Blog de Reinaldo Azevedo - VEJA
O bolivarianismo de Lula: como o PT pretende fazer da Rede Globo a sua RCTV
http://veja.abril.uol.com.br/blogs/reinaldo/
Considero o texto que vai a seguir um dos mais importantes já publicados
neste blog. Nunca fiz isto, mas faço agora: reproduzam-no por aí, passem
adiante, façam com que se multiplique. Ele identifica um método de ação do
governo Lula, do chavismo à moda da casa. Denuncio aqui os instrumentos a
que pretende recorrer o governo para implementar entre nós o bolivarianismo
light. Porque o PT sabe que não pode fazer da Rede Globo a sua RCTV,
resolveu estrangular a emissora financeiramente. No mundo ideal do petismo,
devemos ficar todos subordinados à TV de Franklin Martins, que não precisa
do mercado para existir, ou à TV Record — que, se ficar sem anunciantes,
jamais ficará sem a Igreja Universal do Reino de Deus, dona do partido do
vice-presidente e de Mangabeira Unger, aquele secretário que fala uma língua
mais incompreensível do que a do Espírito Santo quando baixa em Edir Macedo
— deve baixar, eu suponho. Também vou me penitenciar. Dizem que sou
arrogante, que nunca assumo um erro. A segunda parte, ao menos, é mentirosa.
Errei, sim. Errei na única vez em que apoiei, ainda que parcialmente, uma
proposta do governo Lula. Fui enganado pelo ministro da Saúde, José Gomes
Temporão. Uma recomendação: eis um nome do governo Lula que deve ser visto
com muito mais cuidado.
Ufa! A introdução já ficou longa demais. Como sabem, o governo quer limitar
o horário da propaganda de cerveja na televisão. E também enrosca com o seu
conteúdo — Temporão, por exemplo, invoca com a tal “Zeca-Feira”. Mais: diz
que a publicidade glamouriza o consumo do produto... No programa Roda Viva
eu lhe disse que era favorável à limitação de horário para a propaganda, mas
contrário a que o governo se metesse no conteúdo publicitário. Ora, isso
seria nada menos do que censura. E o Conselho Nacional de
Auto-Regulamentação Publicitária é um órgão que funciona, sim, senhores! Só
falta agora a gente ter um Romão Chicabom também na Saúde...
É claro que a limitação da publicidade acarretaria uma diminuição de receita
para as emissoras de TV. "Fazer o quê?", pensei. "Aconteceu isso quando se
proibiu a propaganda de cigarros; que procurem novos nichos, novos produtos,
novas fontes de receita". Eu, o liberal tolo diante de um petista... Nova
pretensão anunciada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
deixa evidente que a limitação da propaganda de cerveja tem mais a ver com a
saúde do governo Lula do que com a saúde dos brasileiros. Eu passei a
considerá-la parte de uma estratégia para asfixiar as emissoras que dependem
do mercado para viver: que não têm estatais ou igrejas de onde tirar a
bufunfa. Fui um idiota. Não apóio mais. Penitencio-me.
A Anvisa, órgão subordinado ao Ministério da Saúde, agora quer limitar ao
horário das 21h às 6h a propaganda de alimentos considerados poucos
saudáveis, "com taxas elevadas de açúcar, gorduras trans e saturada e sódio"
e de "bebidas com baixo teor nutricional" (refrigerantes, refrescos, chás).
Mesmo no horário permitido, a propaganda não poderia conter personagens
infantis e desenhos. Segundo a Abia (Associação Brasileira das Indústrias de
Alimentação), isso representaria um corte de 40% na publicidade do setor,
estimada em R$ 2 bilhões em 2005. Dos R$ 802 milhões que deixariam de ser
investidos, aos menos R$ 240 milhões iriam para a TV — a maior fatia,
suponho, para a Rede Globo.
Virei caixa dos Irmãos Marinho agora? Não! Virei guardião da minha
liberdade. É evidente que se tenta usar a via da saúde para atingir o
nirvana da doença totalitária. É evidente que estão sendo criadas
dificuldades para as emissoras — e, a rigor, nos termos dados, para todas as
empresas que vivem de anúncios — para vender facilidades. O ministro
Temporão, que ainda não conseguiu fazer funcionar os hospitais (sei que a
tarefa é difícil; daí que ele deva se ocupar do principal), candidata-se a
ser o grande chefe da censura no Brasil. Na aparência, ele quer nos impor a
ditadura da saúde; na essência, torna-se esbirro de um projeto para
enfraquecer as empresas privadas de comunicação que se financiam no mercado
— no caso, não o mercado do divino ou o mercado sem-mercado das estatais.
Imagine você, leitor, que aquele biscoito recheado (em SP, a gente chama
“bolacha”) que sempre nos leva a dúvidas as mais intrigantes (Como as duas
de uma vez? Separo para comer primeiro o recheio? Como o recheio junto com
um dos lados?) seria elevado à categoria de um perigoso veneno para as
nossas crianças — mais um querendo defender as crianças! —, que serão,
então, protegidas por Temporão desse perigoso elemento patogênico. Mais:
mesmo no horário permitido, a propaganda teria de ser uma coisa séria, né?
De bom gosto. Sem apelo infantil. O Ministério da Saúde é uma piada: quando
faz propaganda de camisinha, sempre recorre a situações que simulam sexo
irresponsável. Mas não quer saber de desenho animado em propaganda de
guaraná. A criatividade dos publicitários, coitados, teria de se voltar para
comida de cachorro. Imagine o seu filho, ensandecido, querendo comer a sua
porção diária de Frolic, estimulado pela imaginação de publicitários
desalmados.
Assim como o governo pretendia impor a censura prévia na presunção de que os
pais são irresponsáveis, agora quer limitar a propaganda de biscoito e
refrigerante porque as nossas crianças estariam se tornando obesas e
consumistas.
Estupidez
A proposta não resiste a 30 segundos de lógica. É evidente que biscoito não
faz mal. Biscoito não é ecstasy. Em quantidades moderadas, de fato, não
havendo incompatibilidade do organismo com os ingredientes, até onde sei,
faz bem. Se o moleque ou a menina comerem um pacote por dia, acho que
tenderão a engordar. Acredito que há um limite saudável até para o consumo
de chuchu... Ora, carro também mata. Aliás, acidentes de automóveis são uma
das principais causas de morte no Brasil. A culpa, quase sempre, é da
imprudência do motorista ou das péssimas condições das estradas. Nos dois
casos, é preciso usar/consumir adequadamente a mercadoria. A Petrobras é uma
grande anunciante — e certamente estará no apoio à TV de Franklin Martins.
Os produtos que ela vende poluem o ar e aquecem o planeta (sou de outra
religião, mas dizem que sim...). A publicidade, então, deverá estar sujeita
a severas limitações?
