Entrevista com Caio Gomes

[Everton Zanella Alvarenga]

Dando continuidade a série de entrevistas que começamos a fazer na
comunidade Física do orkut, o entrevistado dessa vez é Caio Gomes.

A entrevista será feita da seguinte forma: vocês podem enviar suas
perguntas aqui nesse tópico ou no blog Ars Physica
<http://arsphysica.wordpress.com/2009/03/03/entrevista-com-caio-gomes/>
até o dia 10 de Março. Após o entrevistado responder essa primeira
bateria de perguntas, abriremos para novas perguntas por mais 3 dias.

As perguntas e respostas serão publicadas numa página a parte e o link
divulgado nesse post do Ars Physica.

Passaremos a usar esse espaço aqui pois muitas das entrevistas antigas
feitas no orkut tiveram seu conteúdo perdido, ficando sem pé nem
cabeça, devido aos perfis que saíram dessa plataforma, o que elimina
também os comentários dessas pessoas. Felizmente a entrevista com o
professor Henrique Fleming
<http://wiki.stoa.usp.br/Usu%C3%A1rio:Fisica/entrevistas/hfleming> foi
salva e a do professor Marcelo Gleiser
<http://wiki.stoa.usp.br/Usu%C3%A1rio:Fisica/entrevistas/mgleiser>
parcialmente salva.

*Sobre o Caio, por ele mesmo*

Eu sou o Caio, de São Paulo. Sou Físico formado pelo Instituto de
Física da USP e Ingenieur de l’Ecole Polytechnique pela École
Polytechnique de Paris. Sou mestre em Física Teórica no Instituto de
Física Teórica da UNESP sob a orientação do Prof. Dr. Nathan J.
Berkovits, e trabalhei em aspectos da gravitação em d=3 e sua relação
com teorias conformes de campos (é um tipo de AdS/CFT). O título da
minha dissertação foi Aplicações do Formalismo de Chern-Simons para
gravidade em d=3.

Após o fim do mestrado, fiz uma mudança radical na minha carreira.
Atualmente estou dividindo meu tempo em duas coisas: Tenho trabalhado
na area de modelagem financeira, para um fundo quantitativo em São
Paulo, e estou “pesquisando” (ou planejando pesquisar) com dois
amigos: o Rafael Calsaverini, um dos editores do AP e moderador da
comunidade, em econofísica ( ou como ele gosta de dizer, mecânica
estatística aplicada a sistemas econômicos). E estou em fase de buscar
ideias com outro amigo, Alexandre Bisson, para trabalhos teóricos na
fronteira química/genética.

Veja também: http://arsphysica.wordpress.com/2009/03/03/entrevista-com-caio-gomes/

Boa entrevista! :-)

--
http://stoa.usp.br/tom

[Tom]

Minhas perguntas ao Caio:

1) École Polytechnique. Caio, gostaria que você explicasse um pouco
sobre esse seu duplo diploma, possível por causa do convênio entre o
IFUSP e a École Polytechnique (também chamada de X). Esse é um tema
importante e de interesse de muitos estudantes brasileiros que
pretendem seguir uma carreira científica. Sobre esse tema, tenho
vários perguntas:

1.a) Ida à França. Como foi o processo seletivo para você ser
escolhido na X? Quantos estudantes foram com você? Todos conseguiram
terminar o curso lá? Se me lembro bem, você não sabia muito bem falar
francês antes de ir para lá, isso foi um empecilho?

1.b) Importância dessa experiência. Quão importante foi essa ida à
França para sua carreira como pesquisador? Você acha que valeu a pena
ter ido para lá, ao invés de ter apenas feito a graduação no IFUSP?
Caso sim, quais as principais razões? Recomendaria um graduando em
física tentar o mesmo?

