Uma pesquisa americana mediu 608.063 fixações de olhar e 24.530 cliques de mouse para constatar o que muitos já desconfiavam: só depois de olhar o texto – ou, em muitos casos, de lê-lo na íntegra – é que os internautas se voltam para as fotos e gráficos. O estudo reuniu gente de peso – pesquisadores da Universidade de Stanford e do Instituto Pointer, reunidos no Projeto Stanford Poynter – que há quatro anos vem estudando em profundidade o comportamento do leitor de notícias online.
Eles começaram filmando os usuários de Internet em suas casas e
escritórios. Há dois anos, sofisticaram o instrumento de análise e
passaram a usar um "medidor de olhar" para conhecer o comportamento do
internauta em detalhes. O medidor monitora a direção e movimento dos
olhos do usuário para saber, por exemplo, quanto tempo ele se detém em
cada informação, se lê os artigos inteiros ou só as manchetes, a
importância dos gráficos e das fotos etc.
A pesquisa conclui
que a maneira de "fisgar" o leitor online é através do texto, do
conteúdo – exatamente o contrário do que ocorre nos jornais e revistas
impressos, nos quais as imagens são o principal chamariz para atrair a
atenção.
Esse resultado deveria inspirar, de uma vez por todas,
os web-designers e os empresários. Não tem sentido os sites cheios de
imagens que piscam, pulam, cantam e só enchem a nossa paciência. O
problema é que todo mundo diz isso, há algum tempo, mas poucos
praticam. Os web-designers em geral são fanáticos por tecnologia e não
conseguem dispensar a ferramenta mais recente, a coisa mais nova, o
pisca-pisca mais exuberante. E poucos empresários se dão ao trabalho de
testar o site como um internauta normal, num computador pouco
turbinado, e em conexão por telefone – e, assim, acabam comprando gato
por lebre.
Odiabo é que, na maioria das vezes, quem faz sites
não os usa para pesquisar. E vice-versa: quem é pesquisador na Internet
não desenha sites. Se fizessem pesquisas, os designers facilitariam,
por exemplo, a seleção e cópia dos textos, hoje uma ginástica inglória
sem os softwares específicos para isso.
O mantra da usabilidade
O professor Ben Shneiderman, chefe do
Laboratório de Interação Homem-Computador da Universidade de Maryland,
disse para o jornal inglês "The Guardian" que o seu mantra para o
design de sites é "controlável, compreensível e previsível".
Shneiderman foi um dos primeiros proponentes dos links por hipertexto e
manja muito de computação.
A tradução exata do que esses adjetivos significam está quebrando a cabeça de muita gente que está investindo pesado em comércio eletrônico. E passou a configurar um mercado em ascensão. O expert em usabilidade de sites Jakob Nielsen cobrava até dezembro 10 mil dólares por dia para dizer a uma empresa o que estava errado com o site dela. Agora, está cobrando 20 mil.
A embalagem online
Como o mercado de embalagens vai reagir ao
comércio eletrônico? A pergunta é importante e sem dúvida deveria gerar
uma boa reflexão. Sabe-se que no Brasil cerca de 85% das decisões de
compra se dão no ponto de venda, uma das porcentagens mais altas do
mundo. Daí a embalagem ter se tornado a "vendedora silenciosa", como
diz o especialista Lincoln Seragini. Ou barulhenta, como prefere
afirmar o designer Ronald Kapaz. Autor das sutis e firmes mudanças no
Omo nos últimos dez anos, Kapaz diz que a embalagem faz, nas gôndolas
do supermercado, as vezes do grito do vendedor da feira: "Olha a
laranja, dona; olha a laranja fresquinha". É ela, sem dúvida, o
chamariz.
E qual vai ser o chamariz para um produto atrair a nossa atenção e a nossa decisão de compra na tela de um computador? O tema foi assunto da revista "EmbalagemMarca". Pela reportagem, dá para ver que os especialistas em embalagem por enquanto têm mais dúvidas do que certezas sobre o papel da embalagem na compra eletrônica.
Mas alguns arriscaram alguns palpites. Para Luiz Roberto Farina, da Benchmark, "na compra de conveniência, como na web, o consumidor tende a testar pouco, vai direto às grandes marcas, pois ele não pode pegar, observar mais de perto um produto como no ponto-de-venda tradicional". Já Manuel Müller, da Müller Associados, acredita que o caminho será a suavização de cores e de grafismos, para não irritar o comprador com a captação lenta de imagens. Uma das poucas unanimidades é a de que a marca dos produtos tende a ganhar mais força do que a embalagem propriamente dita.
(junho de 2000)
Ah, e uma dica geral: "mídia" é plural e significa "meios".
É correto utilizar "meio impresso/ meio digital"; e utilizar "mídia"
para um conjunto.
Mas então todo mundo fala errado? Não todos, mas vários, e falam alto.
Boa crise, oportunidade (em chinês)!
http://en.wikipedia.org/wiki/The_medium_is_the_message
2008/3/24 André Resende <res...@gmail.com>: