'A crítica aos sistemas de avaliação educacionais" - Nota mais alta não é educação melhor'

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Prof. Maria Carmem

não lida,
2 de ago. de 2010, 10:30:4902/08/2010
para Fórum Acadêmico
Enviado por luisnassif, seg, 02/08/2010 - 07:50
Do Estadão


Diane Ravitch, ex-secretária-adjunta de Educação dos EUA

Simone Iwasso - O Estado de S.Paulo

Uma das principais defensoras da reforma educacional americana ?
baseada em metas, testes padronizados, responsabilização do professor
pelo desempenho do aluno e fechamento de escolas mal avaliadas ? mudou
de ideia. Após 20 anos defendendo um modelo que serviu de inspiração
para outros países, entre eles o Brasil, Diane Ravitch diz que, em vez
de melhorar a educação, o sistema em vigor nos Estados Unidos está
formando apenas alunos treinados para fazer uma avaliação.

Secretária-adjunta de Educação e conselheira do secretário de Educação
na administração de George Bush, Diane foi indicada pelo ex-presidente
Bill Clinton para assumir o National Assessment Governing Board,
instituto responsável pelos testes federais. Ajudou a implementar os
programas No Child Left Behind e Accountability, que tinham como
proposta usar práticas corporativas, baseadas em medição e mérito,
para melhorar a educação.

Suas revisão de conceitos foi apresentada no livro The Death and Life
of the Great American School System (a morte e a vida do grande
sistema escolar americano), lançado no mês passado nos EUA. O livro,
sem previsão de edição no Brasil, tem provocado intensos debates entre
especialistas e gestores americanos. Leia entrevista concedida por
Diane ao Estado.

Por que a senhora mudou de ideia sobre a reforma educacional
americana?

Eu apoiei as avaliações, o sistema de accountability
(responsabilização de professores e gestores pelo desempenho dos
estudantes) e o programa de escolha por muitos anos, mas as evidências
acumuladas nesse período sobre os efeitos de todas essas políticas me
fizeram repensar. Não podia mais continuar apoiando essas abordagens.
O ensino não melhorou e identificamos apenas muitas fraudes no
processo.

Em sua opinião, o que deu errado com os programas No Child Left Behind
e Accountability?

O No Child Left Behind não funcionou por muitos motivos. Primeiro,
porque ele estabeleceu um objetivo utópico de ter 100% dos estudantes
com proficiência até 2014. Qualquer professor poderia dizer que isso
não aconteceria ? e não aconteceu. Segundo, os Estados acabaram
diminuindo suas exigências e rebaixando seus padrões para tentar
atingir esse objetivo utópico. O terceiro ponto é que escolas estão
sendo fechadas porque não atingiram a meta. Então, a legislação estava
errada, porque apostou numa estratégia de avaliações e
responsabilização, que levou a alguns tipos de trapaças, manobras para
driblar o sistema e outros tipos de esforços duvidosos para alcançar
um objetivo que jamais seria atingido. Isso também levou a uma redução
do currículo, associado a recompensas e punições em avaliações de
habilidades básicas em leitura e matemática. No fim, essa mistura
resultou numa lei ruim, porque pune escolas, diretores e professores
que não atingem as pontuações mínimas.

Qual é o papel das avaliações na educação? Em que elas contribuem?
Quais são as limitações?

Avaliações padronizadas dão uma fotografia instantânea do desempenho.
Elas são úteis como informação, mas não devem ser usadas para
recompensas e punições, porque, quando as metas são altas, educadores
vão encontrar um jeito de aumentar artificialmente as pontuações.
Muitos vão passar horas preparando seus alunos para responderem a
esses testes, e os alunos não vão aprender os conteúdos exigidos nas
disciplinas, eles vão apenas aprender a fazer essas avaliações. Testes
devem ser usados com sabedoria, apenas para dar um retrato da
educação, para dar uma informação. Qualquer medição fica corrompida
quando se envolve outras coisas num teste.

Na sua avaliação, professores também devem ser avaliados?

Professores devem ser testados quando ingressam na carreira, para o
gestor saber se ele tem as habilidades e os conhecimentos necessários
para ensinar o que deverá ensinar. Eles também devem ser
periodicamente avaliados por seus supervisores para garantir que estão
fazendo seu trabalho.

E o que ajudaria a melhorar a qualidade dos professores?

Isso depende do tipo de professor. Escolas precisam de administradores
experientes, que sejam professores também, mais qualificados. Esses
profissionais devem ajudar professores com mais dificuldades.

Com base nos resultados da política educacional americana, o que
realmente ajuda a melhorar a educação?

As melhores escolas têm alunos que nasceram em famílias que apoiam e
estimulam a educação. Isso já ajuda muito a escola e o estudante. Toda
escola precisa de um currículo muito sólido, bastante definido, em
todas as disciplinas ensinadas, leitura, matemática, ciências,
história, artes. Sem essa ênfase em um currículo básico e bem
estruturado, todo o resto vai se resumir a desenvolver habilidades
para realizar testes. Qualquer ênfase exagerada em processos de
responsabilização é danosa para a educação. Isso leva apenas a um
esforço grande em ensinar a responder testes, a diminuir as exigências
e outras maneiras de melhorar a nota dos estudantes sem,
necessariamente, melhorar a educação.

O que se pode aprender da reforma educacional americana?

A reforma americana continua na direção errada. A administração do
presidente Obama continua aceitando a abordagem punitiva que começamos
no governo Bush. Privatizações de escolas afetam negativamente o
sistema público de ensino, com poucos avanços de maneira geral. E a
responsabilização dos professores está sendo usada de maneira a
destruí-los.

Quais são os conceitos que devem ser mantidos e quais devem ser
revistos?

A lição mais importante que podemos tirar do que foi feito nos Estados
Unidos é que o foco deve ser sempre em melhorar a educação e não
simplesmente aumentar as pontuações nas provas de avaliação. Ficou
claro para nós que elas não são necessariamente a mesma coisa.
Precisamos de jovens que estudaram história, ciência, geografia,
matemática, leitura, mas o que estamos formando é uma geração que
aprendeu a responder testes de múltipla escolha. Para ter uma boa
educação, precisamos saber o que é uma boa educação. E é muito mais
que saber fazer uma prova. Precisamos nos preocupar com as
necessidades dos estudantes, para que eles aproveitem a educação.
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