Uma pergunta: água entra ou não na categoria das “bebidas com baixo teor
nutricional”? O ridículo desses caras é tamanho a ponto de propor limites à
propaganda de água? Ela alimenta mais ou menos do que um copo de coca-cola
ou de mate? E de lingüiça, pode? A gordura animal em excesso também faz mal
à saúde. Quem garante que o sujeito não vai consumir o produto todos os dias
, até que as suas artérias se entupam? Não ande de moto. Há o risco de cair.
Numa bicicleta, você pode ser atropelado. E desodorizador de ambiente do
moleque que quer fazer “cocô na ca-sa do Pe-dri-nho”? Pode ou não? Não fere
a camada de ozônio?
Nazistas
Observem: se isso tudo fosse a sério, fosse mesmo com o propósito de cuidar
da saúde dos brasileiros, já seria um troço detestável. Sabiam que os
nazistas foram os primeiros, como direi?, ecologistas do mundo? É verdade:
não a ecologia como uma preocupação vaga com a natureza, mas como uma
política pública mesmo. Hitler gostava mais de paisagem do que de gente,
como sabemos. Eles também tinham uma preocupação obsessiva com a saúde, com
os corpos olímpicos. O tirano odiava que se fumasse perto dele, privilégio
concedido a poucos. Mas o mal em curso não é esse, não.
A preocupação excessiva do governo nessa área, entendo, é também patológica,
mas a patologia é outra. Por meio da censura prévia — de que foi obrigado a
recuar — e da limitação à publicidade de vários produtos, pretende é atingir
gravemente o caixa das empresas de comunicação, que fazem do que conseguem
no mercado a fonte de sua independência editorial. Ora, é claro que, sem a
publicidade da cerveja, dos alimentos e do que mais vier por aí, elas ficam,
especialmente as TVs, mais dependentes da verba estatal e do governo.
O raciocínio é simples: vocês acham que a porcentagem da grana de estatais
no faturamento global é maior numa Band ou numa Globo? Numa Carta Capital ou
numa VEJA? No Hora do Povo ou no Estadão (a propósito, veja post abaixo)? Os
petistas não se conformam que o capitalismo possa financiar a liberdade e a
independência editoriais. Quer tornar essas grandes empresas
estado-dependentes. Quanto mais se reduz o mercado anunciante — diminuindo,
pois, a diversidade de fontes de financiamento —, mais se estreita a
liberdade.
Golpe
Trata-se, evidentemente, de um golpe, mais um, contra a imprensa livre. E
por que digo que o alvo é a Globo? Porque, afinal, ela concentra boa parte
do mercado publicitário de TV — é assim porque é melhor e mais competente,
não porque roube as suas “co-irmãs” — e porque, no fim das contas, o que
importa mesmo a Lula é aparecer bem no Jornal Nacional. E ele deve
considerar que isso é tão mais fácil de acontecer quanto mais ele disponha
de instrumentos para tornar difícil a vida da principal emissora do país.
Acho que vai quebrar a cara.
E Temporão, tenha sido ou não chamado à questão com esse propósito,
tornou-se o braço operativo dessa pressão. Curioso esse ministro tão cheio
de querer impor restrições do estado à vida e às opções das pessoas. É
aquele mesmo que já deixou claro ser favorável à descriminação do aborto até
a 14ª semana porque, parece, até esse limite, o feto não sente dor, já que
as terminações nervosas ainda nem começaram a se formar. É um ministro,
digamos, laxista em matéria de vida humana, mas muito severo com biscoitos.
O que faço? Recomendo a ele que tenha com as crianças que estão no ventre o
mesmo cuidado que pretende ter com as que querem comer Doritos?
Eis aí o caminho do nosso bolivarianismo. A terra está amassada pelo
discurso hipócrita da saúde. Farei agora uma antítese um tanto dramática,
cafona até, mas verdadeira: essa gente finge cuidar do nosso corpo porque
quer a nossa alma.
*
PS: Reitero: divulguem este texto, espalhem-no na Internet, montem grupos de
discussão no Orkut, passem a mensagem adiante, mobilizem-se
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Descubra como mandar Torpedos do Messenger para o celular!
http://mobile.msn.com/
As informações e opiniões são do colunista. Eu só repasso
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Considero o texto que vai a seguir um dos mais importantes já publicados
neste blog. Nunca fiz isto, mas faço agora: reproduzam-no por aí, passem
adiante, façam com que se multiplique. Ele identifica um método de ação do
governo Lula, do chavismo à moda da casa. Denuncio aqui os instrumentos a
que pretende recorrer o governo para implementar entre nós o bolivarianismo
light. Porque o PT sabe que não pode fazer da Rede Globo a sua RCTV,
resolveu estrangular a emissora financeiramente. No mundo ideal do petismo,
devemos ficar todos subordinados à TV de Franklin Martins, que não precisa
do mercado para existir, ou à TV Record -- que, se ficar sem anunciantes,
jamais ficará sem a Igreja Universal do Reino de Deus, dona do partido do
vice-presidente e de Mangabeira Unger, aquele secretário que fala uma língua
mais incompreensível do que a do Espírito Santo quando baixa em Edir Macedo
-- deve baixar, eu suponho. Também vou me penitenciar. Dizem que sou
arrogante, que nunca assumo um erro. A segunda parte, ao menos, é mentirosa.
Errei, sim. Errei na única vez em que apoiei, ainda que parcialmente, uma
proposta do governo Lula. Fui enganado pelo ministro da Saúde, José Gomes
Temporão. Uma recomendação: eis um nome do governo Lula que deve ser visto
com muito mais cuidado.
Ufa! A introdução já ficou longa demais. Como sabem, o governo quer limitar
o horário da propaganda de cerveja na televisão. E também enrosca com o seu
conteúdo -- Temporão, por exemplo, invoca com a tal "Zeca-Feira". Mais: diz
que a publicidade glamouriza o consumo do produto... No programa Roda Viva
eu lhe disse que era favorável à limitação de horário para a propaganda, mas
contrário a que o governo se metesse no conteúdo publicitário. Ora, isso
seria nada menos do que censura. E o Conselho Nacional de
Auto-Regulamentação Publicitária é um órgão que funciona, sim, senhores! Só
falta agora a gente ter um Romão Chicabom também na Saúde...
É claro que a limitação da publicidade acarretaria uma diminuição de receita
para as emissoras de TV. "Fazer o quê?", pensei. "Aconteceu isso quando se
proibiu a propaganda de cigarros; que procurem novos nichos, novos produtos,
novas fontes de receita". Eu, o liberal tolo diante de um petista... Nova
pretensão anunciada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
deixa evidente que a limitação da propaganda de cerveja tem mais a ver com a
saúde do governo Lula do que com a saúde dos brasileiros. Eu passei a
considerá-la parte de uma estratégia para asfixiar as emissoras que dependem
do mercado para viver: que não têm estatais ou igrejas de onde tirar a
bufunfa. Fui um idiota. Não apóio mais. Penitencio-me.
