente funciona
tão bem quanto desejaríamos:
http://cacm.acm.org/magazines/2015/2/182637-whats-the-best-way-to-teach-computer-science-to-beginners/fulltext
Noto que este post cita um artigo extremamente influente [1], cujos
autores comentam:
"Why do outstanding scientists who demand rigorous proof for
scientific assertions in their research continue to use and indeed
defend on the bias of intuition alone, teaching methods that are
not the most effective?"
Creio que isto vai ao encontro de algumas das preocupações do Sesardic.

A propósito, há um outro paper do Sesardic (com Rafael De Clercq) [2]
que comenta sobre a *disparidade de gênero* na área de Filosofia e
coloca em questão as alegadas evidências da hipótese segundo a qual
haveria algum tipo de *discriminação* contra as mulheres na área de
Filosofia.

[1] Why Minimal Guidance During Instruction Does Not Work: An Analysis
of the Failure of Constructivist, Discovery, Problem-Based,
Experiential, and Inquiry-Based Teaching
http://www.cogtech.usc.edu/publications/kirschner_Sweller_Clark.pdf

[2] Women in Philosophy: Problems with the Discrimination Hypothesis
https://www.nas.org/articles/women_in_philosophy_problems_with_the_discrimination_hypothesis

> Há muito ainda por ser pesquisado em termos de didática da lógica entre nós,
> por isso me alegrou muito a notícia de que a nova diretoria da SBL está
> sensível ao tópico.

Sem dúvida é saudável (é de se saudar) esta iniciativa da nova
Diretoria da SBL! Suponho que teremos mais notícias em breve sobre
estas coisas, de Cassiano e outros. A propósito, há dois anos
participei da organização do *Fourth International Congress on Tools
for Teaching Logic* (http://ttl2015.irisa.fr/), em Rennes. Há uma boa
chance de que o próximo evento da série ocorra no Brasil, em conjunto
com o próximo EBL.

Ah, vale notar que há nesta lista outros pesquisadores com bastante
envolvimento na área de Ensino (incluindo o uso de MOOCs). Seria
muito bom vê-los participando desta discussão, e das iniciativas
correlatas!

Abraços,
Joao Marcos

--
http://sequiturquodlibet.googlepages.com/

Manuel Doria

unread,
Jul 5, 2017, 11:24:09 AM7/5/17
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Em meu paper forthcoming sobre filosofia acadêmica e o politicamente correto, uma das teses que defendo é que a evidência empírica sugere que filósofos profissionais são capazes de facilmente deixar de lado standards de racionalidade visando objetividade e migrar para standards de racionalidade visando proteção de identidade grupal quando são confrontados com hipóteses que vão de encontro com elementos centrais de sua visão de mundo.

A situação em alguns casos é bem trágica. Por exemplo, nós esperamos que experts se dêem melhor do que não-experts em seu domínio de expertise mas existe evidência empírica [1] de que filósofos morais em média são mais  suscetíveis a serem contaminados por viéses espúrios do que não-filosófos morais em contextos decisórios morais. Fenômenos análogos costumam ocorrer pelas ciências sociais e humanidades como economia e história.

Eu recomendo fortemente também o último livro do Sesardic, "When Reason Goes On Holiday". Mostra como que algumas das mentes mais afiadas em lógica matemática do Século XX são capazes de deixar tudo de lado quando raciocinam sobre política.

[ ]'s

[1] Schwitzgebel, E.; Cushman, F. Philosophers’ biased judgments persist despite training, expertise and reflection. Cognition 2015, 141, 127–137. 

--
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Márlon Henrique Teixeira

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Jul 5, 2017, 1:12:46 PM7/5/17
to logi...@dimap.ufrn.br
Parece interessante seu artigo, Manuel.

quanto estiver disponível, não deixe de compartilhar. Eu gostaria de ler.