1.c) Diferenças entre os cursos e entrada na universidade. Quais
principais diferenças encontrou entre os cursos de graduação do IFUSP
(capital) e da X? Há muita diferença em relação à cobrança durante os
cursos? Lá é mais difícil ou mais fácil? E a forma como a graduação de
lá é organizada (ementas das disciplinas, avaliações dos cursos e
professores, tipo de cobrança quanto ao ensino etc.), é muito
diferente do IFUSP? Como são escolhidos os alunos do curso francês? Há
o comum problema encontrado aqui no Brasil onde muitos alunos entram
sem muitos pré-requisitos para um curso de física, o que acaba levando
a desistência ou até mesmo longo período para formação?

1.d) Ensino. A relação aluno-professor é muito diferente da existente
no IFUSP? E a exigência por parte da instituição em relação a
dedicação do docente para os cursos, como é? Poderia apontar as
principais diferenças, como por exemplo se existe obrigação de uma
certa carga horário semanal para dar aulas, igual aqui no Brasil? E a
produção de material didático pelos professores, é maior lá do que
aqui?

1.e) Infra-estrutura. Gostaria que você comparasse a infra-estrutura
da instituição de ensino francesa com a brasileira: restaurantes
universitários, habitação para estudantes (os que não possuem muito
dinheiro e vêm de longe), salas de aulas, paralisações de
funcionários, manifestações políticas (há na França trio-elétricos
como vistos na USP periodicamente? sei que a população francesa é
bastante engajada em manifestações políticas), transporte para os
estudantes, salas de estudos e seu ambiente, bibliotecas etc..

2) Mudança radical. Caio, por que houve essa mudança radical na sua
carreira? Alguma razão financeira ou particular que poderia nos
contar?

3) Ritmo do trabalho atual. Antes estava estudando pesquisa básica e
ganhava uma pequena ajuda de custo para viver (a famigerada bolsa).
Nessa época, para bolsistas, em geral passasse boa parte do dia
pesquisando, com uma certa flexibilidade de horário. Hoje está no
mercado de trabalho, no sentido que possui um salário e uma maior
exigência quanto ao seu horário, imagino. Quantas horas precisa
trabalhar diariamente? Sobra tempo para estudar essas outras áreas de
seu interesse, química e biologia?

4. Perpectivas. Você pretende voltar para o mundo acadêmico? Voltaria
a ser bolsista para fazer um doutorado? Possui pretenções de tornar-se
um pesquisador em algum centro de pesquisa? Se surgisse uma
oportunidade interessante de um doutorado no exterior, por exemplo,
você cogitaria voltar para lá ou essas possibilidade está
completamente descartada? Apesar de ter terminado recentemente seu
mestrado, gostaria que comparasse essas duas experiências.

Bom, vou parar por aqui, acho que fiz muitas perguntas. :-P Se
surgirem muitas outras das leitores do Ars Physica e dos membros do
fórum, responda as mais interessantes para você.

Abraços!

[Lucas França]

Tom, seria legal um Podcast com a entrevista, uma maneira interessante
de fazer sria usar um gravador de conversas no skype e depois editar
em um software de edição qualquer.

On 3 mar, 14:27, Everton Zanella Alvarenga <everton...@gmail.com>
wrote:

[Tom]

(Mudando o título do tópico para discutirmos o formato das
entrevistas, deixando o outro tópico voltado para as perguntas ao
Caio.)

Lucas,

On 3 mar, 16:45, Lucas França <lucas....@gmail.com> wrote:
> Tom, seria legal um Podcast com a entrevista, uma maneira interessante
> de fazer sria usar um gravador de conversas no skype e depois editar
> em um software de edição qualquer.

é uma boa sugestão, mas eu prefiro uma entrevista em que o
entrevistado tenha tempo para pensar nas perguntas e respondê-las
quando puder. Nesse formato proposto a pessoa tem que responder na
hora, o que pode inibir o entrevista ou não sair uma resposta tão boa
quanto o caso de uma entrevista assíncrona, como estamos fazendo
agora.

Talvez poderemos fazer uma experiência nessa linha que você propõe
mais para frente. A do Caio começou assim, acho bom seguir nesse
formato.

[]'s.

[Tom]

Poxa, ainda estou meio confuso com isso aqui. :-S Achei que
encaminhando o email criaria um novo tópico. Estou voltando o título
do tópico para o original.

[Tom]

Criei um tópico no orkut e parece que algumas pessoas preferem fazer
as perguntas por lá. Então vou colocar aqui o link do tópico para quem
preferir usar o orkut e vou trazendo as perguntas para cá. O tópico é:

http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=40685&tid=5308902413545095570

Turcão disse:

Caro Caio,

(1)você viveu em Paris, e é autor de várias frases interessantes sobre
o meio acadêmico de Paris-Palaiseau. Uma delas é que , na França, a
matemática é "paixão nacional". Isto me leva à pergunta: creio que
você estivesse em Paris quando ocorreu o "affaire irmãos Bogdanoff".
Fale um pouco sobre eles e, particularmente, sobre um incrivel
trabalho de um deles, creio que o Igor Bogdanoff, de título
""Topological Origin of Inertia".

Como repercutiram essas coisas na Polytechnique?

(2)Como se sentiu desfilando na parada do 14 juillet?

(3)O que não se pode perder, numa viagem a Paris?

[Tom]

Rafael Lopes de Sá disse:

Oi Caio, aí vão algumas perguntas para você selecionar como quiser
responder:

1) Depois de ter feito um mestrado em física teórica (theoretical
theory), você acha essa área recomendável?

2) O dinheiro pesou na sua decisão de mudar de caminho?

3) Como você vê a relação entre religião e ciência numa perspectiva
pessoal (não estou me referindo às instituições, mas ao íntimo pessoal
de um indíviduo que tem influência de ambas culturas)?

4) Tendo alguma experiência com outros países, uma pergunta bem
objetiva: os cursos de bacharelado em física no Brasil estão
atrasados? Se sim, o que é, na tua opinião, um curso moderno de
bacharelado de física?

5) Como uma formação acadêmica influencia na sua forma de ver o mundo
fora da academia?

Ok, acho que basta. :-D

---

Brain Mouse disse:

1) O que pesou mais na sua decisão de mudar de área?

2) Como (está sendo) foi essa transição para você? Você sofreu algum
tipo de preconceito por parte de pessoas no mundo acadêmico por causa
de sua decisão?

3) O que você faz exatamente agora em sua nova atividade?

4) Como você conseguiu essa oportunidade de entrar em outra atividade?
Foi dura a transição? Como você foi avaliado?

5) Você recomendaria outros físicos a trilharem o mesmo, ou diferentes
caminhos que você?

6) Como a formação de físico te ajudou nessa sua nova atividade?

Agora a pergunta mais importante e talvez a mais intrusiva (me perdoe,
mas sinta-se a vontade para não respoder):

7) Qual sua remuneração atual, existem outros benefícios além do
salário fixo, como participação em lucros?

[Tom]

Continuando a saga de extrair o conteúdo do orkut para não perdermos
mais conteúdo do que já perdemos, aqui vai outras perguntas que estão
fazendo por lá.

Jonathas Ruiz disse:

Caio,

Gostaria de aproveitar a oportunidade para esclarescer algumas
dúvidas. Tenho bastante interesse pela área.


Como funciona o trabalho de um econofísico junto a uma empresa do
mercado financeiro? Qual a importância desse profissional nas decisões
em Wall Street?

Faz cinco meses que o banco americano de investimentos Lehman Brothers
entrou em colapso, o que contribuiu para a desestabilização de
diversas empresas ao redor do mundo e, logicamente, das principais
bolsas de valores. Daí, pergunto:

1 - Existe o envolvimento de econofísicos no mercado imobiliário?

2 - Econofísicos podem(iam) ajudar no desenvolvimento de novos modelos
financeiros/econômicos que impeçam o surgimento de uma nova crise no
setor? Será que já fazem esse trabalho?

3- Na sua opinião, a crise ocorreu por uma falha no sistema
financeiro, que foi incapaz de prever a tragédia, ou pela mais pura
falta de ética por parte dos empresários? (outra coisa tb vale)


Obrigado e um abraço.