A Anvisa, órgão subordinado ao Ministério da Saúde, agora quer limitar ao
horário das 21h às 6h a propaganda de alimentos considerados poucos
saudáveis, "com taxas elevadas de açúcar, gorduras trans e saturada e sódio"
e de "bebidas com baixo teor nutricional" (refrigerantes, refrescos, chás).
Mesmo no horário permitido, a propaganda não poderia conter personagens
infantis e desenhos. Segundo a Abia (Associação Brasileira das Indústrias de
Alimentação), isso representaria um corte de 40% na publicidade do setor,
estimada em R$ 2 bilhões em 2005. Dos R$ 802 milhões que deixariam de ser
investidos, aos menos R$ 240 milhões iriam para a TV -- a maior fatia,
suponho, para a Rede Globo.
Virei caixa dos Irmãos Marinho agora? Não! Virei guardião da minha
liberdade. É evidente que se tenta usar a via da saúde para atingir o
nirvana da doença totalitária. É evidente que estão sendo criadas
dificuldades para as emissoras -- e, a rigor, nos termos dados, para todas as
empresas que vivem de anúncios -- para vender facilidades. O ministro
Temporão, que ainda não conseguiu fazer funcionar os hospitais (sei que a
tarefa é difícil; daí que ele deva se ocupar do principal), candidata-se a
ser o grande chefe da censura no Brasil. Na aparência, ele quer nos impor a
ditadura da saúde; na essência, torna-se esbirro de um projeto para
enfraquecer as empresas privadas de comunicação que se financiam no mercado
-- no caso, não o mercado do divino ou o mercado sem-mercado das estatais.
Imagine você, leitor, que aquele biscoito recheado (em SP, a gente chama
"bolacha") que sempre nos leva a dúvidas as mais intrigantes (Como as duas
de uma vez? Separo para comer primeiro o recheio? Como o recheio junto com
um dos lados?) seria elevado à categoria de um perigoso veneno para as
nossas crianças -- mais um querendo defender as crianças! --, que serão,
então, protegidas por Temporão desse perigoso elemento patogênico. Mais:
mesmo no horário permitido, a propaganda teria de ser uma coisa séria, né?
De bom gosto. Sem apelo infantil. O Ministério da Saúde é uma piada: quando
faz propaganda de camisinha, sempre recorre a situações que simulam sexo
irresponsável. Mas não quer saber de desenho animado em propaganda de
guaraná. A criatividade dos publicitários, coitados, teria de se voltar para
comida de cachorro. Imagine o seu filho, ensandecido, querendo comer a sua
porção diária de Frolic, estimulado pela imaginação de publicitários
desalmados.
Assim como o governo pretendia impor a censura prévia na presunção de que os
pais são irresponsáveis, agora quer limitar a propaganda de biscoito e
refrigerante porque as nossas crianças estariam se tornando obesas e
consumistas.
Estupidez
A proposta não resiste a 30 segundos de lógica. É evidente que biscoito não
faz mal. Biscoito não é ecstasy. Em quantidades moderadas, de fato, não
havendo incompatibilidade do organismo com os ingredientes, até onde sei,
faz bem. Se o moleque ou a menina comerem um pacote por dia, acho que
tenderão a engordar. Acredito que há um limite saudável até para o consumo
de chuchu... Ora, carro também mata. Aliás, acidentes de automóveis são uma
das principais causas de morte no Brasil. A culpa, quase sempre, é da
imprudência do motorista ou das péssimas condições das estradas. Nos dois
casos, é preciso usar/consumir adequadamente a mercadoria. A Petrobras é uma
grande anunciante -- e certamente estará no apoio à TV de Franklin Martins.
Os produtos que ela vende poluem o ar e aquecem o planeta (sou de outra
religião, mas dizem que sim...). A publicidade, então, deverá estar sujeita
a severas limitações?
Uma pergunta: água entra ou não na categoria das "bebidas com baixo teor
nutricional"? O ridículo desses caras é tamanho a ponto de propor limites à
propaganda de água? Ela alimenta mais ou menos do que um copo de coca-cola
ou de mate? E de lingüiça, pode? A gordura animal em excesso também faz mal
à saúde. Quem garante que o sujeito não vai consumir o produto todos os dias
, até que as suas artérias se entupam? Não ande de moto. Há o risco de cair.
Numa bicicleta, você pode ser atropelado. E desodorizador de ambiente do
moleque que quer fazer "cocô na ca-sa do Pe-dri-nho"? Pode ou não? Não fere
a camada de ozônio?
Nazistas
Observem: se isso tudo fosse a sério, fosse mesmo com o propósito de cuidar
da saúde dos brasileiros, já seria um troço detestável. Sabiam que os
nazistas foram os primeiros, como direi?, ecologistas do mundo? É verdade:
não a ecologia como uma preocupação vaga com a natureza, mas como uma
política pública mesmo. Hitler gostava mais de paisagem do que de gente,
como sabemos. Eles também tinham uma preocupação obsessiva com a saúde, com
os corpos olímpicos. O tirano odiava que se fumasse perto dele, privilégio
concedido a poucos. Mas o mal em curso não é esse, não.
A preocupação excessiva do governo nessa área, entendo, é também patológica,
mas a patologia é outra. Por meio da censura prévia -- de que foi obrigado a
recuar -- e da limitação à publicidade de vários produtos, pretende é atingir
gravemente o caixa das empresas de comunicação, que fazem do que conseguem
no mercado a fonte de sua independência editorial. Ora, é claro que, sem a
publicidade da cerveja, dos alimentos e do que mais vier por aí, elas ficam,
especialmente as TVs, mais dependentes da verba estatal e do governo.
O raciocínio é simples: vocês acham que a porcentagem da grana de estatais
no faturamento global é maior numa Band ou numa Globo? Numa Carta Capital ou
numa VEJA? No Hora do Povo ou no Estadão (a propósito, veja post abaixo)? Os
petistas não se conformam que o capitalismo possa financiar a liberdade e a
independência editoriais. Quer tornar essas grandes empresas
estado-dependentes. Quanto mais se reduz o mercado anunciante -- diminuindo,
pois, a diversidade de fontes de financiamento --, mais se estreita a
liberdade.
Golpe
Trata-se, evidentemente, de um golpe, mais um, contra a imprensa livre. E
por que digo que o alvo é a Globo? Porque, afinal, ela concentra boa parte
do mercado publicitário de TV -- é assim porque é melhor e mais competente,
não porque roube as suas "co-irmãs" -- e porque, no fim das contas, o que
importa mesmo a Lula é aparecer bem no Jornal Nacional. E ele deve
considerar que isso é tão mais fácil de acontecer quanto mais ele disponha
de instrumentos para tornar difícil a vida da principal emissora do país.
Acho que vai quebrar a cara.