Abraços

Márlon

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Gisele Secco

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Jul 5, 2017, 2:39:04 PM7/5/17
to logi...@dimap.ufrn.br
Caro João Marcos

Obrigada pelas referências, lerei com calma assim que puder. Não sabia deste evento, também, será que ocorrerá em 2017? Sei que o do Academia Mexicana de Lógica ocorrerá em novembro, esta na vigésima edição: http://academiamexicanadelogica.org/Convocatoria-XX-EIDL-SIILA-2017

De fato, as discussões pedagógicas no Brasil são um tanto sofríveis, seu relato faz todo o sentido nesse contexto de muito Deleuze e pouco Piaget.

O Workshop de Filosofia e Ensino da UFRGS começou a acontecer em 2014 com uma singela edição cujo tema foi Sobre o ensino de lógica. Infelizmente não consegui organizar um e-book com os registros desta primeira edição, mas o da segunda (cuja temática foi Epistemologia e Currículo) está aqui, e tem dois textos sobre ensino de lógica, um de Frank Sautter: https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/156464

(Saliento que o público alvo do evento e do livro são professores de filosofia do ensino médio, na ativa e em formação, não especialistas em lógica.)

Até breve!

Saudações,
G.



2017-07-05 11:56 GMT-03:00 Joao Marcos <boto...@gmail.com>:
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Marcelo Finger

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Jul 5, 2017, 9:05:07 PM7/5/17
to logi...@dimap.ufrn.br
Caro JM, Gisele e demais

> na citada universidade não foi feito nenhum esforço de *comparar* o resultado
> obtido através do PBL com o resultado obtido em outras formas tradicionais de
> ensino.

Gostaria de apontar vocês para o trabalho do Paulo Blikstein, de
Stanford, no ensino de tecnologia, que MEDE e mostra que apresentar um
problema concreto ANTES de ensinar a teoria traz maior grau de fixação
dos conceitos apresentados. Ou seja, os alunos comprovadamente
"aprendem mais" se forem desafiados com a pensar no assunto antes de
receberem uma exposição teórica.

Isso, com a vantagem da retrovisão, é tão óbvio que me deixa perplexo
por que quase nenhum curso expositivo que eu dei (dava) ou assisti não
usa esse método.

[]s

Marcelo


2017-07-05 11:56 GMT-03:00 Joao Marcos <boto...@gmail.com>:
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> Visite este grupo em https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/group/logica-l/.
> Para ver esta discussão na web, acesse https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/CAO6j_Lh_uAC7cKA6kAEP6%3De%3Dr7UqzJ0kNX46ZGROaeM_4xzycA%40mail.gmail.com.



--
Marcelo Finger
Departament of Computer Science, IME
University of Sao Paulo
http://www.ime.usp.br/~mfinger

Carol Blasio

unread,
Jul 6, 2017, 3:25:52 AM7/6/17
to logi...@dimap.ufrn.br
Caros,

É mesmo deprimente que departamentos tão importantes ajam com essa
​ 
mauvaise foi. Como fiquei curiosa com a colocação de Giselle Reis, fiz
​ ​
uma pequena busca entre as universidades alemãs, para saber como elas
​ ​
se divulgam. Em geral, as universidades por aqui não criam muitas
​ ​
expectativas ao graduado em Filosofia além de ser professor escolar ou
​ ​
professor/pesquisador acadêmico. Vi também que algumas universidades,
​ ​
como a Universidade de Frankfurt, tem orgulho por sua tradição, e
outras, como a LMU, chamam atenção para a vocação acadêmica que o
​ ​
estudante de filosofia deve ter e cita um par de possibilidades
​ ​
profissionais (p.e. parecerista de uma agência de fomento, editor),
mas também fornece algumas “amostras” de textos filosóficos para
​ ​
motivar (ou desmotivar de vez) os aspirantes — entre estes textos está
​ ​
o  "Über Sinn und Bedeutung”, de Frege. Acho que essa frase aqui
​ ​
resume a (des)pretensão: “Das Philosophiestudium ist im Idealfall (wie
​ ​
übrigens auch jedes andere geisteswissenschaftliche Studium) immer ein
​ ​
Selbstzweck
” (O estudo de filosofia —bem como de qualquer outro estudo
​ ​
de ciências humanas — é idealmente sempre um fim em si mesmo).
(fonte:http://www.philosophie.uni-muenchen.de/studium/das_fach/und_dann/index.html)
​. ​
É bom acrescentar que as universidades são gratuitas na Alemanha.

