Como certamente não estão lembrados, pois não passou para a história
(et pour cause), Francisco Salgado Zenha foi ministro das finanças
de um governo provisório ou de um dos primeiros governos
constitucionais (já não me lembro). Um jornalista perguntou-lhe então
porque é que sendo ele, Zenha, um advogado, tinha aceite ocupar-se de
uma pasta para a qual não tinha conhecimentos específicos. A espantosa
resposta que Salgado Zenha lhe deu foi a seguinte: «Um ministro das
finanças não precisa de saber de finanças! Para isso, ele tem os
técnicos do ministério! Um ministro das finanças define a política
financeira do Estado e os técnicos encarregam-se de a pôr em prática».
Agora, felizmente, já não é aceitável em Portugal que um ministro das
finanças seja advogado e não perceba nada de finanças como Jesus
Cristo. Mas ainda se considera "normal" que um economista seja
ministro da saúde, um jurista seja ministro das obras públicas ou um
licenciado em gestão seja ministro da cultura... O resultado é o que
se vê.
2º país - Japão, que quase não possui recursos naturais e saiu
completamente arrasado da 2ª guerra mundial
A Sony é uma empresa japonesa fundada por Akio Morita, que foi
"apenas" um dos mais brilhantes engenheiros que houve no campo da
electrónica, de todos os tempos e de todo o mundo. Um dia, perguntaram
a Akio Morita qual era o segredo do êxito da Sony. A resposta foi a
seguinte: «Enquanto que na Europa e nos Estados Unidos as empresas são
dirigidas por economistas e profissionais da gestão, no Japão elas são
dirigidas por pessoas que percebem daquilo que as empresas fazem».
Pois é.
Seria tão bom se se pudesse resumir a uma única ideia as razões do
subdesenvolvimento de uns vs. outros.
Se assim fosse, bastaria atacar essa causa e colocar todos os recursos
para a corrigir.
Pois... não é.
Mas não é só no Japão que isto se passa. Noutras partes do mundo
também é assim. Por exemplo: acaso passará pela cabeça de alguém que à
frente da Microsoft, da Apple, da Sun ou da Google estejam pessoas que
não percebam nada de computadores?! Nem pó! É ver o corropio de
gente que acorre às conferências dadas pelo Bill Gates ou pelo Steve
Jobs...
Mas em Portugal acha-se muito bem que à frente de uma grande empresa
de telecomunicações, por exemplo, esteja um cavalheiro que do assunto
só sabe que tem um telefone em casa e que descobriu a Internet há três
anos, quando o filho lhe pediu para subscrever uma ligação ADSL (que
ele continua a não saber o que seja). Julga que estou a exagerar? Nem
um bocadinho! A verdade é que o antigo chefe da casa civil do Eanes, o
filhote do Belmiro e os outros da mesma laia só se preocupam com as
condições do mercado e com as especulações na Bolsa. Quanto ao resto,
"os técnicos" que resolvam! Para eles vão as chorudas mordomias, para
"os técnicos" ficam os trabalhos. E viva o chico-espertismo português!
Pois é. O que se vê por cá é os políticos e gestores terem a distinta
lata de saltarem alegremente da TAP para o Ministério da Agricultura,
por exemplo, ou então da Soares da Costa para a Caixa Geral de
Depósitos, da Refer para a Jerónimo Martins ou da Câmara Municipal do
Porto para a Galp. Se eles são assim tão competentes em tudo, porque é
que isto não anda para a frente?!
<pm...@yahoo.com> escreveu na mensagem
news:3402b1fa-caa8-490a...@y5g2000hsf.googlegroups.com...
Mas sobre este tema gostei bastante de ler o "The Wealth and Poverty
of Nations: Why Some Are So Rich and Some So Poor", do David Landes
(não sei se existe tradução deste livro para português). Curiosamente
este autor defende que o precurssor de todo o desenvolvimento
económico e industrial da Europa foi .... Portugal. Mas que
infelizmente, ficou para trás ...