E Temporão, tenha sido ou não chamado à questão com esse propósito,
tornou-se o braço operativo dessa pressão. Curioso esse ministro tão cheio
de querer impor restrições do estado à vida e às opções das pessoas. É
aquele mesmo que já deixou claro ser favorável à descriminação do aborto até
a 14ª semana porque, parece, até esse limite, o feto não sente dor, já que
as terminações nervosas ainda nem começaram a se formar. É um ministro,
digamos, laxista em matéria de vida humana, mas muito severo com biscoitos.
O que faço? Recomendo a ele que tenha com as crianças que estão no ventre o
mesmo cuidado que pretende ter com as que querem comer Doritos?
Eis aí o caminho do nosso bolivarianismo. A terra está amassada pelo
discurso hipócrita da saúde. Farei agora uma antítese um tanto dramática,
cafona até, mas verdadeira: essa gente finge cuidar do nosso corpo porque
quer a nossa alma.
*
PS: Reitero: divulguem este texto, espalhem-no na Internet, montem grupos de
discussão no Orkut, passem a mensagem adiante, mobilizem-se
_________________________________________________________________
Descubra como mandar Torpedos do Messenger para o celular!
http://mobile.msn.com/
As informações e opiniões são do colunista. Eu só repasso
Blog de Reinaldo Azevedo - VEJA
O bolivarianismo de Lula: como o PT pretende fazer da Rede Globo a sua RCTV
http://veja.abril.uol.com.br/blogs/reinaldo/
Considero o texto que vai a seguir um dos mais importantes já publicados
neste blog. Nunca fiz isto, mas faço agora: reproduzam-no por aí, passem
adiante, façam com que se multiplique. Ele identifica um método de ação do
governo Lula, do chavismo à moda da casa. Denuncio aqui os instrumentos a
que pretende recorrer o governo para implementar entre nós o bolivarianismo
light. Porque o PT sabe que não pode fazer da Rede Globo a sua RCTV,
resolveu estrangular a emissora financeiramente. No mundo ideal do petismo,
devemos ficar todos subordinados à TV de Franklin Martins, que não precisa
do mercado para existir, ou à TV Record -- que, se ficar sem anunciantes,
jamais ficará sem a Igreja Universal do Reino de Deus, dona do partido do
vice-presidente e de Mangabeira Unger, aquele secretário que fala uma língua
mais incompreensível do que a do Espírito Santo quando baixa em Edir Macedo
-- deve baixar, eu suponho. Também vou me penitenciar. Dizem que sou
arrogante, que nunca assumo um erro. A segunda parte, ao menos, é mentirosa.
Errei, sim. Errei na única vez em que apoiei, ainda que parcialmente, uma
proposta do governo Lula. Fui enganado pelo ministro da Saúde, José Gomes
Temporão. Uma recomendação: eis um nome do governo Lula que deve ser visto
com muito mais cuidado.
Ufa! A introdução já ficou longa demais. Como sabem, o governo quer limitar
o horário da propaganda de cerveja na televisão. E também enrosca com o seu
conteúdo -- Temporão, por exemplo, invoca com a tal "Zeca-Feira". Mais: diz
que a publicidade glamouriza o consumo do produto... No programa Roda Viva
eu lhe disse que era favorável à limitação de horário para a propaganda, mas
contrário a que o governo se metesse no conteúdo publicitário. Ora, isso
seria nada menos do que censura. E o Conselho Nacional de
Auto-Regulamentação Publicitária é um órgão que funciona, sim, senhores! Só
falta agora a gente ter um Romão Chicabom também na Saúde...
É claro que a limitação da publicidade acarretaria uma diminuição de receita
para as emissoras de TV. "Fazer o quê?", pensei. "Aconteceu isso quando se
proibiu a propaganda de cigarros; que procurem novos nichos, novos produtos,
novas fontes de receita". Eu, o liberal tolo diante de um petista... Nova
pretensão anunciada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
deixa evidente que a limitação da propaganda de cerveja tem mais a ver com a
saúde do governo Lula do que com a saúde dos brasileiros. Eu passei a
considerá-la parte de uma estratégia para asfixiar as emissoras que dependem
do mercado para viver: que não têm estatais ou igrejas de onde tirar a
bufunfa. Fui um idiota. Não apóio mais. Penitencio-me.
A Anvisa, órgão subordinado ao Ministério da Saúde, agora quer limitar ao
horário das 21h às 6h a propaganda de alimentos considerados poucos
saudáveis, "com taxas elevadas de açúcar, gorduras trans e saturada e sódio"
e de "bebidas com baixo teor nutricional" (refrigerantes, refrescos, chás).
Mesmo no horário permitido, a propaganda não poderia conter personagens
infantis e desenhos. Segundo a Abia (Associação Brasileira das Indústrias de
Alimentação), isso representaria um corte de 40% na publicidade do setor,
estimada em R$ 2 bilhões em 2005. Dos R$ 802 milhões que deixariam de ser
investidos, aos menos R$ 240 milhões iriam para a TV -- a maior fatia,
suponho, para a Rede Globo.
Virei caixa dos Irmãos Marinho agora? Não! Virei guardião da minha
liberdade. É evidente que se tenta usar a via da saúde para atingir o
nirvana da doença totalitária. É evidente que estão sendo criadas
dificuldades para as emissoras -- e, a rigor, nos termos dados, para todas
as
empresas que vivem de anúncios -- para vender facilidades. O ministro
Temporão, que ainda não conseguiu fazer funcionar os hospitais (sei que a
tarefa é difícil; daí que ele deva se ocupar do principal), candidata-se a
ser o grande chefe da censura no Brasil. Na aparência, ele quer nos impor a
ditadura da saúde; na essência, torna-se esbirro de um projeto para
enfraquecer as empresas privadas de comunicação que se financiam no mercado
-- no caso, não o mercado do divino ou o mercado sem-mercado das estatais.
Imagine você, leitor, que aquele biscoito recheado (em SP, a gente chama
"bolacha") que sempre nos leva a dúvidas as mais intrigantes (Como as duas
de uma vez? Separo para comer primeiro o recheio? Como o recheio junto com
um dos lados?) seria elevado à categoria de um perigoso veneno para as
nossas crianças -- mais um querendo defender as crianças! --, que serão,
então, protegidas por Temporão desse perigoso elemento patogênico. Mais:
mesmo no horário permitido, a propaganda teria de ser uma coisa séria, né?
De bom gosto. Sem apelo infantil. O Ministério da Saúde é uma piada: quando
faz propaganda de camisinha, sempre recorre a situações que simulam sexo
irresponsável. Mas não quer saber de desenho animado em propaganda de
guaraná. A criatividade dos publicitários, coitados, teria de se voltar para
comida de cachorro. Imagine o seu filho, ensandecido, querendo comer a sua
porção diária de Frolic, estimulado pela imaginação de publicitários
desalmados.
