Memória Coletiva

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Hannah BLUE

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15 de jan. de 2008, 22:36:3615/01/2008
para Midiateca da HannaH
Memória Coletiva
Glennia Geane Souza


A questão da memória está na interseção entre história e identidade
coletivas. Assim a memória é imprescindível para a reconstituição do
passado, seja individual ou coletivo, sendo considerada, portanto, um
recurso fundamental para a apreensão da identidade e da história.
Halbwachs (1950/1990) propôs o exame do homem enquanto sujeito
inserido na trama coletiva, exame este que não pretendia reduzir o
homem ao coletivo. Assim, afirmou a existência da memória individual,
mas destacou que a mesma se inscrevia em quadros sociais. Para
Halbwachs (1950/1990) a memória coletiva se refere a uma identidade
coletiva que explica uma experiência e um passado vivido por
participantes de um mesmo grupo. Dito por ele: "(...) se a memória
individual pode, para confirmar algumas de suas lembranças, para
precisá-las, e mesmo para cobrir algumas de suas lacunas, apoiar-se
sobre a memória coletiva, deslocar-se nela, confundir-se
momentaneamente com ela, nem por isto deixa de seguir seu próprio
caminho, e todo esse aporte exterior é assimilado e incorporado
progressivamente à sua substância.

A memória coletiva por outro lado, envolve as memórias individuais,
mas não se confunde com elas" (p.53). Explicitando melhor essa
questão, ele menciona:"Diríamos voluntariamente que cada memória
individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva, que este
ponto de vista muda conforme o lugar que ali eu ocupo, e que este
lugar mesmo muda segundo as relações que mantenho com outros meios" (p.
51). Para ele a memória não consistiria em reprodução do passado,
envolvendo sim reconstrução do mesmo a partir de experiências
coletivas. Lembrar não consistiria em reviver, mas refazer,
reconstruir com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado.
Logo, a memória não seria sonho, mas trabalho. Tampouco a memória
seria individual, pois seria coletiva.

A memória do sujeito dependeria do relacionamento com sua família,
classe social, escola, enfim dos grupos de referência e pertenc
imento do indivíduo em questão. A lembrança enquanto conservação total
do passado torna-se impossível na medida em que o adulto não poderia
manter intacto o sistema de representações, hábitos e relações sociais
da sua infância. Isto porque, qualquer mudança do ambiente atingiria a
qualidade íntima da memória, amarrando então a memória da pessoa à
memória do grupo, e, esta última, à esfera maior da tradição, que
representaria a memória coletiva de cada sociedade. Halbwachs
distingue dois tipos de memória: memória autobiográfica e memória
histórica. "A primeira se apoiaria na segunda, pois toda história de
nossa vida faz parte da história em geral. Mas a segunda seria,
naturalmente, bem mais ampla do que a primeira. Por outra parte, ela
não nos representaria o passado senão sob uma forma resumida e
esquemática, enquanto que a memória de nossa vida nos apresentaria um
quadro bem mais contínuo e denso."Neste trabalho o foco é a memória
autobiográfica, onde através da história de vida de cada membro do
grupo captaremos aspectos tanto de sua vida pessoal como os da
sociedade mais ampla, assim como de seu grupo mais restrito.








Bosi (1994) levanta o seguinte questionamento:

"Qual a forma predominante de memória de um dado indivíduo? O único
modo correto de sabê-lo é levar o sujeito a fazer sua autobiografia. A
narração da própria vida é o testemunho mais eloqüente dos modos que a
pessoa tem de lembrar. É a sua memória."

Assim buscaremos ouvir quem tem muito a nos contar, os idosos. Como
nos foi dito por Bosi (1994):

"Um mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que não
conhecemos pode chegar-nos pela memória dos velhos. Momentos desse
mundo perdido podem ser compreendidos por quem não os viveu e até
humanizar o presente. A conversa evocativa de um velho é sempre uma
experiência profunda: repassada pela nostalgia, revolta, resignação
pelo desfiguramento das paisagens caras, pela desaparição de entes
amados, é semelhante a uma obra de arte. Para quem sabe ouvi-la, é
desalentadora, pois contrasta a riqueza e a potencialidade do homem
criador de cultura com a mísera figura do consumidor atual."

"O velho, ou seja, o homem que já viveu sua vida, ao lembrar o passado
não está descansando, por um instante, das lides cotidianas, não está
se entregando fugitivamente às delícias do sonho: está ocupando
consciente e atentamente do próprio passado, da substância mesma da
sua vida" e fazendo com que a história se reproduza de geração a
geração, gerando muitas outras. Pois cada geração tem sua memória de
acontecimentos que permanecem como pontos de demarcação em sua
história, esta pode reproduzir-se de geração a geração, gerando muitas
outras histórias que prolongam a original através da memória de outras
pessoas.

Referências bibliográficas

HALBWACHS, Maurice (1877-1945). A memória coletiva. São Paulo:
Vértice, 1990. 189 p.; 20 cm.

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade - lembranças de velhos. 3ed. São
Paulo: Cia das Letras, 1994. 484p.; 23 cm.


fonte: http://www.redepsi.com.br/portal/modules/smartsection/item.php?itemid=986
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