---

Fernando Martins disse:

1) Já foi falado da graduação, então o que você você acha de pós-grad
em física no Brasil? Existem chances de um pós-graduado aqui concorrer
com o pessoal de fora?

2) Como sua formação primária foi em física teórica, você acha a
formação básica de um físico, aqui no Brasil, é suficiente para tal
área? E sobre os laboratórios, o que você acha dessas infindáveis
jornadas e de relatórios e mais relatórios, erros experimentais e
afins?

3) Você acha que vale a pena para quem quer seguir carreira em física
teórica ficar no Brasil? Ou você acha outras áreas mais promissoras?

Bem, por enquanto é só, já que já fizeram as outras que eu queria
perguntar. :-D

[Rafael Calsaverini]

Aí vão as minhas perguntas. Peço licença para fazer perguntas que
podem ser difíceis.

1) Como foi o seu contato com os practitioners quando começou a
trabalhar no mercado financeiro? Eu sei que por ser um fundo
quantitativo os seus colegas de trabalho têm uma formação científica/
matemática acima da média para essa área. Mas mesmo assim, você tem
uma formação matemática acima da média mesmo para um físico. É difícil
conciliar um espirito mais livre de pesquisa com uma rotina diária tão
orientada ao resultado imediato?

Você teve dificuldade para se fazer entender no começo? Teve
difículdade para entender as pessoas? Teve dificuldade de organizar
seu sistema de raciocínio e sua rotina diária para ter uma rotina de
apresentar resultados diários?


2) Como os seus colegas acadêmicos reagiram à sua decisão? Você
gostaria/poderia falar um pouco livremente sobre o que você acha da
relação dos acadêmicos brasileiros com os egressos da academia que
querem seguir caminhos alternativos como o seu?
Se você não quiser, vou entender.

3) O que você acha, sinceramente, que o futuro reserva para essa
relação entre egressos da academia em carreiras paralelas à pesquisa
nas universidades e os acadêmicos mais tradicionais? Você acha que os
cientistas mais jovens e os estudantes de hoje têm visões diferentes
dos mais antigos?

[Tom]

Acabou o prazo da primeira fase de perguntas. Agora é só esperar o
Caio publicá-las. Ele enviará aqui ou no meu email, o que passarei
para um wiki, como fiz com a entrevista dos professores Henrique
Fleming e, parcialmente, do Marcelo Gleiser.

Outras perguntas que surgiram na comunidade do orkut e no Ars Physica
nesse meio tempo:

Leonardo Motta disse:

Caio, você poderia elaborar um pouco mais sobre esse seu interesse de
química e genética? Você já tem algum problema específico em mente?

Você conheceu o Salmeron, interagiu com ele na Polytechnique? O que
pode nos contar sobre ele?

---

Allan Felipe disse:

Oi, Caio, também sou um dos que tem bastante interesse pela área de
econofísica e suas aplicações nas atividades de analistas
quantitativos. Tenho planos de possivelmente trilhar este caminho.
Gostaria de te perguntar quais os conhecimentos necessários (ao menos
iniciais, os que merecem um pleno domínio) utilizados para tal. Até
quanto de computação, matemática e física que nós vemos na graduação e
que não vemos? Gostaria de saber também se você poderia me indicar
quais pesquisadores trabalham com isso na USP, por enquanto eu soube
apenas do Caticha (me pergunto também se não teria ninguém pelos lados
da FEA que daria conta do recado, provavelmente se tivesse formação em
física ..). Abração, até mais o/

---

Tom disse:

Por causa da diga do José Antonio de um blog de um estudante
brasileiro na É. P.

http://dmjb.wordpress.com/

acabei me lembrando de ter lido alguns posts do Caio (ou era algum
outro estudante?) quando estava na França. Caio, você tinha um blog?
Ainda tem seus textos da época em algum lugar? Poderia nos indicar?

Resposta: Tom, eu tinha o blog. Mas é bom notar que ele é uma cota
inferior do que realmente foi a experiencia. Eu escrevi o blog pra
poder aliviar dos momentos que me sentia mais melancolico.


La vai:
http://caionafranca.blogspot.com/