Assim como o governo pretendia impor a censura prévia na presunção de que os
pais são irresponsáveis, agora quer limitar a propaganda de biscoito e
refrigerante porque as nossas crianças estariam se tornando obesas e
consumistas.
Estupidez
A proposta não resiste a 30 segundos de lógica. É evidente que biscoito não
faz mal. Biscoito não é ecstasy. Em quantidades moderadas, de fato, não
havendo incompatibilidade do organismo com os ingredientes, até onde sei,
faz bem. Se o moleque ou a menina comerem um pacote por dia, acho que
tenderão a engordar. Acredito que há um limite saudável até para o consumo
de chuchu... Ora, carro também mata. Aliás, acidentes de automóveis são uma
das principais causas de morte no Brasil. A culpa, quase sempre, é da
imprudência do motorista ou das péssimas condições das estradas. Nos dois
casos, é preciso usar/consumir adequadamente a mercadoria. A Petrobras é uma
grande anunciante -- e certamente estará no apoio à TV de Franklin Martins.
Os produtos que ela vende poluem o ar e aquecem o planeta (sou de outra
religião, mas dizem que sim...). A publicidade, então, deverá estar sujeita
a severas limitações?
Uma pergunta: água entra ou não na categoria das "bebidas com baixo teor
nutricional"? O ridículo desses caras é tamanho a ponto de propor limites à
propaganda de água? Ela alimenta mais ou menos do que um copo de coca-cola
ou de mate? E de lingüiça, pode? A gordura animal em excesso também faz mal
à saúde. Quem garante que o sujeito não vai consumir o produto todos os dias
, até que as suas artérias se entupam? Não ande de moto. Há o risco de cair.
Numa bicicleta, você pode ser atropelado. E desodorizador de ambiente do
moleque que quer fazer "cocô na ca-sa do Pe-dri-nho"? Pode ou não? Não fere
a camada de ozônio?
Nazistas
Observem: se isso tudo fosse a sério, fosse mesmo com o propósito de cuidar
da saúde dos brasileiros, já seria um troço detestável. Sabiam que os
nazistas foram os primeiros, como direi?, ecologistas do mundo? É verdade:
não a ecologia como uma preocupação vaga com a natureza, mas como uma
política pública mesmo. Hitler gostava mais de paisagem do que de gente,
como sabemos. Eles também tinham uma preocupação obsessiva com a saúde, com
os corpos olímpicos. O tirano odiava que se fumasse perto dele, privilégio
concedido a poucos. Mas o mal em curso não é esse, não.
A preocupação excessiva do governo nessa área, entendo, é também patológica,
mas a patologia é outra. Por meio da censura prévia -- de que foi obrigado a
recuar -- e da limitação à publicidade de vários produtos, pretende é
atingir
gravemente o caixa das empresas de comunicação, que fazem do que conseguem
no mercado a fonte de sua independência editorial. Ora, é claro que, sem a
publicidade da cerveja, dos alimentos e do que mais vier por aí, elas ficam,
especialmente as TVs, mais dependentes da verba estatal e do governo.
O raciocínio é simples: vocês acham que a porcentagem da grana de estatais
no faturamento global é maior numa Band ou numa Globo? Numa Carta Capital ou
numa VEJA? No Hora do Povo ou no Estadão (a propósito, veja post abaixo)? Os
petistas não se conformam que o capitalismo possa financiar a liberdade e a
independência editoriais. Quer tornar essas grandes empresas
estado-dependentes. Quanto mais se reduz o mercado anunciante -- diminuindo,
pois, a diversidade de fontes de financiamento --, mais se estreita a
liberdade.
Golpe
Trata-se, evidentemente, de um golpe, mais um, contra a imprensa livre. E
por que digo que o alvo é a Globo? Porque, afinal, ela concentra boa parte
do mercado publicitário de TV -- é assim porque é melhor e mais competente,
não porque roube as suas "co-irmãs" -- e porque, no fim das contas, o que
Não é não. Liberdade de imprensa é a liberdade de publicar o que bem
entender, na hora que quiser, tendo como sanção a audiência ou
vendagem daquilo que você publica -- e não, como querem alguns, a
opinião de algum comissário do povo empoleirado numa sinecura
estatal.
Não acho que a judicialização de nossa liberdade de imprensa promovida
pela portaria 264 do Ministério da Justiça seja o caminho correto a
ser seguido por um país como o nosso, historicamente viciado em
quarteladas e golpes.
Sugiro a leitura, digo a audição, dos "podcasts" de Diogo Mainardi que
colei ao final desta resposta, acerca da famigerada classificação
indicativa. Ambos estão disponíveis neste link:
http://veja.abril.com.br/idade/podcasts/mainardi/
Mainardi argumenta consistentemente contra a portaria do Ministério da
Justiça; creio que seus propugnadores deveriam, antes de implementar
uma política tão ousada de controle da programação dos canais de TV,
responder algumas das convincentes objeções trazidas pelo articulista
de Veja.
Ao que parece, o modelo de auto-fiscalização da programação pelas
próprias TVs é aquele adotado na maior parte das nações democráticas
do mundo, de modo que o Brasil não estaria em boa companhia ao
implementar esse tipo de política. Já ouviram o dito jocoso: "O que só
tem no Brasil e não é jabuticaba, só pode ser ruim."? Julgo-o cada vez
mais sensato, à medida que envelheço.
Por fim, nunca é demais lembrar: a Venezuela é aqui ao lado...
22/5/2007
A classificação indicativa de programas de TV: o lulismo copiou o
chavismo
O chavismo vai retirar do ar a RCTV sob acusação de violar 652 vezes a
Lei Resorte, que estabelece a classificação de faixas etárias para
programas de tevê na Venezuela. O manual da nova classificação
indicativa preparado pelo ministério da Justiça lulista é cópia da
Resorte. Quem copiou quem? O lulismo copiou o chavismo, usam até os
mesmo termos. O lulismo acaba de achar uma brecha legal para recorrer
ao mesmo instrumento de censura.
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16/5/2007
É censura. Não classificação indicativa
A classificação indicativa de programas existe em vários países do
mundo. Mas a classificação lulista é diferente de todas as outras,
porque ela foi concebida como instrumento de controle dos meios de
comunicação e não para proteger as criaças de programas de TV
destinados a adultos. Em nenhum lugar essa classificação é feita pelo
governo. As próprias emissoras criam órgãos especializados em
fiscalizar seu conteú do. O lulismo esta vendendo censura como
classificação indicativa.
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"Art. 4º. Cabe ao Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e
Qualificação, vinculado à Secretaria Nacional de Justiça do Ministério
da Justiça - DEJUS/SNJ, exercer a classificação indicativa dos
programas e obras audiovisuais regulados por esta Portaria.
