A água potável é uma das preocupações maiores da humanidade, pois
somente 0,7% dela é acessível ao uso humano. Um bilhão de pessoas tem
água insuficiente e dois e meio bilhões não dispõem de saneamento
básico. Como na fase planetária da humanidade não há um contrato
social mundial que confira caráter civilizado às relações entre os
povos, são muitos os que postulam criar tal pacto ao redor daquilo que
absolutamente interessa a todos: a água potável.
O Brasil comparece como a potência mundial das águas, pois aqui
está 13,8% de toda água doce do planeta. E ainda dispomos junto com a
Argentina, o Uruguai e o Paraguai do maior aqüifero do mundo (águas
subterrâneas), o Aqüifero Guarani. Possui um volume maior que toda a
água contida nos rios e lagos da Terra. Para o interesse dos leitores
oferecemos dados de três especialistas do Paraná em sua minuciosa
pesquisa "Aqüifero Guarani" (2004), de Nadia Rita/José Roberto
Borghetti e Ernani Francisco da Rosa Filho.
Antes de mais nada cabe dizer que não se trata de um lago
subterrâneo, mas de uma cadeia imensa de aproximadamente 1,2 milhões
de km quadrados de rochas arenosas, saturadas de água que ficam, em
média, entre 70 a 800 metros abaixo do solo, perpassando 8 Estados
(70,2% da área do aqüifero): Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A área total do aqüifero é de 1.195.500 km quadrados, superior à soma
da França, Espanha e Inglaterra juntos.
Seu surgimento geológico é muito curioso. O aqüifero está
assentado sobre um deserto pre-histórico, da era mesozóica (há uns 200
milhões de anos), sobre o qual os ventos formaram extensos campos de
dunas. No período do cretácio (há cerca de 125 milhões de anos) houve
formidáveis irrupções vulcânicas que recobriram de lava toda aquela
região arenosa. Surgiu aquilo que hoje se chama Formação Serra Geral.
A lava solidificada estancou a areia de alta porosidade permitindo
grande acúmulo de água, cerca de 48.000 km cúbicos (48 quatrilhões de
litros). O potencial de extração, sem riscos para o aqüifero, é da
ordem de 40 km cúbicos anuais (cerca de 40 trilhões de litros). O
aqüifero não é contínuo. Em vários lugares como no Paraná está
completamente compartimentado, havendo uma espécie de diques verticais
basálticos que isolam as águas, armazenando-as por até 30.000 anos.
Há três tipos de águas no sistema Guarani, tipicamente água doce
com total mineralização, água salobra e água alcalina. O uso principal
das águas no Brasil é para abastecimento da população(70%), para uso
industrial (25%) e para turismo hidrotermal (5%). Isso é feito lá onde
ele aflora ou então por poços cuja profundidade varia de 300 a 800 até
1.795 metros de profundidade conforme as regiões com vazões da ordem
de 75 e 520 metros cúbicos por hora.
Os estudos têm revelado que as águas do Aqüifero Guarani estão
ainda livres de contaminação. Mas em regiões de recarga, especialmente
de intensiva atividade agroindustrial como em Ribeirão Preto,
Araraquara e Piracicaba a vulnerabilidade é maior em razão dos
pesticidas.
Como o aqüifero envolve quatro paises, estão se formulando
políticas comuns no sentido de preservar este bem natural e
imprescindível e torná-lo disponível não só para nós mas também para a
humanidade sedenta e faminta.