envolvi] Época: O Mito da desindustrialização

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Caetano C.R. Penna

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Mar 23, 2012, 7:48:06 AM3/23/12
to desenvolv...@googlegroups.com
Ontem me deparei com este artigo, que se insere no debate desta lista sobre doença holandesa. (Quem não estiver visualizando as imagens, acessar o link para ver os gráficos.)
Envio também anexo um resumo (em inglês) de uma breve revisão de literatura sobre a 'maldição dos recursos naturais', de que a doença holandesa é uma manifestação (tenho uma versão maior se alguém tiver interesse), que preparei alguns anos atrás para uma professora do meu departamento de pesquisa de então. Note que se trata de um resumo dos argumentos e não de uma análise crítica (e eu não sou especialista na área), mas espero que ajude àqueles que queriam entender o argumento da doença holandesa.
Cordiais saudações,
Caetano



CRESCIMENTO - 09/03/2012 20h46 - Atualizado em 16/03/2012 13h38

TAMANHO DO TEXTO

O mito da desindustrialização
O peso da indústria na economia do país não diminuiu – e as exportações na área quase triplicaram nos últimos dez anos

JOSÉ FUCS

COMPETITIVOS Aciaria da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, onde é feita a transformação de ferro líquido em aço líquido. Setores eficientes da economia brasileira, como a siderurgia, não precisam de proteção  (Foto: Antônio Gaudério/Folhapress)

 

Nos últimos tempos, uma questão normalmente restrita à academia tem despertado um interesse crescente nos gabinetes de Brasília e nas rodas de economistas, empresários e executivos: a desindustrialização. Entendida como o fim ou a redução da produção industrial de um país ou de uma região, a desindustrialização – um verbete típico do “economês”, aquela língua que só os economistas (supostamente) entendem – passou a ser tema de discursos acalorados no Congresso Nacional e até de conversas de intelectuais na mesa do bar.

Muita gente acredita que o Brasil esteja passando por esse processo há alguns anos – e se mostra preocupada, muito preocupada, com isso. A presidente Dilma Rousseff e José Serra, seu adversário nas eleições de 2010 e candidato a candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSDB, fazem parte desse grupo. “Há uma desindustrialização em marcha no Brasil”, diz Serra. “Quero deixar aqui registrado nosso compromisso cada vez maior de fazer com que o que possa ser produzido no Brasil seja produzido no Brasil, e não importado de outros países”, afirma Dilma. Na semana passada, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, uniu sua voz de barítono ao coro. “A queda da participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) é a prova do processo de desindustrialização do país”, disse Skaf.

Num país em que o discurso nacionalista sempre rendeu votos, é de certa forma esperado que os políticos agitem tal bandeira, independentemente de coloração ideológica. Alguns economistas – também de diferentes correntes – seguem em outra direção. Eles sabem que o assunto comporta vários matizes. “Estão dizendo por aí que a indústria no Brasil vai acabar”, diz o consultor José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do governo Fernando Henrique Cardoso. “Acho improvável que isso aconteça.” Paul Singer, secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e pioneiro do PT, concorda com Mendonça de Barros: “Falar em desindustrialização hoje no Brasil é um exagero”. É, com certeza, um debate cheio de armadilhas. Abaixo, ÉPOCA responde às principais dúvidas sobre o tema.

O efeito China (Foto: reprodução)

O PAÍS ESTÁ OU NÃO SE DESINDUSTRIALIZANDO?
Leia os gráficos que fazem parte desta reportagem. Os dados oficiais mostram que, em dez anos, o volume das exportações de produtos manufaturados aumentou de US$ 33 bilhões para US$ 92,3 bilhões. Mostram também que, no mesmo período, a participação total da indústria na composição do PIB manteve-se constante, em torno de 27% – ao contrário do que afirma Skaf. Pode até ter havido alguns setores que encolheram mesmo, mas outros cresceram e ocuparam o espaço. É do jogo. No conjunto, ficou elas por elas.

POR QUE, ENTÃO, SE FALA TANTO EM DESINDUSTRIALIZAÇÃO?
O peso dos produtos industriais nas exportações brasileiras efetivamente caiu entre 2002 e 2011 – de 54,7% para 36,1%, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Como isso aconteceu, se a participação da indústria na composição do PIB continua constante? A resposta: a fatia da indústria nas exportações caiu não por causa do encolhimento da indústria, mas em razão da expansão de outros setores. Os preços de manufaturados ainda subiram bem menos que no agronegócio, graças à concorrência chinesa(leia o quadro ao lado), beneficiada pelo até agora baixo custo de sua mão de obra. No setor de serviços, preservado, em boa medida, da competição externa, houve um aumento maior de preços que no industrial.

ATÉ QUE PONTO O REAL VALORIZADO ATRAPALHA A INDÚSTRIA NACIONAL?
O câmbio valorizado é sempre um complicador para qualquer país. Ele barateia as importações e encarece as exportações. Por outro lado, leva a indústria a espremer os custos e aumentar a eficiência e a produtividade – e isso é bom para a economia como um todo. A concorrência dos importados também favorece o combate à inflação. Foi ela que permitiu a consolidação da estabilidade econômica nos últimos anos. “Mais que a questão cambial, a chave para entender a perda de competitividade do setor industrial são as elevações generalizadas dos custos de produção”, diz Mendonça de Barros.

O BRASIL TEM ADOTADO MEDIDAS PROTECIONISTAS. QUAL A
CONSEQUÊNCIA DELAS?

A redução da concorrência externa leva quase sempre a um aumento de preços, com impacto negativo na inflação. Quem acaba pagando a conta é o consumidor, enquanto os industriais aumentam seus lucros. A escolha dos setores beneficiados com subsídios e financiamentos generosos favorece o tráfico de influência nos gabinetes do governo e a corrupção.

SE PORVENTURA A DESINDUSTRIALIZAÇÃO VIER MESMO, ELA SERÁ NECESSARIAMENTE RUIM PARA O PAÍS?
Há quem acredite que seria um grande problema. Mas alguns economistas acham que não. Mesmo que os produtos primários se tornem cada vez mais dominantes em nossas exportações. “O perigo é não sabermos administrar a riqueza dos recursos naturais que temos”, diz o economista Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real e autor de um estudo sobre o tema com o brasilianista Albert Fishlow, ex-diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos e do Centro de Estudos do Brasil da Universidade Colúmbia. Segundo ele, se o Brasil aplicar bem as receitas obtidas com as commodities, principalmente do pré-sal, poderá alavancar seu crescimento de forma sustentável no longo prazo, como aconteceu com os Estados Unidos, exportadores de produtos agrícolas no século XIX, e a Noruega, hoje o país mais rico do mundo em termos relativos, que praticamente só exporta petróleo. “É inevitável, quando há bonança de recursos naturais, que a mão de obra e os recursos se desloquem para setores como o agronegócio”, diz Bacha.

Não é o que parece (Foto: reprodução)

 


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