Parágrafo único. O exercício da classificação indicativa corresponde
essencialmente à prática dos seguintes atos processuais:
I - Análise das características da obra ou produto audiovisual,
podendo ser realizada previamente no âmbito do
DEJUS/MJ;
II - Monitoramento do conteúdo veiculado;
III - Atribuição de classificação para efeito indicativo;
Art. 5º. Não estão sujeitas à análise prévia de conteúdo no âmbito do
Ministério da Justiça as seguintes obras audiovisuais: [...]
§2º. A não atribuição de classificação indicativa aos programas de que
trata este artigo não isenta o responsável pelos abusos cometidos,
cabendo ao DEJUS/SNJ encaminhar seu parecer aos órgãos
competentes" (Grifei)
Percebe-se que apenas o inciso III do art. 4º de fato faz referência a
uma classificação indicativa. Todo o restante já não é indicação aos
pais; é desvio de poder e desbordamento de competência do poder
regulamentar do Ministério da Justiça. De fato, a Portaria 264, ao
prever a "análise das características da obra ou produto audiovisual,
podendo ser realizada previamente no âmbito do DEJUS/MJ", opera uma
forma eufêmica de censura prévia inconstitucional.
Essa intimidação ocorre tanto preventivamente ("podendo ser realizada
previamente no âmbito do DEJUS/MJ") quanto posteriormente à veiculação
da programação pelo meio audiovisual ("não isenta o responsável pelos
abusos cometidos").
Embora alguns insistam que nossa realidade não tem nada a ver com a
venezuelana, eu fiquei com MUITO MEDO quando, realizando um trabalho
sobre liberdade sindical na Venezuela, descobri até a "Revolução
Bolivariana" de Hugo Chávez esse país possuía a democracia mais
estável da América do Sul, com quatro décadas de eleições livres e
periódicas. O temor se intensificou quando li comentários de Chávez no
sentido de que a liberdade sindical não pode se sobrepor ao "interesse
público" da Venezuela.
Finalmente, o temor se transformou em pavor, quando descobri que a
concessão da RCTV, o principal canal de televisão da Venezuela, e um
dos únicos veículos de comunicação que ainda promovia a oposição a
Chávez, foi cassada com base em uma portaria que visava à proteção da
criança e do adolescente da veiculação de programas com conteúdo
inadequado em horários impróprios.
O Brasil não é a Venezuela. Os partidários da Portaria 264 do
Ministério da Justiça não têm a intenção de tolher a liberdade de
imprensa; creio que eles agem de boa-fé, que eles querem -- tal qual
seus congêneres da Venezuela -- de fato apenas defender a infância e
a adolescência da perversão que nos chega diariamente cavalgando ondas
eletromagnéticas.
Creio, mesmo, que é possível que as quarteladas, os golpes militares,
o populismo, a concentração de renda atroz, o capitalismo "de
compadres", a corrupção endemicamente alta, o desrespeito à liberdade
de imprensa cronicamente presentes na história desses dois países (e
de outros países da América do Sul) seja apenas isso: uma coincidência
infeliz e renitente.
Mas -- e esse "mas" é um "mas" DESSE tamanho -- pode ser que não...
Imprensa livre! Liberdade de Imprensa! É um sinal preocupante da
decadência da esquerda ver que ela abandonou esse seu ideal histórico.
Danton e Marx, partidários incondicionais da liberdade de imprensa,
olhariam preocupados para essa degeneração infeliz da esquerda
progressista de outrora.
Não é o fato de alguns aqui neste grupo não gostarem de Diogo Mainardi
ou Reinaldo Azevedo que torna automaticamente falso tudo o que eles
defendem. Mesmo Hitler podia estar certo às vezes. Pensar que a
posição de Mainardi e Azevedo é falsa per se é apenas um argumento ad
hominem crasso.
Como já argumentei, não é verdade que a portaria do Mnistério da
Justiça que regula a classificação indicativa vai se limitar a
"sugerir" horários às emissoras, como vem sendo propagandeado. Na
verdade, a portaria de fato vai restringir a liberdade das emissoras
de exibir determinados programas em determinados horários. Creio,
mesmo, que o termo "classificação indicativa" não é nada adequado para
denominar esse tipo classificação, que prevê consequências
administrativas para seu descumprimento. Sem contar que ela facilita
ao Ministério Público a proposição de ação civil pública contra a
emissora, por supostamente lesar interesse de crianças e adolescentes
tal qual consubstanciados nas restrições baixadas via portaria (ato
infra-legal, lembrem-se).
De antemão, acredito que limitar a liberdade de veicular conteúdos
específicos tendo por base um ato meramente infra-legal já é
problemático... Mas o cerne de minha crítica se dirige ao seguinte: se
a Constituição realmente quisesse referir-se a uma classificação
"vinculante", ela o teria feito. Mas não foi isso o que aconteceu: ela
se restringiu a prescrever uma classificação " indicativa".
Creio de boa-fé e sem ironia alguma que a palavra "indicativa" nesse
contexto significa apenas o significado que o Houaiss ou o Aurélio nos
dão, e que é:
"(...) dar (a alguém) sugestão acerca de; aconselhar, ensinar,
recomendar; (...) esclarecer, informar (alguém) sobre (algo);
instruir, orientar."
Ou seja, para a classificação indicativa fazer jus ao seu nome, à
língua de Cartola e à Constituição ela deve ser encarada como mera
indicação destinada primordialmente aos pais, estes sim legitimados a
decidir o que seus filhos podem ou não ver ou ouvir.
A posição contrária, que credita ao Estado o papel de definir qual
programa pode ou não ser transmitido em cada faixa de horário, é
autoritária na minha modesta opinião.
Cresci em uma geração que assistiu Xuxa cantar músicas estúpidas em
trajes que seriam motivo para cadeia em outras épocas. Não sei se
sofremos danos permanentes por isso, mas quero crer que não... Who
knows?
Deixe-me ver... Rambo, Rocky, Férias Frustradas, Indiana Jones, A
família Adams... Em todos esses filmes há uma ou outra (ou várias!)
cenas de violência, as quais poderiam atacar os pruridos moralizantes
de algum burocrata ou "painel da sociedade civil" menos
esclarecidos... E todos eles embalaram muitas das minhas tardes
(Sessão da Tarde rules!). Retrospectivamente, não gostaria de ter
deixado de assistir nenhum desses filmes, por supostamente serem
"inapropriados" para este ou aqueloutro horário.
Se a TV tivesse esse poder todo que lha imputam, seríamos uma geração
de... de... ia dizer pervertidos, mas ninguém sabe muito bem quais são
os efeitos da televisão sobre a mente de alguém para dizer qualquer
coisa minimamente convincente e geradora de consenso nessa matéria.
Quando ninguém tem certeza de nada, é recomendável que se deixe aos
indivíduos a faculdade de experimentar.
Tenho um amigo que leu Marquês de Sade com treze anos e nem por isso é
um pervertido. Mas vejam bem: não estou dizendo que "A filosofia na
alcova" ou o livro "Números" da Bíblia sejam boa leitura para crianças
pequenas... Também não estou sugerindo que seja dada liberdade para
elas assistirem irrestritamente programas "infantis" que mostrem
pintinhas sexy em coxas "Angélica"is...
