Engenharia, Matematica, Ciencia, e a McKinsey
Wundergeist
Ha uns dias fui lanchar com um DCS (manda-chuva local) da McKinsey por
motivos que nao tinham nada a ver com emprego; durante a conversa um
dos topicos que veio 'a baila foi o facto de a McK recrutar pessoas
com formacao de Ciencias ou de Engenharia. Se a McK e' uma empresa de
consultoria estrategia, porque nao se fica pelos licenciados em gestao
e quando muito areas marginalmente envolvidas com gestao? Porque^
fisicos, matematicos, engenheiros mecanicos?
Bom, diz o tipo, o que a McK faz e' muito parecido com a ciencia:
trabalhamos com base em hipoteses e vamos procurar dados para as
suportar. E precisamos de pessoas que saibam trabalhar com matematica.
Ou seja, queremos pessoas que saibam pensar e manipular dados sem
criar resultados inconsistentes.
Achei que nao seria muito politico fazer notar ao DCS que no metodo
cientifico se procuram dados para *invalidar* hipoteses, nao para as
confirmar, por isso nao disse nada. Mas de resto isto lembra-me a
filosofia que me foi explicada na primeira aula de Analise Real que
tive aqui: a ideia nao e' tanto compreender os resultados substantivos,
mas desenvolver metodos de prova de teoremas. Qualquer pessoa pode
regurgitar os quatro quadrantes da matriz BCG (ou as nove celulas da
matriz GE-McK :-), mas pouca gente percebe realmente o que esta' por
tras das ditas, e como procurar a informacao necessaria para determinar
se essas matrizes estao a ser bem ou mal aplicadas.
Ou seja, a materia e' secundaria, o raciocinio e' principal. E por
raciocinio, entenda-se, falamos de logica (evitem-se falacias), de
estatistica (processar dados) e de uma propensao para problem-solving
(em Ingles porque a ideia nao tem um equivalente preciso em Portugues).
O que e' singularmente curioso e' que estas competencias sao ocasional-
mente consideradas "irrelevantes na nova economia", "dadas so' para
fazer perguntas em exames", ou mesmo "velhas" (todas as frases entre
aspas sao citacoes de mensagens enviadas para listas de divulgacao de
e-mail subscritas por alunos de engenharia). Fala-se antes em formacao
social, em competencias "soft", e quejandos. Como em outros fora,
alias (fora e' o plural correcto de forum :-).
O que e' curioso, porque as tais competencias soft, que sao muito
importantes, nao estao no topo da lista da McK (e suponho que de
muitas outras); e' que essas competencias adquirem-se facilmente
on-the-job (ou entao vai-se para a rua em tres tempos..), mas a
McK nao tem competencias de ensino de matematica, logica formal,
ou mesmo raciocinio estruturado. Mas depende da capacidade dos seus
associados para fazer o tal raciocinio estruturado e o processamento
de dados.
Algo em que pensar quando se ouve falar em aumentar a presenca de
competencias "soft" nos curricula universitarios de ciencias e
engenharia...
WG
Aquiles Pinto
conhecimentos de várias outras áreas, nomeadamente, senão mesmo
principalmente de engenharia. Em Portugal a Mck está a fazer recrutamentos
que incluem jovens da Licenciatura do Técnico em Engenharia e Gestão,
procurando concentrar competências. Não vejo qual é o problema. São grupos
interdisciplinares que trabalham os Projectos da Mck, aliás à semelhança do
que se passa noutras áreas. Não há nenhuma Ciência que sózinha resolva e
aborde todas as situações, muito menos a gestão, mais arte do que ciência,
na minha opinião.
Aquiles Pinto