Achei, no entanto, uma lista interessante na Universidade de
​ ​
Innsbruck, na Áustria. Entre o ensino de história e sistemas
​ ​
filosóficos, a universidade também se propõe desenvolver as
competências de seus alunos em:
- pensar analiticamente e ser capaz de compreender os textos
- ser capaz de analisar criticamente estrutura argumentativas
- ser capaz de desenvolver criativamente seus próprios argumentos
- ser capaz de desenvolver novos campos de estudos de forma independente
- ser capaz de apresentar questões complexas
- aprender a questionar e não se contentar facilmente com as soluções
​ ​
apresentadas
(fonte:https://www.uibk.ac.at/philtheol/information/warum-philosophie-studieren.html)
A lista é geral, mas não promete um futuro de dinheiro e fama aos egressos…
​ ​
t​
ambém nada garante que a faculdade tem sido bem sucedida em cumprir o
​ ​
que está listado.

Voltando para o Brasil, e mais especificamente ao ensino de lógica,
​ ​
acho que o mais grave de nossa situação atual foi colocado por Gisele
​ ​
Secco. O desprezo pela lógica como parte da filosofia é visível e a má
​ ​
formação de professores de filosofia alimenta esse desprezo gerando um
​ ​
ciclo. Creio que um grupo de trabalho apoiado pela SBL pode ser efetivo na mudança dessa situação tanto no ensino médio como nas
​ ​
graduações. Me parece ser uma condição necessária, mas não suficiente,
​ ​
desenvolver bons materiais didáticos para o ensino de Lógica (e existem!). Mas, uma das alternativas
para a melhoria do ensino, acredito, seria buscar o melhor relacionamento do ensino de
lógica com as outras disciplinas
​ ​
--
​ ​
disciplinas
​ ​
de filosofia,
​ ​
no caso das graduações,
​ ​
e
​ ​
disciplinas
​ ​
do currículo nacional,
​ ​
no caso do EM).
​ ​
Existiriam
​ ​
já alguma(s) proposta(s) em relação a isso? O desafio
​ ​
seria
​ ​
suficientemente grande se ainda não fosse o fato de que poucos estão
​ ​
motivados a serem professores
​ 
de ensino médio
​ ​
n
​a​
 situação atual do
​ ​
país.

Abraços
​,
Carol Blasio

> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para logica-l+unsubscribe@dimap.ufrn.br.
--
 Marcelo Finger
 Departament of Computer Science, IME
 University of Sao Paulo
 http://www.ime.usp.br/~mfinger
--
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--
Carolina Blasio
PhD student in Philosophy
State University of Campinas (Unicamp)
"Most if not all choices in life are not binary"
M. Dunn, 2010. Too much of a good thing.

Ricardo Pereira

unread,
Jul 6, 2017, 7:25:27 AM7/6/17
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
Ultimamente venho me convencendo da importância dos viéses cognitivos e das paixões (os desejos e ideais com que estamos comprometidos a priori) para as discussões, principalmente políticas.

Há um livro voltado para filosofia da educação, de John Wilson, com insights interessantes aplicáveis de maneira geral: Fantasy and Common Sense in Education.

Uma das coisas que o autor observa frequentemente (não sei se no livro acima citado) é que as pessoas são "capturadas" por uma espécie de modo de defesa de princípios ANTES de iniciarem o processo racional que normalmente conseguem empregar em outros contextos menos carregados emocionalmente.

Talvez tenha a ver com o dizer de Hume sobre a razão ser (e dever ser) escrava das paixões. Se não às serve, é descartada.

Há um podcast de que gosto muito e que tem uma abordagem mais psicológica: o You Are Not So Smart. Em vários episódios são abordados viéses cognitivos cujo conhecimento acho relevante pra qualquer cientista/filósofo.

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[]'s ...and justice for all.