Mas estou recomendando, sim, mais cautela e humildade no que concerne
aos efeitos de longo prazo desse tipo de coisa.
Positivos? Negativos? Quem saberá?
Deixemos cada família decidir o que é melhor para seu filho assistir.
O grande objetivo das emissoras não é promover conscientemente a
ignorância e o horror estético-cultural. Seu objetivo é simplesmente:
garantir que muitas pessoas queiram ver sua programação, ou seja,
altos níveis de audiência, para, assim, ganhar mais dinheiro com
publicidade.
Se isso é algo bom ou ruim, depende da sua concepção de natureza
humana: será que nós cidadãos comuns somos capazes de decidir por nós
mesmos o que devemos ou não assistir? Será que realmente precisamos da
tutela de alguém supostamente mais sábio, que, do alto de um posto na
burocracia estatal, tenha o poder de ditar o que posso ou não ver em
tal ou qual horário?
(O "Grande Inquisidor", de Dostoievsky é uma bela metáfora para o
estado intervencionista.)
Pode parecer pretensão minha, mas acredito que nós, indivíduos
conscientes e livres, temos melhores condições que o Estado para
determinar o que é ou não adequado. Da mesma forma, temos condições de
determinar o que nossos filhos pequenos verão.
Se um programa de TV não me agrada, desligo. Se meu filho quer
assistir um programa que não quero que ele veja, proíbo-o. Se isso não
basta, tranco a TV em uma sala, ou peço a quem o estiver vigiando
quando eu não estiver por perto que não permita a ele assistir filmes
e outros programas televisivos que julgo inapropriados.
Se não tem ninguém por perto para fiscalizar o que meu filho pequeno
está fazendo em minha ausência, eu garanto: o que ele vê ou não na TV
é o menor dos problemas causados por essa negligência (deixar uma
criança pequena sozinha).
Abraços cordiais!
Abraço cordial a todos!
On Jul 10, 2:14 pm, "Daniel Duende Carvalho"
<daniel.carva...@gmail.com> wrote:
> Diogo Mainardi defendendo a liberdade de imprensa? Diogo Mainardi e seu
> filhotinho Reinaldo só defendem a PRÓPRIA liberdade de emitir seus libelos
> "PêÉsseDêBistas", e o uso que fazem dela é uma vergonha até para os mais
> amarronzados meios de comunicação do país.
>
> Defendo a liberdade de imprensa, mas desconfio de quem pensa que a
> regulamentação é (ou deve ser) feita só pelo mercado. Acredito que tudo pode
> ser dito, e a censura prévia seja algo perigoso, mas também acredito que
> deve haver responsabilidade e honestidade naquilo que se fala. Na falta de
> responsabilidade, e frente à cartelização política da mídia tradicional, o
> que se faz? Se deixa que os jornalistas falem o que bem lhes aprouver,
> mentiras e distorções que sejam, em nome da liberdade da imprensa?
>
> Liberdade vem com responsabilidade, comprometimento, honestidade. Nenhuma
> destas características é observada em veículos como a Veja (exceto, claro,
> seu comprometimento com alguns setores retrógrados e daninhos ao país).
>
> Diogo Mainardi defendendo a liberdade de imprensa é como um garotão que se
> amarra em fazer rachas pelas ruas defendendo o seu direito de ter um carro.
> É a pessoa errada para falar do assunto, pois consegue (mais uma vez, assim
> como seu filhotinho Reinaldo) falar besteira e distorcer as coisas até
> quando, em tese, teria razão.
>
> Em tempo, não leio a Veja mas defendo seu direito de existir. Por outro
> lado, tenho um certo preconceito com as pessoas que a citam como trazendo
> alguma coisa que valha ser citada.
>
> Abraços do Verde.
>
On 10 jul, 14:37, Thiago Maciel Oliveira <thiagomol...@gmail.com>
wrote:
> ...
>
> mais »- Ocultar texto entre aspas -
>
> - Mostrar texto entre aspas -
' Caras, primeiramente: o que é, e o que significa ( se é que podemos
realmente significa-la ) a tal da ' liberdade de impresa' ?
Desconsideremos, então, a ascenção da rede globo durante a ditadura dos
militares...
Deixemos, pois, como se pede, a imprensa brasileira livre. E vamos ver se
ela vai governar nosso país. Não sou favorável a censura: Mas supor que
qualquer estado 'democrático' exista sem regulação, isso sim é um -
maldito, e detestável - disparate.'
De fato, nós escolhemos o que queremos assistir/ler Thiago. Selecionamos o
que achamos mais ou menos importante. E é óbvio que um Estado contemporâneo
faz isso, de maneira explícita ou não. A imprensa é tão livre nos países
democráticos, que ela para existir precisa de concessão do Estado.
Então, por favor, não distorça o que eu tentei dizer. Sou contra a censura.
Mas achar que existe liberdade de imprensa, é acreditar que existe Hogwards
e dementadores.
Celular: 9827 9004
Em relação à regulação. Deixar claro que não existe jornalismo
imparcial já seria de grande ajuda. Outra... informação falsa, deve
ser punida! Nada deve ser proibido, porém deve-se ter horários
adequados para exposição. E mais, proibir (isto é uma excessão)
definitivamente, completamente, propaganda dentro de programas...
odeio jabá, parece que só aumentam a propaganda fingindo que é
programação. Outra... deveriam regular os programas de domingo!
Enquanto um passa um show de palco o outro canal tem que passar um
filme, de preferência que seja de ação com comédia... drama só de
madrugada! Outra... futebol, só se falar de outros esportes também!
Acho um saco ser informado do que acontece na terceira divisão
enquanto compeonatos de porte nacional são negligenciados....
PS.: Gostaria de prestar mais atenção à discussão, mas estou viciado
num jogo de MMORPG chamado Tantra... Não testem pois vicia.
On 11 jul, 20:15, "zeca" <kaleeyo...@gmail.com> wrote:
> Ora, então adimitimos algum tipo de regulação? Como eu perguntei desde o começo: O que entendemos por imprensa livre? Agora dá pra começar a discutir.
>
>
>
> ----- Original Message -----
> From: Thiago Maciel Oliveira
> To: ai...@googlegroups.com
> Sent: Wednesday, July 11, 2007 4:20 PM
> Subject: ainn }} Re: Reinaldo denuncia censura em seu blog
>
> Zeca: "A imprensa é tão livre nos países democráticos, que ela para existir precisa de concessão do Estado. [...] que é, e o que significa ( se é que podemos realmente significa-la ) a tal da ' liberdade de impresa' ? Desconsideremos, então, a ascenção da rede globo durante a ditadura dos militares... Deixemos, pois, como se pede, a imprensa brasileira livre. E vamos ver se ela vai governar nosso país. Não sou favorável a censura: Mas supor que qualquer estado 'democrático' exista sem regulação, isso sim é um - maldito, e detestável - disparate.'