Ricardo Gentil de Araújo Pereira

Manuel Doria

unread,
Jul 6, 2017, 7:46:16 AM7/6/17
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
A literatura de viéses (biases) cognitivos é fantástica. Há várias taxonomias propostas inclusive por não-acadêmicos diletantes que são altamente engajados em várias comunidades online dedicadas à racionalidade, pensamento crítico e auto-aprimoramento em geral (o Less Wrong (http://lesswrong.com/) é o maior desses hubs)

Gosto bastante dessa gigantesca representação gráfica de centenas de viéses cognitivos:
http://www.ericgarland.co/2016/09/15/master-map-cognitive-bias/

Eu defendo que cursos de critical thinking/lógica informal contemporâneos se beneficiam sinergisticamente de suplementação com esse tipo de material, oriundo da psicologia cognitiva e teoria da decisão.

Existe entretanto mais um fenômeno bastante trágico sobre o prognóstico de estudar viéses cognitivos; você pode se tornar muito eficiente em identificar os viéses de terceiros ao mesmo tempo que permanecer cego em relação aos seus ("todo mundo é enviesado, menos eu que estudei sobre viéses cognitivos")

http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0146167202286008

Estou tentando achar um paper que pelo que me lembro, foi testado especificamente com estudantes de psicologia cognitiva que conhecem bem o material de biases.

[ ]'s


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[]'s ...and justice for all.

Ricardo Gentil de Araújo Pereira

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Hermógenes Oliveira

unread,
Jul 6, 2017, 9:48:04 AM7/6/17
to logi...@dimap.ufrn.br
Joao Marcos <boto...@gmail.com> escreveu:

>
> [...]
>
> A propósito, há um outro paper do Sesardic (com Rafael De Clercq)
> [2] que comenta sobre a *disparidade de gênero* na área de Filosofia
> e coloca em questão as alegadas evidências da hipótese segundo a
> qual haveria algum tipo de *discriminação* contra as mulheres na
> área de Filosofia.
>
> [...]
>
> [2] Women in Philosophy: Problems with the Discrimination Hypothesis
> https://www.nas.org/articles/women_in_philosophy_problems_with_the_discrimination_hypothesis

Obrigado pela referência João Marcos. Esse artigo é um ótimo
exercício em sofismas!

Ele não sobrevive aos próprios padrões que pretende aplicar aos
trabalhos que critica e emprega os clássicos _falácia do espantalho_,
_apelo à ignorância_, _falsa dicotomia_ e _petição de princípio_.

Isto se revela a qualquer um que esteja familiarizado com a literatura
citada pelo próprio artigo, mas vou fazer um breve apanhado como
aperitivo.

a) Alguns pontos do artigo argumentam contra espantalhos de Haslanger,
Saul e Beebee. Por exemplo, Haslanger realmente escreve que "the data
mostly speak for themselves". Essa citação é tirada fora de contexto
para sugerir que Haslanger faz um salto ilegítimo da "disparidade de
gênero" para "discriminação". Quando se lê o texto de Haslanger,
porém:

1. Está claro que ela toma os dados como evidência da *disparidade de
gênero*, o que, de fato, *pode* ser concluído dos dados a despeito da
afirmação de Sesardic de que "the data don’t speak for themselves at
all. Without additional information, it is impossible to draw *any*
conclusion".

2. Haslanger então prossegue a *problematizar os dados* e sugere
explicações para a disparidade, *uma* das quais é a discriminação
("outright discrimination"). Outras explicações incluem "Gender Bias"
e "Stereotype Threat", coisas que Sesardic, aparentemente, joga tudo
no mesmo saco. Mas, mesmo aqui, Haslanger concede que "Based on the
limited data I’ve gathered (for example, I don’t have data on
submission), I cannot argue that evaluation bias *is* playing a role
in publication in philosophy." (ênfase dela)

3. Diferente do que sugere Sesardic, Haslanger está discutindo a
disparidade de gênero em *publicações* e não em comitês de
contratação. A tabela citada por Sesardic relacionando o número de
mulheres nos programas de pós-graduação americanos é usado por
Haslanger somente para constrastar o número de mulheres ativas em
áreas da filosofia com o números de publicações por mulheres nas
mesmas áreas.

4. Em nehum dos trabalhos citados no artigo de Sedardic, Haslanger
sugere "a prima facie case for anti-woman hiring bias" ou recomenda
cotas ou quaisquer outras medidas de reparação do mesmo.

b) Sesardic oferece duas possíveis alternativas que explicariam a
disparidade de gênero, mas que seriam livres da hipótese de
discriminação: "gender differences in abilities" e "gender differences
in interests". A segunda delas *não* está livre da hipótese de
discriminação, pois, como o próprio Sesardic explica mais adiante, um
ambiente de discriminação pode levar mulheres a desenvolver menos
interesse por filosofia. A primeira delas, além de ser completamente
ridícula, possui muito menos evidência em seu favor do que a hipótese
criticada por Sesardic.

c) Ao mesmo tempo que exige alta robustez estatística de estudos que
apontem a presença de discriminação, Sesardic cita trabalhos baseados
em "estimativas", como o de Andrew Irvine.

d) Os estudos canadenses mencionados como evidência de que mulheres
não seriam discriminadas ou seriam até mesmo favorecidas em
contratações foram realizados num período em que universidades
canadenses implantaram fortes medidas, incluside envolvendo cotas,
favorecendo a contratação de mulheres. A despeito da paridade
relativa em contratações recentes, em termos absolutos, a disparidade
é enorme (veja relatório sobre a Universidade de Western Ontario
citado por Sesardic).

e) Quando se trata de discutir "Bias" em pesquisa, Sesardic cita
estudos da área de medicina, onde a disparidade de gênero é bem menor.

f) Mesmo aqui, Sesardic cita o estudo de Sandström & Hällsten como
contraposto ao estudo anterior de Wennerås & Wold quando, na verdade,
o estudo de Sandström & Hällsten pertende mostrar como medidas
adotadas pelo governo Sueco ajudaram a amenizar os problemas relatados
por Wennerås & Wold (tanto na questão de gênero quanto na questão do
nepostismo).

Enfim, as falácias e deturpações são numerosas. Quando terminei de
ler o artigo, fiquei me perguntando se não se tratava de uma piada...


--
Hermógenes Oliveira

Joao Marcos

unread,
Jul 6, 2017, 10:04:46 AM7/6/17
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
2017-07-06 3:04 GMT+02:00 Marcelo Finger <mfi...@ime.usp.br>:
>
> Gostaria de apontar vocês para o trabalho do Paulo Blikstein, de
> Stanford, no ensino de tecnologia, que MEDE e mostra que apresentar um
> problema concreto ANTES de ensinar a teoria traz maior grau de fixação
> dos conceitos apresentados. Ou seja, os alunos comprovadamente
> "aprendem mais" se forem desafiados com a pensar no assunto antes de
> receberem uma exposição teórica.
>
> Isso, com a vantagem da retrovisão, é tão óbvio que me deixa perplexo
> por que quase nenhum curso expositivo que eu dei (dava) ou assisti não
> usa esse método.

Registro aqui a interessante referência citada pelo Marcelo:

Blikstein, P. (2013). Multimodal learning analytics. In Proceedings of
the Third International Conference on Learning Analytics and Knowledge
(LAK '13), Dan Suthers and Katrien Verbert (Eds.). ACM, New York, NY,
USA, 102-106.
https://tltl.stanford.edu/publications/papers-or-book-chapters/multimodal-learning-analytics

JM

Adolfo Neto

unread,
Jul 6, 2017, 2:46:23 PM7/6/17
to Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de LOGICA
O trabalho do Blikstein não seria este (talvez também)?
Preparing for Future Learning with a Tangible User Interface: The Case of Neuroscience

Gosto muito deste livro que acho estar relacionado à discussão do ensino de lógica:
Teaching and Learning STEM: A Practical Guide (Inglês) Capa dura – 6 mar 2016
por Richard M. Felder (Autor), Rebecca Brent (Autor)

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Adolfo Neto
Assistant Professor - Federal University of Technology, Paraná
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Mestrado em Computação Aplicada: http://www.ppgca.ct.utfpr.edu.br
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