>
> Já que você falou em pressupostos equivocados, eu aponto um que identifico em seu discurso. O escândalo das concessões durante o regime militar -- e nem precisávamos ir tão longe: houve uma esbórnia semelhante durante o reinado de ACM à frente do Ministério das Comunicações -- só existe porque HÁ REGULAÇÃO ESTATAL SOBRE O CAMPO DA RADIODIFUSÃO.
>
> De fato, é exatamente a existência do monopólio estatal sobre a prerrogativa de deferir ou não as concessões que permite sua manipulação política, em favor de interesses escusos. O buraco, portanto, é ainda mais embaixo...
>
> Eu, de minha parte, creio que, se a Rede Globo fornece a programação mais desejada pelos brasileiros, que temos nós com isso? Deixemos a massa se contentar com pão e circo. É utópico querer obrigá-las a serem melhores. Nesse ponto, estou com o grande Justice Oliver Wendell Holmes, quando disse: I always say, as you know, that if my fellow citizens want to go to Hell I will help them.
>
> Sou favorável ao livre mercado de idéias -- blogs competindo com imprensa escrita; CBN competindo com rádios piratas comunitárias, Olavo de Carvalho avançando no pescoço da Marilena Chauí, Jornal Nacional competindo com Ratinho -- e creio que o livre mercado, com o MÍNIMO POSSÍVEL DE REGULAÇÃO é o caminho para a obtenção dessa desejada pluralidade.
>
> Não fale mal da Rede Globo: oferte algo melhor, e convença o maior número de pessoas disso, ora.
>
> On 7/11/07, Daniel Duende Carvalho <daniel.carva...@gmail.com> wrote:
> imprensa livre é jornalismo cidadão, é conversa blogosférica.
> é imprensa livre dos mercados (enquanto houverem blogueiros que se recusam a ser apenas probloggers abobalhados), das pressões políticas, dos editores de rabo preso e, sobretudo, livre em sua pluralidade. é imprensa que só responde à justiça comum a todos os cidadãos, com seu direito de expressarem a sua opinião em uma sociedade onde este direito é assegurado (e mesmo naquelas que tentam cassá-lo).
> Liberdade de imprensa é ter a sua voz entre muitas, e todas terem na medida do possível uma acessibilidade igual.
>
> Se querem ver imprensa livre, leiam blogues. O resto é bobagem pra leitor da Veja dormir (e sonhar com Miami).
>
> Abraços do Verde.
>
Telefone: 3217 4138
Celular: 9827 9004
Veja o manifesto em outros idiomas.
"Nós acreditamos na liberdade de expressão: protegendo o direito de
falar -- e o direito de ouvir. Nós acreditamos no acesso universal as
ferramentas de expressão.
Para esse fim, nós queremos que todo mundo que queira se expressar
tenha os mecanismos adequados -- e qualquer um que queira ouvir e
entender essa mensagem, tenha os recursos para ouvi-la e compreendê-la.
Graças as novas ferramentas, as formas de expressão não precisam mais ser controladas pelos que possuem os mecanismos tradicionais de publicação e distribuição, ou pelo governo que pode restringir a reflexão e a comunicação. Agora, qualquer um pode experimentar o poder da imprensa. Todos podem contar suas histórias para o mundo.
Nos queremos construir ligações entre as culturas e línguas que dividem as pessoas, para que elas se entendam mais profundamente. Nós queremos trabalhar juntos e mais efetivamente, agindo de forma mais enérgica.
Nós acreditamos no poder da comunicação direta. O elo entre indivíduos de diferentes mundos é pessoal, político e poderoso. Nós acreditamos que o diálogo através das fronteiras é essencial para um futuro livre, justo, próspero e sustentável - para todos os cidadãos deste planeta.
Enquanto nós continuamos a trabalhar e a se expressar como indivíduos, nós também queremos identificar e promover nossos interesses e objetivos comuns. Nós nos comprometemos a respeitar, assistir, ensinar, aprender e a ouvir o próximo.
Nós somos o Global Voices (Vozes Globais)"
Caro Daniel,Você disse em sua postagem anterior:"Mas em tempos de jornalismo cidadão, a única luta que me importa é a da liberdade de expressão cidadã (...). Tanto melhor se o governo resolver controlar o que vai às televisões. Elas são um negócio, são coisa de mercado, merecem regulação por conta de seu poder desigual. Enquanto isso, os blogues, o youtube, os flogs e vlogs e podcasts são livres, e sabe por quê? Por uma simples questão de liberdade de expressão individual. Isso é toda a diferença."Se entendi bem, você pugna pela existência de um suposto "jornalismo cidadão", que respetia uma "liberdade de expresão cidadã"; contudo, não traz nenhum elemento argumentativo para explicitar a distinção entre esse jornalismo cidadão do que não é "cidadão".
Em seguida, você diz que o governo deve controlar o conteúdo veiculado pela televisão, por se tratar aqui de "coisa de mercado", cujo poder "desigual" exige a ação do Estado.
Em primeiro lugar, observo que você não conseguiu argumentar de forma convincente acerca da suposta diferença existente entre a "mídia tradicional" e os blogs, apta a justificar a intervenção censuradora do Estado sobre a primeira, mas não sobre a segunda.
Você diz que blogs e flogs são mídias "individuais", mas não consegue explicitar porque isso deve ser considerado relevante para efeitos de limitação da liberdade de expressão. Se eu crio um blog e veiculo conteúdo sozinho eu estou livre da pesada pata do Estado, certo?
Se meu blog cresce e começa a contar com colaboradores, nada muda, certo? Se meu blog passa a ser lido por milhares de pessoas, suas notícias passam a concorrer com as das mídias impressas e com a televisão, passa a influir sobre o cenário político, então -- ABRACADABRA: torno-me suscetível de ter minha liberdade toldada pelo comissário do povo. É isso? Espero que não...
Em segundo lugar, ressalto que o controle de conteúdo da televisão que você propõe -- "t anto melhor se o governo resolver controlar o que vai às televisões" -- é inconstitucional. O máximo de limitação à liberdade de expressão admitido em um estado democrático de direito é o controle a posteriori, por meio do direito de resposta e de indenizações por eventuais danos morais e materiais causados pelo abuso do direito de expressão.
Leituras contrárias denotam um certo autoritarismo, uma certa confiança ingênua na conveniência do controle estatal sobre o conteúdo veiculado pelos meios de comunicação, que não deveria persistir depois da publicação de 1984, de George Orwell, nem após conhecermos os abusos que ditadores grandes (Stálin, Hitler) e pequenos (Fidel Castro, Pol Pot, Hugo Chávez) realizaram por meio do controle do conteúdo dos meios de comunicação.